Individualismo na Modernidade
Discussão e reflexão sobre o individuo nos tempos passados e na modernidadeO texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
RESUMO: Este ensaio levanta uma discussão e reflexão sobre o individuo nos tempos passados e na modernidade, elencando um breve estudo sobre como este individuo atuava na sociedade antes e hoje, perpassando pelos contextos históricos dessas fases e extraindo características que são capazes de revelar a diferença do homem ontem e hoje, destacando elementos essenciais que nortearão uma analise sobre o individualismo que se faz presente na modernidade assim como seu impacto na educação.
PALAVRAS-CHAVE: Modernidade, Individualismo, Educação
ABSTRACT: This paper raises a discussion and reflection on the individual in times past and modernity, detailing a brief study on how this individual worked in the company before and now, passing by the historical contexts of these phases and extracting features that are able to reveal the difference the man yesterday and today, highlighting the essential elements that guided an analysis of the individualism that is present in modernity as well as its impact on education.
KEYWORDS: Modernity, Individualism, Education
Por muito tempo a sociedade viveu presa a uma menoridade, onde o homem não tomava a iniciativa de mudar, criar, decifrar por si só, os sujeitos sempre foram subordinados a alguém ou a alguma instituição que determinava como os mesmos deviam agir, e isso era aceito de forma natural, como diz KANT, “ A preguiça e a covardia” fazia com que o homem se mantivesse nesta posição e não usasse do seu conhecimento para contestar, questionar e servir-se de si mesmo.
Para compreender as mudanças entre o individuo na antiguidade e o individuo na modernidade será necessário discorrer sobre como funcionava a sociedade antiga e a sociedade moderna. No mundo antigo o individuo deveria obedecer regras e leis que eram impostas pela igreja sem ter qualquer forma de contestar e discordar das mesmas, era o individuo fora do mundo, ou seja, o homem tinha que obedecer as leis de Deus e da igreja, sem questionar e não deveria ir em busca das coisas do “mundo”, este tinha que viver apenas pensando na sua vida espiritual, uma vez que as coisas materiais pertenciam ao mundo. Desta forma, a igreja formava o individualismo no mundo antigo, que era o indivíduo em busca da sua salvação, e isso se dava de forma individual, entretanto as igrejas montavam suas comunidades cristãs que iam a busca do mesmo alvo, á salvação.
Alguns autores, dos quais destacarei DUMONT, trazem uma discussão acerca do que é o individualismo nos tempos da sociedade tradicional e na sociedade moderna, o autor destaca algo importante que já foi referenciado neste ensaio, ao falara da sociedade tradicional, quando o mesmo refere-se ao cristianismo como responsável por manter o individualismo da época, porém, Dumont ressalta que há uma diferença entre individualismo e holismo, ele defende que no mundo antigo o que acontecia era um individualismo ligado á um determinado poder exercido pela igreja, assim, o homem não se individualizava em busca dos seus ideais seguindo seus princípios e sim guiados pela igreja, existia então o interesse individual do homem, porém não era algo subjetivo e sim uma forma influenciada para alcançar um objetivo individual que iria satisfazer os interesses da igreja.
Na sociedade medieval o individuo é visto apenas como parte de um coletivo, e não se dissocia do todo, aqui as instituições sociais determinam como o sujeito deve agir e atuar no mundo, claro que visando garantir os seus interesses, o cristianismo impunha uma forma do homem viver buscando a dominação dos mesmos e em consequência garantindo o “Poder” em suas mãos.
É sobre esta forma do individuo atuar no mundo á obedecer regras que lhes iluminava os guiando até a salvação individual que Dumont chama de Holismo, á busca por um objetivo vivendo na nostalgia á qual a igreja forçava o sujeito a viver, para alcançar uma meta espiritual de vida. Segundo o autor a maneira como o individuo atua no mundo garante ou não a sua salvação.
