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LITERATURA DE CORDEL E AS VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS

Análise sobre a Literatura de cordel e as variações linguísticas.

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RESUMO

A cultura é um mosaico que se constrói e descontrói continuamente através da interação humana pacífica ou forçada; e esse quadro tem sua moldura na antropofagia linguístico-cultural como apresenta Oswald de Andrade, uma cultura absorvendo a outra em sua totalidade ou parcialidade em um processo de canibalismo cultural. A literatura de cordel está firmada nesse processo oswaldiano, sendo descendente da cantiga trovadoresca franco-ibérica, especialmente portuguesa, em que por meio da migração colonizadora do século XVI, os portugueses levaram em suas bagagens suas cantigas. As cantigas ibéricas denominadas em Portugal de folhetos voltantes e na Espanha de pliegos soltos têm suas características expositivas, escrita e conteúdo semelhantes ao cordel, confirmando o cordel ser a continuação brasileira da cantiga europeia, marcando a presença antropofágica desta forma literária. A presença da variação diatópica no cordel é perceptível com a variação de linguagens e assunto apresentado em sua produção; pois, a origem do cordel dá-se no Nordeste por ser primeira capital e expande-se pelas províncias, levando a cada uma expressar-se segundo a linguagem regional e sua temática. Outro ponto marcante está na musicalidade presente no cordel semelhante a cantiga trovadoresca, como também sua oralidade devida uma mesma característica social, principalmente do público receptor, analfabetismo e semianalfabetismo.   Esse fator traz uma necessidade de rima e musicalidade que facilite a transmissão e memorização desse público. A análise linguística termina com a atual produção com temática jornalística e recentemente, a conversão em cordel da literatura clássica mundial e nacional com marcante alteração para o conteúdo nordestino.

Palavras-chave: Antropofagia; Trovadorismo; Cantiga; Cordel; Variação Diacrônica; Variação Diatópica.

RESUMEN

La cultura es un mosaico que se construye y se desmorona continuamente a través de la interacción humana pacífica o forzada; y este cuadro tiene su marco en la antropología lingüístico-cultural tal como la presenta Oswald de Andrade, una cultura absorbiendo a la otra en su totalidad o parcialidad en un proceso de canibalismo cultural. La literatura cordelera se basa en este proceso oswaldiano siendo descendiente de la canción trovadoresca franco-ibérica, especialmente portuguesa, en la que, a través de la migración colonizadora del siglo XVI, los portugueses llevaron sus canciones en su equipaje. Los cantos ibéricos llamados en Portugal voltantes y en Espña pliegos sueltos tienen características expositivas, escritura y contenido similiares al cordel, lo que confirma que el cordel es la continuación brasileña del canto europeo, marcando la presencia antropofágica de esta forma literaria. Se nota la presencia de variación diatópica en cordel con la variación de lengua; porque ajes y tema presentado en su producción; porque el origen del cordel se d en el Nordeste por se la primera capital y se va extendiendo por las provincias, llevando a cada un a expresarse según la lengua regional y su temática. Otro punto llamativo es la musicalidad presente en el cordel similar al canto trovadoresco, así como su oralidad debido a la misma característica social, principalmente del público receptor, alnalfabeto y semianalfabeto. Este factor trae una necesidad de rima y musicalidad que facilita la transmisión y memorización de esta audiencia. El análisis lingüístico finaliza con la producción actual con temas periodísticos y recientemente, la conversión en hilo de literatura clásica mundial y nacional con un marcado cambio hacia el contenido nororiental.

Palabras llave: Antropofagia; trovadorismo; Canción; enroscarse; Variación Diacrónica; Variación diatópica.

1. Introdução

A literatura não nasce, mas transforma-se junto a sociedade e suas mudanças socioculturais apresentando-se em uma contínua desconstrução e reconstrução semelhante ao mosaico[3]. A percepção conceitual do mosaico permite tecer uma alusão ao processo evolutivo da literatura, descrevendo-a sob as variações linguísticas diacrônicas[4] e diatópicas[5].

A cultura portuguesa nasce com o mosaico grego, latino, leonês, galego, mouro e franco em que diacronicamente foi construindo uma marca cultural e linguística na nascente nação portuguesa[6].

Silva (2021) apresenta a construção desse mosaico, demonstrando a parcela construtiva de cada uma das nações supracitadas (variação diatópica) e o período de influência de cada uma para a formação linguística-cultural da nascente nação portuguesa tendo o trovadorismo português como oriundo da origem galego-portuguesa segundo o desenvolvimento linguístico-cultural apresentado por Silva (2021).

A cultura literária galego-portuguesa conduziu ao trovadorismo como forma de expressão que se firmou por toda a baixa idade-média[7], tendo o trovadorismo como a primeira manifestação literária portuguesa onde era apresentada poesias e prosas em praças públicas, principalmente poesias escritas e cantadas pelos trovadores em forma de cantigas. A cantiga galego-portuguesa mais antiga preservada é de Joám Soárez de Pávia do final do Século II, aproximadamente 1195[8].

O trovadorismo vivenciou as variações diacrônicas durante a baixa Idade Média e por meio da exportação dessa escola literária, através das grandes navegações e colonizações, vivenciou a variação diatópica.

