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O SER QUÂNTICO-HOLÍSTICO : UMA PROPOSTA DE REINTEGRAÇÃO DO CONHECIMENTO ATRAVÉS DA RELAÇÃO ENTRE HISTÓRIA, LITERATURA E FILOSOFIA

Relação entre Filosofia, Literatura e História e o processo de desagregação na concepção holística.

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RESUMO

O processo de desagregação do conhecimento na concepção holística, acompanha a de mythos[2]-logos no contexto do século IX – V (na Grécia Clássica), quando se dá, a transferência do sistema silábico de escrita para o alfabético (importado dos fenícios), levando o acesso à leitura a um número bem maior de pessoas . Com efeito, não significou uma popularização da escrita, mas sua difusão foi aos poucos transformando uma extremamente baseada nos mitos (e na tradição oral) para uma que encontra no discurso escrito, a corporificação do pensamento filosófico. Se na Idade Média não foi enxergada uma grande pulverização do conhecimento, por conta da Teologia, a Idade Moderna, sobretudo, após a revolução científica, acentua a segmentação do saber, que chegará ao auge no século XIX, com os cientificismos.  Entretanto, os debates sobre a necessidade de interdisciplinaridade, no início do século XX, e as discussões sobre holismo, encabeçada pelas ciências humanas e a física quântica, no final do século XX e início do XXI, fizeram emergir uma questão importante: o conhecimento em sua plena potência, dá-se de forma integrado, holístico.

Palavras-chave: Holístico, Escrita, Mythos ,Logos.

O ser quântico-holístico: Uma proposta de reintegração do conhecimento através da relação entre História, Literatura e Filosofia.

A relação entre Filosofia, Literatura e História e o processo de desagregação,  na concepção holística, acompanha a de mythos[3]-logos no contexto do século IX – V quando se dá a transferência e consolidação do sistema silábico de escrita para o alfabético (importado dos fenícios), levando o acesso à leitura pela simplificação do sistema composto por vogais e consoantes, a um número bem maior de pessoas que aqueles compostos, quase exclusivamente, pelos que se ocupavam de sua função - os escribas –, e o surgimento da episteme . É claro que não significou uma popularização da escrita e do acesso à leitura, mas sua difusão (pela facilitação que sofreu) foi aos poucos transformando uma sociedade extremamente baseada nas narrativas míticas (que tem como instrumento vital a tradição oral) para uma que encontra no discurso escrito uma corporificação do pensamento, e mais tarde, do pensamento filosófico[4]. Segundo Rodolfo Pais Nunes Lopes (2014):

De acordo com esta tese, que abarca não só a filosofia, como também todas as áreas do saber, a civilização grega, especificamente entre os séculos VI e IV a.C., operou uma verdadeira revolução no que respeita ao modelo geral de entendimento do real. Um tanto abruptamente, “as crenças pueris” em narrativas cosmogônicas protagonizadas por deuses deram lugar a explicações racionais que regiam e determinavam a estrutura do real; passaram do ‘mythos ao logos’ […] Assim, mythos-logos são concebidas como duas dimensões da intelectualidade humana perfeitamente opostas e incompatíveis. O primeiro diz respeito à modalidade pictórica e simbólica, totalmente desprovida de rigor analítico e racionalidade, enquanto que o segundo será o inverso. A constituição do que entendemos por filosofia (tendo em conta o cânone ocidental) depende por inteiramente desta superação que, assim, constitui o seu primeiro passo decisivo. É verdade esta concepção, sobretudo no que respeita ao preconceito antropológico em que assenta, tem sido alvo de duras críticas que expõem com suficiente clareza as suas fragilidades teóricas; mas também não é menos verdade que, nas suas linhas gerais, ela continua a ser seguida, ainda que tacitamente, por uma quantidade considerável de estudiosos de todas as criações humanas em geral (LOPES, 2014, p. 26 – 27).

Sobre esse processo também afirma Nicolau Sevcenko (2005)[5]

Agora o pensamento adquire autonomia e formula a narrativa segundo as convenções de uma estética afinada com uma hierarquia de valores, que corresponde a um sistema social e político instituído e vertical. Nessa nova situação, o mito continua existindo, mas sua existência está vinculada à representação literária.

Vernant data o início desse processo tomando como base, as ideias dos milésios. Para ele é no princípio do século VI, na Mileto jônica, que homens como Tales, Anaxímenes e Anaximandro inauguraram um novo modo de reflexão com base na natureza (physis), livre de toda imagem “dramática” das teogonias e cosmogonias antigas.

