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Além das Aparências: Navegando Pelas Águas do Ceticismo

Investigar e compreender o fenômeno do ceticismo, explorando suas origens, fundamentos filosóficos e as implicações que ele tem na sociedade atual.

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Imagem de intographics por Pixabay
Imagem de intographics por Pixabay

Introdução

Nos últimos séculos, o ceticismo emergiu como uma corrente de pensamento que busca questionar e examinar de forma crítica as crenças e os conhecimentos amplamente aceitos em diferentes áreas do conhecimento humano. Com uma postura investigativa e racional, os céticos se propõem a desafiar a validade e a fundamentação dos argumentos, demandando evidências sólidas para sustentar afirmações e teorias.

Este artigo científico tem como objetivo principal investigar e compreender o fenômeno do ceticismo, explorando suas origens, fundamentos filosóficos e as implicações que ele tem na sociedade atual. Para tanto, serão analisados diversos aspectos do ceticismo, desde sua concepção histórica e filosófica até suas aplicações práticas em diferentes campos do conhecimento.

A pesquisa irá explorar as motivações por trás do ceticismo, examinando como o questionamento sistemático de premissas e a busca por evidências robustas podem contribuir para o avanço do conhecimento científico, bem como para a tomada de decisões fundamentadas em outros domínios da vida cotidiana. Serão investigados os desafios enfrentados pelos céticos ao confrontarem-se com dogmas arraigados, opiniões infundadas e teorias controversas, bem como as estratégias adotadas para abordar esses obstáculos.

Além disso, esta pesquisa também pretende analisar o impacto social do ceticismo, abordando como essa postura crítica pode influenciar a construção de uma sociedade mais informada, responsável e orientada pela evidência. Serão discutidos os efeitos do ceticismo na esfera pública, nos debates políticos e na disseminação de informações, bem como os desafios enfrentados na promoção de uma mentalidade cética saudável em um cenário marcado por desinformação e polarização.

Por meio de uma abordagem multidisciplinar, que combina elementos da filosofia, da psicologia, da sociologia e da comunicação, esta pesquisa buscará contribuir para um melhor entendimento do ceticismo e suas implicações na sociedade contemporânea. Através da análise crítica das bases do conhecimento e da promoção de um pensamento reflexivo e fundamentado, espera-se que este estudo possa estimular o diálogo construtivo e a tomada de decisões informadas em um mundo cada vez mais complexo e desafiador.

O qué o ceticismo

O ceticismo, também conhecido como cepticismo, é uma postura intelectual que busca questionar e examinar de maneira crítica o conhecimento, os fatos, as opiniões e as crenças estabelecidas como verdades absolutas. Filosoficamente, o ceticismo se baseia na ideia de que não podemos alcançar certeza absoluta sobre a verdade.

O ceticismo filosófico é uma abordagem ampla que exige que todas as informações sejam apoiadas por evidências. A escola de pensamento conhecida como Skeptikoi, por exemplo, não faz afirmações definitivas. Os adeptos do Pirronismo, uma forma de ceticismo filosófico, suspendem o julgamento durante investigações, reconhecendo a impossibilidade de se chegar a conclusões absolutas. Os céticos podem até mesmo duvidar da confiabilidade de seus próprios sentidos, questionando se o que percebem corresponde à realidade de fato.

Além disso, existe o ceticismo religioso, que se refere à dúvida em relação aos princípios fundamentais da religião, como a imortalidade da alma, a providência divina e a revelação divina. Os céticos religiosos questionam a base dessas crenças e buscam evidências que possam sustentá-las.

O ceticismo, seja filosófico ou religioso, desafia a aceitação passiva das crenças estabelecidas e promove uma atitude de questionamento constante. Ele nos incentiva a buscar evidências sólidas e a examinar criticamente os fundamentos do conhecimento, estimulando um pensamento reflexivo e autônomo.

No entanto, é importante destacar que o ceticismo não implica necessariamente em negar todas as formas de conhecimento ou rejeitar todas as crenças. Em vez disso, trata-se de uma postura que nos leva a questionar, investigar e buscar uma compreensão mais profunda da realidade.

