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Semiótica e sua aplicação ao texto literário

Você sabe o que é semiótica? Clique e confira suas características e sua aplicação ao texto literário.

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No Brasil, foram desenvolvidos estudos lingüísticos, cujo maior representante seria Joaquim Mattoso Câmara Jr., e por quem as idéias saussurianas foram divulgadas antes das peircianas.

No entanto, desde o início da década de 1970, há quase trinta anos, a obra do norte-americano Charles Sanders Peirce (1839-1914), cientista, lógico, filósofo e criador da moderna ciência semiótica, vem sendo estudada na PUC de São Paulo.O pensamento de Peirce não entrou nessa universidade pela via da lógica, nem pela via da filosofia, mas pela via da semiótica.

Naquela época, o atual programa de pós-graduação em Comunicação e Semiótica se chamava Teoria Literária, fundado e coordenado por Lucrécia Ferrara, pioneira junto com Joel Martins e Antonieta Alba Celani na criação dos programas de estudos pós-graduados na PUCSP, esses mesmos que cresceram, multiplicaram-se, trazendo hoje tanto prestígio acadêmico a essa universidade.

Foi nas magníficas aulas de Haroldo de Campos e Décio Pignatari, primeiros professores do programa de Teoria Literária, que a teoria dos signos de Peirce começou a ser interpretada no Brasil.

Em 1970, Haroldo de Campos organizou a edição para a Perspectiva da Pequena Estética de Max Bense, filósofo alemão e divulgador primeiro da obra peirceana em seu país.

Em 1972, a Cultrix editou, com tradução de Octanny S. da Mota e Leonidas Hegenberg, mais coletânea de escritos escolhidos de Charles Sanders Peirce. Essa coletânea antecederia em muitos anos, as primeiras coletâneas de textos traduzidos de Peirce em vários países da Europa.

Enfim, foi com salutar precocidade que se deu o plantio das primeiras sementes dos estudos peirceanos no Brasil, cuja dianteira foi tomada pela pós-graduação em Teoria Literária da PUCSP.

Em 1978, esse antigo programa ampliou-se interdisciplinarmente numa proposta de estudos pós-graduados em Comunicação e Semiótica (COS). Sob essa nova sigla, que dura até hoje, e com novas perspectivas comunicacionais, a semiótica encontrou solo fértil para se desenvolver e se diversificar. A semiótica peirceana entrou em convivência com outras correntes da semiótica - saussuriana, hjelmsleviana, soviética, greimasiana, barthesiana etc. - formando um conjunto teórico aberto e crítico que, desde então, espraiou-se numa variada gama e campos de aplicações: literatura, artes, som, música, oralidade, dança, performance, jornal, rádio, imagens técnicas da era eletro-mecânica - fotografia e cinema -, da era eletrônica - televisão, vídeo - e da era teleinformática - infografia, infovias etc.

A vocação interdisciplinar da semiótica, como uma ciência da comunicação, também se dilatou na multi e transdisciplinaridade, propiciando o diálogo e intercâmbio conceitual com a epistemologia, a história das ciências, as ciências sociais, a psicologia, a psicanálise etc.

Nesse contexto, desde 1992, um fenômeno importante se original e começou espontaneamente a brotar no programa de COS.Começaram a surgir, pouco a pouco, Centros de Pesquisa ligados às linhas de pesquisa que estão definidas como extensões diretas das áreas de concentração do programa." [1]

Semiótica e literatura

O conceito de texto ultrapassa os limites do código verbal e isso pode ser percebido na literatura.  A linguagem atua na sensibilidade e na cognição do leitor para a concretização do livro.

Pretendemos, portanto, abordar aspectos que auxiliem a construção de um conceito de semiótica, bem como ressaltar particularidades dessa análise.

A compreensão que a maioria das pessoas tem da palavra signo é uma visão limitada. Na verdade, em nossa sociedade, quase tudo é signo de algo. Certas roupas são sinais de que a pessoa está na moda, certos carros são símbolos de status. É impossível realizar a maior parte de nossas atividades diárias sem o auxílio de símbolos.

Na verdade, os signos foram uma das mais importantes e mais geniais invenções do ser humano. Antes dos signos, para nos referirmos a algo, precisávamos mostrar do que se tratava. É muito mais prático dizer a palavra que pode designar o que se quer mostrar. Os signos são isso: um substituto para as coisas. Eles estão no lugar das coisas, as representam.

Os signos sempre fascinaram os pensadores e são estudados desde a Grécia antiga, passando pela Idade Média e pelos filósofos iluministas. Mas, como vimos, uma ciência dos signos só foi se firmar no final do século XIX e início do século XX, com Charles Sanders Pierce nos EUA e Ferdinand de Saussure na Europa, fundadores de uma ciência dos signos.  E os partidários de Pierce chamaram essa ciência de semiótica e os adeptos de Saussure a chamaram de semiologia.

A corrente saussuriana se notabilizou pela análise dos signos lingüísticos, enquanto os piercianos abriram sua análise também para outras formas de representação.

Pierce diz que signo é aquilo que está no lugar de outra coisa. A palavra pedra está no lugar da coisa pedra. Podemos dizer também que signo é tudo aquilo que representa uma coisa que não seja ele mesmo. Uma pedra é apenas uma pedra, um objeto, mas se uma empresa de construção convencionar que a pedra é seu símbolo, ela passa a ser um signo.

