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“O OUTRO”: AVERIGUANDO AS CONCEPÇÕES EM RELAÇÃO AO HUMANO NUMA SOCIEDADE DESIGUAL

Análise sobre a relevância da fala “o outro” no ambiente escolar.

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RESUMO

O estudo em pauta “busca” averiguar como o modo de fala pode interferir no desenvolvimento do aluno durante o processo de ensino-aprendizagem, quando a interpretação da palavra “o outro” não está devidamente explanada, assim como, identificar os possíveis estigmas que podem ser causados no sujeito que ouve, devido a uma não assimilação e compreensão correta, acerca das singularidades e especificidades que permeiam o ambiente de aprendizagem. E, no objetivo geral, tem-se apresentar a relevância da fala “o outro” no ambiente escolar. Quanto a justificativa, é dada por meio das observações diárias acerca do trabalho realizado em escolas públicas no município de Campos dos Goytacazes – RJ, onde se torna evidente a classificação de alguns alunos como o “outro”, devido as ações apresentadas frente: dificuldades de aprendizagem, comportamentos “inadequados”, dentre outros, no espaço institucional e fatores, tais quais, cognitivos, emocionais e afetivos. A metodologia utilizada para a elaboração desse estudo, está embasada numa revisão de literatura, a partir dos autores mencionados no texto e referenciados, para implementar e propor um entendimento de forma que a palavra “o outro”, como principal temática possa ser “respondida posteriormente”. É relevante que haja em qualquer espaço de aprendizagem, sendo ele formal ou informal a colocação segura da palavra “o outro” para que os conflitos sejam minimizados e o aprendizado alcançado, conforme as regras do sistema e as metas dos profissionais da educação.

Palavras-chave: “O outro”. Ambiente escolar. Modo de fala. Aprendizagem.

INTRODUÇÃO

A aprendizagem se constitui em um direito que deve ser propagado por toda a sociedade e para os diferentes indivíduos, independente de classe social, etnia, cultura, religião (etc.). E, como dever do Estado, cabe propor o melhor nas questões que elevam o ser o humano e o define como capaz de exercer direitos e deveres sociais, conforme já instituído pela Declaração Universal dos Direitos Humanos – DUDH - de 10 de dezembro de 1948, onde o documento declara que “[...] Os direitos humanos incluem o direito à vida e à liberdade, à liberdade de opinião e de expressão, o direito ao trabalho e à educação, entre e muitos outros [...]”, deixando claro que todos merecem estes direitos, sem discriminação (p.4)”.

Para o documento acima mencionado – DUDH/1948, o ser humano deve ser respeitado em sua identidade e ao se falar nesse assunto tão importante, não se pode deixar de citar que, cada um possui a sua singularidade e especificidade, portanto, ter uma identificação revela que existe um indivíduo e que esse “ser” não pode ser tratado como “o outro” simplesmente, mas, como alguém que representa uma sociedade dentro das suas características.

No que se trata do objetivo geral, tem-se: apresentar a relevância da fala “o outro” no ambiente escolar.

Quanto aos objetivos específicos: Averiguar como a palavra “o outro” é apresentada pela BNCC/2019 e a forma disseminada no espaço de aprendizagem; Relatar a importância da identidade do aluno, independente, de suas metas inalcançadas e/ou estigmas que perpassam o cotidiano dentro e fora da escola; Verificar se a palavra “o outro” é comum ser expressa e; se a mesma também, é um fator de contribuição para o aumento das discriminações, preconceitos e violência nas instituições de ensino; Analisar por meio de um questionário posterior, junto a professores da rede pública de ensino, o pensar acerca da palavra “o outro” e a forma de uso para identificar o ser humano/aprendente, dentro e fora do ambiente escolar.

Justifica-se por meio das observações diárias acerca da atuação em escolas públicas no município de Campos dos Goytacazes – RJ, onde se torna evidente a classificação de alguns alunos como o “outro”, devido as ações apresentadas frente: dificuldades de aprendizagem, comportamentos “inadequados” ao espaço institucional e fatores, tais quais, cognitivos, emocionais e afetivos, sendo este último, o que em muito colabora para que haja um chamado à atenção profissional.

A metodologia utilizada para a elaboração desse estudo, está embasada numa revisão de literatura, a partir dos autores mencionados no texto, para implementar e propor um entendimento de forma que a palavra “o outro”, como principal temática a ser respondida posteriormente, tal qual uma das problemáticas: O que permeia realidade do “outro” para ser citado em diferentes linguagens, sem mostrar a identidade desse “ser”?, possa de uma maneira interpretativa, contribuir para averiguar como o modo de fala em determinados momentos afeta o aprendende em seu processo de ensino-aprendizagem.

