Resenha: História, Filosofia e Ensino de Ciências: a tendência atual de reaproximação
Resenha do artigo História, Filosofia e Ensino de Ciências: a tendência atual de reaproximação.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
Esta resenha refere-se ao artigo de Michael R. Matthews, professor do Departamento de Educação na Universidade de Auckland, Nova Zelândia, intitulado História, Filosofia e Ensino de Ciências: a tendência atual de reaproximação; publicado em dezembro de 1995, no Caderno Catarinense de Ensino de Ciências, v. 12, n. 3, p. 164-214.
Em sua discussão ao longo do artigo, História, filosofia e ensino de ciências: a tendência atual de reaproximação, o autor apresenta argumentos favoráveis à presença da filosofia e história da ciência no currículo dos cursos de formação de professores em ciências, ao relatar o considerável crescimento dos profissionais nesta área do conhecimento.
Analisa os currículos americanos, britânicos e australianos, os quais refletem as mesmas preocupações com o ensino em ciências no Brasil.
Um breve histórico acerca do Ensino de Ciências, revela-nos que tal ensino, nos últimos 90 anos, ficou dissociado da abordagem de histórica e filosófica, o que o coloca, quando da transmissão, como um conhecimento meramente acabado, ignorando os percalços encontrados pelos pesquisadores ao longo de sua construção. Dois são os fatores que revelam a crise instalada no ensino de ciências, a saber: o número de alunos que evadem do sistema educacional e o considerável número de iletrados cientificamente.
A inclusão da história e da filosofia nos currículos dos cursos de formação de professores visava uma aproximação dos interesses da ciência e da tecnologia dentro da sociedade, humanizando este estudo e dando maior significação ao seu aprendizado. A mudança destes currículos ocorre juntamente com a inclusão de temas CTS, que procuram a contextualização do ensino, apresentando os aspectos éticos e sociais da ciência.
A Reforma do Currículo Nacional Britânico de Ciências e o Projeto 2061 de diretrizes curriculares da Associação Americana pregam a utilização da história e da filosofia de maneira que estas possam mostrar ao educando como ocorreu a mudança do pensamento e entendimento científico durante os anos, como distinguir argumentos pautados na ciência e os que não são considerados científicos, como as ciências são afetadas pelo contexto social e histórico e quais as respostas válidas e quais podem sustentar uma tese. Para que isso ocorra é fundamental o estudo da natureza da ciência.
Apesar de parecer uma idéia nova, os pensadores britânicos do século XIX e XX, já haviam notado a importância da investigação histórica da ciência para a compreensão do que existe agora, e para que esta possa apresentar novas possibilidades para a sociedade no futuro. O grande problema se encontrava, e ainda se encontra, na formação dos professores, que não estão preparados para o ensino contextualizado e têm resistência à retirada de conteúdos curriculares.
Nos EUA, depois da 2ª guerra, as reformas curriculares de 1960 ocorreram sem a presença de historiadores e filósofos, exceto no projeto Harvard e BSSC. O grande ideal naquele instante estava na formação de cientistas para a corrida tecnológica contra a União Soviética. No projeto Harvard, verificou-se que a utilização da fundamentação dos conteúdos nos processos históricos e filosóficos levou a formação de alunos com grande habilidade de raciocínio crítico. Mas alguns especialistas eram contra a inclusão da HFS (história – filosofia- sociologia), nos currículos.
A argumentação em prol da utilização da HFS nos currículos está baseada na motivação que esta gera dentro do processo educacional, a partir do momento em que a ciência se mostra como parte integrante da sociedade, sendo capaz de mudá-la, a humanização da ciência, a melhora a compreensão dos conceitos, a percepção de que a ciência é mutável e do entendimento do método científico para a explicação de fenômenos relacionados à ciência.
Contra a utilização da HFS, temos o ataque de Klein, argumentando que a apresentação da história dentro de um contexto científico, não era a verdadeira história, e sim uma pseudo-história, pois a apresentação estava presente somente para dar vida aos episódios, usando um pouco de história com má qualidade. Desta forma, Klein achava melhor não utilizá-la, pois a história depende do ponto de vista de quem conta, suas visões sociais psicológicas, religiosas e concepções culturais.