Ao adotar uma abordagem cética, somos desafiados a superar preconceitos, dogmas e opiniões infundadas. O ceticismo nos encoraja a examinar criticamente as informações disponíveis, a considerar diferentes perspectivas e a formar nossas próprias opiniões com base em uma análise cuidadosa.

Em última análise, o ceticismo nos convida a sermos pensadores independentes, abertos ao diálogo, à revisão de ideias e ao constante aprimoramento do nosso conhecimento. Ao reconhecer as limitações do conhecimento humano, o ceticismo nos lembra da importância de sermos humildes diante da complexidade do mundo e de estarmos dispostos a questionar e explorar continuamente.

História

- Antiguidade

O ceticismo filosófico teve seus primeiros indícios na Grécia clássica, onde alguns dos primeiros defensores dessa abordagem surgiram. Um deles foi Pirro de Elis (360-275 a.C.), que estudou na Índia e propunha a adoção de um ceticismo prático. Ele defendia que a melhor forma de alcançar a tranquilidade mental era suspender o julgamento em relação a todas as coisas, evitando assim a perturbação causada por crenças e opiniões contraditórias.

Outro filósofo cético importante foi Carneades, que viveu no século II a.C. Ele aprofundou as discussões sobre o ceticismo, argumentando de forma minuciosa que a certeza no conhecimento era algo impossível de ser alcançado. Carneades confrontou os estoicos, uma escola filosófica que defendia a existência de verdades absolutas, afirmando que todas as crenças deveriam ser submetidas à dúvida e ao exame crítico.

Sexto Empírico (200 a.C.), considerado a principal autoridade do ceticismo grego, sistematizou as ideias céticas em sua obra "Esboços Pirrônicos". Ele desenvolveu argumentos contra a possibilidade de se obter certezas e defendeu que a dúvida era a atitude mais apropriada diante das questões filosóficas. Sexto Empírico estabeleceu os princípios fundamentais do ceticismo, como a suspensão do juízo e a investigação constante das diferentes perspectivas.

Vale ressaltar que, mesmo atualmente, o ceticismo filosófico muitas vezes é confundido com o ceticismo vulgar, que se refere à atitude de negar ou rejeitar qualquer forma de conhecimento. Essa confusão ocorre também com o que a tradição cética denominou de dogmatismo negativo, que consiste em afirmar com certeza que nada pode ser conhecido.

Além do mundo grego, o ceticismo também encontrou espaço na filosofia islâmica. Um dos principais nomes do ceticismo islâmico foi Al-Ghazali (1058–1111), conhecido no Ocidente como Algazel. Ele era parte da escola de teologia islâmica Ash'ari, que compartilhava muitas semelhanças metodológicas com o ceticismo de René Descartes, um dos grandes filósofos do período moderno.

A história do ceticismo é marcada por uma busca constante por respostas e uma atitude crítica em relação ao conhecimento estabelecido. Ao longo dos séculos, essa postura de questionamento e dúvida tem desempenhado um papel fundamental na filosofia e na formação do pensamento crítico, incentivando a reflexão sobre as bases de nossas crenças e a busca por evidências sólidas para sustentá-las.

Idade Média

Durante a Idade Média, o ceticismo clássico não teve uma presença significativa na filosofia ocidental. Os principais textos céticos da época não eram amplamente conhecidos, e foi somente por volta de 1430 que uma edição latina das "Vidas dos Filósofos" de Diógenes Laércio, feita por Ambrogio Traversari, começou a circular. Essa edição despertou um interesse renovado pelo ceticismo e pode ter sido um ponto de partida para o ressurgimento dessa corrente de pensamento.

No entanto, é importante destacar que a Idade Média foi um período marcado pela influência predominante da filosofia cristã e pela ênfase na fé e na autoridade religiosa. A teologia cristã dominava o cenário intelectual, e muitos pensadores medievais estavam mais preocupados em harmonizar a fé com a razão do que em questionar os fundamentos do conhecimento.