A literatura de cordel chegou à Península Ibérica por volta do século XVI sendo conhecida como pliegos sueltos na Espanha e folhetos volantes em Portugal e posteriormente foi exportada para a capital da colônia a época, a saber Bahia, que segundo sua importância era o centro econômico e cultural brasileiro; e, desta forma, fora natural a ascensão da literatura de cordel pelos entrepostos e províncias nordestinas. (ABLC, Rio de Janeiro, s.p)

É interessante a análise sobre a forma denominada na Espanha “pliegos sueltos”, pois a tradução literal são “folhas soltas” o que é exatamente o modo de apresentação e venda dos textos em cordel: folhas avulsas presas em um barbante.

A maior colônia portuguesa, o Brasil, vivenciou a literatura de cordel[9]. Com a desconstrução e reconstrução mosaica com poemas avulsos e a marcante produção de contos e novela por meio de lançamentos espaçados, criando uma genitora da novela: Literatura de Cordel[10].

Apresentar-se-ão através desse trabalho, as variações diacrônicas e diatópicas, que conduziram temporalmente o trovadorismo medieval à literatura de cordel na Península Ibérica no século XVI e sua exportação juntamente aos e/imigrantes para o Nordeste brasileiro com suas características linguísticas e culturais regionais. Como afirma Evando Nascimento (2011, p. 331) que “a devoração real ou metafórica acarreta a morte do outro” e essa concepção conduz a interpretação mosaica de desconstrução e reconstrução da literatura de cordel Ibérica, levando a literatura de cordel brasileira com toda sua gama de exposição dramática, como o livro Auto da Compadecida de Ariano Suassuana, em 1955, e com a característica de contos, hoje publicados em livretos ou como em seu início página a página (normalmente expostas em cordas) com um traço novelístico e cultural regional.

2. Literatura de cordel

A análise da literatura de cordel converge a sua variação diacrônica[11] e sua variação diatópica[12]. Saussure (2012) apresenta a diacronia como o estudo das palavras, ou termos, que são substituídas por outras ao longo do tempo e a variação diatópica sendo a diferença que uma mesma língua apresenta em espaços diferentes (ILARI, 2006. p.157). A partir da conceituação das variantes diacrônica e diatópicas, podemos realizar a análise diacrônica e diatópica da literatura de cordel.

A literatura de cordel tem uma história secular iniciada ainda durante a Idade Média através das cantigas franco-ibéricas. As cantigas eram em sua maioria palacianas[13], mas também alcançavam os vilarejos[14] produzidas por nobres, em maioria baixa nobreza[15]; “Concomitantemente, ... , e em que o analfabetismo era uma constante (FOCHI; SILVA, p.50).”

Com um cenário de maciço analfabetismo e nascimento dos Estados-nações e suas respectivas línguas, inicia nos vilarejos a alfabetização, principalmente com a invenção da imprensa pelo alemão Johannes Gutenberg em 1439.  É interessante a observação da máquina de Gutemberg:

Imagem 1: Máquina de impressão de Gutemberg

Disponívelem:https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.futuraexpress.com.br%2Fblog%2Fo-que-e-grafica-digital%2Fprensa-de-gutenberg%2F&psig=AOvVaw3ikbOJ313OOXGxHN1paf3a&ust=1665072482615000&source=images&cd=vfe&ved=2ahUKEwi8worAvMn6AhW4IrkGHdGDDm4QjRx6BAgAEAs. Acesso em: 05/10/2022

Percebe-se através da imagem supracitada que a impressão era realizada manualmente e por página, exigindo um molde com o texto para realização e um alto custo com maquinário e mão-de-obra. Essa realidade sustenta os folhetos voltantes, em Portugal, e os pliegos sueltos, em Espanha, como patriarcas do cordel brasileiro.

A viabilização da venda dos folhetins[16] dar-se-ia diariamente nas feiras dos vilarejos e nascentes cidades e a melhor forma de venda através de exposição em cordéis. A variação diacrônica por vezes retira da linguagem descritiva algumas palavras ou modifica o sentido; cordel é uma corda bastante fina e flexível e também denominado barbante, cordão ou guita. Objetiva-se que a definição se encontra no texto, a fim de desmistificar o termo cordel apenas em seu caráter literário e desta forma ampliando a percepção do leitor.

O Brasil adotou a nomenclatura Cordel, onde o cordel brasileiro vivenciou a arte da xilogravura, como citar-se-á no subitem 2.2, utilizando juntamente a impressão textual a impressão de imagens.

A imagem à baixo é contemporânea, contudo demonstra precisamente a arte de talhar imagens em madeira para impressão (xilogravuras).

Imagem 2: Xilogravura brasileira

https://i.pinimg.com/564x/11/af/21/11af212f346aa42fff188218bd5145d8.jpg

Disponível em: https://i.pinimg.com/564x/11/af/21/11af212f346aa42fff188218bd5145d8.jpg. Acesso em: 05/10/2022

O cordel era manuscrito ou seguia, principalmente nas capitais, o modelo de imprensa importada da Europa seguia um modelo semelhante ao de Gutemberg com prensa página a página. Desta forma, o cordel brasileiro era produzido diariamente, e quando a obra se encontrava completa, era exposta como livretos em cordéis nas feiras. A imprensa propriamente dita, ocupava-se dos jornais e produção de autores com maior prestígio social como por exemplo o escritor Machado de Assis, apesar que seus trabalhos eram divulgados em folhetins e posteriormente publicados como livros.

