O Amanhã é Agora
Trabalho de Educação Ambiental nas séries iniciais do ensino fundamental em escolas da rede Municipal de ensino de CuritibaO texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
PRÉ PROJETO DE MESTRADO
1. APRESENTAÇÃO
O tema desta pesquisa, “O Amanhã é Agora”, tem como objetivo apontar possibilidades de se trabalhar a Educação Ambiental (EA) nas séries iniciais do Ensino Fundamental (EF) em escolas da Rede Municipal de Ensino de Curitiba, bem como, investigar que representações, alunos e professores têm a cerca de Meio Ambiente (MA) e EA.
A EA deixou seu status de “ensino do momento” para ser de fato algo presente em nossas vidas, seja na hora de fazermos uma compra, escolhendo produtos de empresas que se preocupam com essas questões, seja na opção pelo local de lazer, ou, qual partido político se enquadra melhor aos nossos princípios e verdades que julgamos ser absolutas. Na Constituição Brasileira de 1988 (Art.225, item VI), diz que:
“Cabe ao Poder Público promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do Meio Ambiente”.
Porém, não é isso que ocorre; para que esse ideal de EA seja alcançado, devemos primeiramente compreender porque a desigualdade social, acordos políticos, crenças e hábitos culturais podem afetar o MA.
“Assim, entende-se que as diversidades e antagonismos sociais, políticos e econômicos manifestam-se também no âmbito da cultura, porque a cultura é tão material e economicamente significativa quanto qualquer outra atividade social, porque também permite ir ao encontro da “experiência” e do vivido, no âmbito da sociedade, dos grupos raciais, de gênero, religiosos e outros, da mesma forma que no âmbito das classes sociais” (SCHMIDT e GARCIA, 2008, p. 11).
Devemos ter o entendimento que, mesmo pautada na Constituição Brasileira, a implantação da EA não será tarefa fácil, mas para que ocorra o fortalecimento desta mudança, faz-se necessário que a pesquisa e metodologia estejam presentes no Projeto Político Pedagógico da escola, sendo uma forma de transmissão do conhecimento científico sem desconsiderar o saber popular de cada aluno. Em sua obra Rockwell, (1997) relata a história cotidiana de uma experiência escolar no México o qual possibilita análise de variados elementos da cultura escolar à escola enquanto instituição, valores, concepções, relação professor e aluno e que vê a escola não apenas como transmissora e reprodutora, mas também como um local de produção do conhecimento.
A questão ambiental têm se tornado mais freqüentemente discutida por toda sociedade e, a escola, que atualmente graças à globalização e uma correria familiar desmedida “assumiu” em muitos casos o papel de “PM” (Pai e Mãe), deve assumir também o papel de “PVE” (Propagadora de Valores Esquecidos) de seus alunos, buscando norteá-los em questões que geram conflitos,muitas vezes por ignorância ou por diversidade cultural. A escola deve buscar meios para expor e ensinar aos seus alunos que, a intervenção, geralmente capitalista, do ser humano sobre os sistemas naturais podem comprometer tanto a qualidade de vida da atual população mundial, como a vida das próximas gerações.
[...] “com a concepção e o nascimento os pais não deram somente vida a seus filhos, eles ao mesmo tempo, os introduziram em um mundo. Educando-os eles assumem a responsabilidade da vida e do desenvolvimento da criança, mas também o da continuidade do mundo. Estas duas responsabilidades não coincidem de modo algum e podem mesmo entrar em conflito. Num certo sentido a responsabilidade do desenvolvimento da criança vai contra o mundo: a criança tem muito que particularmente a necessidade de ser protegida e cuidada para evitar que o mundo possa destruí-la, mas este mundo também tem necessidade de uma proteção que o impeça de ser devastado e destruído pela vaga dos recém-chegados que se precipita sobre ele a cada geração” (ARENDT, 1972, p. 228 apud FORQUIN, 1993, p. 13).