...Lembrando-nos de que tudo era percepcionado à luz da relação do individuo com Deus e da concomitante fraternidade da igreja. Dir-se-ia que o fim ultimo está nua relação ambivalente com a vida no mundo, porque o mundo onde o cristão peregrina nesta vida é ao mesmo tempo um obstáculo e uma condição para a salvação. (DUMONT, p.45)
Entretanto esta dominação da igreja não se sustentou por muito tempo, a sociedade passou por transformações e desta forma, os indivíduos sentiram a necessidade de sair da sua “menoridade”. Entre os séculos XIX e XX as características de uma sociedade moderna começam a aparecer causando mudanças relevantes na forma do individuo atuar no mundo. Pode-se dizer que é exatamente nesse momento que surge literalmente o individualismo moderno, e o que isso significa?
Segundo Bauman (2001) a modernidade é época em que a vida social passa a ter como centro a existência do individualismo, é fase marcada por uma expansiva autonomia do homem em relação à vida social. Para ele, o surgimento de membros como indivíduos se torna marca de uma sociedade moderna. (Bauman, 2001: 39). O homem moderno nega toda ligação de subordinação com as instituições sociais, abdicando assim as crenças, regras e valores impostas por elas, guiando-se na sua visão pessoal.
Neste momento acontece a dissociação entre individuo e sociedade, ou seja, é o aparecimento concreto do individualismo baseado na igualdade e liberdade, seguindo o viés do liberalismo, que prega o igualitarismo e a individualidade como forma de se libertar da dominação das instituições sociais. Dumont ainda fala sobre esta liberdade e explica "os princípios fundamentais da constituição do Estado (e da sociedade) devem ser extraídos, ou deduzidos, das propriedades e qualidades inerentes no homem, considerado como um ser autônomo, independentemente de todo e qualquer vínculo social ou político."
Assim, o liberalismo apresenta características do individualismo por pensar no homem como um ser desvinculado da sociedade e do estado, desvinculado no sentido de tomar suas decisões seguindo suas vontades, tem características de igualitarismo também por defender a igualdade e os direitos entre os homens.
A partir desse momento uma nova visão do homem aparece na sociedade, diante da sua valorização, o que antes não era possível pois o mesmo era um ser considerado “sujo” e que devia “seguir a Deus” através da lei da igreja para alcançar a sua redenção. Deus era o centro e o homem não detinha valor algum, já depois do liberalismo, aparece a valorização do individuo, este se torna o centro do universo.
Diante de tanta transformação na forma de pensar o homem, quais mudanças aconteceram na sociedade? É possível perceber elementos que excluem a forma de dominação que os indivíduos viveram durante séculos? Quais são os impactos desse individualismo moderno na sociedade?
Para responder essas indagações faremos uma analise da sociedade moderna sobre o viés das relações capitalistas e monopolistas da modernidade. É notório que essa mudança do holismo para o individualismo não eliminou do mundo as ideologias dominantes. Wilmar Barbosa em seu texto sobre O materialismo Histórico destaca uma alienação ligada a luta de classes e ideologia.
Nesse contexto, as ideologias funcionam como amalgama da sociedade, criando um senso comum que na verdade mascara as lutas de classes. Esses sistemas de ideias, forjado pelas classes dominantes tem como função básica velar o sistema de dominação vigente, mas também funciona como um conjunto de referencias para a tomada de consciência. ( BARBOSA,p. 161)
Nesse contexto é possível perceber que não há na verdade uma “liberdade” dos indivíduos dessas instituições sociais que detém o poder. Há sim uma tomada de consciência e capacidade critica de alguns sujeitos que a partir de então não aceitam tudo que lhe é imposto sem uma previa reflexão e contestação. E isso não faz com que nos tornemos indivíduos livre da dominação, nos torna sim pessoas “criticas” que podem seguir e acreditar no que nos convém, mesmo estando ligados a uma certa instituição que nos “impõe” implicitamente como devemos viver.
