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Carta sobre a felicidade, de Epicuro para Meneceu

Reflexão sobre o prazer e a felicidade, na perspectiva do filósofo grego Epicuro

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Introdução

O presente trabalho discorre uma reflexão sobre o prazer e a felicidade, na perspectiva do filósofo grego Epicuro. Para a produção deste trabalho, retornamos a Grécia antiga, por volta do ano 300 a.C., nos tempos áureos da filosofia, nos baseando em uma dissertação argumentativa, do gênero carta, escrita pelo pensador supracitado a seu amigo Meneceu.

O texto em tela, percorre o “Jardim de Epicuro”, para ouvir suas doutrinas e têm por objetivos elucidar as sentenças que Epicuro lança em sua carta. Em primeira instância sobre a engrenagem e definições de desejos, prazeres e felicidade. O chamado universal a filosofia e consequentemente a ação reflexiva; os meios virtuosos e relevantes para a verdadeira satisfação dos desejos e uma relação equilibrada com os prazeres dos sentidos físicos. É também, de nosso objetivo, confabular de modo abrangente o conteúdo da obra, com uma linguagem atualizada, de maneira direta e que valorize os princípios do filósofo.

Felicidade (Eudaimonia)

A felicidade nos bens temporais, distinguia-se da bem-aventurança (makariótes), que é a realização no âmbito espiritual, alcançada através da contemplação e da busca pela sabedoria, percurso que nos aproximam da bem-aventurança dos deuses. Aristóteles, seguindo os passos de Sócrates, defende uma felicidade pautada nas práticas virtuosas, nomeia de bens exteriores, os contentamentos humanos e enriquece os conceitos de felicidade, a partir de sua ética e percepção das dimensões do tema. 

Se possuímos a felicidade, temos tudo e na ausência dela, ansiamos continuamente por alcança-la, é a afirmativa de Epicuro, justificando a inexorável importância da felicidade para os homens. Esse é o fim a que arvoramos e que ambicionamos. Contudo, para gozar da “verdadeira felicidade”, o autor, nos convida a bebermos da fonte da filosofia, exercitando uma busca dedicada e contínua pela sabedoria – que permite-nos desenvolver habilidades fundamentais para a vida e em específico a felicidade; na carta estão implícitos alguns destes benefícios: criticidade, a ação reflexiva e o autoconhecimento, a noção do bom e do saudável, do mau e do nocivo, etc.

Segundo a pesquisadora do epicurismo Andréa Leite Costa (2020, p.103), é utilizando a sabedoria que iluminamos a vida interior, superando todas as formas de obscurantismo, relegada aos seres que desprezam a luz do saber e não alcançam a compreensão do funcionamento do que nos cerca, inclusive os mecanismos do universo. Em vista de tão grande oferta da sabedoria, Epicuro a indica para todos os homens, sem exceção, sendo útil para os velhos para que rejuvenesçam, e os novos para buscarem a maturidade, para viverem uma felicidade saudável, sem medos, para envelhecerem bem e para que tanto novos quanto velhos não temam o envelhecer e a morte, mas saibam experienciar as propostas de cada fase da vida.

Na estrutura da doutrina epicurista, a felicidade, tem suas origens na satisfação dos prazeres, os quais são as realizações dos desejos. Essas sentenças, fizeram com que Epicuro, fosse referenciado como um filosofo hedonista, apesar de distinguir-se em determinados aspectos do hedonismo. O filosofo grego do qual versamos, defende duas tipologias de desejo, naturais e inúteis. Os naturais, são intrínsecos a natureza humana, porém alguns são necessários (comer, beber, dormir, etc.) outros não são necessários porque são fruto do nosso ego, são supérfluos, não partem da necessidade, mas das nossas exigências. Os inúteis, são desejos dispensáveis, sem valor efetivo para nossa felicidade.

Saciar os desejos é realizar os prazeres, porém, no epicurismo, há algumas regras e uma linha de reflexão sobre os prazeres. Primeiro, os prazeres devem estar comprometidos e ter o fim, na nossa felicidade, o que a impede, não deve ser praticado. Os prazeres não podem ocasionar dor (aponia), no corpo ou na alma. Não podem perturbar nosso espírito (vício, dependências, pensamento fixo, melancolia), a imperturbabilidade e a manutenção da serenidade da totalidade do nosso ser são fundamentais. Pautados na ética das virtudes e no equilíbrio do homem, que domina a si.

