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Geologia Ambiental. Aplicada a analise de riscos em encostas.

Os deslizamentos de encostas são fenômenos naturais, que podem ocorrer em qualquer área de alta declividade, por ocasião de chuvas intensas e prolongadas. Pode-se mesmo dizer que, numa escala de tempo geológica (milhares de anos), é certo que algum deslizamento vai ocorrer em todas as encostas.

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RESUMO

O presente artigo refere-se ao deslizamento do talude sobre uma residência que foi parcialmente destruída, localizada em Brusque- SC. O levantamento de campo permitiu a exata reconstituição da superfície de ruptura. Alerta-se  os riscos de movimentos devido à inadequada ocupação urbana na base da encosta, enfatizando o problema da ação antrópica e suas consequências na reincidência de movimentos. Os processos destrutivos abordados no presente artigo são os deslizamentos (escorregamentos), que ocorrem em encostas ou em taludes (naturais ou artificias) e os desbarrancamentos (solapamentos), que ocorrem em margens de córregos. Tais processos podem mobilizar o solo, a rocha ou ambos. Aborda os desastre por deslizamento, também mostraremos dados e informações que orientem a reflexão sobre os processos de vulnerabilização ao risco de desastre.

Palavras-chave:  Desastres, Deslizamentos, Vulnerabilidade, Movimentos de massa.

INTRODUÇÃO

RISCOS E DESASTRES NATURAIS

Os principais fenômenos relacionados a desastres naturais no Brasil são os deslizamentos de encostas e as inundações, que estão associados a eventos pluviométricos intensos e prolongados, repetindo-se a cada período chuvoso mais severo. Apesar das inundações serem os processos que produzem as maiores perdas econômicas e os impactos mais significativos na saúde pública, são os deslizamentos que geram o maior número de vítimas fatais. Este fato justifica a concepção e implantação de políticas públicas municipais específicas para a gestão de risco de deslizamentos em encostas. Os deslizamentos de encostas são fenômenos naturais, que podem ocorrer em qualquer área de alta declividade, por ocasião de chuvas intensas e prolongadas. Pode-se mesmo dizer que, numa escala de tempo geológica (milhares de anos), é certo que algum deslizamento vai ocorrer em todas as encostas. No entanto, a remoção da vegetação original e a ocupação urbana tendem a tornar mais frágil o equilíbrio naturalmente precário, fazendo com que os deslizamentos passem a ocorrer em escala humana de tempo (dezenas de anos ou mesmo anualmente). Nas cidades brasileiras, marcadas pela exclusão sócio espacial que lhes é característica, há outro fator que aumenta ainda mais a frequência dos deslizamentos: a ocupação das encostas por assentamentos precários, favelas, vilas e loteamentos irregulares. A remoção da vegetação, a execução de cortes e aterros instáveis para construção de moradias e vias de acesso, a deposição de lixo nas encostas, a ausência de sistemas de drenagem de águas pluviais e coleta de esgotos, a elevada densidade populacional e a fragilidade das moradias aumentam tanto a frequência das ocorrências como a magnitude dos acidentes.(Celso Santos Carvalho e Thiago Galvão, 2006).

 OS PROCESSOS DESTRUTIVOS

Os processos destrutivos abordados  são os deslizamentos (escorregamentos), que ocorrem em encostas ou em taludes (naturais ou artificias) e os desbarrancamentos (solapamentos), que ocorrem em margens de córregos. Tais processos podem mobilizar o solo, a rocha ou ambos. Os modelos dos processos destrutivos devem corresponder a uma síntese descritiva sobre as fases de evolução e, especialmente, a descrição dos principais sinais e feições do desenvolvimento de cada processos em particular. Note-se que são estes sinais que, quando reconhecidos durante os trabalhos de campo, darão fundamento à decisão sobre o grau de probabilidade de ocorrência de um acidente. Deslizamentos (Escorregamentos) Os “deslizamentos” – mais comumente denominados pelos técnicos de “escorregamentos” – são processos que podem ocorrer tanto em áreas de grandes dimensões (encostas), quanto em áreas restritas (taludes naturais ou artificiais). Há vários tipos de processos que recebem a denominação de escorregamentos, dentre eles destacando-se: escorregamento de solo; escorregamento de rocha, queda de blocos e rolamento de matacões. Cada tipo de processo apresenta características particulares em termos dos tipos dos materiais mobilizados (solo e/ou rocha), suas velocidades relativas, tipo de movimento predominante (translacional, rotacional), geometria das rupturas (planar, circular), condicionantes naturais e antrópicos, agentes deflagradores, etc. Os escorregamentos podem ser dos tipos planares, circular ou em cunha.(Celso Santos Carvalho e Thiago Galvão, 2006).