O trabalho com EA por si só, não é suficiente para suprir toda a problemática causada ao MA, mas é fundamental que seja realizado em parcerias, e entre elas, cabe à escola capacitar e orientar o seu professor a inserir a EA de forma interdisciplinar em seu planejamento, e que o saber transmitido aos alunos seja realmente válido.
“Embora a escola não seja a principal responsável pelo processo de produção do saber, ela está comprometida com a distribuição do conhecimento historicamente acumulado. É necessário, portanto, que cumpra com clareza e determinação este papel que lhe é específico e singular quando se trata de formação humana” (HORN, 2008, p. 187).
Sabemos que o currículo escolar é doutrinado por políticas que priorizam o ensino das elites, e para a grande massa é transmitido apenas um saber “bitolado”, inconsistente, por meio de uma metodologia passiva e desestimulante, que não desafia e nem propicia pensamentos críticos.
“Contudo, em nome de uma dada concepção única de mundo é que se exerceu e se vem exercendo no mundo a violência, o autoritarismo. Em nome dessa razão única, da lógica que atende aos interesses das classes dominantes, é que se justificam a miséria e a barbárie”. (LOPES, 1999, p. 51).
Por essa razão, o conhecimento científico transmitido pelo professor, deve possibilitar que o aluno passe a ser sujeito interativo do processo, mostrando a relação homem-natureza, conscientizando quanto à gravidade dos problemas ambientais, investigando posicionamentos de âmbito social e cultural, desafiando a buscar soluções, identificando que todos nós somos responsáveis por esses problemas, bem como também, capacitados para analisar, compreender e agir de forma mais consciente, e quando inevitavelmente causarmos impacto ao MA, que possamos encontrar meios de reparação e recuperação.
2. ARGUMENTAÇÃO
A EA tem um papel essencial para facilitar o entendimento da sociedade sobre as questões ambientais e possibilita o trabalho com os mais variados assuntos. Acreditamos que apesar da relutância e da falta de conhecimento científico dos professores para implantar a EA em seus planejamentos, não é utópico esse ideal, é possível se realizar projetos, oficinas pedagógicas e aulas atrativas que estimulem a análise crítica dos alunos, aliás, a EA relacionada com todas as disciplinas, contribuirá como uma fonte de crescimento e uma aprendizagem significativa para todos.
Todos nós, professores ou não, temos alguma sugestão sobre como podemos tratar as formas de vida do nosso planeta e seus recursos naturais, mas ainda nos falta compreender o porquê é tão urgentemente crucial preservarmos o MA.
Quando assistimos uma notícia ou vemos uma reportagem sobre miséria, fome, guerra, e as mais distintas questões sobre problemas ambientais, naquele momento esse fato nos revolta e acaba nos motivando a cuidar melhor do MA, mas cremos que na maioria das vezes, esse sentimento é apenas passageiro, e na rotineira correria do dia-a-dia, nos esquecemos desse fato e voltamos à nossa “vidinha capitalista medíocre” de sempre.
O grande desafio abordado nessa pesquisa é investigarmos o grau de criticidade e autonomia, que professores e alunos têm sobre MA, para tanto, a organização escolar precisa ser mais flexível para novos planos de ações de EA, que mobilizem a comunidade escolar e a sociedade em geral.
“A função social da escola começa a concretizar-se no momento em que propicia, em iguais condições, saber a todos os indivíduos. Desta forma, a instituição escolar tornou-se um instrumento fundamental, e essencial no processo de democratização”. (HORN, 2008, p. 188).
Sendo assim, é preciso mais que conhecimento, é necessário que a escola se disponha a trabalhar com formação de valores, construção de caráter, com ensino e aprendizagem de comportamentos, e principalmente, que se compreenda que cada crença e herança cultural têm seu sentido histórico.
