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Por que a Carreira Docente não é Atraente?

A questão salarial é apenas a ponta do imenso iceberg dos problemas e desafios da educação.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Nesta segunda-feira (15/10), Dia do Professor, o IG publica uma reportagem interessante, de Priscila Borges, a respeito da carreira docente, cujo título é: 'Salários baixos provocam fuga de professores da carreira'. A matéria traz depoimentos de profissionais de ensino e links relacionados ao tema.  

No geral, o texto de Priscila é bem elaborado e informativo. No entanto, deixou de lado aspectos fundamentais que envolvem os profissionais de ensino, ou seja, situações que vão além de salários. Melhor dizendo: a questão salarial é apenas a ponta do imenso iceberg dos problemas e desafios da educação. É preciso trazer à tona os obstáculos e os conflitos - da carreira do magistério - para que a sociedade saiba e compreenda, em profundidade, o que vem acontecendo.

Por sua vez, a repórter tem razão ao afirmar que a baixa remuneração é desestímulo para os novos talentos. Saldo: faltam profissionais de ensino, em todo o país, para lecionar as diversas disciplinas. A cada ano que passa, muitos alunos terminam o ano letivo sem ter assistido uma única aula de algumas matérias.

A verdade é que a maioria dos docentes são obrigados a sobreviver com um salário insuficiente para suas despesas e manutenção digna de sua família. Por essa razão, muitos trabalham em até quatro escolas. Ante essa condição desfavorável, os professores não podem comprar revistas, jornais, livros e não se atualizam. Há muitos que não possuem um computador. Ainda assim, infelizmente, existem políticos e burocratas de educação, que compartilham da ideia que o profissional não precisa de boa remuneração para poder desenvolver um bom trabalho e sobreviver.  

Violência escolar

Quem conhece, de perto, o cotidiano da escola, sabe que educação envolve questões profundas e variáveis complexas. Por exemplo, a questão da violência. Na maioria das vezes, é ocultada. Professores e alunos são as maiores vítimas. O problema não para por aí. Em classe, o professor percebe, claramente, o comportamento agressivo de seu aluno. Essa agressividade é o reflexo das dificuldades vividas pelas famílias. Entre elas, o alcoolismo, o drama do desemprego, o consumo de alucinógenos e a desestruturação familiar.

De outro lado, nem sempre, os professores são respeitados pelos gestores - há exceções - pelos alunos e pelos responsáveis. Muitas famílias não assumem suas obrigações. Querem que a escola eduque seus filhos. Assim, o profissional tem de lidar, diariamente, com crianças e jovens sem limite. Há casos de alunos que se sentem ofendidos quando o professor chama sua atenção. Isso é pretexto para ameaça de morte. Outra situação recorrente e perigosa: alguns alunos não aceitam a nota que obtiveram nas avaliações.   

Pois bem! É na sala de aula que o professor é aviltado mais ainda. Desse jeito, acaba se tornando mero figurante. Muitos se sentem isolados e impotentes no exercício da função. Há diretores que, diante dessa e outras situações, preferem fingir que tudo está bem. Dessa forma, não resolvem os casos mais graves de violência. É comum, também, o gestor criticar a maneira como o docente desenvolve o seu trabalho em sala, porém, o mesmo inadmite opinião desfavorável ao seu trabalho. Em retaliação, o educador passa sofrer assédio moral do gestor.

Diante da dificuldade de lidar com um cotidiano violento, situações estressantes e problemas de difícil resolução, muitos educadores se afastam do trabalho. Em maioria, depois de certo tempo, passam a apresentar sintomas de depressão e transtorno ansioso. Leitor, em sua opinião, por que os mestres faltam muito ao trabalho? 

mídia e discurso oficial

Quanto a grande mídia, lamentavelmente, está ao lado do poder. Do discurso oficial. Sua postura revela uma verdadeira apatia e total desinteresse em relação aos problemas da escola pública. Tem mais, é comum a mídia responsabilizar os professores pelo fracasso escolar. Outro inconveniente muito usado pela mídia é o de responsabilizar os docentes como os maiores vilões da educação.