Figura 1- Escorregamentos Planar, Circular e em Cunha.


Fonte:(Celso Santos Carvalho e Thiago Galvão, 2006).

Figura 2- Escorregamentos Planares, Circular.


Fonte: (Celso Santos Carvalho e Thiago Galvão, 2006).

3. de Massa, de acordo com Tominaga (2009), movimentos de massa são movimentos de solo, rocha ou vegetação ao longo da vertente sob ação direta da gravidade. Consistem em importante processo natural que atua na dinâmica das vertentes, fazendo parte da evolução geomorfológica nas regiões serranas. Com a crescente ocupação do solo em áreas inadequadas, intensivo processo de urbanização sem adequado planejamento e ações protetivas de redução de riscos, está aumentando o número de ocorrências de desastres relacionados a estes eventos e processos.

Classificação dos Movimentos Gravitacionais de Massa

São inúmeros os sistemas classificatórios de movimentos gravitacionais de massa, sendo os mais recentes apresentados na Tabela 1 a seguir.

Tabela 1 - Classificação dos movimentos gravitacionais1


Fonte: Mapeamento de Riscos em Encostas e Margem de Rios / Celso Santos Carvalho, Eduardo Soares de Macedo e Agostinho Tadashi Ogura

De acordo com Caputo (1987), a definição dos tipos de movimentos de massa pode ser

Escorregamento (Landslide)- É o deslocamento rápido de uma massa de solo ou de rocha que, rompendo-se do maciço, desliza para baixo e para o lado, ao longo de uma superfície de deslizamento. Conforme o movimento seja acompanhado predominantemente por uma rotação (caso de solos coesivos homogêneos) ou uma translação (caso de maciços rochosos estratificados), estes são denominados, respectivamente, escorregamento rotacional e escorregamento translacional. (GEORIO. Manual Técnico de Encostas, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, 2000)

Figura 3: Escorregamento rotacional


Fonte: Mapeamento de Riscos em Encostas e Margem de Rios / Celso Santos Carvalho, Eduardo Soares de Macedo e Agostinho Tadashi Ogura

Figura 4: Escorregamento Planares Translacionais


Fonte: Mapeamento de Riscos em Encostas e Margem de Rios / Celso Santos Carvalho, Eduardo Soares de Macedo e Agostinho Tadashi Ogura

Figura 5: Escorregamento em Cunha


Fonte: Mapeamento de Riscos em Encostas e Margem de Rios / Celso Santos Carvalho, Eduardo Soares de Macedo e Agostinho Tadashi Ogura

Desprendimento de terra ou rocha – É uma porção de um maciço terroso ou de fragmentos de rocha que se destaca do resto do maciço, caindo livre e rapidamente, acumvulando-se onde se estaciona.

Figura 6: Desplacamento de Rocha


Fonte: Mapeamento de Riscos em Encostas e Margem de Rios / Celso Santos Carvalho, Eduardo Soares de Macedo e Agostinho Tadashi Ogura

Figura 7: Queda de blocos de rocha


Fonte: Mapeamento de Riscos em Encostas e Margem de Rios / Celso Santos Carvalho, Eduardo Soares de Macedo e Agostinho Tadashi Ogura

Figura 8: Rolamento de blocos instáveis


Fonte: Mapeamento de Riscos em Encostas e Margem de Rios / Celso Santos Carvalho, Eduardo Soares de Macedo e Agostinho Tadashi Ogura

Figura 9: Tombamento de blocos por descontinuidades


Fonte: Mapeamento de Riscos em Encostas e Margem de Rios / Celso Santos Carvalho, Eduardo Soares de Macedo e Agostinho Tadashi Ogura

Rastejo (“creep”) - É o deslocamento lento e contínuo de camadas superficiais sobre camadas mais profundas, com ou sem limite definido entre a massa de terreno que se desloca e a que permanece estacionária.