A riqueza presente no cordel permite uma compreensão histórico-literária da produção e desenvolvimento da literatura ibero-brasileira, juntamente a sua origem comum e seu distanciamento ao longo da história marcando sus varações diacrônicas e diatópicas.

2.1 Variação diacrônica da literatura de cordel

A percepção da diacronia pode utilizar-se da célebre sentença de Lavoisier[17]; “na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” (SCHWANTES, UFRGS, p.11), realizando uma analogia sobre a língua, perder-se-ia citar: “na sociedade, língua não se cria, língua não se perde, língua se transforma”.  

A Literatura de Cordel não se cria, ou nasce, mas é proveniente da variação diacrônica-cultural da sociedade ibérica. Semelhante a língua que se modificou com o tempo, a cultura modificou-se.

O estudo cronológico permite que seja traçada uma linha do tempo e observado as características literárias presentes na península Ibérica até sua expansão e mudanças territoriais, essa análise será realizada na variação diatópica da literatura de cordel.

A linha de tempo pertinente a literatura de cordel inicia no trovadorismo e chegaria ao cordel brasileiro em constante evolução, demonstrando sua vivacidade.

Imagem 3: Linha do tempo da literatura Luso-brasileira

https://i.pinimg.com/originals/f3/1b/b6/f31bb65976b07e877227a6f1a31b26e0.png

Disponível em: https://i.pinimg.com/originals/f3/1b/b6/f31bb65976b07e877227a6f1a31b26e0.png / Acesso em: 28 de jun. de 2022

A presente linha cronológica demonstra a capacidade humana da antropofagia; isto é, a alimentação de uma cultura através da deglutição de outra (LIMA, 2016, p.46) Contudo, essa mesma linha temporal permite-nos uma percepção da arte Musiva[18] como explicação da evolução da cultura pela contínua desconstrução e reconstrução cultural com a absorção parcial ou completa devido uma influência cultural e desta forma ambas as culturas, a preceptora e a receptora, teriam modificações.

2.1 Período Trovadorismo português

A análise de um período histórico-literário pede-nos a decomposição morfológica do nome referente ao período estudado. Analisemos a palavra trovadorismo:

  • Trova- Composição poética acompanhada de música
  • dor- Indica agente, aquele que realiza a ação.
  • ismo- Movimento político, social ou cultural

Desta forma, trovadorismo pode ser compreendido como o movimento cultural em que seus atores compunham cantigas; isto é, poesias cantadas.

Este trabalho seguirá com a nomenclatura lusitana, cantiga. A primeira cantiga registrada na história é a Cantiga de Garvaia  de Paio Soares de Taveirós[19] escrita em 1189 na língua galaico-portuguesa.

Segue-a a seguir:

   

Cantiga de Garvaia[20]

No mundo nom me sei parelh'

   

mentre me for como me vai,

   

ca já moiro por vós e ai,

   

mia senhor branc'e vermelha!

5

 

queredes que vos retraia

   

quando vos eu vi em saia?

   

Mao dia me levantei

   

que vos entom nom vi fea!

     
   

E [ai!], mia senhor, des aquelh'

10

 

dia, me foi a mi mui lai.

   

E vós, filha de dom Paai

   

Moniz, e bem vos semelha

   

d'haver eu por vós garvaia?

   

Pois eu, mia senhor, d'alfaia

15

 

nunca de vós houve nem hei

   

valia d'ũa correa

Disponível em: https://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=124 Acesso em: 08/08/2022

Tradução

No mundo ninguém se assemelha a mim
enquanto a vida continuar como vai,
porque morro por vós, e ai!
minha senhora alva de pele rosadas,
quereis que vos retrate
quando eu vos vi sem manto.
Maldito dia que me levantei
E não vos vi feia

E minha senhora, desde aquele dia, ai!
tudo me foi muito mal
e vós, filha de Don Paio
Moniz, e bem vos parece
de ter eu por vós guarvaia
pois eu, minha senhora, como presente
Nunca de vós recebera algo
Mesmo que de ínfimo valor.

Disponível em: http://belalinguaportuguesa.blogspot.com/2011/11/cantiga-da-ribeirinha.html Acesso: 08/08/2022

A cantiga é apresentada como meio de transmissão de informações e cultura através da oralidade e a musicalidade segundo um elevado percentual do analfabetismo que envolvia a Europa. Os reinos Ibéricos utilizaram do recurso da cantiga a fim de imortalizar os acontecimentos histórico-culturais junto as suas populações e a cantiga foi um instrumento utilizado para internalizar-se como cultura.

A cultura da Idade Média é uma cultura da oralidade, em que uma exígua minoria social possui o conhecimento técnico necessário para escrever e/ou decifrar os textos escritos, cujo conteúdo a maioria dos falantes pode conhecer apenas através de leituras públicas. (LAGARES, 2006, p.101)

Lagares (2006) apresenta a fundamentação sociolinguística para o nascimento da Cantiga como meio político-social e cultural: a transmissão da história em meio ao analfabetismo, onde o fator de transmissão oral e o pouco acesso aos textos contribuíram à variação diacrônica da língua e, consequentemente, da literatura.

