Práticas culturais e educação: a instituição escolar enquanto elemento difusor de uma cultura.
A instituição escolar como portadora de cultura de uma determinada sociedade em uma determinada época.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
Conceituar cultura é, com certeza, uma tarefa extremamente árdua, especialmente quando se considera que o termo pode ser definido e entendido a partir de várias perspectivas. Para o senso comum, cultura é sempre sinônimo de conhecimento, inteligência; assim, ela possui matiz individual e, pode ser fonte de preconceito e alienação, tanto para os que “a possuem”, quanto para os que “não a possuem”. Em uma perspectiva antropológica, a cultura pode ser entendida como o elemento diferenciador. Ela ocupa relevante papel no que tange a explicitação das diferenças entre as sociedades, sobretudo, no que se refere aos modos de pensar, sentir e agir das mesmas. Neste sentido, cultura oferece uma visão de mundo, evidencia como um determinado grupo social enxerga as práticas de outros grupos. Partindo deste prisma, corre-se o sério risco de cair no erro de avaliar as práticas culturais de outrem, sem, contudo, respeitá-las. Tal fenômeno é denominado de etnocentrismo, Gustavo Lins Ribeiro afirma que este fenômeno pode ser entendido como “relativismo cultural”.
Ainda pensando na conceituação do que vem a ser cultura, o antropólogo Roque Laraia afirma que Tylor quem definiu “cultura” pela primeira vez, se tratando de todo o complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade.
É bem verdade que a audácia de interpretar o mundo a partir da própria cosmovisão pode ser fonte de discriminação, haja vista, a tendência em evidenciar as diferenças culturais como algo anormal. Seguindo essa direção, corre-se o risco de cair no equívoco de estigmatizar traços sociais presentes em outra cultura que não são recorrentes na sua própria. Esse pode ser o elemento fomentador do nascimento do preconceito discriminatório; que confere à cultura status de raça, que por sua vez, está embasada em elementos biológicos, já, a cultura, fundamenta-se em elementos étnicos e não biológicos, apontando para o fato que indubitável, que não existe cultura superior. Nessa perspectiva, as instituições em sua maioria são portadoras de cultura. No que tange as instituições escolares, sabe-se que elas representam uma cultura de uma determina sociedade em uma determinada época. O professor Demerval Saviani afirma que: “com a divisão dos homens em classes, a educação também resulta dividida; diferencia-se em conseqüência a educação destinada à classe dominante daquela a que tem acesso a classe dominada”.
Assim, convém destacar que a instituição escolar é porta voz de uma determinada cultura. Embora nosso país seja multicultural e, as políticas públicas para educação preconizem uma educação pautada no interculturalismo, onde o diferente deve ser aceito e respeitado, se contrapõe ao conceito pregado pelo Conselho Nacional de Educação que é o de interculturalismo, que trata da interação entre os sujeitos que se diferem no modo de agir e pensar estabelecendo uma relação mútua de troca, como salienta Mauss (1923) o bem estar do ser humano não está em outra parte que não na “dádiva” do dar e receber.
Considerando que o conhecimento nunca é neutro, desinteressado e imparcial, subtende-se que a instituição escolar, criada pelo homem, também não é neutra. Ela visa atender alguma necessidade humana, especialmente daquela parcela que a criou. Quanto à escola, a própria palavra encontra sua raiz etimológica no vocábulo grego que significa: lugar do ócio. Assim, os membros da classe que se dispõem do ócio, de lazer, de tempo livre passaram a organizar-se na forma escolar. Ora, sendo assim, vale salientar que a escola difundi a cultura da classe dominante, a burguesia; que por sua vez, possui caráter excludente. Uma vez portadora dessa cultura, a escola torna-se porta voz de uma tradição herdada da colonização portuguesa, que aconteceu por meio de um processo de assimilação. Deste modo, a instituição escolar defende uma cultura européia cristã, voltada para brancos, e, apesar das políticas educacionais versarem sobre uma educação de caráter intercultural, sua prática não é efetivada, o que se observa na escola enquanto instituição, é que ela veicula um discurso de educação multicultural o que ferozmente ratifica o preconceito que subjaz na mente da sociedade contemporânea.
Isso posto, faz-se urgente a produção de um modelo educacional que contemple o diferente. A educação escolar tem de ser pensada não para um grupo específico, mas deve ser elaborada para o todo, considerando suas práticas culturais. Há que se elaborar currículos que contemplem a diversidade cultural presente no país. Criar disciplinas que tratam sobre práticas interculturais, não apenas de outras etnias, mas também práticas que se refiram a grupos vulneráveis, marginalizados perante a cultura dominante e que são olvidados em meio o contexto escolar segragador. Portanto, deve-se atinar para a diversidade presente no nosso país por meio de um viés sociológico e democrático, no qual todas as pessoas, independente de seus conhecimentos, crenças, valores morais, costumes, etnia ou hábitos possam ter seus direitos garantidos e preservados.
Publicado por: Francielle
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