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É possível saber se estamos em uma Matrix?

É possível saber se estamos vivendo no mundo real ou em uma simulação?

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

É possível saber se estamos em uma Matrix? 

Quase todos já passaram pela experiência de irrealidade, de ter a sensação de que o mundo em que vivemos não é real. Essa é uma sensação tão antiga que por muitas vezes pode se confundir com a história da nossa civilização.  

Ao assistirmos o filme Matrix de 1999, podemos nos fazer vários questionamentos, como: Será possível que tudo o que vivemos não passe de ilusão? Como distinguir o real do falso? Podemos saber se estamos ou não em uma matrix?  

Parménides, filósofo antigo grego em seu único trabalho conhecido, um poema, Sobre a natureza, que talvez seja um texto fundamental para a filosofia ocidental, narra como é sequestrado por umas donzelas (as Helíades) e levado a presença de uma deusa enigmática (Dice, deusa da justiça). Esta lhe revela o caminho autêntico do ser e da verdade. No original grego, Parménides utiliza a palavra “aletheia”, que significa desvelar, levar à luz o que está oculto. Nesse sentido, a verdade não pode ser algo evidente, que se vê a olho nú. 

Outro texto muito conhecido é o Mito da Caverna, de Platão. Nele prisioneiros se encontram escravizados em uma caverna, desde a infância amarrado em uma parede, condenados a não conhecer a autêntica verdade que só se encontra fora. Eles só conseguem ver as sombras que são projetadas na parede à frente, cópias deformadas da verdade. Um dia, um prisioneiro foi libertado e ao sair da caverna descobre pela primeira vez da luz que emana do sol (mundo real). Quando resolve voltar para a caverna para libertar o resto dos prisioneiros é considerado louco pelos outros, que resolvem mata-lo. A essência desse mito é a mesma do poema de Parménides: o mundo a nossa volta, como nós conhecemos é uma mentira.  

A teoria do conhecimento moderno nos deixou uma separação que atravessou a história da filosofia até a atualidade: a diferença entre representação e realidade, entre sujeito e objeto. René Descartes, um grande filósofo francês, viveu nesse período marcado pela urgência de um conhecimento científico, caracterizado pelo rompimento da ciência com a teologia. Se tornando o conhecimento cientifico mais estruturado e prático. 

No “Discurso sobre método para bem conduzir a razão na busca da verdade dentro da ciência”, tratado matemático e filosófico, Descartes desconsidera tudo que possa gerar dúvidas, questionando sua própria forma de existência e o mundo ao seu redor. O filósofo dizia que não podemos confiar em nossos sentidos, porque eles nos ludibriam. Partindo desse raciocínio, o que pensamos ser real pode não passar de um sonho, pois não temos a capacidade de discernir se estamos sonhando ou não. E qualquer reflexão que tivermos estando despertados, também podem acontecer durante o sono. Descartes considerava que era preciso usar a mente e não os sentidos para se informar sobre o mundo, presumindo que o mundo que estamos é ilusório. Dizia que um verdadeiro filósofo “não deveria nunca confiar nos sentidos” e também que “no que diz respeito às observações, que quanto mais avançamos em nosso conhecimento, mais necessárias elas se tornam”. Em sua imaginação Descartes pensava que uma entidade maligna tentava engana-lo em suas crenças e suposições. Isso o levou a concluir que sua única certeza era a de que ele existia. Porque se ele podia duvidar de sua própria existência, necessariamente ele teria que existir.  

Na quarta parte do “Discurso do método”, Descartes (1637) diz:  

Considerei em geral o que é necessário a uma proposição para que seja verdadeira e certa. Pois, uma vez que acabara de encontrar uma que eu sabia ser precisamente assim, pensei que devia saber, também, em que consiste essa certeza. E, tendo observado que na proposição penso, logo existo nada há que me assegure estar dizendo a verdade, e vendo com clareza que para pensar é necessário existir, julguei que poderia considerar regra geral que as coisas que concebemos muito clara e distintamente são todas verdadeiras e que somente há alguma dificuldade em perceber bem quais são as que, de fato, concebemos distintamente. 

Por esse motivo “Penso, logo existo” virou referência para essa discussão, já que com ela Descartes chegou a uma certeza dentro de um ceticismo alto. 

Outro pensador moderno que discorreu sobrea teoria do conhecimento foi Jonh Locke, filósofo inglês considerado o pai do liberalismo. Locke resgatou o pensamento de Aristóteles ao trazer o empirismo para o pensamento moderno. 

Seu livro “Ensaio sobre o entendimento humano” foi a primeira obra da modernidade sobre o empirismo.  

John Locke era contra a tese inatista de Descartes que dizia que as ideias era impressas na mente humana de forma inata, ou seja, as pessoas já nascem com essas ideias. Para Locke as ideias se dão pela experiência, sendo assim o conhecimento é adquirido pelas vivências práticas. O filósofo considerava que crianças, por exemplo, não tem conhecimento prévio, nem ideias que os adultos tem. Dizia também que o homem é uma tábula rasa, que poderíamos entender como uma folha em branco. Ou seja o homem nasce vazio, sem ideias, que vão surgindo de acordo com suas experiências e as convenções sociais. 

Todos esses pensadores, que vem discutindo desde a antiguidade sobre o que é ou não real, sobre de onde vem as ideias nos levam a concluir que não é possível chegar a uma conclusão sobre se estamos ou não em uma realidade simulada. Voltemos a Mito da Caverna. Para os prisioneiros que estavam presos só existia uma verdade, que era o que eles podiam ver. Segundo o pensamento Cartesiano não podemos confiar em nossos sentidos, pois eles nos enganam. Locke diz que nossas ideias provém de nossas experiências. Se nossos sentidos nos enganam, como podemos então confiar na nossa vivência para discernir o que é real e o que é uma simulação? Nessa linha de raciocínio então, qualquer conclusão que possamos tirar sobre a nossa realidade estará atravessada pela nossa experiência. 

Referências

SANTAOLALLA, Javier. The Matrix - ¿Cómo sabemos si vivimos en una simulación? (21m28s). Disponível em: . Acesso em: 26 out. 2019

PLATÃO. A República. (trad. Enrico Corvisieri) São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Col. Os Pensadores).

PARMÊNIDES. Poema. (trad. Fernando Santoro). Disponível em: . Acesso em: 26 out. 2019

COTTINGHAM, John. Descartes. Ideias & Letras, 2009. 

ANDERY, Maria Amalia e MECHELETTO, Nilza. Para Compreender a Ciência. Garamond, 2006.

DESCARTES, René. Discurso do Método. (trad. Paulo Neves). L&PM, 2005.

DE GREGÓRIO, Bernardo. O que é Matrix  (1h03m32s). Disponível em: . Acesso em: 26 out. 2019


Publicado por: Hugo Ardilha da Silva Mattos

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