Pero a relevância do contacto interlingüístico na configuração e evolucióndas linguas non é un fenómeno particular do galego. Particularmente ilustrativo, para efectos comparados, é considerar o portugués, tanto europeo ou pe-ninsular (que experimentou un contacto continuado co castelán, especialmente intenso en determinados períodos históricos) canto brasileiro, para orixe docal o contacto entre o portugués e as linguas indíxenas e especialmente africanas constitúe un feito que está a ser seriamente repensado. (GUGEMBERGER, MONTEAGUDO, REI-DOVAL; 2013, p. 7-8)

Gugemberger, Monteagudo e Rei-Doval (2013) apresentam a relevância da evolução linguística e cultural com a interação entre idiomas. Assim aconteceu com o galego-português que com a interação com o árabe desenvolveu a separação e a independência linguística-cultural do português-europeu e semelhantemente ocorre com o português-brasileiro. 

O período do trovadorismo apresenta dois gêneros linguísticos: lírico e sátiro; perceber-se-á que o conto e a literatura de cordel possuem os mesmos gêneros linguísticos e o mesmo meio de transmissão: musicalidade.

2.2 Quinhentismo brasileiro

Manuel Diégues Junior (1986) apresenta que a literatura de cordel tem sua origem vinculada à cultura popular Ibérica e fora trazida ao Brasil pelos colonos entre os séculos XVI e XVII.

A presença da literatura de cordel no Nordeste tem raízes lusitanas; veio-nos com o romanceiro peninsular, e possivelmente começam esses romances a serem divulgados, entre nós, já no século XVI, ou, no mais tardar, no XVII, trazidos pelos colonos em suas bagagens (JUNIOR, 1986, p. 31).

Um outro aspecto importante está na semelhança entre o cordel brasileiro e o lusitano, como apresentam SILVA e TOMÁCIO, 2014.

Para além da perspectiva linguística e formal que associa a produção de cordel brasileira à lusitana, é preciso referir ainda a relação temática que existe entre essas duas literaturas: não só há títulos que chegaram e se fixaram no Brasil através de Portugal[21], como há textos portugueses em prosa que foram narrados em versos por cordelistas brasileiros. No primeiro caso, pode-se apontar as histórias relacionadas a João de Calais; no segundo, é de tomar o romance Amor de perdição, de Camilo Castelo Branco, tornado folheto por João Martins de Athayde[22] . (SILVA e TOMÁCIO, 2014, p. 7)

Imagem 4: Capa Xilogravura[23] do texto João de Colais Disponível em: https://doceru.com/doc/ne5n08e. Acesso em: 09/08/2022

Desta forma, podemos afirmar com segurança que o cordel brasileiro é oriundo do cordel português, e foi levado ao Brasil pelos colonos nos primeiros dois séculos de imigração portuguesa, período este denominado Quinhentismo, corroborando com a antropofagia oswaldiana[24] (XAVIER, 2009, p. 1-21).

SILVA (2021, p.51) confirma em sua tese de mestrado, a origem do cordel em Portugal com livros impressos em pouca qualidade, conhecidos como folhas soltas, e comercializados em feiras, praças e mercados.

De acordo com Pinheiro e Marinho (2012), em Portugal a literatura de cordel trazia autos, novelas, histórias, sátiras e notícias; os livros impressos em papel de pouca qualidade eram chamados de “folhas soltas” (literatura de cordel portuguesa). E essa produção era comercializada em feiras, praças e mercados. Diferentemente do Brasil, o cordel português era consumido pela classe letrada daquele contexto: advogados, professores, médicos, padres, funcionários públicos, militares, dentre outros. Mesmo não tendo características poéticas, o cordel de Portugal também tinha uma ligação com a tradição oral: textos que eram lidos pelos sujeitos letrados para aqueles que não sabiam ler. (SILVA, 2021, p.51)

HOFFMANN (2017, p.139) corrobora com o surgimento da literatura de cordel na Europa no século XVI, com o surgimento da imprensa devido poder realizar a impressão dos relatos orais dos trovadores medievais e a viabilidade da exposição e comercialização através de folhetins pendurados em cordas, principalmente em Portugal. Como também a migração do cordel para o Brasil através dos colonos, principalmente pela Bahia visto que era a capital: “Por mediação dos colonizadores portugueses, a literatura de cordel chegou ao Brasil como manifestação oral, mais exatamente na Bahia, de onde migrou para os outros estados do Nordeste. ” (HOFFMANN, 20217, p.139)

Hoffmann (2017, p.139) apresenta que a produção de forma seriada dos cordéis, formando os primeiros livros brasileiros através de xilogravuras com a autorização da imprensa por D. João VI com a migração da corte para o Brasil e sua “elevação” a Reino Unido[25] (MIRANDA, 1821, p. 1-95)

No Brasil, os folhetos de literatura de cordel, cuja impressão seria posterior ao aparecimento da imprensa, autorizada apenas com a vinda da corte, em 1808, adquirem uma identidade singular. A produção seriada de folhetos de literatura de cordel brasileira inicia em 1893, com a publicação dos poemas do cordelista Leandro Gomes de Barros, considerado precursor da literatura de cordel no Brasil. (HOFFMANN, 2017, p.139)

Pode-se observar que a Literatura de Cordel tem uma raiz histórica iniciada em Portugal com a cantiga trovadoresca e é muito interessante comparar a Literatura de Cordel espanhola devido a sua nomenclatura: pliegos sueltos. Desta forma, a variação diacrônica é apresentada em uma raiz histórica iniciada na Europa e levada ao Brasil através dos primeiros colonos portugueses ainda no século XVI. O cordel inicia no Brasil por meio de Salvador, viso que foi a capital até viagem da corte fugida da guerra com Napoleão Bonaparte.

