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AS DUAS TEORIAS DE FREUD SOBRE A ANGUSTIA

Análise a respeito da teoria freudiana sobre a angústia.

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RESUMO

O objetivo desse trabalho é desenvolver a respeito da teoria freudiana sobre a angústia, a qual ao percurso da elaboração da obra de Freud sofre mudanças significativas na forma como é entendida. Na primeira teoria sobre a angústia, a mesma é entendida como advinda de uma energia sexual. Na segunda teoria, passa a ser anterior ao recalque, sendo fruto de situações traumáticas, ligada às pulsões de auto conservação.

Palavra- chave: Freud, recalque, pulsões, traumáticas, auto conservação.

1.INTRODUÇÃO

Sigmund Freud, considerado o pai da psicanálise, desde o início da elaboração de sua teoria, buscava definir a angústia. Em sua primeira teoria concebe a angústia como derivada da energia sexual, a qual não consegue passar por um processo de descarregamento. Dessa forma, a angústia seria a libido que não foi elaborada.

A primeira teoria diz respeito a importância que a sexualidade adquire ao decorrer da obra freudiana. A libido é uma energia sexual que almeja por realização, no entanto, é interrompida pelo recalque, essa impossibilidade de satisfação, é a responsável por dar origem a angústia.

Já a segunda teoria estabelecida por Sigmund Freud, é associada a conceitos importantes de sustentação à sua obra psicanalítica, como o recalque e a pulsão, os quais são imprescindíveis para o entendimento do aparelho psíquico. Nessa teoria a angústia passa a ser entendida como associada a situações traumáticas, que ocorrem desde a infância.

2.PRIMEIRA TEORIA DA ANGÚSTIA

A origem da angústia está primeiramente na repressão, é causada pela repressão libidinal, proveniente da energia sexual. Poderíamos pensar, que Sigmund Freud estaria entendendo a angústia em seus pacientes como uma manifestação sintomática, produzida através da repressão da energia sexual. Dessa forma, nos angustiamos ou ficamos ansiosos, devido a contenção da energia sexual, que não pode ser escoada.

Freud tenta reconstruir outra cena, em que de algum modo, sustenta a condição de possibilidade da manifestação fenomenológica da angústia. Para o psicanalista, o paciente se angústia no próprio ato sexual, aparentemente a angústia de neurose seria a continuação dessa angústia. O sintoma histérico, pode ser um sintoma psíquico, um sintoma somático, mas é importante ressaltar, que o sintoma histérico também pode ser uma conversão histérica.

O sintoma psíquico, ocorre quando um conflito psíquico, se conduz a repetição de determinado comportamento, já o sintoma psicossomático, se dá quando o conflito psíquico de certo modo se realiza num sintoma somático.

A conversão histérica é uma forma de sintoma, em que o paciente possui todas as sensações de estar sentindo todos os sintomas fisicamente, no entanto, ao passar em uma consulta médica ou exame clínico, nada é constatado. Por exemplo, quando a pessoa tem a sensação de falta de ar, de pressão alta ou baixa, ao procurar ajuda médica, descobre que tudo está em ordem e a pressão arterial encontra-se normal, sem nenhuma alteração, nesse caso podemos dizer, que está acontecendo uma conversão histérica.

Nesse momento, Freud estaria entendendo a angústia mais como um sintoma histérico. Dessa forma, Freud suspeitava que isso dizia respeito a um acúmulo de excitação, não apresentando sintomas clínicos, originados de forma psíquica, que são ligados a neurose. No entanto a neurose de angústia, seria derivada daquilo que impede a excitação sexual somática, fazendo com que não seja elaborada pela psique.

