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A INFLUÊNCIA COMERCIAL E CULTURAL DOS ESTADOS UNIDOS NO BRASIL

Análise sobre a influência comercial e cultural dos Estados Unidos no Brasil.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Breve histórico das influências estadunidenses no Brasil

Pode-se dizer que existiram quatro grandes fases nas quais os governos dos Estados Unidos buscaram consolidar sua influência sobre os países latinos, o que envolve o Brasil.

Um primeiro momento compreende o tempo entre 1823-1889, quando há uma tentativa de consolidação deste poder na esfera regional. Este momento é caracterizado pela Doutrina Monroe, com o lema “a América para os americanos”. Uma das medidas era a promoção do comércio entre os países americanos, visando consolidar a hegemonia estadunidense na América e afastar o poder europeu do continente.

O segundo momento se estendeu entre 1889-1945, quando as ideias de Theodore Roosevelt predominaram na América. Este, defendia uma intervenção militar dos Estados Unidos na América Latina, visando consolidar o poder estadunidense. A política da época foi denominada como “Big Stick” (grande porrete). Em 1933, no entanto, assume o mandato Franklin Delano Roosevelt, o que ficou até 1945 e mudou os rumos das relações estadunidenses com os demais países da América.

Ele implantou a “Política da Boa Vizinhança”, deixando de lado o autoritarismo anterior. A nova política teve como base a consolidação do poder estadunidense por meio do fortalecimento da política externa, sobretudo porque os Estados Unidos precisavam mercado consumidor externo, bem como fornecedores de matéria-prima. Além disso, envolvia também a implantação de bases militares estadunidenses nos países americanos.

A terceira fase da consolidação estadunidense na América foi durante o contexto da Guerra Fria, aproximadamente entre 1947 e 1989. O contexto representou a disputa por poder mundial entre os EUA e a União Soviética, numa clara disputa também ideológica entre capitalismo e socialismo. Neste momento, os Estados Unidos apoiaram várias intervenções em países americanos, inclusive no Brasil antes e durante a Ditadura Militar. O período foi marcado pelas tensões políticas, e neste momento a presença estadunidense no Brasil também alcançou em maior grau a produção cultural, sobretudo por meio dos filmes hollywoodianos.

Pela influência dos Estados Unidos, a televisão chega ao Brasil e apresenta aos brasileiros um novo modo de vida, o estilo de vida americano. As relações comerciais brasileiras com os Estados Unidos se intensificam, tornando os EUA um dos principais parceiros comerciais do Brasil, modificando a conduta brasileira que até então era de maior proximidade comercial com a Europa. A partir dos anos de 1970, o Dólar se impõe como moeda hegemônica para as trocas comerciais no mundo, afetando desse modo a economia brasileira nas décadas seguintes.

O quarto momento de consolidação do poder estadunidense na América ocorre no período após a Guerra Fria, de 1989 em diante. A dissolução da União Soviética consolidou o poder estadunidense no mundo enquanto potência hegemônica e ampliou a expansão do capitalismo e influenciou a política econômica brasileira dos anos 1990.

A importação do estilo de consumo dos norte-americanos (american way of life)

O consumo de produtos estrangeiros no Brasil se faz presente até os dias atuais por vários motivos, sobretudo por questões culturais que estão relacionadas com os hábitos de consumo. Os brasileiros foram por décadas expostos a um modo de vida pautado em consumo, próprio do estilo de vida norte-americano (Estados Unidos de modo mais singular), com isso, pode-se dizer que introjetaram as ideias advindas da indústria cultural (sugestão de filme: Os delírios de consumo de Becky Bloom).

Há nos Estados Unidos, sobretudo após a Segunda Guerra Mundial, uma investida em ampliar o consumo, visando a reconstrução econômica internamente. A partir desta reestruturação econômica a produção industrial volta-se ao mercado externo, onde estão países com potencial consumidor. Apresenta-se para estes, especialmente através das telas dos televisores e do cinema, a cultura do consumo e o estilo de vida estadunidense. A presença do ensino da língua inglesa no território brasileiro também é elemento importante, já que cria um sentido de aproximação, identificação cultural e simbólica. Essas noções que foram introjetadas estão presentes até os dias atuais pois são uma construção cultural perpetuada ao longo de décadas.

Influência estadunidense: negativa ou positiva?

Essa influência é parte da construção identitária cultural do Brasil. Não se pode dizer que ela seja negativa ou positiva, ela é um fato que está presente e que no cotidiano as pessoas nem sempre percebem (vide as camisetas estampadas com termos em inglês, trademarks, redes sociais como Facebook, Twitter). Não há, portanto, uma aculturação ou algo do tipo. O que ocorre é que essa sensação de identificação com a cultura estadunidense pode passar ao brasileiro uma sensação de subjugação, como se o Brasil não tivesse uma cultura própria.

Darcy Ribeiro, no livro “O povo brasileiro” fala sobre a formação identitária do Brasil. Ele apresenta que o brasileiro é fruto da miscigenação de três grandes matrizes culturais, que são o indígena (vários povos que já habitavam o território brasileiro antes da chegada dos europeus); o africano e o europeu (portugueses e espanhóis). Os demais povos chegaram ao Brasil depois e trouxeram igualmente sua cultura. Assim, entende-se que o povo brasileiro é constituído pelos muitos sujeitos que chegaram nestas terras e que trouxeram aspectos de suas origens.

