Resenha: Educação Científica: uma revisão sobre suas funções para a construção do conceito de letramento científico como prática social.
Resenha do livro Educação Científica: uma revisão sobre suas funções para a construção do conceito de letramento científico como prática social,O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
Esta resenha refere-se ao artigo de Wildson Luiz Pereira dos Santos, professor da Universidade de Brasília, no Programa de Pós-Graduação em Educação e no Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências, intitulado Educação Científica: uma revisão sobre suas funções para a construção do conceito de letramento científico como prática social, publicado em 2007 na Revista Brasileira de Educação, v. 12, n. 36, set/dez., p. 474-492.
Em sua discussão sobre alfabetização científica, o texto apresenta o domínio de conhecimentos científicos e tecnológicos considerando-o necessário ao desenvolvimento do cidadão. Estima-se que a origem cultural de tal alfabetização remonta ao século XVI. A alfabetização ou letramento científico começou a ser debatido mais profundamente, no início do século XX e o trabalho de John Dewey (1859-1952), merece destaque. Na década de 1950, a temática tornou-se um grande slogan, surgindo um movimento mundial em defesa da educação científica. No Brasil, durante século XIX, o currículo escolar era marcado predominantemente pela tradição literária e clássica herdada dos jesuítas. Apesar do incentivo de dom Pedro II (1825-1891), e de discursos positivistas de intelectuais brasileiros em favor da ciência, como Rui Barbosa (1849-1923), o ensino de ciências teve pouca prioridade no currículo escolar. Apenas nos anos de 1930, começou um processo de busca de sua inovação. Processo esse que teve início com um de atualização curricular e depois continuou com a produção de kits de experimentos na década de 1950, culminando com o início da produção de materiais por educadores brasileiros na década de 1970. Foi também a partir dos anos de 1970 que teve início efetivo a pesquisa na área de educação em ciências no Brasil.
A preocupação crescente com a educação científica vem sendo defendida por diferentes profissionais, tendo surgido essa temática em diferentes contextos, implicando entre os autores uma dificuldade de chegar a um consenso, por se tratar de um conceito amplo que é função do contexto histórico no qual ela é proposta, além de depender de pressupostos ideológicos e filosóficos.
Razão pela qual o artigo apresenta
“...uma revisão de estudos desenvolvidos no âmbito da educação em ciências, visando contribuir para uma reflexão sobre as suas diferentes funções. Essa revisão fornece elementos para estudos críticos de processos avaliativos de nível de alfabetização da população brasileira e da qualidade do ensino de ciências; de análise e proposição de programas de reforma curricular; de estudos sobre políticas públicas na área de formação de professores de ciências e programas de melhoria da qualidade desse ensino, como programas de livros didáticos. Isso se torna essencial, no momento em que resultados de exames nacionais apontam como grande desafio a busca pela melhor qualidade da educação básica.”
O autor apresenta dois enfoques curriculares, a saber: o enfoque centrado em conceito científico, no qual a prioridade da alfabetização é para a melhora do campo de conhecimento científico, a fim de preparar novos cientistas e o enfoque voltado à formação da cidadania que, neste caso, englobará a função social e o desenvolvimento de atitudes e valores.
Ao longo dos tempos outros enfoques e concepções para a educação foram surgindo, como os identificados por Norris e Phillips (2003), quais sejam:
“a) conhecimento do conteúdo científico e habilidade em distinguir ciência de não-ciência; b) compreensão da ciência e de suas aplicações; c) conhecimento do que vem a ser ciência; d) independência no aprendizado de ciência; e) habilidade para pensar cientificamente; e) habilidade de usar conhecimento científico na solução de problemas; f) conhecimento necessário para participação inteligente em questões sociais relativas à ciência; g) compreensão da natureza da ciência, incluindo as suas relações com a cultura; h) apreciação do conforto da ciência, incluindo apreciação e curiosidade por ela; i) conhecimento dos riscos e benefícios da ciência; ou j) habilidade para pensar criticamente sobre ciência e negociar com especialistas.