A inquietação é resultante, principalmente, ao perceber crianças e adolescentes que são identificados como “o outro”, pelo local de pertencimento e cor. No geral, ações como a discriminação acontecem por esses fatores, significando que o aprendente antes da prática didática exercida pelo docente, precisa ser conhecido e reconhecido pela sua identidade (nome), independente de classe social, cultura, raça, religião, dentre outros.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

2.1. Os conflitos nas diversidades que contrapõem o êxito no processo educacional: a necessidade de revisar a fala “o outro”.

A sociedade dos dias de hoje, ao mesmo tempo, em que destaca que é preciso incluir, não deixa de excluir de uma forma sutil àqueles que para uma denominada classe de pertencimento não se adequa aos padrões impostos, seja pela cultura, classe social, (etc.), enfatizando que o direito a igualdade e equidade, também faz parte da legislação, cabendo o cumprimento por todas as partes sociais (políticas, instituições formais ou não, diferenciados ambientes, etc.).

Evidenciando, ainda que, ao se tratar do processo educacional como direito, a própria Base Nacional Comum Curricular (BNCC/2019), expressa em suas linhas a palavra “o outro”, logo, a não interpretação por alguns de que o “outro” é um ser humano e depende ser chamado e reconhecido pela sua identidade (como um ser com nome e capaz) e, quando não ocorre a interpretação pelos ouvintes, acaba gerando a negação da capacidade e habilidades do “outro” e produzindo violência de diferentes tipos, que leva a regressão e dependendo da forma que o “outro” venha a entender o modo de  fala, se torna em seu meio um ser estigmatizado.

Segundo Tarallo (1997, p.78), “[...] a forma não-padrão continua a ser estigmatizada pela comunidade de falantes; a variante cortadora, por outro lado, encontra-se devidamente implementada no sistema [...]”, significando que, mesmo que em uma determinada comunidade de fala não ocorra a todo o tempo a forma culta (regras gramaticais – Academia Brasileira de Letras – BNCC/2019), “o outro” que fala será sempre questionado pelo modo como se caracteriza entre os falantes.

O não esclarecimento da pronuncia o “outro”; principalmente, ao se tratar de ambientes educacionais formais de ensino, pode promover além da violência física, verbal, etc., o afastamento do aluno do ambiente de aprendizagem, mesmo quando a Constituição Federal do Brasil de 1988, destaca que: “[...] Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político [...]” (BRASIL, 1988, p.1).

Portanto, ainda de acordo com Tarallo (1997), já citado em um breve exemplo, para tentar explicar as distorções que ocorrem na fala o “outro”, o autor destaca: “Aquela menina que é de São Paulo é bonita”. “Aquela menina que ELA é de São Paulo é bonita (p.57)”, o que leva a perceber que uma pequena modificação sem deixar de dizer que a menina é bonita, quando o ouvinte não tem um esclarecimento de fala (que no geral não tem – os vulneráveis em especial), a colocação da palavra ELA pode promover distorções em uma comunidade de fala, dependendo da cultura em o que o sujeito encontra-se inserido, o que poderá nesta expressão, levar o “outro(a) a sentir-se inferior em relação à beleza.

Mencionando que, é comum a fala “o outro”, no próprio ambiente escolar, por ter como fundamentação para melhorias no processo educacional a Base Nacional Comum Curricular – BNCC/2019, onde expressa em suas Competências Gerais da Educação Básica “... Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos....  (BRASIL, 2019, p.12)”, logo em seguida relata a necessidade da identidade (etc.) “...com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza (p.12)”. Esse pequeno texto desperta inquietações, pois, o “outro” tem uma identidade, porém, por não haver informações destinadas a explicar sobre o assunto, a palavra se propaga com facilidade, apontando o aluno que não atende as perspectivas de cada escola, isto é, as metas consideradas “corretas e aceitáveis”, para o aprendizado.

Também, remete a questionamentos, tais como: quem é “o outro”? O que o docente na missão de ensinar/educar e preparar para o futuro, deve fazer para evitar conflitos e qualquer tipo de discriminação que promova a violência?

Essas inquietações é que levam a justificar o tema em sua essência, tendo como meta identificar “o outro” e deixar claro, que todos têm direito à Educação, mas para que a mesma seja efetivada, é preciso atentar para palavras que geram interfaces na ação de ensinar e formar integralmente o aluno para a sociedade.