Obviamente que no caso dos Estados Unidos o processo de introjeção cultural no Brasil foi um pouco diferente, porque ocorreu por motivações específicas, sobretudo a consolidação de um poder hegemônico. No entanto, dizer que isso é negativo é questionável. O brasileiro não perde sua cultura, mas assimila novos aspectos culturais diante desta intervenção. Ocorre também um processo de resistência quase que dialético, pois essa influência cultural estadunidense cria nos brasileiros – ainda que subjetivamente – um processo de repulsão diante dessa cultura que vem imposta ou como persuasão. Há, neste sentido, uma reafirmação cultural que varia em cada grupo social (exemplo: resistência da cultura germânica e italiana no Sul; resistência quilombola; resistência dos povos indígenas; etc.).

Neste caso, uma visão positiva ou negativa é muito subjetiva. Quando ocorre a incorporação de elementos culturais externos a um determinado povo, se obtém em contrapartida um processo de reafirmação da identidade previamente existente, assim como a criação de novas tradições que venham a reafirmar as identidades locais, ainda que muitas vezes mescladas com elementos exteriores.

Mecanismos de disseminação da cultura estadunidense no Brasil

Essa influência veio sobretudo pela indústria cultural. O cinema estadunidense é um dos mais estruturados do mundo, especialmente pela quantidade de capital que está investida nele. Foi esse cinema que apresentou ao mundo a suposta “vida perfeita” com base em consumo dos estadunidenses.

Há duas questões, uma concreta e uma simbólica. A parte concreta da questão está relacionada ao próprio comércio de produtos e serviços. As principais redes sociais, serviços de streaming, os filmes mais famosos, atores mais influentes, livros de grande venda mundial e o próprio ativismo, são em grande medida originados nos Estados Unidos. A parte simbólica é aquela que faz com que as pessoas acreditem que tudo o que vem dos Estados Unidos é de qualidade, é bom e confiável que deve ser visto ou usado.

Poder de influência sutil (soft power)

O poder de influência sútil foi construído ao longo de décadas de relações entre os Estados Unidos e os demais países do mundo. Estas forças subjetivas que transformam o pensamento social nem sempre são facilmente detectadas, mas estão presentes e moldam o comportamento social.

No âmbito político esta influência sútil se revela em acordos bilaterais, no sentido da criação de políticas conciliadoras que são elementos de introdução de valores culturais em uma sociedade.

Veja o caso da “Política da Boa Vizinhança”, quando um desenho animado teve o papel de criar a noção de amizade entre os países americanos, usando para isso três figuras características, que são símbolos de Estados Unidos, Brasil e México. O desenho em questão é o filme “Você já foi à Bahia?” da Disney. Este foi produzido em três línguas, inglês, português e espanhol. O filme apresentou ao mundo uma visão generalista dos países em questão, reforçando ideias estereotipadas e introjetando uma visão de proximidade possível e necessária.

Atualmente, este soft power apresenta-se em grande medida pelo uso das redes sociais e a internet como um todo. O marketing direcionado conforme preferências e interesses dos usuários (algoritmos), ferramenta das corporações do mundo digital (que são norte-americanas) está na base hoje desse poder simbólico que reforça aspectos culturais estadunidenses pelo mundo.

No mundo político os acordos diplomáticos entre Brasil e Estados Unidos continuam ocorrendo e estimulam as trocas comerciais e culturais. Eles permitem que os Estados Unidos continuem influenciando decisões e hábitos brasileiros. Há uma vertente ideológica neste poder sútil e que se estabelece no alinhamento de políticas estabelecidas pelo governo estadunidense e o governo brasileiro. Essa vertente ideológica também está presente principalmente nas potências ocidentais, pois se relaciona com a hegemonia da produção capitalista e na influência deste nos papeis que cada país possui no mercado global. Por motivos históricos os EUA ainda mantêm certo controle tanto político (diplomático) quanto militar, influência nos órgãos de governança global e disputa mercados com as novas potências orientais.

Artigos da autora e que trabalham consumo/consumismo:

Identidade e consumo: reflexões “pós-modernas”: https://periodicos.ufsm.br/sociaisehumanas/article/view/20807/pdf

Tênues Fronteiras: Inserção da Cultura Norte-americana nas Práticas de Consumo dos Brasileiros: http://e-revista.unioeste.br/index.php/pgeografica/article/view/15575

Elementos interdisciplinares para reflexão sobre o consumo na ciência geográfica: https://revistas.unila.edu.br/orbis/article/view/603

O “messianismo consumista” e as profecias publicitárias contemporâneas: http://ojs.barbacena.ifsudestemg.edu.br/index.php/PluriTAS/article/view/88.

Alguns livros que recomendamos:

ALVES, Julia Falivene. A invasão cultural norte-americana. 2 ed. São Paulo: Moderna, 2004.

BAUMAN, Zygmunt. Identidade. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.

GIDDENS, Anthony. Sociologia. 6 ed. Porto Alegre: Penso, 2012.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11 ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2011.

LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade de hiperconsumo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

VOLPI, Alexandre. A história do consumo no Brasil: do mercantilismo à era do foco no cliente. Rio de Janeiro: Else

 

Luana Caroline Kunast Polon: Mestre e Licenciada em Geografia (UNIOESTE); Professora Formadora na UNIPAMPA. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8710688934116217.

Paulo Henrique Heitor Polon: Mestre em Sociedade, Cultura e Fronteiras (UNIOESTE) e Licenciado e Bacharel em Ciências Sociais (UEL); Professor do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS). Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9604918505699847.


Publicado por: Luana Caroline Kunast Polon

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