Exclusão à Inclusão: Um desafio entre o ideal e o real
Clique e confira um estudo sobre os desafios da inclusão do deficiente mental no âmbito escolar.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
Resumo
O presente estudo refere-se aos desafios da inclusão do deficiente mental no âmbito escolar. Trata-se de uma investigação ao sistema SCIELO e nos textos de 1980 à 2010 com as palavras chaves inclusão, exclusão e escola, e também um resgate as leis que hoje amparam a inclusão nas escolas regulares de ensino. Constatou-se que o caminho da exclusão à inclusão das crianças e dos jovens com necessidades especiais está relacionado as características econômicas, sociais e culturais de cada época. Muitas são as políticas de inclusão. Entretanto, no âmbito escolar a formação do professores e as adequações físicas tornam-se urgentes para a real inclusão dos alunos na escola e na sociedade.
Palavras chaves: Inclusão; Exclusão; Formação Continuada.
Introdução
A discussão sobre inclusão é de grande relevância em nossa sociedade, por estarmos vivendo em uma época em que o respeito à diversidade e a garantia do direito à participação social de cada pessoa, a despeito de suas características (gênero, étnicas, socioeconômicas, religiosas, físicas e psicológicas), têm emergido como uma questão ética, promovendo a reivindicação por uma sociedade mais justa e igualitária.
Neste sentido, a sociedade atual está “estruturando-se para atender às necessidades de cada cidadão, das maiorias às minorias, dos privilegiados aos marginalizados” (Werneck, 1998, citado por Roriz, 2005). Testemunhamos nas últimas décadas várias políticas públicas voltadas a essa população, com o intuito de integrá-los ao sistema social.
O presente texto pretende fazer uma análise reflexiva a respeito destas transformações inclusivas ocorridas na relação das pessoas com necessidades especiais com a sociedade, desde a antiguidade até os dias atuais. Para isto, utilizou-se referências bibliográficas do Sistema SCIELO e livros de 1980 à 2010, e as palavras chaves inclusão, exclusão e escolar. Foram utilizadas também, as leis que hoje amparam a inclusão nas escolas regulares de ensino. Através dos textos selecionados, abordaremos à visão do Professor frente a estas adequações e as formações proporcionadas aos docentes para oportunizar ao aluno deficiente sua inclusão escolar e claro à inclusão social.
O caminho da Exclusão à inclusão
As características econômicas, sociais e culturais de cada época têm determinado o modo como se tem “olhado” a diferença. Na Idade Média, a sociedade, dominada pela religião e pelo divino, considerava que a deficiência decorria da intervenção de forças demoníacas e, nesse sentido, “muitos seres humanos física e mentalmente diferentes – e por isso associado à imagem do diabo e atos de feitiçaria e bruxaria – foram vítimas de perseguições, julgamentos e execuções”. (Correia, 1997, citado por Silva, 2009). Na verdade, “a religião, com toda a sua força cultural, ao colocar o homem como ‘imagem e semelhança de Deus’, ser perfeito colocava a idéia da condição humana como incluindo perfeição física e mental” (Mozzatta, 1986).
Já no século XVII e XVIII, na forma de atrair a caridade, compravam-se nos asilos, crianças deficientes, que eram barbaramente mutiladas e abandonadas à sua sorte quando, com o avançar da idade, deixavam de ter utilidade. Ao longo do século XIX e da primeira metade do século XX os deficientes foram inseridos em instituições marcadas por serem assistencialistas. Estas instituições eram construídas longe das povoações, onde as pessoas deficientes, afastadas de suas famílias e vizinhos, permaneceriam incomunicáveis e privadas de liberdade (Garcia, 1989, citado por Silva, 2009).
As causas divinas ou demoníacas cederam lugar às causas de foro biológico, sociológico e psicológico, da competência de médicos e, mais tarde, de psicólogos e educadores. A institucionalização teve no inicio um caráter assistencial, sendo que a preocupação com a educação surgiria só mais tarde.
Na década de quarenta do século XX assistiu-se, ainda, à construção de centros para pessoas com deficiências, mas a partir dos anos 60, os pressupostos teóricos e as práticas de institucionalização começaram a ser questionados. As transformações sociais do pós-guerra, a Declaração dos Direitos da Criança e dos Direitos do Homem, as Associações de Pais então criadas e a mudança de filosofia à educação especial, que estiveram na origem da fase de integração, contribuíram para perspectivar a diferença com um outro “olhar” (Silva, 2009).