Com os milésios, pela primeira vez, a origem e a ordem do mundo tomam forma de um problema explicitamente colocado a que se deve dar uma resposta em mistério, ao nível da inteligência humana, suscetível a ser exposta e debatida publicamente, diante do conjunto de cidadãos, como as outras questões da vida corrente. (VERNANT, 2002, p.144)

É claro que esse processo não resultou em uma transição revolucionária da tradição oral para o texto escrito e nem do completo abandono do saber mítico em razão desse novo logos que estava sendo engendrado, pelo menos até a época de Platão, mas essa transição resultou em uma crescente valorização do sistema escrito que como consequência foi afastando cada vez mais os gregos, do contexto de total domínio da oralidade (caracterizada em épocas anteriores), período em que Sócrates caracteriza como declínio do mito. Em sociedades onde a escrita ainda não é sistemática e de uso relevante, a tradição oral encontra ares (narradores e ouvintes) para difundir suas narrativas[6]. Esses mythos encontram nos ouvintes um processo de interpretação simbólica e subjetiva que quando são materializados no texto escrito, não existem. Ao adquirir corpo textual eles se encerram numa estrutura fechada que se opõe àquela aberta e volátil do registro oral, resultando numa exposição à crítica e a diversidade de opiniões e questionamentos, não mais a autoria é atribuída ao divino, a voz divina das musas, como nos poemas homéricos, mas a um autor cujo sua existência e produção são claramente verificáveis no tempo e espaço.

Esse contínuo desenvolvimento da escrita trouxe consigo necessidades antes não encontradas na relação do indivíduo com o mito. O logos se põe contrário ao mito à medida que abarcaria uma característica de possuir ou ter que possuir uma realidade demonstrativa, verificável para os leitores. Mas isso não significa associar as sociedades de tradição oral com a irracionalidade, falta de inteligência, ausência de senso crítico ou até mesmo a-historicidade e as de tradição escrita como objetiva, racional e crítica como considerava a história tradicional, que sacralizava o documento escrito e oficial e atribuía a povos, onde havia sua ausência, como povos sem história.

A escrita e o surgimento da episteme representou ,na verdade, uma quebra ao contínuo exercício da memória em detrimento da rememoração e ao mesmo tempo a segmentação dos conhecimentos, antes integrados a concepção holística, como é o caso da Filosofia,  História e da Literatura. O paradigma racional discursivo, que derivou do novo sistema de escrita, não tornou as narrativas míticas e a oralidade obsoleta, mas o estabelecimento da narrativa textual, incorreu o movimento filosófico a duas linhas de pensamento: uma onde se encontra o mythos, o campo da abstração, do simbólico e subjetivo sem pretensões de validação pelo critério do real e do verificável onde podemos encontrar Calíope; a outra de natureza argumentativa e com vistas a apresentar um resultado objetivo, viável, verdadeiro, verificável, científico onde podemos encontrar Clio (principalmente com Tucídides e a partir dele) e a  filosofia. Conforme Vernant,

Já no século VI a,c', Teágenes de Reggio e Hecateu inauguram a postura intelectual que se perpetua depois deles: os mitos tradicionais já não são apenas retomados, desenvolvidos, modificados; eles constituem o objeto de um exame racional; submetem-se as narrativas, particularmente as de Homero, a uma reflexão crítica, ou então aplica-se a elas um método de exegese alegórica. [...] Mas é com o desenvolvimento da história e da filosofia que a interrogação ganha toda a sua amplitude e que, por conseguinte, a crítica atinge o mito em geral. Confrontada à investigação do historiador e ao raciocínio do fi1ósofo' a fábula vê ser-lhe recusada, dada sua condição de fábula, qualquer competência para falar do divino de modo válido e autêntico, Assim, ao mesmo tempo que se dedicam com o máximo cuidado a repertoriar e a fixar seu patrimônio lendário, os gregos são levados a questioná-lo, de maneira às vezes radical, apresentando com clareza o problema da verdade - ou da falsidade - do mito[...]Mas, quer recolham preciosamente seus mitos, quer os interpretem, critiquem-nos ou rejeitem-nos em nome de outro tipo de saber, mais verídico, os antigos continuam a reconhecer neles o papel intelectual que lhes era comumente atribuído, na Grécia das cidades-Estados, como instrumento de informação sobre o mundo do além. (VERNANT, 2002, p.19-21)

Os mitos eram, portanto, uma instituição de memória social, um instrumento de comunicação do saber que eram fundamentais na cultura grega e que mesmo em declínio (com o desenvolvimento de um tipo de logos oriundo da sistematização da escrita) ainda ocupava papel importante na visão de mundo dos gregos. Com efeito, sua passagem à escrita destituiu-lhe a autoridade essencialmente divina (da voz das musas e dos deuses) e encerrou-lhe num espaço bidimensional e limitado que – textualizado- colocou-lhe à uma exposição à crítica, perdendo aquela abertura e volatilidade que o definia.