O texto apresenta vários conceitos de alfabetização e de letramento científicos, enfatizando que o letramento dos cidadãos vai desde o letramento no sentido do entendimento básico de fenômenos do cotidiano até a possibilidade de usar a educação científica e tecnológica na tomada de decisões em questões relativas a ela, sejam decisões de interesse particular ou público.
Como prática social, o letramento impõe uma participação ativa do aprendiz na vida social, o requer também o desenvolvimento de valores, ligados aos interesses coletivos, como solidariedade, fraternidade, consciência do compromisso social e reciprocidade.
Destaca que o objetivo central desse ensino na educação básica é promover a educação científica e tecnológica, auxiliando o aluno na construção de conhecimentos, habilidades e valores necessários às tomadas de decisões responsáveis sobre questões de ciência e tecnologia e atuar na solução de tais questões.
Comenta que consta dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (Brasil, 1999) e PCN + Ensino Médio (Brasil, 2002), uma nítida proposição curricular com enfoque CTS, a qual aparece com a nomenclatura de contextualização
“com várias recomendações e proposições de competências que inserem a ciência e suas tecnologias em um processo histórico, social e cultural e a discussão de aspectos práticos e éticos da ciência no mundo contemporâneo.”
Sugere que uma educação científica crítica será alcançada ao se fazer uma abordagem com a perspectiva de LCT com a função social de questionar os modelos e valores de desenvolvimento científico e tecnológico; o que significa dizer: a tecnologia não deve ser aceita, pelo estudante, como conhecimento superior, cujas decisões são restritas aos tecnocratas.
Enfatiza que muitas mudanças metodológicas se fazem necessárias e três aspectos são considerados nos estudos sobre as funções da alfabetização/letramento científico: natureza da ciência, linguagem científica e aspectos sociocientíficos.
Critica a escola brasileira, considerada, no texto, com caráter elitista, apesar de a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) preconizar uma educação básica firmada no princípio da igualdade de condições.
Com relação aos sistemas de avaliação da educação científica, as evidências apontam para a inadequação em muitos aspectos essenciais ao letramento científico. A escola tem-se restringido a conteúdos básicos, geralmente prescritos em livros didáticos que enfatizam a memorização de equações, de sistemas de classificação e da nominalização de fenômenos, bem como a resolução de questões por algoritmos. Processos que são facilmente avaliados pelos professores e podem ser facilmente aprendidos pelos alunos, simplificando a tarefa pedagógica e atestando o conhecimento básico em ciência pela posse do seu mais elementar saber: o reconhecimento de alguns de seus vocábulos.
O texto é direcionado a profissionais que atuam na área de Ensino de Ciência, e tem como proposta sugerir novas práticas pedagógicas com vistas ao letramento científico e tecnológico e às correspondentes funções sociais.
Trata-se de um texto de muita relevância na medida em que sugere ao leitor-professor ou pesquisador em Ensino de Ciências uma reflexão acerca do que vem a ser alfabetização/letramento científicos a partir de posicionamentos de vários autores, os quais se dão de forma coerente e sólida.
Traz uma enorme contribuição à Educação Científica e Tecnológica, sobretudo ao docente e aos iniciados em programas de pesquisa em Ensino de ciências, os quais passam a dispor de novos elementos motivacionais em sua forma de trabalhar/pesquisar, razões pelas quais considero valiosa sua leitura.
RESENHA
- Título: Educação Científica e Tecnológica e Ensino de Ciência.
- Identificação: Educação Científica: uma revisão sobre suas funções para a construção do conceito de letramento científico como prática social.
- Referência: SANTOS, W. L. P. dos. (2007) Educação Científica: uma revisão sobre suas funções para a construção do conceito de letramento científico como prática social. Revista Brasileira de Educação, v. 12, n. 36, set/dez., p. 474-492.
Publicado por: Marcos Fernandes Sobrinho
O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.