Figura 10: Escorregamento sob a forma de rastejo


Fonte: Mapeamento de Riscos em Encostas e Margem de Rios / Celso Santos Carvalho, Eduardo Soares de Macedo e Agostinho Tadashi Ogura

Estudo de Caso

Laudo de Vistoria Técnica

Segundo Defesa Civil de Brusque, foi realizada a vistoria in- loco no dia 13 de Outubro de 2009, na residência, Localizada na Rua Augusto Klabunde, n° 164, Águas Claras, sendo constatada que ocorreu um processo erosivo seguido de deslizamento no talude existente nos fundos, a montante da residência. Tal deslizamento, juntamente com a queda de árvores destruiu a residência. O que sobrou da residência foi desmanchado para evitar queda sobre o terreno vizinho. Desta forma a residência, bem como o terreno, foi DEFINITIVAMENTE INTERDITADO.

Precauções observáveis em campo

É preciso que seja analisada as  principais feições indicativas de instabilidade observáveis em campo são árvores/cercas ou postes inclinados, trincas no solo e/ou em aterros, degraus de abatimento, trincas nos pisos e paredes de moradias , muros encurvados e lançamento de esgoto (e/ou água) na superfície dos terrenos e urgência de água no talude .

Causadores de Escorregamentos

Ainda Caputo (1987) salienta que a ação desses fatores combinada com períodos de chuvas ou pouco depois, satura o solo, elevando seu peso específico e reduzindo assim a resistência ao cisalhamento devido ao aumento da pressão neutra. Esta situação explica a ocorrência da maioria dos escorregamentos nos períodos de grande precipitação pluviométrica.

Roteiro metodológico para analise de risco e mapeamento de áreas de risco

O cadastro de riscos  é um instrumento utilizado em vistorias em campo que permite determinar a potencialidade de ocorrência de acidentes, com a identificação das situações de risco. A proposta do roteiro de cadastro emergencial é permitir ao usuário a conclusão sobre o grau (nível) de risco da situação em analise.

  • Passos – Dados gerais sobre a moradia

Localização; nome do morador; condições de acesso á área; tipo de moradia

  • Caracterização do local

Tipo de talude (natural ou de corte); tipo de material (solo, aterro, rocha); presença de materiais (blocos de rochas e matacões, bananeiras, lixo e entulho); inclinação da encosta ou corte; Distância da moradia ao topo ou base dos taludes.

Os tipos de taludes e de materiais presentes dão pistas sobre a tipologia dos processos esperados e dos materiais que podem ser mobilizados.

  • Água

A água é reconhecidamente o principal agente deflagrador de deslizamentos. A origem e destino dessas aguas são fatores que devem ser levantados durante o cadastramento.

  • Vegetação no talude ou proximidades

Nem toda vegetação traz acréscimo de estabilidade para as encostas. Outra característica da vegetação que pode ser prejudicial é a resistência em relação ao vento.

  • Sinais de movimentação (Feições de estabilidade)

Trata-se do parâmetro mais importante para a determinação de maior risco. 

As feições principais se referem ás juntas de alivio, fendas de tração, fraturas de alivio, trincas, e os degraus de abatimento. As trincas podem ocorrer tanto no terreno como nas moradias.

Outra feição importante é a inclinação de estruturas rígidas como árvores, postes e muros. A inclinação pode ser fruto de um longo rastejo.

*Quando o tronco for reto e estiver inclinado demonstra que o movimentos é posterior ao crescimento da arvore. Já quando o tronco for  torto e inclinado, o crescimento é simultâneo com o movimento.