 A filosofia, portanto, buscaria se constituir na oposição daquilo em que consistia o mito. Sua narrativa não seria resultado de inspiração divina e nem sua autoridade seria atribuída às musas, mas a um autor situado no espaço e no tempo, cuja a racionalidade demonstrativa (própria de um tipo de logos oriundo do desenvolvimento da escrita) seria fulcral para a relevância do seu discurso, ou seja, o saber contido no texto filosófico necessitaria de uma episteme fundamentada em “garantir um nexo de veracidade entre o discurso e o objeto desse discurso, uma adequação entre ‘o que se diz’ e ‘o que é” (LOPES, 2014, p.16). A própria relação entre produtor e receptor sofre alterações nesse contexto.

A interpretação simbólica e subjetiva características do processo hermenêutico das narrativas míticas, enfraquece mediante um tipo de narrativa – a textual – na qual interessa, sobretudo, a compatibilização entre o que é dito e a realidade. As condições objetivas da vida humana (aquilo que é verificável, observável, que pode ser “provado”) pautadas sobre um critério de verdade, que é externo, tornam-se o centro desse tipo de racionalidade que move tanto o autor quanto o leitor. É bem verdade, que muitas produções decorrentes da textualização eram sobretudos traduções das narrativas míticas para o texto escrito, portanto prescindido de validação, contudo as que se destacariam e se constituiriam como eminentemente filosóficas são as que estabeleceriam uma argumentação objetivando apresentar um resultado válido, “verdadeiro”. O pensamento grego, portanto, nesse contexto, não se caracterizaria pela cisão completa e absoluta entre o mito e o logos, mas na superação e na valorização do último em relação ao primeiro.

Como já exposto, essa distinção seria, junto com o surgimento escrita (e um tipo de logos derivado desse fenômeno) e o desenvolvimento desta, no contexto da Grécia Clássica, fator determinante para a fragmentação do saber, notadamente, da filosofia. O mito de Toth, para além de explicar que o surgimento da escrita enfraquece a memória e deixa os homens menos sábios, está sinalizando o que Sócrates percebeu de forma sistemática: que o surgimento da escrita e esse logos que a compreende segmentou a filosofia (enquanto cosmovisão) e a concepção holística presente no período mítico, e fez da linguagem textual espaço das distinções entre os saberes. Razão e mito, episteme e doxa, prosa e poesia, História e Literatura, foram, aos poucos, tornando-se distinções fundamentais na filosofia grega ocidental. Mas se Sócrates sinalizou sobre esse contínuo processo de segmentação e de involução da sabedoria humana como visto na passagem “tornar-se-ão, por consequência, sábios imaginários, em vez de sábios verdadeiros”, do mito egípcio já citado, Aristóteles em “Poética” sistematizaria uma hierarquia das áreas de conhecimento e o que se ocuparia cada uma delas, notadamente, História e Literatura que é cerne da nossa análise. Sobre essa distinção diz o filósofo:

Do que foi dito, também fica evidente que não é função do poeta realiza um relato exato dos eventos, mas sim daquilo que poderia acontecer e que é possível dentro da probabilidade ou da necessidade. O historiador e o poeta não se diferenciam pelo fato de um usar prosa e o outro, versos. A obra de Heródoto poderia ser versificada, com o que não seria menos obra de história, estando a métrica presente ou não. A diferença está no fato de o primeiro relatar o que realmente aconteceu, enquanto o segundo, o que poderia ter acontecido. Consequentemente, a poesia é mais filosófica e mais séria do que a história, pois a poesia se ocupa do universal, ao passo que a história se restringe ao particular. O universal é o que cabe a um certo tipo de pessoa dizer ou fazer em determinadas circunstâncias segundo o provável ou o necessário; esse é o objetivo da poesia, ainda que atribuindo nomes a indivíduos.  O particular o que fez Alcebíades, ou experimentou (ARISTÓTELES, 2012, p. 55).

Essa hierarquização e sistematização dos campos de conhecimento se tornaria as bases do pensamento ocidental. Conforme Henrique Borralho,

Partindo desses exemplos e tomando a acepção aristotélica de separação entre poesia ( literatura) e história, preposto de uma teorização que segmenta a poética da poesia (poiesis) de uma poética na história (enredo, narrativa, trama, seleção, imaginação e até mesmo verossimilhança), pode-se aferir o quanto o processo de construção da cognominada racionalização na Grécia clássica, ainda que estivesse assentada em uma concepção holística de conhecimento em seus primórdios, segmentou lenda, mito, filosofia, do processo de imaginação, criação, nos vários ramos do conhecimento. (BORRALHO, 2012 , p. 32)

E acrescenta:

Iniciava-se uma longa jornada de conhecimentos específicos, de compêndios alicerçando uma convicção de que a vida era fragmentada, divisa, não integrada e atomizada. A disputa de espaço de poder dentro dos ramos de conhecimento suplantou em algumas ocasiões até mesmo a pergunta inicial. Quem somos? De onde viemos? Para onde iremos? Foram essas e outras pessoas que motivaram, embora de forma distinta, em lugares e tempos dísticos o surgimento do pensamento ascético, mitológico, filosófico, por conseguinte litero-histórico ( p.33)

Nesse sentido, História e Literatura (já apartadas da Filosofia), seguiriam caminhos diferentes. A história proveniente da filosofia, foi aos poucos, assumindo uma característica moral que para os gregos era instrumento de afirmação e legitimação sobre os outros povos. O caráter da investigação tornou-se próprio da história e a busca da verdade, pela experiência, pela verificação, pela observação do mundo prosaico, seu objetivo, tornando-se importante instrumento da Paideia grega. Essas características que passaram a definir a história, foram, paulatinamente, abastando-a de seus elementos intrínsecos reflexivos e filosóficos, por conseguinte, da poesia e da filosofia.

Cada vez mais guarnecidas, história e literatura foram esticando o laço que os entrelaçava em torno do conhecimento. A literatura seguiria o caminho da mímesis, da verossimilhança, da inverossimilhança, da representação, da subjetividade, da imaginação e da abstração. A história, por seu turno, se representaria pela apropriação da dimensão prosaica do mundo, do mundo “real”. Ela se encarregaria de apreender a realidade objetiva afastando-se cada vez mais da imaginação literária e dos aspectos metafísico da filosofia.

Com Heródoto a História passou a se caracterizar e adquirir sentido pela sua característica de investigação e pela busca da verdade. Através de relatos que “ouviu” e dos fatos que “viu”, o historiador grego construía suas narrativas pautadas num estatuto de verdade que a pesquisa empírica, centrada no mundo real lhe garantia. Não mais as musas que ditavam o saber através de um processo de possessão sobre os aedos[7], era o próprio historiador, no caso Heródoto, que através da investigação, construía sua escrita. O historiador sabe por que “viu” e não por inspiração.

É nesse ponto que se agudiza a separação entre a História e Literatura . Cada vez mais, os historiadores procuravam se distanciar do saber transmitido pelas musas aos poetas (através da inspiração ou possessão) definindo um território próprio, autônomo, um estatuto particular que os diferenciava da doxa e os interligava a alétheia[8].  A verdade, então, se dessacralizou, passou de ser própria somente da divindade e se tornou humana, oriunda do esforço intelectual, palpável ao pesquisador que se pautasse na perscrutação do mundo prosaico por critérios objetivos e racionais.

Com Tucídides essa distinção se intensificou. Para ele, a investigação do fato e de seu caráter verdadeiro se dava pelas evidências e pelos vestígios arqueológicos. Segundo ele, o poeta engrandecia e adornava os fatos para que seus personagens ganhassem fama imortal. As coisas que narram não podem ser verificadas, encaminhando-se muitas vezes para a território da fábula. Políbio, Tácito e Tito Lívio também seguiriam pelo mesmo caminho, ao enfatizar o testemunho, a investigação e a busca pela verdade como tarefas principais ao historiador. O historiador deveria ser um homem ativo, que viaja, testemunha, presencia os fatos que relata e narra o verdadeiro.

Ainda que o processo de fragmentação do conhecimento, notadamente a separação entre Literatura e História da Filosofia, inicie-se na Antiguidade, essa separação entre Clio e Calíope não se resume necessariamente em isolamento. Filósofos como Platão e Aristóteles que identificaram essa desintegração do conhecimento, percebiam a necessidade de comunicação entre as diversas áreas e utilizavam a filosofia para tal. Se na Antiguidade não se observou essa profunda pulverização do conhecimento, grande parte da Idade Média também não testemunhou tal fato. Segundo Dórea,

Apesar da mudança de foco com a cristianização da filosofia (Platônica e Aristotélica), este período manteve, através da Teologia, a estrutura circular de retroalimentação das disciplinas que, apesar da separação, evitava o isolamento em áreas fechadas. (DÓREA, 2012 , p.3)

