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Mato Grosso - A Formação Docente em questão

Clique aqui e confira como é a Formação Docente no Mato Grosso.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Resumo

A formação docente em Mato Grosso parece ainda estar muito fechada, no sentido de que ainda não há muita preparação para o enfrentamento do que acontece em sala de aula. Isto, também fragiliza a categoria e aqueles que precisam dela. Prova disso é que, a escola, recebe professores com pouca habilidade de condução do processo de ensino-aprendizagem, ausência de didática e com dificuldade na transposição dos conteúdos. Muitos ainda não se atentaram para as mudanças ocorridas no espaço geográfico, isso é importante, pois, a educação é um campo de ação em constante mutação, deveria acompanhar o desenvolvimento da sociedade. As mudanças organizacionais, curriculares e extracurriculares, exigem dos professores novas atitudes.

Palavras-chave: Formação docente; Experiência profissional; Vivências.

Palavras iniciais...

A formação do docente continua sendo, justificadamente, uma área de importante investigação educacional, prova disso é a realização anual do Seminário de Educação da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e, mais recentemente a realização do Seminário de Ensino de Geografia (Semeg) organizado pelo Departamento de Geografia da UFMT. O Semeg aconteceu nos dias 15 a 19 de outubro de 2013 e se preocupou em discutir a formação do docente de Geografia. É importante que esta temática seja debatida, pois faz com que conheçamos melhor o modo como os professores constroem seu conhecimento.

No entanto, julgamos que, para além do conhecimento de realidade locais da confirmação ou não de quadros teóricos aprendidos na universidade, a formação ainda é muito dependente das grandes temáticas que se desenvolvem com o passar dos anos. Observa-se que a aposta na qualidade da formação de professores continua a ser um objetivo central a atingir, tanto em nível político, investigativo e pedagógico por meio das instituições formadoras e, mesmo em nível dos estabelecimentos escolares. Por exemplo, a Sala do Educador que é desenvolvida em cada uma das escolas estaduais mato grossenses.

Dessa maneira, é possível concordar que a questão da competência docente, no quadro de um processo de desenvolvimento laboral responsável e comprometido, torna-se fundamental para a melhoria da qualidade da educação e também para a motivação e realização profissional dos professores. Lógico que agregados a esta questão está o debate sobre a carreira docente, o salário e as condições mínimas para a docência.

O presente texto se preocupa em apresentar uma reflexão acerca da formação dos docentes em Mato Grosso.

A formação docente em Mato Grosso

Em Mato Grosso há uma experiência em curso dirigida pela Secretaria de Estado de Educação (Seduc) - a elaboração das Orientações Curriculares da Educação Básica (OCs). Mesmo que estas tenham quase a mesma discussão dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), não há como negar que o documento é referência crucial de um passo à melhoria da educação. O documento inicia sua apresentação apontando o objetivo para o qual foi pensado e escrito:

Surge fundamentada na decisão política de fazer chegar ao chão da escola um texto claro e conciso que, a par dessa clareza e concisão, ofereça ao professor uma visão inequívoca do homem e da sociedade que se quer formar (MATO GROSSO, 2011, p. 06).

Ou seja, aponta para a necessidade do professor observar e trabalhar os fatos e fenômenos ocorridos na contemporaneidade de maneira diferenciada. Estamos em outro momento histórico, isso requer novas lentes de observação.

E o documento ainda aponta a urgência de pensar a educação em prol daquilo que ocorre nos dias atuais:

A educação em seu papel preponderante de formação humana vê-se instada a atender às novas necessidades sociais e econômicas, aliando-se aos aspectos da ética, da solidariedade, da gestão compartilhada das políticas sociais, das utopias e das tecnologias a favor da vida, como verdadeiros aspectos do que se possa constituir como uma sociedade sustentável, a despeito do fenômeno da globalização econômica que, embora anunciada como triunfante ao final do século XX, vem revelar, através dos capitais fictícios, das “inesperadas” falências, da esquizofrenia do mercado financeiro derrubando as bolsas, sua fragilidade e contradição, como sistema capaz de promover justiça social com igualdade de oportunidades para todos, conservados os valores humanos e sociais indispensáveis à vida e à sobrevivência planetária (op. cit., 2011, p. 6-7). 