  • Tipos de processos de instabilização esperados ou ocorridos

Espera –se que com a caracterização do local onde verifica os taludes (natural, corte, aterro), presença de parede rochosa, blocos, matacões, lixo e entulho, inclinação dos taludes e distância da moradia á base junto com a analise da presença de agua da vegetação e dos sinais de movimentação o usuário responsável pelo cadastro tenha condições de reconhecer o tipo de processo que pode vir a ocorrer.

  • Determinação do grau de risco

A construção em alvenaria deve suportar maior solicitação e, portanto, deve ser colocada em classe de risco inferior á moradia de madeira.

Taludes naturais estão, normalmente, em  equilíbrio. Taludes de corte e de aterro são mais propensos a instabilizações.

Distancia mínima com relação a altura do talude que pode sofrer movimentação

Inclinação dos taludes acima de 17º são passiveis de movimentações.

A presença de água deve ser criteriosamente observada.

A chave para a classificação é a presença de sinais de movimentação/ feições de instabilidade.

  • Grau de probabilidade classificados:

R1- Baixo ou sem risco

R2- Médio

R3- Alto

R4- Muito alto

Necessidade de Remoção

Onde é identificado o número de moradias e a quantidade de  moradores  que terão que ser removidos da área de risco.

  • Desenhos: 

Planta de situação de moradia ou moradias: Fatores importantes para a classificação de riscos, como, por exemplo, trincas, degraus, inclinação de estruturas.

Perfil da encosta, onde as alturas e inclinações de taludes distanciam das moradias á base ou topo de taludes devem ser marcadas.

Os desenhos visam dar a equipe de trabalho uma melhor visão da situação permitindo a discussão.

Equipe Técnica: A assinatura dos cadastros é importante, pois permite saber o seu autor, podendo esclarecer duvidas geradas pelo cadastro.

Conclusão

Após analisarmos o terreno que foi feito a limpeza a reconformação do talude e a terraplanagem após o desastre ocorrido, verificamos que esta área não pode ser construída novamente, pois apresenta riscos .O movimento de massa ocorrido rastejo causado pela execução de cortes em sua extremidade média inferior que provocou a queda de árvores sobre a residência. Os deslizamentos de encostas são fenômenos naturais, que podem ocorrer em qualquer área de alta declividade, por ocasião de chuvas intensas e prolongadas. As condições atuais  do terreno se encontram com vegetação e sem ocupação como vista na imagem abaixo.


Fonte: Do próprio autor


Fonte: Do próprio autor


Fonte: Do próprio autor

Referência Bibliográficas

Livro Base Brasil. Ministério das Cidades / Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT Mapeamento de Riscos em Encostas e Margem de Rios / Celso Santos Carvalho, Eduardo Soares de Macedo e Agostinho Tadashi Ogura, organizadores – Brasília: Ministério das Cidades; Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT, 2007 176 p.

Desastres Naturais: Conhecer Para Prevenir. Disponível em: http://www.igeologico.sp.gov.br/downloads/livros/DesastresNaturais.pdf acesso:02 Julho 2016.

MECÂNICA DOS SOLOS E SUAS APLICACAÇÕES, Fundamentos. Disponível em: https://engenhariacivilfsp.files.wordpress.com/2015/05/mecanica-solos-fundamentos-vol1-6ed-caputo.pdf  acesso:02 Julho 2016.

Celso Santos Carvalho e Thiago Galvão, 2006. Prevenção de Riscos de Deslizamentos em Encostas:  Guia para Elaboração de Políticas Municipais. Ministério das Cidades/Cities Alliance/ Celso Santos Carvalho e Thiago Galvão, organizadores – Brasília: Ministério das Cidades; Cities Alliance, 2006

Escorregamentos e Processos Correlatos. Disponível em: http://www.rc.unesp.br/igce/aplicada/ead/riscos/risco11c.html acesso: 02 Julho 2016.

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1TOMINAGA, Lídia Keiko; SANTORO, Jair; AMARAL, Rosangela do. Desastres naturais: conhecer para prevenir. São Paulo: Instituto Geológico, 2009.

 


Publicado por: Keila Carla Monteiro Lins Back

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