Não há a pretensão de contestar a BNCC/2019, pois, seus formadores trazem um novo marco de ensino, mas que precisa adentrar nas escolas de forma explicativa e fazer com que o docente na função que exerce, não se perca ao direcionar a palavra “o outro” a um aluno que não conseguiu alcançar resultados significativos no processo de ensino-aprendizagem, isso porque, o modo de fala, apaga a identidade do aluno e leva a propagação de preconceitos e discriminação que geram situações de conflitos e; até mesmo, a violência no âmbito institucional, colaborando para a estigmatização daquele que não aprende no tempo ideal.

A identidade do aluno, começa pelo nome, logo, na própria identidade que cada indivíduo leva para o contexto escolar e fora dele, lugar esse que tem o dever de minimizar causas que contrapõem a convivência social e não contribui para a motivação do aluno durante o período escolar, isso porque, dependendo de como “o outro” é chamado, seja pelo próprio docente e/ou demais pares, pode ter baixa autoestima, negação da escola, ausência de afetos (sendo que muitos da escola pública já tem esse enfrentamento desde a primeira base – família), recusa em realizar as atividades propostas e; como resposta, o não aprendizado.

Portanto, em afirmação a justificativa, a identidade do aluno tem de vir antes de suas ações ou quaisquer problemas que interferem no aprendizado, cabendo a cada profissional da educação um olhar humanizado para atender o aprendiz em suas demandas, que muitas das vezes, não está direcionada apenas ao ir à escola para alimentar-se, integrar e aprender, mas, sim, começar a ser respeitado e ter sua identidade propagada, para que haja de fato, o atendimento e alcance da BNCC/2019, quando destaca que: “.... agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários (p.12), se efetivem. A citação deixa explícita a necessidade de o ambiente escolar contribuir com o alunado, de forma que este obtenha os resultados significativos para a sua formação.

Os autores nos quais contribuíram para um esclarecimento na composição dos textos e estão referenciados, são: TARALLO (1997) já citado, FREIRE (1987/1996), onde em a Pedagogia do Oprimido (1997) relata que, “A prática da liberdade só encontrará adequada expressão numa pedagogia em que o oprimido tenha condições de, reflexivamente, descobrir-se e conquistar-se como sujeito de sua própria destinação histórica (p.6)”. O autor evidencia a necessidade de livre expressão do sujeito para poder fazer parte e ser pertencente a um grupo ou comunidade.

BRESSIANI (2005), na qual relata que a discriminação em qualquer circunstância limita o ser humano a buscar seus direitos de igualdade e; também, obter qualidade e bem-estar social. A discriminação, seja racial, de crenças, linguagens, culturas, dentre outros é sempre uma forma excludente e necessita de uma visão mais aprofundada, pelos que tem o privilégio de ir além em seus estudos e traçar estratégias para minimizá-la.

BAGNO (1961/2007), “O continuun oralidade-letramento nos indica se atividade verbal naquele momento da interação está mais próxima das práticas orais ou mais próxima das práticas letradas, ou seja, práticas que de algum modo se apoiam na leitura e escrita”.

 DAVID CRYSTAL (apud BAGNO, 1961/2007, p.157), “A mudança linguística é inevitável e raramente previsível, e aqueles que tentam planejar o futuro de uma língua perdem seu tempo em acreditar que podem fazê-lo – um tempo que poderia ser mais bem gasto em imaginar novas maneiras de capacitar a sociedade a lidar com as formas linguísticas novas que acompanham cada geração”.

Enfatizando, ainda que, a atenção volta-se para a busca de instrumentos metodológicos que forneçam melhores dados para tentar explicar a problemática, tal como: O que permeia realidade do “outro” para ser citado em diferentes linguagens, sem mostrar a identidade desse “ser”?, Sabendo que será preciso uma investigação acurada, na qual forneça dados para elaborar uma análise, que pelo menos promova a construção de métodos que possam ser trabalhados no contexto escolar formal e disseminado em outros posteriormente, tendo como intuito, que os profissionais educadores se utilizem de práticas diárias no repasse dos conteúdos didático-pedagógicos e nas interações atos com conectividades nas falas para interpretação, de modo que, reduzam incidências[2] nos ouvintes e minimizem ações que levem  “ o outro” à estigmas devido a negação do “eu” como parte indispensável de uma sociedade em constante transformação.

Neste pensar é que os textos buscam fazer uma explanação acerca da palavra o “outro” e mostrar que o modo de fala gera inúmeras interpretações e quando o profissional educador não se encontra preparado para o exercício da prática no contexto da diversidade de linguagens e pessoas, poderá causar no aluno a resistência ao aprendizado, afastamento dos grupos e desmotivação para fazer parte do ambiente escolar.