Com o passar dos anos os avanços e progressões foram beneficiando os deficientes para a sua integração em instituições de educação e de ensino regular, nas décadas de 50 e 60, ela passou a fazer parte na Europa e nos EUA, 1975, surgindo ai as leis de amparo a estes alunos e cidadãos que passam a ter direito assegurados por leis e diretrizes.
Legislação – a evolução e os benefícios amparados em leis aos deficientes
Com o passar dos anos, começam a serem criadas as leis em benefício aos portadores de necessidades especiais. No Brasil, surgem as “escolas especiais” ou “centros de convivência”, destinados exclusivamente às “crianças especiais”, criando-se as primeiras APAES nos anos de 1950 (Ferreira, 2004). Surge mais tarde em 1971, com a Lei 5692/71, a “integração escolar”, instituindo-se então as classes especiais, sendo estas, salas de aula dentro de escolas regulares, destinadas às crianças com necessidades especiais (Roriz, 2005). E nos últimos anos, busca-se a “inclusão escolar”, onde as crianças com e sem necessidades especiais devem ocupar uma mesma sala de aula. Podemos salientar que um dos principais marcos para o discurso da inclusão escolar foi a “Conferência Mundial de Necessidades Educacionais e Especiais: acesso e qualidade”, organizada pela ONU, em Salamanca (Espanaha), em 1994. O principio que guia a resultante Declaração é de que as escolas regulares devem acomodar a todas as crianças, independente de suas condições físicas, intelectuais, sociais e emocionais (ONU, 1994). No Brasil, a inclusão escolar, constitui parte da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 (Roriz, 2005).
Segundo o MEC (2006), houve um crescimento de 358% nas matrículas de crianças com deficiência em escolas comuns entre 2002 e 2006. Isso gerou de inicio um grande impacto, pois os professores, os gestores e os pais dos alunos sem deficiência reagiram com temor à idéia da inclusão. Para Ferreira (2006) “o temor existente em relação aos estudantes com deficiência, se explica pela história de insivibilidade de crianças e jovens desse grupo social no cenário educacional brasileiro”.
Estes documentos possibilitaram um grande passo no processo de inclusão escolar, pois garante em lei o acesso destas crianças na rede regular de ensino, porém para transformar a lei em realidade, é preciso que a sociedade faça pressão sobre os órgãos públicos, de modo a concretizar a inclusão de uma maneira satisfatória, disponibilizando não só vagas, como também qualidade de ensino.
Para Ferreira (2006) “inserir o aluno portador de deficiência em uma escola que não foi redimensionada dentro de um novo paradigma, significa dar prosseguimento ao processo de exclusão...” Não adianta apenas assegurar a presença física da criança com deficiência na escola regular, ela precisa fazer parte efetiva do processo ensino – aprendizagem, para tal, a escola necessita refletir como incluí-la. Isso gera transformações nas práticas pedagógicas, tão arraigadas das formas tradicionais de ensino.
Preparação da escola e formação dos professores para recepcionar este aluno especial e conduzir à inclusão escolar
A nova proposta de educação inclusiva traz em si a luta para romper com a idéia de inserção apenas física das crianças com deficiência na rede regular, como é vista por grande parte das pessoas. Com a resolução nº. 2/2001 que institui as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas organizar-se para o atendimento aos educandos com necessidades educacionais especiais, assegurando as condições necessárias para a educação de qualidade para todos. No entanto a realidade desse processo Inclusivo é bem diferente do que se propõe na legislação e requer muitas discussões relativas ao tema.
Na realidade, nos deparamos com freqüência com as resistências dos professores e direções, manifestadas através de questionamentos e queixas, e passam a depender de apoios ou acessória da saúde, com isso o professor se sente desvalorizado, se sentem despreparados, desconfortáveis, inseguros, com atitudes demonstrando receio, preocupação, segundo Collares e Moysés (1995), a situação se agrava quando o professor entra no mercado de trabalho, principalmente na rede pública e encontra uma desvalorização profissional do professor, ocasionando escassez de reciclagem e aperfeiçoamento, o que representa um grande obstáculo para a melhoria de suas práticas, contribuindo para que suas concepções e seus conhecimentos se cristalizem cada vez mais, comprometendo sua capacidade de reflexão e a disposição para a mudança.
Demo (1992), alerta para a necessidade crescente de pensar em uma educação permanente para os professores, em decorrência principalmente da velocidade com que as mudanças vêm ocorrendo na Atualidade. Os avanços tecnológicos e a produção acelerada do conhecimento exigem, cada vez mais, uma permanente atualização profissional.