A ausência de dor e a paz da alma, são mencionados como critérios fundantes para uma vida feliz, para tanto, precisamos desenvolver a habilidade de distinguir o que gera o prazer, nos garantindo boas sensações; e o que nos aparenta ser prazeroso, mas está acompanhado de sofrimento e desequilíbrio. Frente a isso, Epicuro, exorta a evitar esses prazeres nocivos; e se os evitando, sofremos, fitemos as nossas aspirações no gozo que sucederá à abstinência. É discutindo esses aspectos, que o pensador mencionado, afirma que continuamente devemos avaliar as nossas satisfações e aflições, e os geradores de ambos. 

Na perspectiva avaliativa dos objetos promotores do prazer, Epicuro, deixa claro, que não podemos nos contentar com qualquer prazer ou qualquer felicidade. Nossos esforços devem ambicionar e desfrutar, o que nos é saudável de maneira ordenada, ou seja, o filosofo, segue uma via contrária de seus contemporâneos, sejam pensadores ou o senso comum, que a mantinham o prazer fincado na vivência dos excessos, na boêmia e no apego as sensações corpóreas. Epicuro elucida, que nossos esforços devem estar comprometidos com o prazer, pautado na prudência, de onde se origina todas as virtudes, ela é o sumo bem que precipita o homem para o encontro com a beleza, justiça e a felicidade, sem ela nada disso possuímos. (Epicuro, 2002, p. 45). A prudência nos habilita a sensibilidade para apreciar os prazeres em seus aspectos qualitativos, a dimensão mais ampla, profunda e consciente; em contrapartida, dos prazeres quantitativos, prisioneiros da quantidade.

Na carta sobre a felicidade, se encontra nas entrelinhas, a distinção entres os prazeres do corpo, que são inquietantes, e os do espírito, que são serenos e tranquilos. O prazer do espírito proporciona o verdadeiro gozo, no entanto, o do corpo é imediatista, efêmero e raso, pois é uma ação pela aplacação dos anseios físicos. Toda a concepção de prazer, as variantes acima mencionadas e paz interior, é resumida pelo autor, com a seguinte frase:

“Quando então dizemos que o fim último é o prazer, não nos referimos aos prazeres intemperantes ou aos que consistem no gozo dos sentidos, como acreditam certas pessoas que ignoram o nosso pensamento, ou concordam com ele, ou interpretam erroneamente, mas o prazer que é a ausência dos sofrimentos físicos e de perturbação da alma.” (Epicuro, 2002, p.43)

Virtudes e liberdade

Em toda a mensagem da carta, percebe que Epicuro, aponta algumas virtudes a serem desenvolvidas, para termos uma vida feliz. É um compromisso de todo homem sábio, querer tornar-se mais virtuoso; são as virtudes que dispomos ou cobiçamos, que devem mensurar nossas ações em todos os âmbitos de nossa vida, e de maneira indispensável na busca pelo prazer. Há uma virtude, que resplandece na obra de Epicuro, que é o confortasse com o que se tem e com simples. O autor advoga querer e reter, muitos bens, não está relacionado com a felicidade. São alienados, os que aplicam suas forças para desfrutarem das refeições abundantes, da quantidade desmedida de vinho, etc. Os prazeres precisam ser vividos, na dimensão da necessidade e não do supérfluo, isso é uma avidez nociva do nosso ego, que reflete a liquides de nosso ser a falsa noção da felicidade. O que realmente importa, na vida, é ser virtuoso e sábio, segundo Epicuro é preferível ser pobre sábio, do que um rico tolo. Se os nossos propósitos estruturam projetos com finalidades, ruins, é mais vantajoso que não tenha progresso, mas os bons que merecem sucesso. 