A psique é invadida pelo afeto de angústia quando se sente incapaz de lidar, por meio de uma reação apropriada, com uma tarefa (um perigo) vinda de fora; e fica presa dentro de uma neurose de angustia quando se percebe incapaz de equilibrar a excitação (sexual) vinda de dentro - em outras palavras, ela se comporta como se tivesse projetando tal excitação para fora [...] O afeto é um estado que passa rapidamente, enquanto a neurose é um estado crônico, porque, enquanto a  excitação exógena age num único impacto, a excitação endógena atua como uma força constante. (FREUD, 1894, p.109)

Nos anos seguintes, Freud avança com a ideia da angústia, correspondente ao acúmulo da tensão sexual. Dessa forma, havendo algum acúmulo de tensão sexual provocada pela repressão social, moral, entre outras, seria necessário para a “cura” da angústia, encontrar alguma alternativa de escoamento para esse acúmulo, ou seja, de mecanismos que auxiliem na evasão dessa energia, podendo ser através da via sexual, exercícios laborais ou físicos etc.

Nesse sentido, a ideia que vigora é que o corpo é uma fonte de energia sexual, a qual deve ser liberada de alguma forma, quando ocorre a repressão dessa energia é produzido o sintoma, o qual, será a angústia. Durante vários anos, Freud vai trabalhar com a hipótese de que a angústia é de fato o acúmulo da energia sexual, que não é liberada devido a diversos fatores. Os sintomas da angústia, ligam-se a algo central, que seria a angústia mesma, os principais sintomas poderiam ser a ansiedade, irritabilidade e o pânico. Em determinados casos de angústia, não se apresentam nenhuma causa.

quando há fundamentos para se considerar a neurose como adquirida, uma cuidadosa investigação orientada nesse sentido revela que um conjunto de perturbações e influências da vida sexual são fatores etiológicos atuantes. (FREUD, 1895, p.98).

É necessário considerar uma distintamente a neurose de angústia nos homens e mulheres.

[...] nas mulheres pode ocorrer: angústia virginal ou angústia nas adolescentes; angústia das recém-casadas; angústia de mulheres que sofrem de ejaculação precoce; angústia em viúvas ou abstinentes; angústia no climatério. Nos homens, seus grupos possuem analogias nas mulheres: angústia em homens voluntariamente abstinente; angústia em estado de excitação não consumado; angústia no coito interrompido; angústia em homens senescentes "(HUGUENIN , BRITO, 2020, p. 274)

3. ANGÚSTIA REALISTA E NEURÓTICA

Em 1916, Freud realiza uma conferência a angústia a respeito do estado neurótico. A angústia, é um sintoma muito presente nos neuróticos, os quais acabam vivenciando-a de uma forma mais intensa. Por conseguinte Freud, ressalta sobre duas formas de angústia, sendo estás a realista e a neurótica.

A angústia realista pode ser considerada a mais racional, a qual está vinculada a um sistema de autopreservação. Desse modo, a angústia realista gera um sinal de alerta, juntamente com um reflexo de fuga, proporcionando a pessoa um conhecimento de determinado perigo.

Julgamos inteiramente compreensível que o selvagem sinta medo de um canhão e que um eclipse o angustie, ao passo que, sob as mesmas circunstâncias, o homem branco, capaz de manejar a arma e de prever o eclipse do sol, permanece livre da angústia. Outras vezes, é justamente o maior saber que favorece a angústia, porque permite antever o perigo. Assim, o selvagem se assustará com pegadas na mata que nada informam ao insciente, mas lhe denunciam a proximidade de um animal feroz; e um navegante experiente contemplará com horror uma nuvenzinha que parece inofensiva ao passageiro, mas lhe anuncia a aproximação de um furacão. (FREUD, 1916-1917, p. 521)

 No entanto, vale ressaltar, que nem sempre a angústia consegue cumprir essa função alerta, em situações extremas, ela poderá causar algo reverso, ao invés de criar meios de defesa, pode paralisar, impedindo qualquer ação, nesse sentido, se tornaria um perigo, por isso Freud afirma que a angústia, nunca é algo adequado, a melhor alternativa é sempre “não angustiar-se" ( FREUD,1916-1917).

A segunda forma de angústia descrita por Freud (1916), está associada as fobias, envolvendo determinadas situações ou objetos.