É a partir do século XIII, quando as obras de Aristóteles deixam de serem proibidas e começam a ser aceitas e, mais tarde, se tornam obrigatórias nas universidades, que começa a ocorrer um processo de quebra de uma visão cosmológica, antropológica, teológica e epistemológica na intelectualidade europeia, resultando em uma separação progressiva entre religião, ciência, tradição e filosofia. Essa mudança que se intensificará nos séculos subsequentes, encontrará “um marco significativo no modelo cartesiano de ciências do século XVII (DÓREA, 2012, p. 4). A ênfase no ser humano em detrimento do todo e da relação com o mundo, o cultivo da dúvida cartesiana, e a mecanicidade da física newtoniana, cimentaram o logos nas condições objetivas da existência. Essas características que se inter-relacionaram nesse contexto cognominado posteriormente de “Revolução Científica” (século XVI – XVIII), influenciaram os séculos posteriores, tendo alcançado o ápice no século XIX (com os cientificismos), e influenciam até hoje, as concepções de mundo e ciência. Segundo Zohar, é

[...]de comum acordo, que as influências mais poderosas sobre nossa cultura moderna, derivam da revolução filosófica e científica do século XVII, do cultivo da dúvida cartesiana e do nascimento da física newtoniana ou clássica. Ambas mudaram radicalmente o modo como vemos a nós mesmos e nossa relação com o mundo. A filosofia cartesiana arrancou os seres humanos do contexto religioso, social e familiar e lançou-os de ponta-cabeça no que este livro chama de "cultura centrada no eu", uma cultura dominada pelo egocentrismo, por uma ênfase exagerada do "eu" e do "meu". A visão de Newton arrancou-nos da própria substância do Universo. A física clássica transmutou o cosmo vivo dos gregos e da Idade Média, um cosmo cheio de sentido e inteligência e movido pelo amor de Deus em benefício do homem, numa máquina morta e previsível[...] Ao longo da História, temos retirado da teoria física corrente da época nossa concepção a respeito de nós mesmos e de nosso lugar no Universo. Assim, ao longo destes trezentos anos, físicos e não-físicos têm encontrado na coloração fria da visão newtoniana suas filosofias pessoais, seu sentido de identidade própria e suas noções de como se relacionam com o mundo e com as outras pessoas. (ZOHAR, 1990, p.7-8)

Contudo, foi no século XIX que a separação entre História e Literatura alcançou o ápice - o século dos chamados cientificismos. A forma de “ciência” que se estabelece nesse período, torna-se superior, segundo seus adeptos, a qualquer tipo de interpretação e compreensão subjetiva da realidade (religião, filosofia, metafísica, etc.). Calcados em um ideal de progresso, objetividade, imparcialidade, concretude, realidade, utilidade, verdade incontestável e leis irrefutáveis, abastaram-se de tudo que era espiritual, metafísico, do campo da abstração e da imaginação. A subjetividade torna-se tudo aquilo que um cientista não deve utilizar no processo de relação com o objeto a ser desvendado.

No século seguinte, as discussões sobre interdisciplinaridade , trouxeram avanços significativos para as áreas de conhecimentos ditas “afins”. História, Filosofia e Literatura, passaram a dialogar com mais frequência nos textos acadêmicos e na prática docente. Porém , frente aos problemas cada vez mais complexos, transversais e mundiais que se prostram no nosso século, a simples tomada de um pelo outro como fonte, não seria suficiente para responder a essas questões.  Segundo Edgar Morin 

“Para articular o conhecimento, organizar os conhecimentos e assim reconhecer e conhecer os problemas do mundo, é necessária a reforma do pensamento[...] A esse problema universal confronta-se a educação do futuro , pois existe cada vez mais ampla, profunda e grave, entre , de um lado, os saberes desunidos, divididos ,compartimentados e , de outro, as realidades ou problemas cada vez mais multidisciplinares, transversais, multidimensionais, transnacionais, globais e planetários. (MORIN,2000, p. 32-33)

Com efeito, é interessante notar as possibilidades de diálogos entre os campos de conhecimento quando se pensa a linguagem como uma forma de trazer e dar sentido no mundo sensível ao que era oriundo e uno do/e no campo das ideias. Se tomarmos a Literatura e a linguagem literária como uma forma de dizibilidade específica desse conhecimento amalgamado no outro plano, podemos questionar o que a diferencia de outras áreas que também se ocupam da existência e das potencialidades do ser nos seus diversos âmbitos como a história e a filosofia? A pergunta inicial sobre o que é o ser e sua pluralidade (potências) fizeram-nas caminhar em linhas distintas, causando uma falsa impressão que também distintas deviam ser umas das outras enquanto paradigmas da compreensão humana, afinal as perguntas podem ser diferentes, mas o produto recai sempre sobre a questão das condições da nossa existência. (BORRALHO, 2016, p. 49).

