O ensino da gramática
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O estudo da gramática da língua portuguesa nas escolas vem sendo cada vez mais preocupante, em vista de tantos conflitos que a mesma vem gerando em relação ao ensino tradicional. Observa-se frequentemente que os alunos apresentam muitas dificuldades em relação a sua aprendizagem. Isso se deve ao fato de que nas escolas professores continuam adotando a gramática normativa, privilegiando o ensino prescritivo da língua e desconsiderando formas que propicia o ato comunicativo. Constata-se que há varias razões que está motivando o aluno a não compreender a gramática, fazendo com que o mesmo termine todo o seu processo escolar básico sem conseguir absorver as ideias relativas da língua portuguesa. Destaca-se ainda que o método utilizado pelo professor em sala de aula requer mudança para que o mesmo possa inovar, trazendo outras formas como uma aula interativa, produtiva e contextualizada levando-se em consideração o conhecimento que o aluno já tem ampliado. Para debater o assunto tomam-se como base as teorias desenvolvidas por Possenti (1996) Antunes (2007), Travaglia (2005) e dentre outros. Os quais expõe de forma clara o que pensam sobre o ensino da gramática nas escolas.
Palavras-chave: Gramática; Língua; Ensino.
INTRODUÇÃO
Esse trabalho tem como objetivo fazer uma breve discursão sobre o ensino de gramática nas escolas. Afim de que os profissionais do ensino de língua portuguesa e inclusive os alunos possam refletir sobre as questões da linguagem, língua e gramática. Tendo uma visão geral sobre o porquê de o ensino dessa disciplina vem sendo tão questionada.
Nota-se a falta de interesse do aluno pela gramática normativa, pela utilização de tantas regras descontextualizadas, o levando-o a conceituar como uma disciplina difícil, rígida e sem importância. No decorrer deste artigo iremos trazer um levantamento bibliográfico destacando a forma como os professores atuam em sala de aula no ensino de língua materna. E como as aulas de língua portuguesa possam ser mais proveitosa significativa e importante.
Utilizar-se como base teórica os autores Possenti (1996), Bagno (2000), Antunes (2007), Perine (1997) e entre outros. Espera-se contribuir com este artigo para a expansão das discursões sobre o tema abordado, na pretensão de aprofundar o mesmo em trabalhos posteriores.
1. CONCEITUANDO GRAMÁTICA
Se a nossa pretensão e o ensino de gramática cabe aqui defini-la afinal o que é mesmo gramática? Será que ela é apenas uma disciplina que dita regras e normas para o bem falar e escrever? Baseado nessas constatações iremos aqui recorrer a alguns autores que expõe de maneira clara o que entendem por gramática.
De acordo com Possenti (1996, p.64) a palavra gramática significa conjunto de regras e por sua vez expõe três maneiras para esse conceito:
Assim, tal expressão pode ser entendida como: conjunto de regras que devem ser seguidas; conjuntos de regras que são seguidas; conjunto de regras que o falante da língua domina. As duas primeiras maneiras de definir “conjunto de regras” dizem respeito ao comportamento oral ou escrito dos membros de uma comunidade linguística, no sentido de que as regras em questão se referem à organização das expressões que eles utilizam. A terceira maneira de definir a expressão refere-se a hipóteses sobre aspectos da realidade mental dos mesmos falantes.
Já segundo Travaglia (2005, p.24):
(...) A gramática é concebida como um manual como regra de bom uso da língua a serem seguidas por aqueles que querem se expressar adequadamente. Observando essa conceituação percebemos que para se expressar adequadamente é necessário ter certo conhecimento das regras de gramatica que auxiliam ao falante para um domínio correto da língua.
Para Marote e Ferro (2002, p.23) a gramática é:
A descrição completa da língua, isto é, dos princípios de organização da língua. Ela compara diferentes partes: uma fonológica (estudos dos fonemas e de suas regras de combinação), uma sintaxe (regras de combinação dos morfemas e dos sintagmas), uma lexicologia (estudo do léxico) e uma semântica (estudos dos sentidos dos morfemas e de suas combinações).