A felicidade, na doutrina epicurista, detém por pilar edificador, a liberdade. Somos livres para fazermos nossas opções, viver como e no que acreditamos, dirigimos os nossos passos a qual queremos e somos totalmente responsáveis pelos resultados obtidos. Essa autonomia, torna-nos sujeitos das nossas narrativas, excluindo a intervenção dos deuses, a responsabilidade de outrem ou ingerência ilusória da sorte, do acaso e/ou do destino. Saber administrar a liberdade, usá-la com responsabilidade e não se permitir cair nas ideias naturalistas e ser dominado pelos extintos, é o resultado de da expansão da consciência do seu eu, da compreensão do mundo. Epicuro indaga-nos retoricamente se existe pessoa mais felizes que os sábios, esses tornam-se senhores de si e usufruem da liberdade.

Deuses, futuro e a morte

Ao tratar do assunto, Epicuro, é categórico, as divindades existem, e nós temos conhecimento de alguns dos aspectos de sua natureza: são imortais e bem-aventurados. (2002, p.25). No que tange a interferência dos deuses em nossas vidas, Epicuro a reprova, alegando que tudo quanto é fora da natureza divina, é estranho a eles, portanto as urgências e as problemáticas humanas, não os preocupam. Desse modo, eles não induzem, a fazermos determinadas escolhas; ou nos privam, ou asseguram a felicidade. O privilégio concedido aos bons e o mal relegado aos maus, é uma ideia falsa e supersticiosa, pois como outrora foi afirmado, na liberdade de nossas escolhas é que obtemos benefícios ou malefícios.

Epicuro, ao abordar o futuro, reprova os que atravessam seus dias, atormentados com que acontecerá ou planejam situações longínquas. Ele aconselha, a vivermos na dinâmica do “nem totalmente nosso, nem totalmente não nosso”, não podemos esperar parados, que as metas sejam alcançadas ou que a felicidade nos seja entregue nas mãos, nos esforcemos pelo que queremos, mas sem grandes preocupações no que virá. O autor indica a vivência de cada dia, apostando tudo nos próprios esforços e não na sorte. Ao referir-se sobre o futuro, percebemos que o determinantismo não encontra espaço na doutrina epicurista, que nega um destino pré-determinado, definido pela relação com as divindades ou a ação do acaso.

A morte é encarada por Epicuro como sendo a privação definitiva das sensações. Sendo assim, não nos é relevante, mas parte do fruir de nossa efêmera vida. O homem tolo, teme a morte, e se mantém aflito em sua espera. O sábio ama a vida, mas não teme deixar de viver. Em vista que, a morte não está presente em nossa vida, ela chegará, mas quando isso acontecer, nós é que estaremos ausentes, portanto, fugir, nutrir medo ou querer nos associar a imortalidade, são pensamentos emburrecidos, pois a mesma não significa nada para os vivos ou mortos. 

Conclusão

Pela observação dos aspectos mencionados, ampliamos os conhecimentos acerca da doutrina epicurista no âmbito da felicidade. Para tanto, nos embasamos na obra de Epicuro e em textos acadêmicos, escritos por pesquisadores da temática. O objetivo fundante do presente trabalho era elucidar o tema, a partir da ética do filosofo e a sua noção de homem como sujeito autônomo e que reflexivo.

O estudo realizado para a construção deste trabalho, foi deveras importante para nossa formação, visto que, nesse momento em que somos inseridos na filosofia, tivemos a oportunidade de alargar os conhecimentos sobre assuntos relevantes para as discussões filosóficas, alimentando-nos dos conhecimentos clássicos, cujas doutrinas atravessaram séculos e ainda hoje influenciam em nossas formulações. Saliento, a importância do acesso a livros, textos, dicionário e fontes bibliográficas de maneira geral, ligados aos temas filosóficos, que serão importantes em todo o nosso percurso acadêmico. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COSTA, Andréa Leite da. A carta sobre a felicidade: uma proposta de reflexão a partir do epicurismo. Prisma, vol. 2, n. 2, p. 99 a 119, julho/dezembro de 2020. Disponível em: https://www.periodicos.ufam.edu.br/index.php/prisma/article/view/8601. Acesso: 28/03/2021.

EPICURO. Carta sobre a felicidade (a Meneceu). Tradução: Álvaro Lorencine e Enzo Del Carratore. 2. ed. São Paulo: Editora UNESP, 2002.


Publicado por: Felipe de Lima Suruagy

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