O fato da capital ser Salvador até a vinda da corte no século XIX (LIGHT, 2008), levou ser Salvador a capital cultural e a literatura de cordel desenvolver-se pelas províncias nordestinas. Com a chegada da corte e a substituição da capital para o Rio de janeiro, fez com que a imprensa se desenvolvesse no Rio de Janeiro, mas não inviabilizou o desenvolvimento da imprensa baiana nem dinamizasse a literatura de cordel pelo Nordeste, inclusive, semelhante ao formato espanhol de produção e venda paulatina, página a página, expostas em cordéis, cordas, como a Espanha: pliegos sueltos, ou melhor, folhas soltas (páginas soltas).

3.Variação diatópica

Saussure (2012, p.256) apresenta a coexistência de diversas línguas em um mesmo espaço territorial. Desta forma, compreende-se que a variação diatópica é a variação linguística em que coexistem idiomas diferentes e que disputam a primazia.

A literatura em sua história apresenta a mesma característica linguística diatópica: a coexistência de diferentes perfis literários em um mesmo lugar. Essa característica permite a interação e manutenção de uma forma literária devido a permanência de grupos que fomentam a literatura de cordel, produzindo ou consumindo esta literatura.

Santos (2022, s,p) expressa em seu artigo à Radio Acorda Cidade: “A cultura popular mantém viva a memória coletiva, com seu próprio conjunto de simbologias, recupera tradições, mitos e narrativas do povo que preenchem e constroem o imaginário popular.”

A memória coletiva mantém viva a cultura e conduz a uma dupla adaptação: geração à cultura e cultura à geração. Essa adaptação tem seu traço diacrônico[26] bem presente, contudo, a adaptação dentro do regionalismo sobressai-se devido a cultura a ser manifestada segundo o seu contexto regional.

A literatura de cordel nasce na Europa com a essência em apresentar a característica social de expressar, e imortalizar, a vida de determinada sociedade. Desse modo, a literatura de cordel modifica-se em linguagem e conteúdo segundo a demonstração de uma determinada sociedade por cada autor.

A presença da literatura de cordel no Nordeste tem raízes lusitanas; veio-nos com o romanceiro peninsular, e possivelmente começam esses romances a ser divulgados, entre nós, já no século XVI, ou, no mais tardar, no XVII, trazidos pelos colonos em suas bagagens. (DIÉGUES  JÚNIOR, 1973, p.5).

Como também POENÇA (1977, p.30) corrobora com Diégues Júnior citando que: “ Tem-se atribuído às “folhas volantes” lusitanas a origem da nossa literatura de cordel. Diga-se de passagem, e antes de mais nada, que o próprio nome que a consagrou entre nós também é usual em Portugal. ”

Júnior e Proença demonstram a relação entre o cordel brasileiro e o lusitano e a massificação dessa genealogia confirmam não apenas a variação diacrônica, mas, também, a variação diatópica do cordel literário.

Observe o cordel do Poeta Fogo “A Morte Tragica do Presidente Getulio Vrgas”: 

Elevo os olhos ao céu
Imploro a Deus verdadeiro
Para escrever a morte
D`um honrado brasileiro
Um político de renome
Muito reto e justiceiro

No outro verso adeante
Eu darei indicação
Da data de sua morte
Sem haver alteração
Conforme diz os jornais
Eu faço a revelação

No ano 54
A 24 de Agosto
Lancei a mão sôbre a pena
Com muita pena e disgosto
Era escrevendo e chorando
As lagrimas banhando o rosto

Gertulio Dornelas Vargas
Nosso honrado Presidente
A 24 de Agosto
Morreu axpontaneamente
A's oito e vinte cinco
Diz o jornal e não mente

...

Disponível em: https://cordel.edel.univpoitiers.fr/files/original/72843f1e92559cc13c442c8ad6489d73.pdf. Acesso em: 17/08/2022

O cordel supracitado demonstra a literatura de cordel na cidade de Brasília em 1987, demonstrando a presença do traço informativo e o regionalismo do cordel. Conforme apresenta o IPHAN[27], o cordel desenvolveu-se principalmente nos respectivos estados brasileiros:

  • Alagoas
  • Bahia
  • Ceará
  • Distrito Federal
  • Maranhão
  • Minas Gerais
  • Pará
  • Paraíba
  • Pernambuco
  • Rio de Janeiro
  • Rio Grande do Norte
  • Sergipe
  • São Paulo

Disponível em: Página - IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Acesso em: 17/08/2022

Observe serem oito (8) estados nordestinos um (1) estado nortista, um (1) estado centro-oeste e três (3) estados sudestes. Os números demonstram ser maciçamente nordestino o cordel brasileiro e o sudeste coadjuvante pelo fato do Rio de Janeiro ter sido por quase duzentos anos a capital brasileira e sua forte presença cultural no cenário nacional juntamente a São Paulo em sua influência cultural e político-econômico. O Distrito Federal aparece, quase figurativamente, por tratar-se da capital brasileira e levar para si alto percentual migratório e influência política-cultural.