Em artigo recente intitulado “ O homem é o animal que vai ao cinema”  (frase Agambeniana) Alberto Pucheu, citando Deleuze , diz, a respeito do perigoso poder que a informação via mídia jornalística possui em inventar a notícia como se fosse verdade absoluta, criar estereótipos, vender a “verdade” segundo seus interesses e  enfatizar deliberadamente os aspectos negativos da vida (calamidades, mortes, destruição, desemprego, fome, miséria, corrupção...), é preciso “revirar a imagem”, ou seja, ter forças para superar essa lógica através da “contrainformação” e da “resistência” pela resistência da arte. (PUCHEU, 2016, p.238-239) Por que, então, não reviramos essa “imagem” da segmentação que pelos estudos recentes se revelam já obsoletas e prejudiciais ao desenvolvimento do conhecimento? A bela análise de Pucheu, do cinema enquanto potência, e por isso ligado a filosofia e a poesia[9] (e também a história), leva-nos mais uma vez à noção de vínculo cosmológico que tem as representações acerca da condição humana e que buscam o desvelamento da nossa existência. Contudo, essa ideia, segundo Compagnon, já prescinde de discussão, afinal:

[...]para que procurar ainda conciliar a literatura e a história, se os próprios historiadores não creem mais nessa distinção? A epistemologia da história, também ela sensível aos progressos da hermenêutica da suspeita, transformou-se, e as consequências se fizeram sentir na leitura de todos os textos, inclusive os literários. [...] A história dos historiadores não é mais una e unificada, mas se compõe de uma multiplicidade de histórias parciais, de cronologias heterogêneas e de relatos contraditórios. Ela não tem mais esse sentido único que as filosofias totalizantes da história lhe atribuíam desde Hegel. A história é uma construção, um relato que, como tal, põe em cena tanto o presente como o passado; seu texto faz parte da literatura. (COMPAGNON, 2006 p. 222)

Nesse ponto, justifica-se a emergência da visão de mundo holística como fundamental para uma renovação do conhecimento.  Para Elizabeth Teixeira “ Reflexões sobre o paradigma holístico e holismo e saúde”,

O paradigma holístico emerge de uma crise da ciência, de uma crise do mparadigma cartesiano-newtoniano, que postula a racionalidade, a objetividade e a quantificação como únicos meios de se chegar ao conhecimento. Esse paradigma busca uma nova visão, que deverá ser responsável em dissolver toda espécie de reducionismo. (TEIXEIRA,1996, p.286)

Compreender e sentir a necessidade de uma nova configuração do conhecimento, de uma construção autônoma e singular da nossa existência em detrimento de ideologias que só ultrajam a nossa essência e paradigmas pré-programados impostos como verdadeiros e adequados para nossa vida, que nos afastam cada vez mais do “selfie” e se introjetam, portanto, heterônomas, na nossa subjetividade - no processo de suprimento do vazio do ser (se passando por identidades singulares mas que são externas, tomada das ideologias), se revela extremamente importante e faz de nós, realmente,  contemporâneos. Conforme Agamben,

Pode dizer-se contemporâneo apenas quem não se deixa cegar pelas luzes do século e consegue entrever nessas a parte da sombra, a sua íntima obscuridade. Com isso, todavia, ainda não responderemos a nossa pergunta. Por que conseguir perceber as trevas que provêm da época deveria nos interessar? Não é talvez o escuro uma experiência anônima e, por definição, impenetrável, algo que não está direcionado para nós e não pode, por isso, nos dizer respeito? Ao contrário, o contemporâneo é aquele que percebe o escuro do seu tempo como algo que lhe concerne e não cessa de interpretá-lo, algo que, mais do que toda luz, dirige-se direta e singularmente a ele. Contemporâneo é aquele que recebe em pleno rosto o facho de trevas que provém do seu tempo.(AGAMBEN, 2009, p.63)

Vemos, então, que a questão está em refletir como enxergamos a vida e como organizamos o conhecimento existente e, a partir deles, tomamos sentido na experiência na vida social. A autorreflexão que sugere o oráculo de delfos - “conhece-te a ti mesmo” - é substancial para a abertura das faculdades mentais no sentido holístico. Segundo o sociólogo Edgar Morin, em relação a considerações/proposições para a educação do futuro, “Para articular o conhecimento, organizar os conhecimentos e assim reconhecer e conhecer os problemas do mundo, é necessária a reforma do pensamento”(MORIN, 2000, p.35-36). Portanto, o ponto crucial é entender a inadequação dos saberes desunidos, notadamente história e literatura, frente à problemas cada vez mais multidisciplinares e transversais que se colocam nos dias atuais.