A literatura é essencialmente polissêmica. A polissemia é que permite os trocadilhos, um recurso muito usado pelos humoristas, por exemplo. E o que dizer da poesia? Pura polissemia.

Por outro lado, pode haver erros de interpretação: o emissor está pensando em um referente, mas o receptor interpreta a frase com outro significado. É o caso de dizermos pedra e a pessoa entender Pedro. Esse fenômeno é chamado de ruído e é estudado pela teoria da informação.

Um aspecto importante da semiótica é a necessidade de intérprete. Só temos signos quando há pessoas para interpretá-los.

Esse processo de transformação de coisas em símbolos é cultural e arbitrário. De repente alguém decide que algo vai representar tal coisa. Se pegar, aquilo passa a representar algo além dele mesmo.

Segundo Pierce, existe três tipos de signos: os ícones, os índices e os símbolos.

Os índices, talvez os primeiros signos utilizados pelo homem, têm uma relação com contigüidade com a coisa representada. Ou seja, como sempre vemos um e outro junto, passamos a associar uma coisa a outra.

Por exemplo, como vemos sempre fogo e fumaça, logo associamos que onde há fumaça, há fogo. A fumaça virou índice do fogo.

Os ícones são signos que guardam uma relação de semelhança com a coisa representada. São o tipo de signo mais fácil de ser reconhecido. Não é necessário qualquer tipo de treinamento para identificar uma foto de um cachorro. Basta ter já visto um cachorro antes.

Exemplos de ícones são fotos, desenhos, estátuas, filmes, imagens de TV. Um tipo especial de palavras também é considerado ícone: as onomatopéias, que representam os sons das coisas e dos animais.

Os símbolos são signos muito mais complexos. Imagina-se que eles só tenham surgido em uma fase mais avançada da civilização humana.

Os símbolos não guardam qualquer relação de semelhança ou de contigüidade com a coisa representada. A relação é puramente cultural e arbitrária. Para compreender um símbolo, é necessário aprender o que ele significa.

As palavras, por exemplo. Para compreender que o conjunto de sinais PEDRA significa a coisa pedra, preciso ter sido alfabetizado, ou seja, passado por um treinamento.

São exemplos de símbolos as palavras, os símbolos matemáticos, os símbolos químicos, as bandeiras de países e clubes. Os símbolos são criados no momento da criação do código.

É o código que diz os sinais que são válidos e os que não são. É também o código que nos diz como os símbolos devem se relacionar entre si e às vezes um signo pode ter mais de uma classificação.

Por outro lado, é possível que um símbolo tenha características de ícone. É o caso de uma poesia sobre a chuva em que as letras vão caindo como gotas de chuva.

 As logomarcas das empresas normalmente são símbolos que apresentam características de ícones. Isso é feito para que a compreensão da mensagem seja mais rápida e funciona tão bem que até mesmo crianças que ainda não foram alfabetizadas conseguem ler logomarcas. Elas lêem visualmente.

Também acontece de um signo contaminar o outro e passar suas características para ele. Essa contaminação pode ocorrer por similaridade ou contigüidade. Dois signos semelhantes podem transferir seu significado um para o outro.

 Ao ver uma foto de um tigre, uma criança pode achar que se trata de um gato, devido à semelhança dos dois. A contigüidade ocorre quando colocamos dois signos próximos um do outro. A foto de pessoas junto à palavra felicidade dará a entender que essas pessoas são felizes.

O leitor e a semiótica

Entendemos texto como uma unidade mínima de significação, de modo que o leitor assume um papel ativo na constituição dos sentidos do texto, uma vez que esses sentidos dependem da sua atuação sobre o livro. Os significados constituem-se por meio de sua compreensão.

Portanto, consta-se que o livro possui em sua estrutura elementos de modalização do sujeito leitor, que é provocado para um fazer transformador, tanto do texto como do leitor.

Cria-se um todo articulado por diferentes unidades de significação, para engendrar sentido. Esse que se constitui pelo ato gerador de significar, supera a recepção e a percepção, e instala um sujeito semiótico, resultante da organização discursiva do texto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A aquisição de conhecimentos mais aprofundados e o desenvolvimento de uma percepção individual crítica, como vemos, é fundamental para uma melhor interpretação da obra literária e isto só é possível através da semiótica.

É notória a importância do trabalho de pesquisa mais aprofundado sobre as significações subjacentes ao texto.

Por fim, este estudo colaborou de forma significativa para o aprimoramento da autora deste trabalho. E “o exercício semiótico” sempre colabora com nosso a amadurecimento de modo geral.

Vale ressaltar ainda a gratificante experiência de ter realizado este estudo a partir de um texto tão prazeroso e inteligente como este conto de Érico Veríssimo.


[1] Santaella, L. Estudos de Peirce no COS/PUCSP. In Laurentiz, S. (org.) Caderno da 1ª Jornada do Centro de Estudos Peirceanos. Editado pelo CEPE-COS/PUC-SP, 1997. pp. 3 e 4


Publicado por: Ricardo Santos David

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