3.1 Cordel Jornalístico

Analisemos um cordel feito no Ceará pelo poeta Tião Simpatia em novembro de 2020 sobre o impacto da corona vírus na sociedade.

Cordel do Corona vírus
Autor: Tião Simpatia[28]
(Desafio para combater o Corona e outros males...)

I
Como um rastilho de pólvora
A COVID 19
Espalha-se pelo mundo
E o pânico promove!
Mas tem gente que “faz hora”,
Ironiza, ignora
Esse perigo iminente.
Prevenção é o remédio
Ainda que cause tédio
Ficar em casa é prudente.

II
Mas quando ficar em casa
Não for uma opção?
O jeito é entregar a Deus
E pedir Sua proteção.
Nem preciso repetir
Quais os métodos a seguir
Pois sei que você já sabe...
Que Deus abençoe seu dia
E que essa pandemia
Passe logo! Logo acabe!

III
Lave as mãos com álcool em gel,
Ou com água e sabão!
Também faça uma limpeza
Na alma e no coração.
E por favor, não esqueça
De limpar bem a cabeça
Filtrando os bons pensamentos
Expurgue do coração
O ódio, a ambição,
Da alma, os ressentimentos.

IV
Isole-se para o mundo,
Para o mundo exterior!
Permita-se viajar
No seu mundo interior.
Faça uma reflexão
Sobre a vida, sobre o quão
Importante é amar...
Mantenha a serenidade,
Reflita sobre amizade,
Sobre o que deve importar.

(...)

Disponível em: Leia na íntegra o “Cordel do Coronavírus”, do poeta cearense Tião Simpatia - Verso - Diário do Nordeste (verdesmares.com.br) acesso em: 17/08/2022

Este fragmento do cordel de Tião Simpatia (2020, s.p) demonstra a mestria no mesmo modelo construtivo secular do cordel e a mesma motivação social: heroísmo e representação social.

https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/image/contentid/policy:1.2226175:1589931765/image/image.jpg?f=16x9&h=240&w=425&$p$f$h$w=33b0748

Imagem 5: Cordel da corona vírus Disponível em: Leia na íntegra o “Cordel do Coronavírus”, do poeta cearense Tião Simpatia - Verso - Diário do Nordeste (verdesmares.com.br) acesso em: 17/08/2022

Loureiro, Oliveira e Barja (2017) apresentam a literatura de cordel como recurso jornalístico no século XXI. Uma mudança não na estrutura, mas no objetivo a ser transmitido, ou alcançado, pelos cordelistas.

A adesão do cordel notícia tanto por parte do leitor como do repórter ainda se dá nos dias de hoje, mas é necessário desvincular a imagem da literatura em cordel como objeto exclusivo do povo nordestino. O segredo para transformar uma boa reportagem em um excelente cordel fica por conta da criatividade, da observação diária, da busca incessante por conhecimento. (LOUREIRO; OLIVEIRA; BARJA, 2017, p.3)

A mudança no cordel de uma literatura histórico-narrativa para uma literatura jornalística e político-social certifica a variação diatópica. Os cordéis jornalísticos e político-sociais exigem do escritor o regionalismo quanto ao assunto e nas palavras utilizadas na comunicação. O cordel utiliza-se da linguagem descritiva, pois este é esta que alcança a sociedade destinatária, formalizando a variação diatópica na literatura de cordel.

Observe um trecho de outro cordel jornalístico escrito sobre o Ex-Presidente Getúlio Vargas por Rodolfo Cavalcante:

Getúlio Dornelles Vargas
Estrela que não se apaga
É astro que ilumina
Zéfiro que não se apaga
Rochedo que não desdenha
É barco que não naufraga.

Getúlio Dornelles Vargas
É musa que me inspira
É imagem que se adora
É o ar que se respira
É valsa que nos enleva
É gloria que não se tira (...)

Getúlio Dornelles Vargas
É a flama do heroísmo
Bandeira da nossa História
Lema do patriotismo
Símbolo vivo do trabalho (...)

Disponível em: Literatura de cordel: Getúlio Vargas é presença constante nos folhetos - UOL Educação. Acesso em: 17/08/2022

Os cordéis de Antônio Simpatia e Rodolfo Cavalcanti apresentam a evolução, ou adaptação do cordel a uma nova linha poética: a jornalística. O cordel jornalístico mantém todas as cacterísticas do cordel, contudo deixa a linha romanesca e registro das dores regionais e amplifica-se para um conteúdo jornalístico, tanto de abrangência nacional, como nos dois cordéis apresentados, como um jornalismo político-social das regiões descritas, especialmente a literatura sertaneja.

Seguiremos com um novo modelo de cordel contemporâneo: a literatura clássica transformada em cordel.