“A perspectiva histórica indica que, mesmo para conhecer como estas relações ocorrem no presente, é necessário um olhar ao passado e ao futuro; ainda, coloca em questão o fato de que, quando se interroga sobre as ações dos sujeitos sociais, lançam-se, também, interrogações acerca da natureza da sociedade ou de seu funcionamento. Sobre a natureza da sociedade, significaria interrogar sobre a origem e as condições em que se realizam as ações dos sujeitos. Sobre o funcionamento, significaria interrogar sobre as orientações, os poderes, os mecanismos de decisão, as formas de organização e mudança que envolve os sujeitos e delimitam os contextos onde atuam. (SCHMIDT e GARCIA, 2008, p. 43).
A escola necessita efetivamente capacitar seus profissionais a novas práticas educativas, com o ensino voltado para a pesquisa, curiosidade e diálogo, e conseqüentemente, os professores que em sua maioria não tiveram formação no Ensino Superior sobre EA, não usem mais esse fato como “desculpinha” para não se trabalhar essas questões em sala de aula, é crucial que deixem de ser relutantes para não se inserir essa prática em sala de aula, afinal, mesmo estudando no melhor Ensino Superior do momento, sempre surgirão novos assuntos, novos desafios, novas questões a serem trabalhadas, e cabe aos professores se atualizarem, visando promover metodologias que envolvam seus alunos para as mais diferentes questões.
“A educação escolar não se limita a fazer uma seleção entre os saberes e os materiais culturais disponíveis num dado momento, ela deve também, para torná-los efetivamente transmissíveis, assimiláveis às jovens gerações, entregar-se a um imenso trabalho de reorganização, de reestruturação ou de “transposição didática”. (FORQUIN, 1993, p.16).
Faz-se urgentemente crucial, que aquele professor passivo e omisso, que sabe apenas reclamar de tudo; “desperte” e verdadeiramente compreenda que cada vez mais, a escola assumirá novos papéis na dinâmica escolar, social e familiar dos alunos.
Como verdadeiros professores, cabe-nos a responsabilidade de:
[...] compreender porque razões históricas, sociais e psicológicas, certos indivíduos, certos grupos ascendem mais facilmente ou mais amplamente do que outros ao domínio de certos saberes ou modos de pensamento ensinados nas escolas e por quais mecanismos uma cultura com vocação universalista pode se conformar com fenômenos de discriminação e de confisco. (FORQUIN, 1993, p. 172).
A Rede Municipal de Ensino de Curitiba oportuniza aos seus professores através do programa Escola & Universidade, criarem projetos que, após validação de uma comissão, serão aplicados nas escolas. Esse é um caminho que também possibilita implantar a EA de forma interdisciplinar, além do ensino de ciências curricular, dos livros didáticos e dos Cadernos Pedagógicos.
Inserir a EA nas séries iniciais do EF da Rede Municipal de Ensino de Curitiba, da forma que apresentamos, necessita alguns ajustes que agreguem valores aos saberes. Através de observações, investigações e práticas vivenciadas pelos alunos e professores, dentro e fora da sala de aula, possibilitando uma criação coletiva de metodologias interdisciplinares, ressaltando que progresso guia-se também por meio da moral, da ética e das experiências, as quais contribuem para a exploração das riquezas naturais de forma consciente.
3. OBJETIVOS
OBJETIVO GERAL
• Apresentar possibilidades de se trabalhar EA nas séries iniciais do EF em escolas da Rede Municipal de Ensino de Curitiba de forma interdisciplinar.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Descrever os principais aspectos da EA, bem como investigar, que representações alunos e professores têm sobre MA.
• Estimular os professores para implantarem a EA de forma interdisciplinar.
• Zelar e expandir o conhecimento dos alunos.
• Despertar nos alunos o interesse pelo MA e sua importância em nossas vidas.
• Oportunizar meios para que os alunos desenvolvam um pensamento crítico e construção de estratégias voltadas para a preservação e sustentabilidade.
4. REVISÃO DE LITERATURA
O interesse pela elaboração desta pesquisa surgiu a partir da relação direta da pesquisadora com o tema abordado¹. Tenho Licenciatura Plena em Pedagogia e Pós-graduação em Pedagogia na Empresa², sou professora regente de séries iniciais do EF da Rede Municipal de Ensino de Curitiba, à qual já me oportunizou trabalhar com projetos voltados para a EA dentro do programa Escola & Universidade³. Esta atuação me possibilitou investigar no cotidiano escolar erros e acertos no que se refere à EA.