Portanto, é importante refletir sobre os aspectos negativos e positivos desse individualismo que tomou conta dos indivíduos na modernidade, uma vez que por trás dessa individualidade esta um interesse político e econômico que mantém a sociedade dividida em classes dominantes e classes dominadas. Ora, o que dizer do capitalismo? A era moderna representa uma sociedade individualista e interesseira, cada individuo pensa em si mesmo, nas suas metas, nos seus interesses e ponto final, não importa o que vai acontecer com meu vizinho, com as pessoas da minha comunidade, o que importa é que preciso lucrar, alcançar, TER, alcançar meus objetivos.
Essas são características de cidadãos que vivem na modernidade do individualismo que nada mais é do que uma sociedade capitalista. Bem, vamos voltar agora ao mundo antigo e sua forma de organização, lá as pessoas viviam mais de forma coletiva, pensando nos interesses comuns da comunidade. Este é um elemento positivo da sociedade antiga, não teríamos tantos problemas sociais quanto temos hoje se essa forma de vida “individualista” não nos levasse á uma visão capitalista que diz que o individuo é “livre” porém, este esta preso a consumir tudo que o capital apresenta e os indivíduos não consumem por opção é por “obrigação” mesmo pois, eu preciso estar “atualizada” para ser considerada deste mundo, ao contrario me tornarei uma pessoa estranha como se fosse de outro mundo, além do que serei uma pessoa “atrasada” por não fazer parte das tecnologias avançadas deste mundo moderno.
Que liberdade é essa que continua aprisionando pessoas? A fim de alcançar um objetivo o homem pisa no outro, prejudica indivíduos, sem receio algum, só porque tem mais “poder” do que o outro. BAUMAN discorre sobre essa “confusão” no que pode ser essa liberdade.
A libertação é uma bênção ou uma maldição? Uma maldição disfarçada de bênção, ou uma bênção temida como maldição? Tais questões assombraram os pensadores durante a maior parte da era moderna, que punha a “libertação” no topo da agenda da reforma política e a “liberdade” no alto da lista de valores, quando ficou suficientemente claro que a liberdade custava a chegar e os que deveriam dela gozar relutavam em dar-lhes as boas-vindas. (BAUMAN, p.26)
A idéia que mais tem sido enfatizada na cultura moderna é a dos ideais de liberdade, singularidade e auto-responsabilidade, que parecem um tanto contraditórios se tomarmos como base o proferidor desta ideologia. Ou seja, o discurso neoliberal do sistema capitalista. Ao mesmo tempo em que a liberdade é tida como direito de todo indivíduo, e podemos então fazer nossas escolhas e prover os nossos desejos, estamos presos ao “Deus da modernidade” que media todas as ações entre sujeitos e objetos.
Diante disso cabe-nos fazer uma reflexão acerca da educação na modernidade, partindo desse contexto do individualismo, até que ponto essa individualização do sujeito favorece a educação? Bem, hoje o governa prega que a “Educação é para todos” enquanto que na sociedade Feudal isto estava restrito apenas para os filhos dos senhores feudais. De certa forma este lado positivo aconteceu sim na educação, hoje são poucas as comunidades onde não existem escolas para atender as crianças, porém, é necessário pensar na forma e qualidade dessa educação hoje oferecida para “todos”.
È notório perceber que quem é pobre tem um tipo de educação q quem é rico tem outro tipo, ora, então se repete o que aconteceu na sociedade feudal, privilégio para uns e qualquer coisa pra outros e o que determina quem são esses “uns” e esses “outros” é a situação econômica. Na modernidade não é diferente, essa individualização cria uma sociedade competitiva, onde cada um quer e deve ser o melhor para alcançar o mercado de trabalho.