Ouçam os senhores a multiplicidade de coisas que podem ser objeto ou conteúdo de uma fobia: escuridão, ar livre, lugares abertos, gatos, aranhas lagartas, cobras, ratos, tempestades, pontas afiadas, sangue, espaços fechados, multidões, solidão, travessia de pontes, viagens marítimas e ferroviárias, e assim por diante. (FREUD, 1916-1917, p. 527).

No entanto, algumas dessas situações também nos remetem algum perigo, podemos vincular as mesmas a determinadas situações, como sofrer um acidente, uma queda, acabar se machucando, sofrer alguma fratura etc. Desse modo, aqui não parecem de todo modo serem incompreensíveis.

Por outro lado, a angústia neurótica, é difícil de ser compreendida, pois não aparenta ligação com algo que de fato aparente perigo ou se demonstre como algo ameaçador.

[...] desvinculada de quaisquer condições e de modo incompreensível tanto para nós como para o doente, manifestar-se em um acesso gratuito, sem que se verifique em parte alguma um perigo ou pretexto que, exagerado, pudesse levar a tanto. Nesses acessos espontâneos descobrimos, então, que o complexo que chamamos de angústia pode sofrer uma fragmentação. (FREUD, 1916-1917, p. 530)

4.SEGUNDA TEORIA SOBRE A ANGÚSTIA

Em 1926, na obra Inibição Sintoma e Angústia, Freud estava trabalhando com questões metapsicologicas, no entanto, estava preocupado com a coerência interna da sua obra.  O psicanalista realiza uma modificação em sua teoria, na qual atribuía a existência da angústia à libido. A partir de então, passa a conceber a angústia como uma forma de reação a situações de perigo ou que foram traumáticas.

Freud (1926), aborda o nascimento, como uma ocasião em que se inicia a angústia, nesse sentido, o nascimento seria o primeiro trauma, em que o Eu sofre um excesso de estímulo, o qual não pode ser descarregado. No nascimento, o bebê é forçado a sair do seu conforto, a se separar da mãe e habitar algo novo e totalmente desconhecido. No entanto, o perigo da angústia indica algo subjetivo, já o nascimento apresenta um perigo à vida.

Segundo o psicanalista, a angústia própria do desenvolvimento, acompanha perdas significativas nas crianças, desde a separação com a mãe, a mãe como objeto, passando também pela fase da castração, até chegar na angústia moral, a qual é criada pelo superego.

Assim o perigo de desamparo psíquico é apropriado ao perigo de vida quando o eu do indivíduo é imaturo; o perigo da perda de objeto, até a primeira infância, quando ele ainda se acha na dependência de outros; o perigo de castração até a fase fálica; e o medo do seu supereu, até o período de latência. Não obstante, todas essas situações de perigo e determinantes de angústia podem resistir lado a lado e fazer com que o eu a elas reaja com angústia num período ulterior ao apropriado; ou além disto, várias delas podem entrar em ação ao mesmo tempo (FREUD, 1926, p.140)

A angústia de castração é teorizada por Freud, como uma angústia de separação, em que o indivíduo encontra-se em situação de desamparo e desproteção. Desse modo, é como o desamparo da criança, que precisa do adulto para viver, sendo relacionada a dependência que a criança tem do adulto para sobreviver.

Para Freud, a angústia, sendo um afeto, emerge atos de descarga (FREUD, 1926, p.132), assim, indica a repetição de experiências já vivenciadas. Segundo o psicanalista, os afetos são: "a repetição de alguma experiência significativa determinada", "só poderia ser uma impressão recebida num período muito inicial, de natureza muito genérica, situada na pré-história, não no indivíduo, mas na espécie" (FREUD, 1916-1917, p.379).

Como já falado anteriormente, a angústia sendo definida como um afeto, que Freud estuda a partir das neuroses de angústia, e dessa relação entre o afeto e recalcamento, por isso que a angústia é pensada no campo das neuroses.

Para Freud, a Inibição se relaciona com a angústia, de modo que as inibições podem atuar como um meio de impedir ou evitar a angústia. Já um sintoma, é um sinal patológico, que atua sobre o Eu. O sintoma é gerado pelo recalque. Segundo Freud, o recalque acontece no ego. Para o surgimento do sintoma, a angústia é algo fundamental, que despertará o mecanismo de prazer e desprazer.