E, como relata Bagno (1961/2007, p.25) em Nada na Língua é por Acaso, pensar a forma de educar/ensinar é levar o aluno a refletir suas ações, emoções, sentimentos e reconhecimento do lugar de pertencimento. “[...] as condições de produção do discurso, os objetivos e as estratégias dos usuários, os efeitos de sentido e de forma incidem sobre a cultura e sobre a própria língua [...]”.

Significando que, é necessário considerar o sujeito em suas especificidades, características, singularidades e culturas. Não há como tentar promover em todos os ambientes a língua padrão, porque a comunicação precisa acontecer e ela acontece, com seus diferentes “linguajares”, seja individual ou coletivo, pois os atributos da língua dentro do lugar de pertencimento e a capacidade de levar a interpretação do que se fala ao “outro”, sem críticas, violência e rupturas no modo de fala é comunicar, então, a comunicação não pode ser negada e muito menos produzir exclusão.

O “outro” tem de ser entendido como nós mesmo, isso porque, para “eu” quem falo me torno sujeito de quem ouve e aquele que escuta é chamado de “o outro”, mas para quem escuta o meu “eu” não me faz deixar de ser “o outro”, portanto, a fala “ o outro” precisa ser repensada, porque, a maneira como se escuta e direciona a fala pode desmotivar, excluir e causar estigmas, logo, a violência pela fala.

Seguindo os relatos de Bagno (1961/2007, p.25),

“[...] o compromisso do educador é, antes, com a formação do aluno, com o desenvolvimento de suas capacidades tanto de reflexão sobre a linguagem, quanto de uso crítico da língua. E, na medida em que língua e linguagem são parte indissociável de nossa forma de ser e viver, da história individual e coletiva de todos nós, a educação linguística não pode deixar de ocupar-se do maior número possível de suas facetas, em especial aquelas mais envolvidas na vida social [...]”.

E, a diversidade, está presente para mostrar que o modo de fala de cada ser humano nunca irá corresponder aos objetivos padrão, mesmo que o “padrão-regra” seja necessário nas elaborações de escritas (etc.). O aprender o correto da língua é necessário, porém; o olhar não pode ser somente padronizado, em especial, ao se tratar de ambientes institucionais, onde ocorre uma miscigenação de identidades e culturas.

Em explanação a diversidade que participa do contexto escolar e sofre discriminação pela sua identidade e cultura, de acordo com Bressiani (2005, p.332), “[...] a busca pela igualdade social, que teria pautado as lutas políticas por quase 150 anos, estaria assim, sendo substituída pela luta, pelo reconhecimento das diferenças, central para os chamados “novos” movimentos sociais [...]”.

A substituição muitas vezes, segrega ainda mais os que já estão em condição de vulnerabilidade, restringindo os espaços. E, ao se tratar do lugar de aprendizagem, é preciso que os profissionais educadores tenham a visão de que o chamado de “o outro” por pertencer a diversidade deve ser incluído como missão e meta da Educação, pois somente o educar e preparar o alunado para a vida o auxilia na mudança para o “o novo”, que inclui desde as exigências políticas e sociais, até o que é em lei estabelecido, isto é, o direito de frequentar e permanecer na escola para  que o aluno cumpra a escolarização básica dentro de suas garantias.

Por isso, em consonância com Bressiani (2005, p.332 apud Fraser, 1989), “Fraser defende que ‘a realização da justiça requer hoje tanto redistribuição material, quanto reconhecimento cultural’. Deixando claro a necessidade de rever as questões associadas e imprescindíveis ao humano (fome, sede, participação social, etc.,), assim como, os materiais necessários à sobrevivência.

E, ao se tratar da problemática, em termos dos métodos que podem contribuir para minimizar as interfaces proporcionadas pela palavra “o outro”, mesmo que venha como um instrumento de definição para as competências do ensino propostas pela BNCC/2019, é preciso atentar que a BNCC/2019 se constitui em “um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais, que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica”, portanto, imprescindível ao desenvolvimento integral do aluno em termos formais.  Mas, não significa que a fala “o outro” se torne um termo para discriminação, mas sim,

“[...] Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva [...] (BRASIL, p.11)”.

Do mesmo modo, quando se pergunta: o que permeia a realidade do “outro” para ser citado em diferentes linguagens, sem mostrar a identidade desse “ser”? A BNCC/2019 destaca que,

“Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo (BRASIL, p.11)”.