Diante das questões apresentadas é imprescindível discutir, também, a formação de professores, pois, as OCs terminar o texto inicial com a frase “Professor, você é o protagonista dessa ação, portanto, nosso principal convidado” (op. cit., 2011, p. 10).

A educação, é necessário concordar, passa por momentos de mudanças, mas carregados de “culpas” de insucessos. E, geralmente, os insucessos são responsabilidade dos docentes. Então, pensar na formação docente, em tempos contemporâneos, nos leva a muitas interrogações, que vão muito além dos lugares comuns e dos grandes endereços da formação.

Alonso (2006) afirma que há a intenção em superar as dificuldades da educação a partir da formação de professores, pois, a “(...) formação do professorado que têm por base a ideia de “profissionalização” como primeiro passo e rumo ao resgate do labor docente em seu pleno sentido” (p. 54). Ou seja, há uma evidente complexidade no que tange a formação de professores que considera as instituições de formação inicial e continuada.

A autora citada acima faz uma análise do percurso da docência, até chegar à problemática da relação entre profissão e formação e que a escola é um dos centros para desenvolvimento destas, inclusive, na relação entre ensinar e aprender com os alunos.

Alonso (op. cit, p. 56) insiste que “as transformações laborais e as novas demandas educacionais indicam outro contexto de formação de natureza não instrucional. (...) assumiria características que transcendem a formação inicial”. Ou seja, a formação docente ganha caráter de permanência e continuidade, o que pode influenciar no próprio sistema de ensino.

Como exigir uma boa educação se não há alguém para cumprir de maneira satisfatória o papel da docência? Neste caso ser professor. A ausência deste comportamento, o de ser um bom professor, indaga também algo com relação a sua formação. E atenção, é muito complicado referenciar geograficamente uma formação laboral seja ela qual for, pois o que o espaço escolar apresenta é uma infinidade de conceitos e ideais lecionais de todo o nosso país. Existem hoje em Mato Grosso polos de várias instituições de ensino.

E, pensando nisso os governos federal, estadual e municipal, em conjunto ou de maneira isolada, realizam investimentos (mesmo que parcos, relativamente) na formação docente. Mas, apesar do investimento das três esferas de governo em formar novos professores e ofertar formação para aqueles que já estão na lida diária, ainda existem dificuldades no domínio da relação pedagógica. Ao que se percebe tanto aqui, no Mato Grosso, como em outro lugar há ausência de didáticas motivadoras a partir do conhecimento construído dentro de cada ciência. Para muitos alunos das licenciaturas, o que está relacionado ao ensino não agrega muito valor acadêmico. A partir disso surge a pergunta: Será este aluno um bom professor?

E, por falar nisto, há muitas tentativas de melhorias na formação acadêmica dos futuros professores, como dito anteriormente, uma delas é o Programa de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid). O Pibid é um programa do governo federal que por objetivo proporcionar a iniciação à docência para que haja aperfeiçoamento da formação de docentes na graduação e contribuir na qualidade da educação básica pública brasileira. Em Mato Grosso, o Pibid é desenvolvido pelas instituições públicas (federal e estadual). Em Cuiabá, há a presença desses acadêmicos/bolsistas da UFMT, como pode ser vista uma atividade desenvolvida pelo Pibid – Geografia do campus Cuiabá na foto a seguir:

Oficinas do Pibid – Geografia. Fonte: Oliveira, 2014.

Neste programa os alunos potencializam a formação com vistas à docência, além de contribuir com os professores regentes das escolas. Os acadêmicos compreendem que a docência é, antes de qualquer coisa, a entrega para o outro. Educar é amar antes de qualquer coisa. As pessoas precisam daqueles que façam a diferença e dê a atenção devida para o público alvo ou sujeito do processo, o aluno. A relação professor – aluno tem perdido espaço, quer na formação inicial, quer na formação continuada. Isto só faz fortalecer a problemática da relação pedagógica que a cada dia é mais dispersa, assistemática e pouco fundamentada e, há um sério prejuízo com relação ao contato entre professor e aluno.

