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No Brasil, Educação é tragédia recorrente

Às vezes parece que a educação se assemelha muito ao futebol, afinal, cada um tem sua fórmula para que funcione como se espera.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Falar de educação é estar na moda. Todos falam dela e querem opinar. Às vezes parece que a educação se assemelha muito ao futebol, afinal, cada um tem sua fórmula para que funcione como se espera. É muito interessante, nessa análise, o caso dos burocratas do ensino, que ficam – possuem, geralmente, mestrado ou doutorado – em seus gabinetes e se colocam como estudiosos e conhecedores em profundidade do tema. O mais curioso é que seu universo em nada se assemelha com o cotidiano e a rotina da escola.

A julgar pelo que se vê, na sociedade, tem-se a impressão que quem ensina nada sabe. Tanto é verdade que são tratados com desprezo pelos políticos e muitas vezes pela própria sociedade. No entanto, em nossa opinião, prefeitos e governadores são os maiores inimigos da educação neste país. Há exceções. A dura verdade é que há pouco investimento na escola pública, nos professores e alunos. Muito mais poderia ser feito. Além do mais, não serve o argumento que falta dinheiro para isso. Mentira. Por sua vez, ninguém discorda que os mestres são conhecedores da escola, afinal, passam muitas horas nela e conhecem, bem de perto, os seus problemas. Quanto à mídia, ela colabora e muito para essa visão distorcida dos profissionais de ensino. Ela não lhe dá o direito de falar e se coloca ao lado dos políticos. Como a vida não é fácil, muitos para sobreviverem, minimamente, trabalham em até quatro colégios por dia. Certamente, faltará em um.

Por sua vez, é fato que a sociedade não valoriza o trabalho docente. No entanto, reclama muito ao descobrir que seus filhos escrevem e leem mal. Ficam indignados ao saberem que são incapazes de produzir um texto de trinta linhas e que são analfabetos. Da mesma forma não sabem interpretar um escrito de jornal ou revista. É lamentável e assustador saber que não vemos a sociedade civil e as famílias exigirem das autoridades mais investimentos na educação. É claro que os professores têm responsabilidade no processo educativo. No entanto, são os únicos responsabilizados pelo fracasso escolar. Entre nós, é incomum pais moverem ação contra prefeitos e governadores, que abandonam, completamente, as escolas públicas.

É PRECISO MUDAR

Precisamos pensar no tipo de escola que queremos. Nosso modelo faliu. Aliás, todos sabem disso, porém, a cada ano que passa tudo permanece como está. Por outro lado, a sociedade não quer que as crianças fiquem nas ruas. Querem-nas na escola. Para atender à demanda e os desafios educacionais deste século, é preciso melhorar a formação dos professores. Mas temos um grave problema, qual? A verdade é que, cada vez menos, o magistério atrai os recém-formados. Inteligentes que são, sabem que vão enfrentar muitas dificuldades no dia a dia, entre elas, ausência de plano de carreira compatível com o mercado de trabalho, baixos salários, ambiente violento e deteriorado, indiferença do aluno e da família pelo conhecimento e descaso oficial dos governantes e da sociedade com eles.

Por outro lado, outro grande desafio da escola é despertar o prazer e o encantamento pelo aprendizado. Como fazer isso? Precisamos de computadores, de áreas verdes, de bibliotecas, de professores qualificados, de espaços planejados com toda infraestrutura adequada ao pedagógico das diversas disciplinas, de família presente, de recursos didáticos e humanos, bem como, um projeto político pedagógico consistente.

Em O que acontece com as crianças, o poeta Mario Quintana nos dá a medida exata da magia de aprender: ''Aprendi a escrever lendo, da mesma forma que se aprende a falar ouvindo. Naturalmente, quase sem querer, numa espécie de método subliminar. Em meus tempos de criança, era aquela encantação. Lia-se continuamente e avidamente um mundaréu de histórias (e não estórias) principalmente as do Tico-tico. Mas lia-se corrido, isto é, frase após frase, do princípio ao fim''.