E, para Freire em a Pedagogia do Oprimido (1987, p.10), “Cada um terá seus próprios caminhos de entrada nesse mundo comum, mas a convergência das intenções que o significam, é a condição de possibilidade das divergências dos que, nele, se comunicam”. Por isso, cada profissional educador precisa ter uma prática condizente com as diferentes realidades que permeiam não somente o mundo dentro dos muros da escola, mas que leve o aluno a se identificar em seus direitos fora dele.

Neste prisma e com base na revisão de literatura para buscar fundamentar a linha de pesquisa em estudo, toda e qualquer linguagem expressa pelo aluno precisa ter por parte de quem ensina a responsabilidade de primeiro olhar para o Humano e ter “o outro” como ser capaz que tem o direito a receber todos os recursos ofertados pela Educação e descrito nas leis que a regem.

Também, cabe atualizar as práticas educativas e levar aos “outros” aprendentes ou quem ensina/educa que todos são iguais e essa palavra antes de ser ‘falada’ requer doses de ponderação para evitar a discriminação e exclusão, não somente na escola, mas em todos os lugares, isso porque, quando o professor/educador fortalece o aprendente em sua cultura e linguagem, independente de qual seja, leva ao fortalecimento e buscas pelo lugar de pertencimento, abrindo portas e assegurando direitos cabíveis, porque caso contrário, segundo Piovesan (2005, p.18), “A discriminação ocorre quando somos tratados como iguais em situações diferentes, e como diferentes em situações iguais”.

E, dentro dessa temática, Tarallo (1997) aponta em relação à problemática que “uma vez estabelecidos os parâmetros de situações naturais de comunicação v.s. situações experimentais, você poderia avaliar qual o tipo de valor atribuído a essas variantes fora de seu material de análise, mostrando que a língua falada é heterogênea e variada (p.57)”.

Sem deixar de citar que, trabalhar o alunado nos dias de hoje, é um processo ainda mais difícil, isso porque, a tecnologia avança diariamente e o tempo de absorção por parte de quem ensina e aprende, no geral, não acontece na mesma proporção, gerando conflitos na forma de organização e depois no pensar a Educação, para formar integralmente o alunado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os textos mencionados anteriormente, evideciam a necessidade dos profissionais educadores atentarem para a fala o “outro” no ambiente escolar e ao mesmo tempo, buscar orientar os alunos em sua forma de expressão, evitando, assim, estigmas que possam comprometer o processo de ensino-aprendizagem e causar a exclusão daqueles que desconhecem os reais motivos da palavra “o outro” ser colocada na BNCC/2019.

Valorizar o aluno em suas diversidades é essencial para evitar conflitos em qualquer espaço de aprendizagem, isso porque, não se aprende somente dentro dos muros da escola, mas nos meios sociais como um todo, porém, quando a interpretação do “outro” fica esclarecida, menores serão os conflitos proporcionados à diversidade.

Neste pensar, buscar interpretar o “outro” em suas singularidades e especificidades se constitui numa forma democrática de ensinar e; ao mesmo tempo, preparar o alunado para a boa convivência nos diferentes meios em que participa. A escola como lugar de aprendizagem não pode ser um lugar de conflitos, mas sim, de entendimentos entre quem ensina e aprende.

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Giselle Alves da Conceição[1]


[1] CONCEIÇÃO, Giselle Alves. Licenciatura em Pedagogia – Universidade Estadual do Norte Fluminense – Darcy Ribeiro – UENF. Aluna Especial do Curso de Mestrado - Pós-graduação em Cognição e Linguagem (Finalizado em 2023/1/2) - Bacharel em Ciências Econômicas – Universidade Candido Mendes (UCAM) – Campos dos Goytacazes – RJ. Pós-graduação em diferentes áreas: Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental – Neuropsicologia, Administração e Marketing, Psicologia comportamental e Cognitiva (em andamento), Orientação Educacional e Supervisão Escolar - ESAB/FAVENI/FACUMINAS (2022/2023).

2 Currículo Lattes – CNPq.

[2] A incidência mencionada, está relacionada as ações corriqueiras no ambiente escolar proporcionada pela fala e a não interpretação do “outro”, com suas singularidades e especificidades, o que promove a desmotivação em fazer parte do espaço de aprendizado, sendo esta, um fator que causa inúmeras dificuldades no ato de aprender por parte da maioria dos alunos que são vulneráveis em diferentes situações, logo, não tem o apoio devido, para a superação de seus estigmas, afetando diretamente o processo de ensino-aprendizagem.


Publicado por: Giselle Alves da Conceição

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