É nesse sentido que a perspectiva quântico-holística torna-se fundamental para uma renovação no conhecimento e nas formas de acesso ao saber que temos hoje. Teoria formulada pelo estadista sul-africano Jan Christiaan Smuts em sua obra “Holism and Evolution (1926), o holismo se refere ao universo e a natureza viva como constituídas por conjuntos que formam “Todos”. Mais do que meramente a soma das partes de um organismo, são unidades interconectadas e vivas( co-prpradas perdem seu valorr  partessmos Jan Christian Smuts, que quando dissociadas comprometem seu valor existencial. Por seu turno, Danah Zohar em “ O ser quântico: uma visão revolucionária da natureza humana e da consciência, baseada na nova física “ (1990) , define o ser quântico como formado pela relação entre mente e corpo mutuamente criativos, que se inter-relaciona com tudo o que existe e que é uno (pelo seu aspecto onda) e múltiplo (pelo seu aspecto partícula) ao mesmo tempo[10]. O micro portanto, para o ser quântico,  é apenas uma dimensão do macro , ou seja, cada pedaço da realidade, ainda que mínimo, contém o todo . Segundo Zohar (1990, p. 99)  “Na linguagem da física quântica deve-se concluir que os sistemas macroscópicos estão sempre correlacionados em seus estados microscópicos” (Apud DENNETT, 1984, p 1453.)

A  tomada do paradigma quântico-holística se revela totalmente propícia para uma evolução do nosso próprio modo de existir e do modo como enxergamos a vida, na medida que ela nos leva a uma autorreflexão e, por conseguinte, a uma autocrítica de nossos modelos pautados numa lógica de mundo organizada, selecionada e sistematizada mediante jogos de interesses dos grandes controladores do sistema político-econômico vigente no mundo atual. Ela nos leva a obliterar a perspectiva mecânica e linear da vida em prol de uma visão plural, “aberta”, diversificada, considerando universo, a natureza e a e nossa existência nos seus entrecruzamentos .

 A física quântica, a medicina e psicologia holística[11] contribuíram fortemente, por esse ângulo, para uma nova forma de se conceber o mundo, na medida em que (des)especializam as práticas e levam em conta os diversos saberes no entendimento da existência, tal como o corpo, a mente e todas as suas derivações como partes integrantes de um organismo (todo) interconectado e interdependente[12].

Então por que não seguir esse caminho com a história, literatura e a filosofia? Ou melhor, com o próprio conhecimento? Segundo a física e filósofa Danah Zohar,

Coisas e acontecimentos que antes eram concebidos como entidades separadas pelo espaço e pelo tempo agora são vistos pelo teórico quântico como tão integralmente ligados que sua ligação faz as vezes de ambos, espaço e tempo. Eles se comportam como aspectos múltiplos de um todo maior, sendo que suas existências "individuais" ganham definição e sentido através do contato com esse todo( ZOHAR, 1990, p.19)

A maior preocupação da autora, nesta obra, é mostrar como o exemplo da física quântica com suas interconexões entre onda, partícula, tempo e espaço, energia e matéria podem ser tomadas na vida diária “ele é mais um livro sobre como o conhecimento da nova física poderá iluminar nossa compreensão da vida diária, ajudando-nos a entender nosso relacionamento com nós mesmos[...] e com o todo”. (ZOHAR, 1990, p. 7). No micromundo das micropartículas, podemos enxergar o macro de forma proporcional. O universo passa a ser tomado como organismo vivo e não como uma simples existência mecânica, como se nós seres humanos fossemos estrangeiros a ele, sem nenhum papel a não ser viver e morrer aleatoriamente e sem ter relações com o cosmo e as forças que vivem e se inter-relacionam no universo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

História, Literatura e Filosofia apresentam-se, hoje, como dois campos de conhecimentos diferentes. Entretanto, a relação entre elas, seus diálogos e suas conexões são objetos de diversas discussões acerca dos limites entre a interdisciplinaridade, a natureza do estatuto que define o que cada uma tem de particular, ou seja, aquilo que as diferencia e a necessidade e os desafios de uma perspectiva transdisciplinar ou holística.

História, Literatura e Filosofia, afinal, se ocupam dos mesmos aspectos da condição humana. Ambas tiveram a mesma matriz geradora (Mnemosine) e estabelecem uma relação mútua com ela. Pensar essas campos de conhecimento nos seus diálogos, interconexões e entrecruzamentos é se posicionar contra uma perspectiva de segmentação do conhecimento ou uma simples relação interdisciplinar. É tomar a abordagem holística como cerne da visão sobre a natureza humana, o conhecimento e o universo, ou seja, o todo.

Portanto, observa-se como a concepção quântico-holística, integradora do conhecimento e do modo de ver o mundo, possibilita, como quando ainda predominava essa concepção no mundo grego, uma ampliação dos horizontes do conhecimento e das potencialidades do ser humano em detrimento da segmentação e atomização do saber, frutos de deliberações, desejos, motivações que acompanham a conjuntura política, econômica e social de cada período.