Nas palavras de Antunes (2007)
Na verdade, quando se fala em gramática, pode se esta falando: das regras que definem o funcionamento de determinada língua, como em “gramática do português”; (...) das regras que definem o funcionamento de determinada norma como em a “gramatica da norma culta”. “Por exemplo; de uma perspectiva de estudo como em: “a gramática gerativa”, a gramática estruturalista”, “a gramática funcionalista”; ou de uma tendência histórica de abordagem, como em: “a gramática tradicional”, por exemplo:
Em vista das citações acima podemos observar que a gramática é organizada de diferentes modos para expressar o funcionamento de determinadas regras do uso da língua. Porém ela não se subdivide em apenas esta concepção há varias formas de entender gramática como também há vários tipos de gramática.
2. LÍNGUA E GRAMÁTICA
2.2 POR QUE AMBAS SE COMFUNDEM?
Há uma grande concepção de que língua e gramática são a mesma coisa, ou, que uma existe em detrimento da outra, analisando essa constatação iremos aqui abordar por que ambas se relacionam.
Possenti (1996, p.60) afirma que:
Para muitas pessoas das mais variadas extrações intelectuais e sociais, ensinar língua é a mesma coisa de ensinar gramática ou, o que é diferente, embora pareça mera inversão, para muitos, ensinar gramática é a mesma coisa que ensinar língua. Além disso, por ensino de gramática entende-se, frequentemente, a soma de duas atividades, que eventualmente, se inter-relacionam, mas não sempre, nem obrigatoriamente.
Antunes (2007, p.39) explicando essa questão diz:
A concepção de língua e gramática são uma coisa só deriva do fato de, ingenuamente se acreditar que a língua e constituída de um único componente: A gramática. Por essa ótica saber uma língua equivale, a saber, sua gramática; ou, por outro lado saber a gramática de uma língua equivale a dominar totalmente essa língua. É o que se revela, por exemplo, na fala das pessoas quando dizem que “alguém não sabe falar”. Na verdade essas pessoas estão querendo dizer que esse alguém “não sabe falar de acordo com a gramática da suposta norma culta”.
De acordo com os postulados de Antunes (2007) percebemos que é nessa concepção onde ocorre o preconceito linguístico por acreditar que aquele que não domina as regras de gramática, este por sua vez não sabe se comunicar adequadamente.
Segundo Antunes (2007, p.23):
É preciso reprogramar a mente de professores, pais e alunos em geral, para enxergamos na língua muito mais elementos do que simplesmente erros e acertos de gramática e de sua terminologia. De fato, qualquer coisa que foge um pouco do uso mais ou menos estipulado é visto como erro, as mudanças não são percebidas como “mudanças”, são percebidas como erro.
Já Possenti (1996, p.59) afirma que:
Acredito que é completamente diferente trabalhar com a gramatica na escola depois de estar convencido de que ela não é indispensável para o ensino e, principalmente, depois de estar convencido que uma coisa é o estudo de gramática e outra é o domínio ativo da língua.
Além disso, deve-se levar em consideração o conhecimento que o aluno já tem ampliado que é a chamada gramática interiorizada.
Nas palavras de Antunes (2007, p.26): “Qualquer pessoa que fala uma língua, fala essa língua por que sabe sua gramática, mesmo que não tenham consciência disso”.
Ou seja, qualquer falante de uma língua tem na sua mente guardada a gramática interiorizada que é aquela que se desenvolve quando nos somos crianças e vai se aprofundando à medida que o tempo passa de acordo com o contexto social em que estamos inseridos.
Nessa perspectiva percebe-se que a língua e a gramática não são a mesma coisa e são confundidas por que a gramática estabelece diferentes tipos de regras e normas para a construção de palavras e sentenças da língua e para suas diversas formas sociais de atuação. Desconsiderando por sua vez outras formas de uso que não se utiliza da norma padrão.