Apesar disso, é possível encontrar alguns traços de ceticismo durante a Idade Média. Por exemplo, Guilherme de Ockham, um dos mais importantes filósofos escolásticos do século XIV, defendia uma forma de ceticismo moderado em relação ao conhecimento humano. Ele argumentava que as certezas absolutas eram inatingíveis e que deveríamos nos ater apenas às afirmações com base em evidências empíricas.

Além disso, o debate teológico sobre a natureza da fé e da razão também trouxe à tona questões relacionadas ao ceticismo. A Escola de Chartres, por exemplo, explorou as relações entre fé e razão, abrindo espaço para questionamentos e reflexões sobre os limites do conhecimento humano.

No entanto, é importante ressaltar que o ceticismo não foi uma corrente filosófica dominante durante esse período. A maior parte do pensamento medieval estava mais voltada para a aceitação das verdades reveladas e para a defesa da fé cristã, em vez de questionar e duvidar dessas verdades.

Em suma, embora o ceticismo clássico não tenha sido proeminente durante a Idade Média, algumas vozes dissidentes e debates teológicos podem ter contribuído para um ambiente propício à reflexão crítica. No entanto, o pensamento cético só ganharia maior destaque e influência nos períodos posteriores da história filosófica.ento que o próprio termo scepticus se difunde.

Ceticismo científico

O ceticismo científico surge quando cientistas questionam crenças e afirmações com base em uma compreensão científica. A maioria dos cientistas adota uma postura cética, testando a confiabilidade de diferentes tipos de declarações por meio de investigações sistemáticas utilizando o método científico. O ceticismo científico busca proteger o público de charlatanismo e explicações sobrenaturais para fenômenos naturais.

Embora o ceticismo envolva o uso do método científico e do pensamento crítico, nem sempre significa que os céticos estejam constantemente aplicando essas ferramentas. O ceticismo válido, em contraposição a dúvidas arbitrárias ou subjetivas sobre uma ideia, surge a partir de um exame objetivo e metodológico, geralmente aceito pelos céticos como consenso.

É comum confundir os céticos com cínicos, ou até mesmo apontá-los como tal. No entanto, o ceticismo válido é baseado em uma avaliação objetiva e metodológica, enquanto o cinismo geralmente mantém uma atitude negativa desnecessária em relação aos motivos humanos e à sinceridade. Embora essas duas posições não sejam mutuamente exclusivas, cada uma delas representa uma afirmação fundamentalmente diferente sobre a natureza do mundo.

Os céticos científicos frequentemente são acusados de terem a mente fechada ou de inibirem o progresso científico devido às suas exigências por evidências cientificamente válidas. No entanto, os céticos argumentam que tais críticas, em sua maioria, vêm de defensores de disciplinas pseudocientíficas, como homeopatia, reiki, paranormalidade e espiritualismo, cujas visões não são adotadas ou respaldadas pela ciência convencional. Como disse Carl Sagan, um renomado cético e astrônomo, devemos manter a mente aberta, mas não tão aberta a ponto de nosso cérebro cair.

A necessidade de evidências cientificamente adequadas como suporte para teorias é especialmente evidente na área da saúde. Utilizar uma técnica sem avaliar cientificamente seus riscos e benefícios pode levar a uma piora na doença, gastos financeiros desnecessários e abandono de técnicas comprovadamente eficazes. Por essa razão, no Brasil, é vedado aos médicos o uso de práticas terapêuticas não reconhecidas pela comunidade científica.

Desenganadores

O que é um desenganador?

Um desmistificador é um cético comprometido em desacreditar charlatões e ideias que, em sua opinião, são falsas e não científicas.

Alguns dos mais famosos desmistificadores incluem James Randi, Basava Premanand, Penn e Teller e Harry Houdini.

Os religiosos que se opõem aos desmistificadores céticos afirmam que suas conclusões são motivadas por interesses pessoais e que se tratam apenas de novos movimentos de cruzadas de crentes em busca de autoafirmação.

No entanto, quando esses mesmos críticos são desafiados a comprovar cientificamente suas teorias e alegações, a maioria dos religiosos evita qualquer tipo de discussão e prefere recorrer a ataques pessoais contra os céticos (de acordo com randi.org, um portal autodenominado cético).