REFERÊNCIAS
Obra :

ARISTÓTELES. Poética. São Paulo, Edipro, 2012.

BORRALHO, Henrique. Versura : ensaios (2011-2017). São Luís : Ed. Uema; Café & Lápis, 2017.

LOPES, Rodolfo P. N. A Tensão mythos-logos em Platão. Departamente de Línguas e Literaturas da Faculdade de Letras. Universidade de Coimbra , 2014

LOPES, Edson Pereira. O cuidado com a alma imortal nos diálogos Fédon, Fedro e República de Platão.  São Paulo, 2008.

WEIL, Pierre . Nova Linguagem Holística: Pontes sobre as fronteiras das ciências físicas , biológicas, humanas e as tradições espirituais. Rio de Janeiro . Editora : Espaço Tempo, 1987.

___________. Holística: Uma Nova Visão e Abordagem do Real - Ed. Palas Athenas, São Paulo, 1990.

PLATÃO.  Fedro. São Paulo, Edipro, 2012.

ZOHAR, Danah. O ser quântico: uma visão revolucionária da natureza humana e da consciência, baseada na nova física. São Paulo: Best Seller, 1990.

Capítulo de Livro :

BORRALHO, José Henrique de Paula.  Onde Clio e Caliope se fundem: a metáfora da farinha d’agua. In: Teoria literária e suas fronteiras. PUCHEU, Alberto; TROCOLI, Flávia; BRANCO, Sônia. Rio de Janeiro: Azougue Ed.2014, pp. 25-40.  

BENJAMIM, Walter. O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In : Magia e Técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura; tradução Sérgio Paulo Rouanet. 7ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.

Artigo em periódico:

BORRALHO, José Henrique de Paula. O fim da separação entre literatura e história. Revista Contemporânea.Vol 2, série 4. 2013. pp. 1-23. Disponível em: http://www.historia.uff.br/nec/materia/revistacontemporanea/dossie-4-historia-e-literatura.  Acessado em 1/7/2017 às 14h.

LIMA, Marinalva Vilar; CORDÃO, Michelly Pereira de Sousa. História e Historiografia antigas: a construção de um gênero discursivo, Mnemosine Revista, São Paulo, vol.1, n.2, jul./dez. 2010


João Pedro da Silva Moraes - Graduado em História Licenciatura pela Universidade Estadual do Maranhão.

[2] Pensada aqui como “Mito”. Contudo, na Grécia clássica possuía inúmeros significado, tais como :  discurso, mensagem, relato, invenção, entre outros.

[4]     Como via de demarcação espaço-temporal, há um consenso entre os estudiosos do tema que o início da racionalidade ocidental ou da filosofia teria sido inaugurado por Tales de Mileto no século VI a.C. Ver LOPES, Rodolfo P. N. A tensão Mythos-Logos em Platão. Universidade de Coimbra. 2014.

[5]     Em prefácio à edição brasileira de Brunel (2005, p. XXIII).

[6]     Discussão interessante acerca do narrar e do ouvir e do próprio declínio da narração encontra-se em BENJAMIM, Walter. O narrador. In. Magia e Técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura; tradução Sérgio Paulo Rouanet. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. Benjamim mostra como a arte de narrar está em “vias de extinção” e como isso se dá com a aceleração do modo de perceber o tempo na modernidade. O romance com sua individualização do homem e depois a informação (imprensa) aplicam golpes fulminantes à narração. Já passou o tempo em que o tempo não contava[…] o homem de hoje não cultiva o que não pode ser abreviado”. Podemos perceber o germe do declínio da narrativa oral com o período do declínio do mito, o próprio surgimento da escrita e do logos.

[7]     Poeta.

[8]     Palavra que está associada aquilo que é revelado. Ligada também a ideia de verdade.

[9]     “ [...] seria preciso dizer que o cinema ao qual ele se refere [Agamben] não é, obviamente, todo e qualquer filme criado ao longo dos últimos séculos, mas, tão somente, aqueles que, em decorrência e tal leitura, seriam construídos de maneira que façam eles se indiscernibilizar dos modos poéticos e filosóficos – filmes-poemas, filmes-poéticos, filmes-ensaios, filmes-filosoficos[...]” (p.243)

[10]   Para a física quântica, tudo o que existe  (seres humanos, natureza, objetos) são formados pela dualidade onda-partícula. Tudo é ,portanto, onda e partícula ao mesmo tempo.

[11]   Referências introdutórias que podem ser melhor entendidas. In: BORRALHO, Henrique. Versura: ensaios (2011-2017). São Luís: Ed. Uema; Café & Lápis, 2017.

[12]   Ver JUNG, C. G. O Eu e o Insconciente. Ed. Vozes, Petrópolis 2008.


Publicado por: Joao pedro

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