Está claro pelas razões expostas aqui que é preciso mudanças urgentes, caso elas não ocorram, em curto prazo, é possível que ondas de violência ocorram muito mais nas unidades de ensino. É importante saber que essa situação não surge do nada. Ela é fruto, também, do descompasso pedagógico da escola com o mundo real e das desigualdades sociais. Inconscientemente ou não, o educando tem essa clareza. O fato é que a escola precisa ser diferente do que é agora. Há quem diga que o nosso modelo, de ensino medieval e tradicional - que é conteudista e centrada no professor, que transmite o conhecimento - não funciona mais como outrora. O mundo mudou, vivemos na era digital. A instituição escolar ainda permanece aferrada aos mesmos princípios de décadas atrás. Parte do desinteresse do aluno é resultante dessa realidade. Ela colabora e muito para a evasão escolar.

AULA PRONTA

No Estado de São Paulo, os educadores, a cada bimestre, têm a sua disposição uma cartilha (caderno do aluno) feita por especialistas para darem suas aulas. Dessa forma, não é mais necessário fazer planejamento de aula. A coisa vem pronta e muitos professores usam o material. Portanto, não é mais necessário saber preparar uma aula.

Pobre do aluno. O que a cartilha se propõe está em desacordo e fora do contexto da realidade. Dessa forma, o educando, ao fim do ensino médio, não está preparado para nada. Isso vale para concurso público, Enem ou vestibular. Se quiser cursar uma boa universidade – pública ou particular – deverá procurar um curso pré-vestibular. Têm mais, todos os dias a mídia mostra alguns casos absurdos envolvendo profissionais da saúde. Quem não se lembra de algo do tipo: a mãe levou a criança ao hospital por causa de problemas cardíacos e a mesma tem braço amputado. Há casos de uma criança que morreu porque recebeu injeção de café. Essas situações lamentáveis ocorrem por vários motivos. Entre eles: formação ruim em nível técnico ou acadêmico.

LUTO NA EDUCAÇÃO

Em meio a tudo isso, a aprovação automática, em massa, veio para ficar. É um consenso em educação. Quase todos os estados brasileiros a usam. Falar em reprovação é obscenidade. O profissional de ensino sabe que o aluno mesmo não tendo condição o promove. Se o reprovar, sobre seus ombros recai a responsabilidade pela situação do aluno. Dessa forma é coagido a promover todos. Se não o fizer, o diretor fará. Sabedor da situação, o aluno não se preocupa em estudar. Sabe que será aprovado mesmo sem fazer esforço. Anualmente, quantos alunos, seja do fundamental ou médio, leem dois ou mais livros?

Mais: neste país, a educação segue em luto. Porque vivemos uma triste tragédia. Há muitos ''mortos e feridos''. Anualmente milhares deles chegam ao mercado de trabalho. A maioria, apesar de diplomados, não apresentam condições mínimas para o exercício profissional. Lamentavelmente, muitos leitores, certamente, vão entortar o nariz para este artigo. Isso não nos perturba. O que incomoda muito é que cada vez menos há vozes discordantes.  Poucos se indignam com o estado atual das coisas. O fato é que vivemos numa sociedade consumista, que é vítima do próprio emburrecimento. Isso ocorre porque a educação é mais um produto enlatado. O mesmo se aplica à cultura.

Logo, fica claro que a manutenção da ignorância é o artifício mais utilizado, pelos políticos e elite, para projetos políticos de continuidade no poder. Para atingir seus objetivos usam uma velha fórmula: desvalorizar a escola pública e desqualificar o trabalho docente. Assim, os donos do poder permanecem em berço esplêndido e as mudanças não acontecem. Resultado: como a educação é um produto enlatado, tem gente criando ONGs, voltadas para educação, e dessa forma lucram muito com os cofres públicos.

Em conclusão, no Brasil, a classe dominante se especializou na arte de enganar a população. Eles mentem ao dizer quem lutam em defesa da educação. Fazem o mesmo com a saúde. Depois das eleições, os eleitos esquecem as promessas de campanha. Dessa forma, a cada ano que passa, as coisas pioram ainda mais e os cidadãos ficam a ver navios.

(Ricardo Santos é prof. de História ).


Publicado por: RICARDO SANTOS

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