3.2 Literatura clássica em cordel

A literatura de cordel tem alcançado seu ápice dentro da variação diatópica ao transformar textos clássicos da literatura brasileira e mundial em cordéis. Esse novo modal traz consigo três importantes resultados: perpetuação da literatura de cordel, trazer a literatura clássica para uma linguagem contemporânea e regional e contribuir para gerações de cordelistas.

O clássico infantil inglês Alice no país das maravilhas escrito por Lewis Carrol[29] em 1865 foi imortalizado em todo o mundo ocidental, porém mesmo com suas traduções manteve a linguagem cultural britânica do século XIX. O cordelista João Gomes de Sá traz este clássico para cultura brasileira com a literatura de cordel com adaptações à linguagem brasileira, como por exemplo: rios de leite, montanhas de goiabada, castelos de rapadura e árvores de marmelada. Linguagem brasileira que fortalece a variação linguística nordestina.

Observemos uma imagem com um pequeno trecho do cordel Alice no país das maravilhas de João Gomes de Sá:

Imagem 6: Alice no país das maravilhas em cordel Disponível em: https://editoranovaalexandria.com.br/wp-content/uploads/2020/09/alice_no_pais_das_maravilhas_em_cordel_sumario.gif. Acesso em: 01/09/2022

http://cdn.leiturinha.com.br/blog/uploads/2015/12/Alice-no-pais-das-maravilhas-em-cordel-Leiturinha-capa-1.jpg

Imagem 7: Alice no país das maravilhas em cordel Disponível em: alice no país das maravilhas em cordel - Bing images. Acesso em: 01/09/2022

Um clássico da literatura brasileira com uma releitura contemporânea e regional através da literatura de cordel como por exemplo Memórias póstumas de Brás Cubas.

Imagem 8: Memórias Póstumas de Brás Cubas em Cordel. Disponível em: Memórias póstumas de Brás Cubas em cordel – Editora Nova Alexandria. Acesso em: 01/09/2022

O cordel escrito por Nascimento (2010) apresenta claramente a busca em adaptar a literatura clássica brasileira e valorizar a literatura de cordel. Este novo modal da literatura de cordel massifica a permanência em meio ao tempo, mas também com a variação diatópica em meio a diversidade linguística cultural brasileira.

4. Metodologia de pesquisa

A metodologia de pesquisa adotada fora a qualitativa e deu-se pela busca de compreender as variações diacrônica e diatópica da literatura de cordel, através de pesquisa documental como apresentam Kripka, Scheller e Bonotto (2015, p. 57): “Em uma pesquisa qualitativa pode-se utilizar vários procedimentos de constituição e análise de dados, entre estes e a pesquisa documental”.

Desta forma foi utilizada uma pesquisa documental entre os séculos XII e XXI, em que as cantigas trovadorescas (séculos XII ao XV) apresentam sua ancestralidade à literatura de cordel e os séculos XVI ao XXI apontam o regionalismo em meio ao vasto culturalismo brasileiro, onde as fontes bibliográficas demonstram a variação diacrônica unida a variação diatópica, intercalando-se e marcando a cultura e a linguagem regional e nacional.

5. Resultados e discussões

Imagem 9: Coleção de cordel espanhol produzido em 1878. Disponível em: colección de pliegos sueltos sobre poesía popul - Comprar en todocoleccion - 199141020. Acesso em: 30/09/2022

http://3.bp.blogspot.com/-booebgBbB1w/U9KgjcxOVHI/AAAAAAAA2s0/qLNVv-L3UcE/s1600/cordel.jpg

Imagem 10: Literatura de cordel portuguesa. Disponível em: http://3.bp.blogspot.com/-booebgBbB1w/U9KgjcxOVHI/AAAAAAAA2s0/qLNVv-L3UcE/s1600/cordel.jpg. Acesso em: 05/10/2022

Imagem 11: Literatura de cordel brasileira. Disponível em: https://4.bp.blogspot.com/_EtCVJk8Dkzc/RuW449OtFXI/AAAAAAAAADA/2qhqv-LWYo0/s320/cordel_it2.jpg. Acesso em: 05/10/2022

As três imagens supracitadas demonstram fruto da pesquisa quanto a variação diacrônica e diatópica da literatura de cordel conduzindo à reflexão quanto sua continuidade referente a cantiga trovadoresca devido suas semelhanças quanto a estrutura, função social, exposição e musicalidade. As quatro características encontradas na literatura de cordel, que aliás, vê-se presente em Portugal com a denominação “folhetos voltantes” e Espanha “pliegos sueltos”, e desta forma observamos a presença do português-brasileiro ao trazer a denominação “literatura de cordel”; onde, as denominações em si apresentam a variação linguística diatópica.  

A diacronia está apresentada no desenvolvimento literário junto ao linguístico, cultural e social na literatura portuguesa e brasileira e a diatopia está presente no regionalismo em cada região onde o cordel desenvolveu-se.

A pesquisa conclui com a literatura de cordel moderna apresentando o desenvolvimento do cordel em livretos com xilografia, cordel jornalístico e, sua mais recente expressão, a conversão da literatura clássica mundial e nacional em cordel.

6. Considerações Finais

Foi apresentado neste trabalho o processo histórico-literário da literatura de cordel, o qual tem sua origem nas cantigas trovadorescas medievais; sendo destacado em Portugal denominado voltantes, Espanha como pliegos soltos e Brasil como cordel. A linha histórico-literária apresenta a genealogia e fundamenta a variação diacrônica do cordel.