3. O ENSINO TRADICIONAL DA GRAMÁTICA
Sabe-se que a questão do ensino de gramática nas escolas vem sendo bastante discutida ao longo dos anos, e atualmente não é diferente, pois a mesma vem gerando diversos conflitos criticas e desilusões. Seja por parte dos professores que às vezes acaba-se decepcionando com os resultados obtidos nas avaliações, ou pelos alunos que se sentem fracassados por não conseguir absorver conteúdo ministrado nas aulas.
Perini (1997 p.54) afirma que:
O problema e que as gramáticas escolares, aqui como em muitíssimos outros pontos, não são organizadas de maneira lógica; e como aprender uma disciplina que não tem organização logica? Não é de espantar que ninguém tenha segurança nessa matéria, e não é de espantar que ninguém goste dela.
Nessa mesma perspectiva Perini (1997 p.52) expõe a relação entre a gramática e outras disciplinas:
O professor e o aluno de geografia entendem a matéria como o estudo de um aspecto da organização do universo (...) mas o estudo da gramática não é, na cabeça deles, o estudo de um aspecto do universo: é apenas uma serie de ordens a serem obedecidas, por que e assim que é certo. Será de espantar que pouca gente se interesse?
Observa-se ainda no ensino de língua portuguesa nas escolas a pretensão por o ensino da gramática puramente normativa e esta por sua vez apresenta grande dificuldade em relação à aprendizagem dos alunos por se pautar na norma culta e padrão da língua.
Nas palavras de Travaglia (2005 p.30): “(...) A gramática normativa apresenta e dita normas de bem falar e escrever, normas para a correta utilização oral e escrita do idioma, prescreve o que se deve e o que não se deve usar na língua (...)”.
Diante desse contexto percebe-se que o professor deve-se repensar em outros modos de ensino, observar que os alunos são de diferentes classes sociais e por esse motivo não conseguem dominar totalmente a norma padrão. Resultando assim em criticas, dúvidas, descontentamento, reprovações e o preconceito linguístico.
Como afirma Bagno, (2000, p.87):
A gramática deve conter uma boa quantidade de atividade de pesquisa, que possibilitem ao aluno a produção de seu próprio conhecimento linguístico, como uma arma eficaz contra a reprovação irrefletida e a critica da doutrina gramatical normativa.
Dessa forma o professor deve procurar trabalhar por meio de um ensino harmonioso sem se deter apenas nas regras, aplicar métodos dinâmicos ao transmitir o conteúdo para que assim possa proporcionar uma aula interativa, contextualizada e coletiva.
4. O ENSINO DA GRAMÁTICA E SUA RELAÇÂO COM A LEITURA E A ESCRITA
Observa-se que muitos professores enquanto praticas pedagógicas na escola continuam acreditando que o ensino de gramática é uma das alternativas para que o aluno possa ler e escrever corretamente, tendo em vista que a produção textual dos alunos tem que está vinculada a forma padrão da língua obedecendo por sua vez às normas gramaticais.
Segundo Perini (1997, p. 49):
Em primeiro lugar os objetivos da disciplina estão mal colocados. Muitos professores dizem (e acreditam) que o estudo da gramática é um dos instrumentos que levarão o aluno a ler e escrever melhor, ou para ser mais exato, o levarão a um domínio adequado da linguagem padrão e escrita. Esse motivo e alegado constantemente quando se quer defender a presença da gramática no currículo.
Na mesma perspectiva Possenti (1996, p.32) afirma que: “a função da escola é ensinar o padrão, em especial o escrito (...) na verdade, os grandes problemas escolares estão no domínio do texto não no da gramática”.
Assim é preciso entender que a gramática é sem duvida importante nesse aspecto de compreensão dos alunos a cerca da construção de um texto, estruturas e regras gramaticais que devem ser levadas em consideração, no momento da produção textual. Porém não é apenas com a gramática que obtemos sucesso na leitura e na escrita.