Na obra de Forquin, o autor discute a relação entre educação e cultura, ressaltando que um dos problemas que incomodam os educadores se prende ao fato de não se saber mais o que verdadeiramente merece ser ensinado. Na concepção do autor, “é necessário reconhecer que, se toda educação é sempre educação de alguém por alguém, ela supõe sempre também, necessariamente, a comunicação, a transmissão, a aquisição de alguma coisa: conhecimentos, competências, crenças, hábitos, valores que constituem o que se chama precisamente de “conteúdo da educação”, e ainda aborda que, “a escola não deve talvez transmitir senão valores, mas deve-se reconhecer que é ainda o que ela sabe fazer melhor, o que a sociedade tolera melhor que ela faça, e ninguém faz melhor do que ela, ainda que possam muito bem imaginar outros canais e outras redes para outros tipos de transmissões”.
Schmidt e Garcia destacam que o grupo de pesquisadores desta linha de pesquisa denominada Escola, Cultura e Ensino, buscam “portanto, é encontrar formas de aproximação com os processos de escolarização para estudar determinadas dimensões da experiência escolar, de um ponto de vista que, incluía ação dos sujeitos que compõem o universo da escola. E, nessa direção, cada pesquisa desenvolvida tem sido uma oportunidade de rediscutir a pesquisa educacional e seus fundamentos”.
Desta forma, a EA deve ser organizada de forma interdisciplinar, apresentada aos alunos com clareza e metodologias condizentes ao seu cotidiano. Segundo Horn, “o saber aprendido resulta, principalmente, de uma seleção prévia de conteúdos considerados significativos para o sujeito da aprendizagem”.
Concordo com Lopes, quando diz que, a escola deve sociabilizar o conhecimento científico de forma que se possa dialogar com os saberes populares. “Ou seja, a produção de conhecimento na escola não pode ter a ilusão de construir uma nova ciência, ao deturpar a ciência oficial, e constituir-se em obstáculo ao desenvolvimento e compreensão do conhecimento científico, a partir do enaltecimento do senso comum. Ao contrário, deve contribuir para o questionamento do senso comum, no sentido de não só modificá-lo em parte, como limitá-lo ao seu campo de atuação”.
Aplicar a EA nas séries iniciais do EF irá requerer de todos nós, um real comprometimento, almejando instigar ações significativas que despertem a atenção das atuais políticas educativas, para que incentivem práticas e metodologias voltadas a esse ensino, afinal, já retardamos demais esse caminhar em busca de reais formas de desenvolvimento sustentável, chega de tanto se falar e pouco se fazer em relação aos problemas ambientais. Não é um apenas um problema para ambientalistas se engajarem e resolverem tudo sozinhos, o problema é nosso; basta, “O Amanhã é Agora”.
5. REFERÊNCIAS
FORQUIN, Jean-Claude. Escola e Cultura: as bases sociais e epistemológicas do conhecimento escolar. Trad. Guacira Lopes Louro. Porto Alegre, RS: Artes Médicas, 1993.
LOPES, Alice R.C. Conhecimento Escolar: ciência e cotidiano. Rio de Janeiro:EdUERJ, 1999, p. 33 a 101.
ROCKWELL, Elsie. De huellas, bardas y veredas: una historia cotidiana de laescuela. In ROCKWELL, Elsie (cord) La escuela cotidiana. 2a.reimpr. México, Fondo de Cultura Económica, 1997.
SCHMIDT, M.A.; GARCIA, T.M.B.; HORN, G. (org). Diálogos e perspectivas e investigação. Ijuí: UNIJUÍ, 2008. (coleção Cultura, Escola e Ensino; volume 1).
Publicado por: ELIZABETE APARECIDA SOLA FRANCO
O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.