Um bom exemplo disso é a forma como a construção da notícia é feita em relação à escola. A informação é veiculada de forma maldosa e sensacionalista. Quem não se lembra da Escola de Base? Em 1994, os donos da Escola de Base, Icushiro Shimada e Maria Aparecida Shimada, um pai de um estudante e o motorista da perua escolar foram acusados de abusarem sexualmente dos alunos. As denúncias eram infundadas. Na realidade, a mídia deixa de cumprir o seu papel que é de informar quem está do outro lado da tela. Por que isso acontece? Porque vivemos num país de nível cultural baixo. Dessa forma, a mídia eletrônica reina soberana. Comete abusos e transgressões terríveis.

Dessa forma, perante a sociedade civil, os educadores são malvistos. Quanto aos governantes permanecem em berço esplêndido. Não pesam sobre eles críticas desfavoráveis. Afinal de contas, contam com as benesses do poder e a bajulação de boa parte da mídia. É uma troca de interesses. É por isso que não sofrem críticas e deixam de ser cobrados por tudo o que deixam de fazer. É como afirma Eugênio Bucci: 'Pois fora da crítica não há saída'.   

Outra coisa: a mídia deveria ouvir os professores e deixar que falem. Não há canais de comunicação para que haja interação com a sociedade. Os profissionais de ensino não podem ser abandonados ao descaso, aliás, necessitam de apoio, da sociedade civil e demais instituições organizadas, para que possam fazer um bom trabalho.   

Não é novidade que, prefeitos e governadores, tratam os docentes com total desprezo. Afinal, educação não tem o devido valor e não é prioridade, de fato, neste país. Se fosse, não teríamos chegado ao ponto que estamos. Um exemplo: muitos prefeitos e governadores se negam a pagar o Piso Nacional do Magistério (de R$ 1.451), que é referente à jornada de 40 horas semanais. Exceto os compromissados com a educação, não resta dúvida que os políticos são os maiores adversários da educação pública neste país. Não serve como justificativa, portanto, o argumento de que falta dinheiro para o pagamento do piso.  

EDUCAÇÃO DE QUALIDADE

Uma boa escola não é utopia. É possível.  É mais que giz e lousa. É preciso também: ambiente seguro, salas de informática, boas condições pessoais para os profissionais, fim da promoção automática, cursos de qualificação para os docentes, bons salários, envolvimento dos responsáveis, recursos didáticos e investimento do poder público. Sem isso, seguramente, não teremos qualidade.

Então, por que a educação – em boa parte da rede pública - não funciona neste país? Certamente, está claro para o leitor que são muitos os obstáculos. Eles são a somatória de questões que abordamos no texto e outras mais. Entre eles, citamos: salário baixo, indisciplina, violência, estresse causado por excesso de ruído na classe, vandalismo escolar, péssimas condições de trabalho, desinteresse dos pais e discentes pelo aprendizado, ambiente inseguro, salas superlotadas, ausência de plano de carreira e gestão antidemocrática. Por outro lado, não devemos nos iludir e imaginar que na escola particular não existe problema. Que tudo é perfeito. Na realidade, o educador enfrenta dificuldades e desafios semelhantes aos da escola pública.   

Por fim, há quem diga que a educação pública pode mudar e melhorar se os diversos atores - governantes, professores, pais, sociedade civil, Ministério Público e a mídia - fizerem uma parceria. Do contrário, sem o envolvimento efetivo de todos, vamos continuar assistindo a triste tragédia anunciada que se encontra a educação brasileira. Finalmente, quem se interessa pela educação pública e seus desafios, vale a pena assistir o filme: 'Carregadoras de Sonhos'.


Publicado por: RICARDO SANTOS

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.