Quando se ouve dizer que a educação atual pensa no sujeito e no seu contexto, é possível dizer também que pensa sim, o preparando para o mercado de trabalho (o que representa uma educação tecnicista e não humanista), tudo isso são falácias de grupos que pretendem continuar dominado e para que isso aconteça seus filhos precisam ser preparados nas melhores escolas, eles devem ser os MELHORES.
E o que falar da forma de avaliar que existe no modelo de educação hoje e que há muito tempo existe e não muda, é através dessa forma de avaliação que se fará separação entre melhores e piores, que são denominados assim, “Inteligentes e Burros”.
Está tudo implícito, e a legislação educacional cada ano que passa vai sendo atualizada de forma que tornem as leis educacionais leis que garantam os direitos humanos nas escolas de todo o Brasil, afinal nosso pais é formado por um povo de características étnicas, religiosas, culturais diferenciadas e não se pode transmitir apenas uma cultura enquanto a outra se torna oculta.
Entretanto, tudo isso não sai do papel, são palavras mortas, na realidade e na prática isso não acontece. É esta muito difícil de acontecer literalmente, diante de uma sociedade individualista que cada um só quer defender e preservar o que acredita e além do mais nem se quer se respeita a opinião do outro. Cada individuo tem a sua “verdade” como absoluta e a verdade alheia não passa de uma mentira, engano, mito.
Atualmente, no processo educacional tem se inserido os conteúdos voltados para as pessoas com deficiências, Negros e Índios, e ai a maioria das escolas só trabalham sobre os mesmos nas datas comemorativas, cria-se o dia da consciência negra, dia da pessoa com deficiência, dia do índio daí todas as escolas fazem desfiles, festas, entre outros e por isso dizem que estão valorizando essas culturas. Agora no dia a dia, a escola discrimina e não respeita, ou seja, as escolas não estão com estruturas e profissionais preparados para receber as crianças com deficiência, mais saem pra desfilar na data comemorativa, os professores não foram formados para ensinar crianças com deficiência, daí formam alunos despreparados e o discurso da escola é que ta incluindo.
Assim, esta claro que o individualismo trouxe aspectos negativos para a sociedade como também para a educação, á lógica do ser melhor para ter a melhor vaga de emprego e ganhar o melhor salário continua privilegiando grupos de pessoas que se tornam melhores que outras, são reflexos de uma sociedade capitalista, que tem como principal eixo norteador o ter e não o ser.
Portanto, a modernidade é era em que os indivíduos tentam sair da sua “menoridade” e se laçam em busca do conhecimento e da verdade, logo, temos uma sociedade mais aberta e que contesta o que vem pronto e acabado. Mais quem faz isso, são a minoria, os indivíduos em sua grande maioria continuam “presos” e manipulados pela sociedade capitalista que manipula em massa através dos veículos de informação de massa e das novas tecnologias, isto acontece de forma direta e indireta, algumas das vezes o individuo não percebe tal manipulação, pois a mesma esta implícita. E a dominação se da de forma mais indireta ainda, a classe dominante impõe através da televisão, internet, redes sociais, sua forma de vestir, falar e se comportar. O individualismo esta ai presente em todos os aspectos da vida, e tem causado problemas sérios para a humanidade.
Referências:
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2001.
BUZZI, Arcangelo. BOFF Leonardo. Textos clássicos do pensamento humano/2. Petropolis, Vozes, 1985.
DUMONT, Louis.Ensaios sobre o Individualismo:Uma perspectiva antropológica sobre a ideologia moderna, Dom Quixote, 1992.
HOBSBAWM, Eric J. Nações e Nacionalismo desde 1780: programa, mito e realidade. Rio de janeiro, Paz e Terra, 1990.
REZEND, Antonio(org). Curso de Filosofia: para professores e alunos dos cursos de segundo grau e de graduação. Rio de janeiro, Jorge Zahar Editor.
Orientador: Sérgio Herreira
Graduanda do curso de Pedagogia, UNEB, Valença-Ba¹
Publicado por: Líbna Carneiro Miranda
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