Pseudo-ceticismo

O termo "pseudo-ceticismo" ou "ceticismo patológico" é utilizado para descrever formas de ceticismo que se afastam da objetividade. Uma análise importante sobre esse conceito foi conduzida por Marcello Truzzi em 1987. Ele propôs a seguinte definição:

O ceticismo adequado está relacionado à dúvida, e não à negação - ao descrédito, e não à crença. Portanto, aqueles críticos que assumem uma postura negativa em vez de uma posição agnóstica ou neutra, mas ainda se autointitulam como céticos, são, na verdade, pseudo-céticos.

Na análise de Marcello Truzzi, foi observado que os pseudo-céticos exibem os seguintes comportamentos:

Ø  A tendência de negar, ao invés de duvidar.

Ø  A realização de julgamentos sem uma investigação completa e conclusiva.

Ø  Uso de ataques pessoais.

Ø  A apresentação de evidências insuficientes.

Ø  A tentativa de desqualificar proponentes de novas idéias taxando-os pejorativamente de 'pseudo-cientistas', 'promotores' ou 'praticantes de ciência patológica'.

Ø  A apresentação de contra-provas não fundamentadas ou baseadas apenas em plausibilidade, ao invés de se basearem em evidências.

Ø  A sugestão de que evidências inconvincentes são suficientes para se assumir que uma teoria é falsa.

Ø  A tendência de desqualificar 'toda e qualquer' evidência.

O conceito de pseudo-ceticismo parece ter emergido no âmbito filosófico durante a segunda metade do século XIX.

Ceticismo como Resistência

A ciência moderna está intrinsecamente ligada ao ceticismo. Por um lado, a comunidade científica deve estar aberta a novas ideias, mesmo que pareçam estranhas, desde que haja evidências científicas que as respaldem. No entanto, essa abertura vem acompanhada de um escrutínio rigoroso para garantir a veracidade dos resultados e das implicações teóricas. É comum que novas hipóteses e alegações enfrentem resistência durante sua avaliação pelo método científico, especialmente quando desafiam visões estabelecidas. Ao longo da história, vários cientistas tiveram suas ideias inicialmente rejeitadas e foram acusados de fraude por colegas que relutavam em aceitar algo que exigiria uma mudança em seus próprios pontos de vista.

Um exemplo notável é o caso dos irmãos Wright. Após seu histórico primeiro voo em 1903, eles foram ridicularizados e questionados pela comunidade científica e pela imprensa. Somente quando realizaram demonstrações públicas em 1908 e conseguiram comprovar suas afirmações é que os céticos começaram a aceitar a realidade das máquinas voadoras mais pesadas que o ar. Da mesma forma, invenções revolucionárias, como o microscópio de corrente de tunelamento em 1981, enfrentaram ceticismo e até mesmo ridículo em seus estágios iniciais.

Max Planck, físico renomado, observou que importantes inovações científicas raramente conquistam gradualmente seus oponentes. Em vez disso, é a geração seguinte que cresce familiarizada com essas ideias desde o início, enquanto os oponentes anteriores vão desaparecendo gradualmente.

Essa resistência ao novo é um aspecto fundamental do ceticismo científico, pois busca garantir a solidez das descobertas e evitar a aceitação precipitada de ideias infundadas. No entanto, é importante lembrar que o ceticismo saudável deve estar aberto ao exame crítico e à avaliação rigorosa das evidências, evitando cair em negações arbitrárias ou preconceitos infundados.

Conclusão:

O ceticismo científico desempenha um papel fundamental na avaliação objetiva das ideias e na busca pela verdade. Ao questionar, analisar e exigir evidências robustas, os cientistas céticos garantem a integridade e confiabilidade do conhecimento científico.

Referências bibliográficas

Truzzi, M. (1987). Sobre o Pseudo-Ceticismo. Zetetic Scholar, 12/13, 3-4.

Popper, K. (1963). Conjecturas e Refutações: O Crescimento do Conhecimento Científico. Routledge.

Shermer, M. (1997). Por Que as Pessoas Acreditam em Coisas Estranhas: Pseudociência, Superstição e Outras Confusões de Nosso Tempo. Holt Paperbacks.


Publicado por: Fernando michel da Silva correia

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