De acordo com Perini (1997, p.54):
Em primeiro lugar, é necessário redefinir os objetivos da disciplina. Vamos parar de prometer coisas que não podemos cumprir: vamos reconhecer de vez que estudar gramática não é um dos meios (muito menos o meio) de se chegar ler e escrever melhor. A gente aprende a escrever escrevendo lendo; relendo e rescrevendo; foi assim que Verissimo chegou lá.
Segundo Possenti (1996, p.20):
“Uma das medidas para que esse grau de utilização afetiva da língua escrita possa ser atingido é escrever e ler constantemente, inclusive nas próprias aulas de português”. Ler e escrever não são tarefas extras que possam ser sugeridas aos alunos como lição de casa e atitude de vida, mas atividades essenciais ao ensino da língua.
Já para Bagno (2007, p.70):
(...) na verdade, mas do que ensinar, é nossa tarefa construir o conhecimento gramatical dos nossos alunos, fazer com que eles descubram o quanto já sabem da gramática da língua e como é importante se conscientizar desse saber para a produção de textos falados e escritos coesos, coerentes, criativos, relevantes e etc.
Analisando as citações acima percebemos que o professor deve mudar a sua maneira de conceber nas aulas a gramática como sendo o principio o meio e o fim de tudo, mas sim trazer outras formas para que os alunos possam ter de fato uma aprendizagem significativa. Como atividades que proporcionem o contato deles com a leitura de textos variados como, por exemplo, a leitura de jornais, revistas, livros literários, receitas, manuais e entre outros.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Levando-se em consideração o que fora apresentado neste artigo, pode-se concluir que o professor precisa se conscientizar e mudar a sua metodologia do ensino da língua tendo em vista que o aluno já domina a sua língua materna ele só precisa aprimora-la dentro da perspectiva das normas gramaticais.
Em outro aspecto o docente precisa reconhecer que a analise de palavras e frases isoladas muitas vezes até descontextualizadas não contribuem de maneira alguma, para o desenvolvimento de uma produção textual de qualidade, mas sim através de aulas praticas envolvendo a leitura e a escrita que o aluno passa aprimorar o seu conhecimento linguístico.
Cabe aqui mencionamos as palavras de Possenti (1999, p.95):
Deveria ter ficado claro nas entrelinhas que as sugestões se resumem a uma única grande ideia: fazer com que o ensino de português deixe de ser visto como a transmissão de conteúdos prontos, e passe a ser uma tarefa de construção de conhecimento por parte dos alunos, uma tarefa em que o professor deixa de ser a única fonte autorizada de informações, motivações e sanções. O ensino deveria subordinar-se a aprendizagem.
Dessa forma para que o professor de língua portuguesa possa solucionar alguns desses conflitos relacionados à língua, linguagem e o ensino da gramática propriamente dita, faz se necessário que o mesmo mude a sua postura e procure trabalhar dentro da perspectiva interacionista sendo assim os alunos irão ter a oportunidade de serem mais participativos tirar suas duvidas sem serem constrangidos e passar a gostar mais das aulas de língua portuguesa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ANTUNES, Maria Irandé Costa Morais. Muito além da gramática: por um ensino de gramática sem pedras no caminho. São Paulo. 3ª ed. Parábola, 2007.
BAGNO, Marcos. Dramática da língua portuguesa. São Paulo. 1ªed. Loyola, 2000.
MAROTE, João Teodoro D´Olim; FERRO, Glaucia D’Olim Marote. Didática da língua portuguesa. São Paulo. Ed. Ática, 2002.
POSSENTI, Sírio. Porque (Não) ensinar gramática na escola? Campinas, São Paulo: ALD: Mercado de Letras, 1996.
PERINI, Mario. A; Sofrendo a gramática; ensaios sobre a linguagem. 3ªed, São Paulo. Ed ática, 1997.
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e Interação: uma proposta para o ensino de gramática. 10 ed. São Paulo. Cortez, 2005.
Publicado por: Amanda Souza de Oliveira
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