Sabemos que há um número substancial de professores que ao longo da carreira não conseguem superar as dificuldades no campo relacional, fato constatado por Karcher (1999) em seu texto, o autor afirma que a empatia entre professor e aluno poderá facilitar a aprendizagem da disciplina, caso contrário as dificuldades tendem a aumentar.

Se for certo que a atual conjuntura socioeconômica e cultural desafia a formação docente no sentido de dar respostas inovadoras, então, deveríamos atentar e corrigir para então sanar o problema. Piaget (apud Lourenço, 2005) afirma que as atitudes poderão ser negativas ou positivas, ou seja, um indivíduo estará ou não favorável a um objeto. E a partir dessa situação surgirá outro componente, a crença. A crença é um sinal de aceitação de um momento ou uma ação, neste caso uma atitude relacionada à docência.

A partir da consideração de Piaget é possível dizer que há por parte de alguns profissionais falta de percepção quanto aos processos motivacionais e emocionais em relação aos alunos e a si próprio no que se refere à relação de ensino e aprendizagem. Dessa maneira, é imprescindível ter uma atitude pedagógica mais responsável que leve à sedução do aluno ao conhecimento.

Neste sentido, Gasparin (2012) aponta que é necessário haver uma preparação que significa “(...) uma mobilização do aluno para a construção do conhecimento escolar. É uma primeira leitura da realidade, um contato inicial com o tema a ser estudado” (p. 13).

O autor quer dizer com isso que é imprescindível a motivação e, esta se dá pela boa relação ensino-aprendizagem. Ainda continua:

Para que isso ocorra, o educando deve ser desafiado, mobilizado, sensibilizado; deve perceber alguma relação entre o conteúdo e a sua vida cotidiana, suas necessidades, problemas e interesses. Torna-se necessário criar um clima de predisposição favorável à aprendizagem (GASPARIN, 2012, p. 13).

Ou seja, o docente deve conhecer a prática social de seus alunos para inseri-la no currículo proposto. Isso poderá ser significativo ao aluno e ao docente.

Quando se fala em relação ensino-aprendizagem, deve pensar, também, na formação docente, um universo sem limitações e convergências. Estaremos cometendo um equívoco em dizer que a formação dos professores de uma região do Brasil funciona excelentemente bem. Porque tal referência? Uma região assim como a outra trabalha sob a mesma Lei de Diretrizes de Bases da Educação Nacional (LDBN).

Talvez o que falta é o que Vigotsky (apud Lourenço, 2005) afirmou que o futuro de uma cultura depende potencialmente da invenção flexível de cada pessoa. Assim como Piaget (apud Lourenço, 2005) que defendia a criação de pessoas capazes de realizarem coisas novas como principal objetivo da educação, e não se transformarem em meros repetidores do que leram e aprenderam.

Uma saída para a problemática exposta anteriormente pode ser o que Freire e Campos mencionam no seguinte texto:

O ensino deve sempre respeitar os diferentes níveis de conhecimento que o aluno traz consigo à escola. Tais conhecimentos exprimem o que poderíamos chamar de a identidade cultural do aluno – ligada, evidentemente, ao conceito sociológico de classe. O educador deve considerar essa “leitura de mundo” inicial que o aluno traz consigo, ou melhor, em si. Ele forjou-a no contexto do seu lar, de seu bairro, de sua cidade, marcando-a fortemente com origem social (FREIRE & CAMPOS, 1991, p. 5, apud GASPARIN, 2012, p. 14).

Se dentro de uma sala de aula o docente deve considerar a diversidade de realidades, o mesmo deve acontecer com as diferentes realidades educacionais do Brasil. Há um sistema nacional de ensino, porém, dentro dele é necessário considerar as diferenças econômicas, culturais e históricas. Se em São Paulo o ensino é de uma forma no Amazonas deverá estar ligado às características daquela localidade.

Dessa maneira, os saberes docentes serão diferenciados nas diferentes regiões do país, porém, na sua dinâmica expressam modos e elementos semelhantes.

Porém, deve ser evitado o “discurso espontâneo” (CHARLOT, 2006, p. 10). Não significa que por conta da diversidade as experiências próprias passarão a predominar e assim produzir um saber que estacione apenas nas opiniões. É necessário levar em conta todo um percurso científico já delineado nesse campo, a formação de professores e a história da educação no Brasil.