Outra crítica era feita por Kuhn, afirmando que a educação em ciências deve ser conformista, pois “a história das ciências ceifa as certezas do dogma científico”. Apenas um público maduro deveria ter acesso à história, a exposição da história aos menos letrados enfraquecia as convicções na aprendizagem das ciências.
A defesa afirma que a história não precisa ser aprofundada, devendo ser considerada a faixa etária dos alunos. O treinamento dos profissionais para que a utilização da HFS deve possibilitar a visão de diferentes maneiras, por parte do aluno, da construção da ciência. Não seria preciso excluir HFS do currículo, apenas dosá-la de modo correto. Estudos mostram o valor da inclusão da história e filosofia no currículo, e não existem evidências do aumento da dificuldade do entendimento dos conteúdos.
O ensino de ciências tem ignorado a epistemologia existente na física clássica, levando a uma eterna queda de braço entre, por exemplo, a Física newtoniana e o senso comum. Os professores, para comprovarem a física newtoniana, utilizam experiências onde devem ser desconsiderados inúmeros fatores com a resistência do ar, a elasticidade dos corpos, a variação da aceleração da gravidade entre outros. Como na prática não é possível desprezar tais fatores, a dificuldade da mudança de paradigma, do senso comum para a física newtoniana, aparece, pois o que se vê não é o que se aprende.
Um pouco de história da ciência pode preparar os professores para a mudança destes resultados, mostrando a evolução dos conceitos e a filosofia pode ajudar na interpretação dos resultados para os alunos.
A observação requer a teoria, hipóteses não são geradas por indução, a ignorância sobre os avanços da filosofia da ciência no último século, levou a criação de projetos educacionais que não consideravam a presença da história e da filosofia, estes projetos eram puramente indutivistas, levando ao fracasso o ensino de ciências. Os cursos de formação de professores não contemplam HFS e este fator se reflete em sala de aula, onde os profissionais, mesmo que queiram, não possuem a capacidade de trabalhar com HFS.
Deve haver nos cursos de formação de professores o HFS mesmo que este não seja utilizado na prática pedagógica. A presença deste ajuda na melhoria da compreensão da ciência e desenvolvimento da capacidade crítica. Algumas atitudes são adquiridas quando existe a presença da HFS, o profissional passa a conhecer melhor a própria matéria, ler sobre outros ramos da ciência, evoluir seu raciocínio lógico entre outras atitudes. “Os professores devem saber e serem capazes de fazer.”
Ao final, em sua conclusão, o autor sugere a necessidade da inclusão da história e da filosofia nos currículos de formação de professores para que estes possam enriquecer o ensino de ciências, pois esta deve “comunicar mais sobre o espírito e menos sobre o vale dos ossos secos”, ou seja, mostrar aos educandos a presença da ciência na sociedade como transformadora da realidade social, e não como um punhado de informações que só dizem respeito àqueles que fazem ciência.
O texto é direcionado a profissionais que atuam na área de Ensino de Ciência, e tem como proposta sugerir, ao leitor, reflexões acerca da necessária inclusão da temática pertinente à filosofia e história da ciência, no Ensino de Ciências.
Traz uma enorme contribuição à Educação, sobretudo ao docente e aos iniciados em programas de pesquisa em Ensino de Ciências, os quais passam a dispor de novos elementos a uma nova caminhada profissional, acerca de tais possibilidades, razões pelas quais considero valiosa sua leitura.
RESENHA
- Título: Filosofia, História e Sociologia da Ciência no Ensino de Ciências.
- Identificação: História, Filosofia e Ensino de Ciências: a tendência atual de reaproximação.
- Referência: MATTHEWS, M. R. (1995). História, Filosofia e Ensino de Ciências: a tendência atual de reaproximação. Caderno Catarinense de Ensino de Ciências, v. 12, n. 3, dez., p. 164-214, 1995. Disponível em http://www.fsc.ufsc.br/ccef/port/12-3/index.html. Acesso em: 02 abr. 2009.
Publicado por: Marcos Fernandes Sobrinho
O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.