Foi a angústia que produziu o recalque e não, como eu anteriormente acreditava, o recalque que produziu a angústia [...]. É sempre a atitude de angústia do eu que é a coisa primária e que põe em movimento a angústia. A angústia jamais surge da libido recalcada" (FREUD, 1926, p.111).

Dessa forma, Freud caracteriza a inibição como uma disfunção do ego, como se o ego a partir do momento em que estivesse tomado pela inibição, é impedido de exercer suas funções. No entanto, Freud sempre deixou de forma clara, que a psicanálise trata-se, de um jogo de forças, as quais ocorrem dentro do indivíduo, desse modo, o indivíduo pode querer ou não querer.

O psicanalista assinala que a angústia não é de ordem das patologias, mas é um sinal de perigo, de que algo está prestes a acontecer. Por conseguinte, Freud (1926), articula sintoma e angústia como se estivessem em uma trilha, dessa forma, uma estaria a serviço da outra, sendo assim, o sintoma pode exercer um encobrimento da angústia e a inibição poderá evitar ou até mesmo, acabar antecipando algum sintoma, nesse sentido há uma ligação intrínseca entre ambos.

Contudo, o psicanalista conclui que a angústia se refere a uma ameaça de um perigo que é desconhecido.

Assim o perigo de desamparo psíquico é apropriado ao perigo de vida quando o eu do indivíduo é imaturo; o perigo da perda de objeto, até a primeira infância, quando ele ainda se acha na dependência de outros; o perigo de castração até a fase fálica; e o medo do seu supereu, até o período de latência. Não obstante, todas essas situações de perigo e determinantes de angústia podem resistir lado a lado e fazer com que o eu a elas reaja com angústia num período ulterior ao apropriado; ou além disto, várias delas podem entrar em ação ao mesmo tempo. (FREUD, 1926, p.140)

5. Considerações finais

A angústia é um dos temas relevantes na psicanálise, sempre houve um esforço na tentativa de caracterizá-la, permanecendo desde o início até os últimos escritos, em que Freud formula duas teorias sobre a angústia.

Contudo, pode-se perceber no trajeto percorrido por Sigmund Freud, que a angústia é um dos temas elementares da psicanálise, na qual ele buscava uma definição. No primeiro momento da teoria freudiana a angústia é o resultado de uma excitação sexual que não foi descarregada, dessa forma, a angustia era atribuída ao viés da sexualidade. Em continuidade da formulação do sua teoria, Freud no segundo momento, define a angústia como estado afetivo, ligada a experiências traumáticas.

6. REFERÊNCIAS:

FREUD, Sigmund. Rascunho E – como se origina a angústia, 1894.

Publicações pré-psicanalíticas e esboços inéditos. Rio de Janeiro: Imago, 1996. (Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 1).

FREUD, S. As neuropsicoses de defesa. In: Edição Standard Brasileira das ObrasPsicológicas Completas de Sigmund Freud. v. III. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1969.

FREUD, S. A ansiedade. In: Edição Standard Brasileira das Obras PsicológicasCompletas de Sigmund Freud. v. XVI. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1969.

FREUD, S. O estranho. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completasde Sigmund Freud. v. XVII. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1969.

FREUD, S. Inibições, sintoma e angústia. In: Edição Standard Brasileira das ObrasPsicológicas Completas de Sigmund Freud. v. XVII. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.

FREUD, S. A ansiedade e vida instintual. In: Edição Standard Brasileira das ObrasPsicológicas Completas de Sigmund Freud. v. XXII. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1969.

FREUD, S. Conferências introdutórias á psicanálise. 1916-1917, Obras completas, v.13. trad. Sergio Tellaroli

HUGUENIN, A. C. de F.; BRITO, L. C. Um percurso pela angústia na obra de Freud. Doxa:Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 22, n. esp. 1, p. 271-283, out., 2020.

POR DAIANE PRISCILA HARTWIG 


Publicado por: Daiane Priscila Hartwig

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