Mas, existem professores que chegam à escola, cheios de objetivos e ideais, com o passar dos anos, se tornam frustrados e apáticos. Vivenciam muitas situações que lhes desmotivam. Qual será o resultado dessa situação? Dependerá do tipo de formação inicial despendida ao docente, se foi um aluno atencioso lembrará das aulas de psicologia da educação, da ética e tomará a melhor decisão. Certamente perceberá que terá que mediar se tornar um mediador.

Porém, se for ao contrário o mesmo desenvolverá suas funções de maneira a tornar negativo seu ambiente de trabalho, se não conseguir o que julga ser melhor para ele, continuará a frustração estendendo às outras pessoas. E, infelizmente, um dos mais ressaltados resultados dessa postura é a indisciplina e o comportamento dos alunos, pois se percebem que o professor está ali apenas para cumprir uma carga horária, sem nenhuma atitude positiva pelo que faz, não perceberá a importância em absorver todo o conteúdo, muitas vezes sem sentido, transmitido a ele.

Alonso (2006) a apatia e a desmotivação são reações recorrentes e generalizadas na formação docente inicial e continuada. Ela ainda diz

Mais que resistir, teríamos (...) de recriar esse espaço da “formação”. (...) Esta configurada numa perspectiva interdisciplinar e “espaço” em que a apropriação do conhecimento se desse pela reflexão e não por aquisição mecânica e funcional, e, onde a pesquisa se desenvolvesse, concretamente, sobre a discussão de problemas reais, evidenciando sua reconceitualziação administrativa e pedagógica (p. 62).

Enfim, a formação inicial e continuada devem ser repensadas para que os professores possam interagir e agir de maneira melhor e mais exitosa na docência.

Palavras finais

Para finalizar este breve texto, é interessante dizer aos professores das licenciaturas de todas as academias que ao lançar suas metas, inserissem nas mesmas o seguinte: formar um professor com o  compromisso de desenvolver um aluno crítico, que saiba de seus direitos e deveres, ter competência de distinguir o que o mundo tem de melhor para oferecer independente da situação ou realidade que venham a enfrentar. Só assim teremos o respeito profissional que muitos hoje gritam nas ruas, não só em Mato Grosso, mas em todos os lugares do mundo. Além do alcance do objetivo de todo o ser humano, ser um cidadão pleno.

Referências

ALONSO, K. M. Os professores e sua formação: cenas e atos. In: MONTEIRO, F. M. A.; MULLER, M. L. R. (orgs). Profissionais da educação. Políticas, formação e pesquisa. Cuiabá: EdUFMT, 2006.

CHARLOT, B. A pesquisa educacional entre conhecimentos, políticas e práticas: especificidades e desafios de uma área de saber. In: Revista brasileira de educação. V. 11, n. 31. Campinas – SP: Autores Associados, 2006.

GASPARIN, J. L. Uma didática para a pedagogia histórico-crítica. Campinas – SP: Autores Associados, 2012.

KAERCHER, N. A. A geografia é o nosso dia-a-dia. In: CASTROGIOVANNI, A. C.; CALLAI, H. C.; SCHAFFER, N. O.; KAERCHER, N. A. (orgs). Geografia em sala de aula: práticas e reflexões. Porto Alegre: EdUFRGS/AGB, 1999.

LOURENÇO, O. Piaget e Vygotsky, semelhanças e além disso. In: MIRANDA, G, L.; BAHIA, S. Psicolocia da educação: temas de desenvolvimento, aprendizagem e ensino. Lisboa: Relógio d’Água Editores, 2005.

MATO GROSSO. Secretaria de Estado de Educação. Orientações curriculares. Cuiabá: Gráfica Print, 2011.

*Edson Luis Ismael do Carmo é Pós-graduado em Urbanização e Ordenamento do Território, Universidade de Lisboa – Portugal e Professor de Geografia das redes estadual de Mato Grosso e municipal de Cuiabá.


Publicado por: EDSON LUIS ISMAEL DO CARMO

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