Superdotação e Educação Inclusiva
Você sabia que a superdotação nem sempre é compreendida e muitas vezes até estigmatizada? Saiba mais!O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
Um dos mitos resistentes em nosso imaginário é o do gênio incompreendido, um artista ou intelectual com talento tão acima do comum que as pessoas apenas alcançariam o sentido de suas realizações em gerações posteriores. Um exemplo sempre citado é o de Vincent Van Gogh, pintor que não vendeu o que produziu em vida, e cujas obras são hoje disputadas por museus e colecionadores.
Embora constitua uma generalização simplista, não podemos ignorar o grande número de artistas geniais que se envenenaram com drogas e álcool, e privaram o mundo de suas realizações cedo demais: Jannis Joplin, Cazuza, Polock, Tim Maia, Amy Winehouse, e tantos outros.
Uma derivação desta lenda é a referencia à inadaptabilidade social das pessoas abençoadas com capacidades muito acima da média em determinadas áreas. Isso pode ser consequência das suas próprias altas habilidades (intelectuais, criativas, cognitivas), o que no processo educativo é denominado superdotação.
Embora menos abordado fora do espaço estrito das escolas, a superdotação constitui-se em aspecto delicado de nossa visão sobre educação. Nem sempre bem compreendido, e muitas vezes até estigmatizado, o portador de altas habilidades pode ser considerado um gênio, e ser idolatrado, ou um excêntrico, e ser execrado.
O que se sabe com certeza é que o sistema educativo pode interferir significativamente sobre a inclusão deste aluno, aproveitando em prol de toda a sociedade as suas características, ou, pelo contrário desadaptando esta criança ou jovem para a vida comunitária.
A precariedade ou até mesmo a ausência total de pessoas qualificadas para identificar, ou prover metodologia adequada para esta educação tem sido uma preocupação constante desde a Lei de Diretrizes e Bases da Educação na década de 1970, que coloca a educação especial como necessária não apenas àqueles com deficiências físicas, mentais ou múltiplas, mas também aos que apresentam superdotação. No entanto, pouco foi feito neste sentido, à exceção de uma inclusão um pouco forçada e sem os cuidados necessários aos “diferentes”; implantar programas destinados aos estudantes com altas habilidades esbarra inclusive na habilitação de docentes para sua correta detecção. A própria confusão entre alunos simplesmente hiperativos com aqueles superdotados é lamentavelmente comum, criando confusões e principalmente decepções em familiares e círculo social mais próximo; enquanto que o contrário leva muitas vezes à medicalização perigosa e desnecessária de jovens que poderiam representar inovação e avanços em diferentes áreas do saber.
Embora não obrigatoriamente, as altas habilidades costumam estar relacionadas também a certa criatividade, como em música, pintura, escultura, tecnologia e ciência, com novas formas de ver o mundo e realizar as tarefas cotidianas.
Vários estudos sobre adolescentes talentosos demonstram que a perseverança diante das dificuldades parece influir decisivamente na manifestação daquilo a que denominamos genialidade; assim como também a concentração, ou seja, o envolvimento que leva à total disponibilidade mental e/ou física para a realização de uma tarefa.
A questão parece centrar-se no equilíbrio entre os problemas que somos desafiados a solucionar e a capacidade que sentimos ter (ou podemos mobilizar) neste intuito; um desafio muito alto para uma baixa competência trará ansiedade, enquanto um desafio irrisório para uma grande capacidade de realização certamente trará tédio e desejo de afastamento desta atividade. Motivação, ou seja, um bom desafio apresentado a quem tem confiança na própria capacidade – e nisso vai uma boa dose de autoestima – parece ser o caminho mais adequado para a manifestação da inventividade, mas o caminho é longo para que o país atinja uma educação de qualidade.
Por Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.
Publicado por: Wanda Camargo
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