Gari: Um ser invisível na sociedade contemporânea
O preconceito parece ser uma questão imutável ao longo dos séculos. Clique e saiba mais!O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
As civilizações modernas passaram por várias transformações no decorrer dos séculos. Entretanto uma questão ainda parece imutável: o preconceito. No mundo globalizado e em pleno século 21, ainda podemos perceber como nossa sociedade ainda é preconceituosa, seja pelo tom de pele da pessoa, pela sua orientação sexual, pela etnia, pelas condições financeiras do sujeito e, também, pela relação de trabalho que o indivíduo exerce nos dias atuais.
No que concerne ao preconceito pela relação de trabalho, o Gari é o que mais perece perante a sociedade. A função do “Operário do Meio Ambiente”, termo sugerido por Mario César Ferreira, Coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisa em Ergonomia Aplicada ao setor púbico na UnB e professor-pesquisador do Instituto de Psicologia da mesma Instituição, pode ser considerada a mais estigmatizada pela comunidade, porque no senso comum se trata de um trabalho humilhante e imundo, uma vez que ninguém quer realizar está atividade laboral degradante e as pessoas acabam por associar o resíduo à miséria, coisas ruins e imoralidade e, por fim, confundindo o lixo com o coletor.
Para se ter uma ideia da dimensão da posição social que o operário do meio ambiente se encontra em nossa sociedade, veremos o caso curioso do psicólogo social Fernando Braga da Costa que viveu na pele as amarguras da profissão.
Por oito anos ele vestiu seu uniforme de Gari e varreu as ruas da Universidade de São Paulo – USP – para provar sua tese de mestrado sobre a “invisibilidade pública” que trata da função social do outro, uma vez que as personas só enxergam a função em detrimento do seu executor e quem não possui uma posição distinta vira mera sombra de um ser na coletividade.
Costa afirmou em uma entrevista cedida ao Diário de São Paulo que professores da USP que o cumprimentavam no dia a dia não o enxergavam quando estava trabalhando na limpeza, muitos passavam e até esbarravam nele e não o reconheciam sob as vestes da invisibilidade. Transitava perturbado pelos prédios sentindo toda a aflição que acompanhava a função na espera de um simples bom dia para abrandar sua angústia.
Diante desta situação constrangedora ao buscarmos no mais profundo de nossa memória não há quem não se lembre de ter ouvido de uma professora dizendo, de forma pueril e inconsciente, que deveríamos estudar se não quiséssemos ser “lixeiros”. Culpa nenhuma deve recair sobre esta professora, pois é um mal que ultrapassa o campo pessoal, sendo delegado ao social. Todavia, podemos notar que a escola tem um papel importante na construção do cidadão figurando como um ambiente propício à quebra de paradigmas impostos pelas agruras da sociedade moderna.
Devido a vários fatores sociais, o operário do meio ambiente acaba por se sentir como personagem do estrato mais baixo. A imagem negativa aliada ao grande esforço físico, o sofrimento psíquico diretamente ligado à vergonha e humilhação cooperam para o alto índice de alcoolismo entre os coletores.
O alcoolismo para esses trabalhadores pode ser entendido como um mecanismo de defesa, uma forma de se proteger da vergonha por estar lidando com o lixo, transformando em fuga da realidade. Também é melhor sentir o cheiro da cachaça do que da putrefação do lixo recolhido.
O trabalho que o coletor realiza é de extrema importância, uma vez que contribui para o asseio das ruas, o combate às pragas urbanas, que aumentariam sem a coleta dos resíduos e a manutenção do meio ambiente. Todo trabalhador, independentemente do serviço que executa, merece ser respeitado como pessoa e como profissional, visto que, fazemos parte de um sistema no qual dependemos uns dos outros de forma direta ou indireta para a sobrevivência neste mundo hostil.
Publicado por: Marco Aurélio Macei Duarte
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