Em um segundo momento, a pesquisa volta-se ao cordel brasileiro e seu processo evolutivo. A análise mostra o processo característico da variação diacrônica e diatópica literária do cordel em sua semelhança às variações linguísticas. O diacronismo[30] cordelista segue o linguístico havendo mudanças temporais como também a regional.

O regionalismo, também conhecido como diatopismo[31] (THIBAULT, 2014, p. 269-281), está presente e enriquecendo o cordel. Cada cordel representa a região do autor em sua riqueza cultural e problemática político-social. Essa variação linguística é viva no cordel desenvolvendo e mantendo a riqueza cultural e mantendo o cordel vivo na literatura brasileira.

A diacronia e a diatopia têm transformado o cordel no cenário contemporâneo, apresentando a diversidade linguística brasileira e novas formas de atuação. Os cordéis matem sua característica clássica, mas também tem coexistido com uma expressão jornalística, como observado com a morte do ex-Presidente Getúlio Vargas, e um novo modelo que está na reescrita em cordel de clássicos da literatura mundial e literatura brasileira.

A releitura dos clássicos mundiais e nacionais aproximam a população dos clássicos devido a adoção do modelo de livretos, de uma linguagem moderna brasileira e valorização dos regionalismos; mantendo dessa forma viva a arte do cordel na literatura nacional.

Podemos concluir, poeticamente, que o cordel é o antigo e o contemporâneo coexistindo, onde o tradicional é o mestre do moderno ao ensinar e abrir a releitura da arte cordelista.

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Wendel Jacinto da Silva[1]

Marilon Augusto de Sales Júnior[2]


[1] Discente de Letras Português

[2] Tutor de Letras Português

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI - Curso (FLC3218LED) – Prática do Módulo I - 11/03/23

[3] Mosaico é uma arte decorativa milenar que reúne pequenas peças de diversas cores para formar uma grande figura.

[4] Variação quanto ao tempo.

[5] Variação quanto ao lugar.

[6] Bula Manifestus Probatum em 1179

[7] Baixa Idade-Media foi o período compreendido entre os séculos XI e XV com a estruturação dos reinos e idiomas nacionais.

[8] Esta cantiga é de maldizer e feze-a Joam Soárez de Pávia a 'l-rei Dom Sancho de Navarra porque lhi troub'host'em sa terra e nom lhi deu el-rei ende dereito.

[9] Cordel é uma corda bastante fina e flexível; barbante ou cordão.

[10] Literatura de Cordel tratou-se do movimento literário em que os textos eram fixos em cordéis para venda nas feiras.

[11] Variação diacrônica é a variação linguística de mudança em meio ao desenvolvimento histórico.

[12] Variação diatópica é a variação linguística em meio ao espaço; isto é, variação em meio ao regionalismo.

[13] Palaciano é relativo aos palácios.

[14] Vilarejo eram pequenas vilas ou povoados, normalmente sujeitos ao Senhor Feudal.

[15] Baixa nobreza era composta por viscondes e barões (possuíam terras) e cavaleiros (não possuíam terras)

[16] Chamaremos folhetins os voltantes e pliegos sueltos para facilitar a desenvoltura textual.

[17] Antoine-Laurent de Lavoisier foi um nobre químico francês que viveu entre 1743 e 1794 sendo considerado o pai da química moderna.

[18] Musiva é arte de fazer mosaicos.

[19] 'Paio Soares 'Taveirós foi um trovador da primeira metade do século XII, de origem da pequena nobreza galega. Foi o autor da célebre Cantiga da Garvaia, durante muito tempo considerada a primeira obra poética em língua galaico-portuguesa.

[20] Garvaia era um manto luxuoso, provavelmente da cor vermelha, utilizado pela nobreza.

[21] Como é o caso de várias versões das histórias de Carlos Magno, Imperatriz Porcina, Donzela Teodora, cujas narrativas ainda são recontadas nos cordéis de autores brasileiros, como Arievaldo Viana, Evaristo Geraldo da Silva e João Martins de Athayde.

[22] Há uma grande polêmica sobre essa autoria como indica Maria Aparecida Ribeiro (2011).

[23] Xilogravura é uma técnica de impressão que consiste na utilização de madeira como matriz e permite a reprodução da imagem gravada sobre papel semelhante a um carimbo.

[24] Antropofagia oswaldiana é o nome dado ao Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade em 1928.

[25] Com a vinda da corte portuguesa para o Brasil, o Príncipe Regente D. João VI elevou o Brasil à Reino, Unido Portugal, Brasil e Algarves.

[26] Diacrônico refere-se à variação diacrônica; isto é, a variação através do tempo.

[27] IPHAN- Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

[28] Sebastião Félix de oliveira Juca, alcunha Tião simpatia, poeta popular cearense, alfabetizado através da literatura de Cordel na zona rural de Granja-CE.

[29] Lewis Carrol é pseudônimo de Charles Lutwidge Dogson

[30] Diacronismo é o método diacrônico do estudo linguístico

[31] Diatopismo é variação diatópica


Publicado por: Wendel Jacinto da Silva

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