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Qual é o limite?

Confira sobre um grupo de estudantes negros da USP que entrou em uma sala de aula e propôs debate sobre as cotas raciais.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

A Universidade de São Paulo foi palco recentemente de uma ocorrência que deveria fazer pensar todo aquele que tem interesse em questões humanas. Um grupo de estudantes negros, militantes da causa das cotas raciais, entrou em uma sala de aula e propôs debate sobre o tema. Foram mal recebidos pelos demais estudantes, que manifestaram seu interesse em continuar assistindo à aula. A discussão esquentou, com os ativistas perdendo a calma e partindo para a agressão verbal, ante a atitude fria e, até mesmo insensível dos outros, um dos quais declarou que frequentara “bons colégios” e por isso havia ingressado na USP.

Seria, e está sendo, munição para grupos conservadores que afirmam que a atitude dos jovens defensores das cotas foi autoritária e desrespeitosa. Em um país com passivo social menos escandaloso que o nosso e com políticas inclusivas mais sedimentadas, até faria sentido, mas no Brasil a questão racial está entre as mais importantes e urgentes. Talvez os rapazes e moças do movimento tenham pressa demais para poder esperar. 

Por outro lado, os alunos presentes em classe reclamavam para si o direito de não terem sua aula interrompida por temas não ligados diretamente ao seu conteúdo, ou seja, de ter a disciplina esclarecida e entendida, partindo do princípio de esta seria indispensável ao seu futuro exercício profissional.

Uma escola sem preocupação com a cidadania não levará o país a um melhor estágio civilizacional, mas, por outro lado, uma escola focada unicamente em questões sociais, de solidariedade e de ética, poderá formar bons cidadãos, mas talvez não os bons médicos, engenheiros, administradores, e muitos outros trabalhadores também indispensáveis à comunidade. Parecemos ter dificuldade no equilíbrio, na justa medida entre formação laboral específica e a suficiente formação humanista que torna uma pessoa apta para a promoção do desenvolvimento do país.

Além dos alunos, professores mesmo parecem ter dificuldade na dosagem e limite em seus magistérios. O Brasil tem uma deficiência atávica de profissionais em ciências exatas, reflexo provável da pouca ênfase dada à disciplina, a preferência parece recair nas ciências ditas “humanas”, discutindo-se muita política em salas de aulas, mas aparentemente na maior parte dos casos com forte viés ideológico.

Terá o aluno maturidade para escolher? Educadores tem sempre sérias dúvidas sobre o quanto conceder ou cercear liberdades aos jovens em formação. José Pacheco, idealizador e coordenador da escola portuguesa da Ponte, reconhecida em todo o mundo pelo projeto educativo inovador, fortemente estruturado na autonomia dos estudantes, declara constantemente que muito cedo seu grupo de professores compreendeu que “precisavam mais de interrogações que de certezas”, e empreendeu um caminho feito de alguns pequenos êxitos e de muitos erros, dos quais continuam a colher  ensinamentos, para garantir oportunidades educacionais e realização pessoal para seus alunos.

A discussão sobre autonomia é imperativa; praticamente todas as escolas, tanto públicas quanto privadas, funcionam em uma lógica administrativa e burocrática, e poucas tem se pautado, efetivamente, por um norteamento pedagógico, embora este esteja presente em discurso – principalmente no midiático – da grande maioria delas.

Autonomia é considerada condição fundamental para a inovação e o empreendedorismo, temas tão caros ao ensino hoje em dia, contudo, o quanto desta é possível ou desejável, aos alunos, funcionários e professores, está longe de consenso.

Escolas formam quadros para a sociedade, estão em íntimo contato com o mercado e com a sociedade civil organizada, e, numa democracia, a compreensão das metas educativas envolve ética e conteúdos, cujo balanceamento precisa merecer atenção, tanto da escola quanto dos docentes e discentes.

* Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.


Publicado por: Wanda Camargo

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.