Desta forma o professor acabava por valorizar as estratégias de formação de ensinos tradicionais, tendo dificuldade ou até mesmo por não prosseguir a formação não realizada práticas diferenciadas, nem estratégias educativas atualizadas. A formação contínua do Professor é fundamental para que o mesmo sinta-se preparado para receber este aluno deficiente em suas aulas e consiga incluí-lo, ou melhor, fazer uma educação inclusiva.
Torna-se evidente também a necessidade de a escola estar preparada para atendera demanda destes alunos, nisto consiste: apoio pedagógico personalizado, adequações curriculares individuais, adequações no processo de matricula e avaliação, currículo especifico individual, tecnologias de apoio, mudanças nos prédios adequando-se as necessidades dos alunos, não basta apenas estar na lei, estas modificações devem acontecer elevando em conta o contexto sócio econômico, além de serem gradativas e planejadas. Ou então, o professor ao trabalhar com todos estes alunos, no mesmo espaço, ainda que em cooperação, ficará impotente frente a uma demanda excessiva. Ocasionando o chamado “sistema cascata” no qual os alunos com deficiência são distribuídos nos ensinos regulares, em função de critérios de desempenho escolar, desvinculando-se do processo da inclusão.
No que diz respeito à prática pedagógica dos professores, a flexibilização curricular e a pedagogia diferenciada centrada na cooperação, bem como estratégias como a aprendizagem cooperativa, são medidas a serem adotadas para que haja a inclusão escolar. Para tanto, é necessário dar condições ao professor e aos alunos, para que a mesma ocorra.
Considerações finais
Podemos concluir que para o processo de inclusão escolar é preciso que haja uma transformação no sistema de ensino que vem beneficiar toda e qualquer pessoa, levando em conta a especificidade do sujeito e não mais as suas deficiências e limitações.
Acredita-se que modificações são necessárias para que ocorra de fato a inclusão, não apenas no papel, ou na presença física dos alunos na escola. Dentre as modificações necessárias, cita-se a criação de Políticas Públicas eficientes que revertam: a deficiente qualificação do profissional da rede de ensino; a resistência do sistema educacional de ensino em receber alunos com deficiência em seus estabelecimentos de ensino; a inexistência de material adequado para o atendimento do aluno; o número excessivo de alunos na sala de aula, dificultando o acesso e permanência com qualidade do aluno com deficiência; a insuficiência de transporte publico adequado, entre outros fatores observados. Portanto as mudanças são fundamentais para inclusão, mas exige esforço de todos possibilitando que a escola possa ser vista como um ambiente de construção do conhecimento, deixando de existir a discriminação de idade e capacidade.
Entende-se que a inclusão não depende apenas, da formação dos professores, mas sem formação que contribua para atenuar receios e mito socialmente construídos e dê segurança para a prática de ser implantada, dificilmente teremos uma escola para todos na sua verdadeira aceitação, respondendo aos alunos de acordo com as suas potencialidades e suas capacidades.
Assim sendo, fica claro perceber que a inclusão é um processo complexo, que precisa ser bem discutido, onde a escola faça uma inclusão responsável, não apenas para obedecer à lei. A problemática é: esperar a escola ficar pronta para receber as crianças com deficiência ou através desta inclusão buscar as mudanças? O que se tem bem definido entre os teóricos é que a escola não pode mais fechar as suas portas para diversas formas de ser e de aprender, e que chegou a hora de rever seus conceitos sobre as pessoas com deficiência e a educação.
Referencias Bibliográficas
COLLARES, Cecília Azevedo Lima; MOYSÉS, Maria Aparecida Affonso. Construindo o sucesso na escola. Uma experiência de formação continuada com professores de rede pública. In: Cadernos Cedes. Campinas, v.36, 1995.
Conselho Nacional de Educação – Câmara de Educação Básica. Resolução CNE/CNB n.2 de 11 de setembro de 2001 – Brasília.
CORREIA, L. M. Alunos com necessidades educativas especiais nas classes regulares. Porto: Porto Editora, 1997.
FERREIRA, Windys B. Inclusão x exclusão no Brasil: reflexões sobre a formação docente dez anos após Salamanca. In: Inclusão e Educação: doze olhares sobre a educação inclusiva. David Rodrigues, São Paulo, 2006.
MAZZOTA, M. Educação Escolar comum ou especial? São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1986.
Organização das Nações Unidas. UNESCO. (1994). Declaração de Salamanca e linha de ação sobre necessidades educativas especiais. Brasília, DF: CORDE.
RORIZ, Ticiana Melo de Sá. Inclusão social/escolar de pessoas com necessidades especiais: múltiplas perspectivas e controversas práticas discursivas. USP, v.16, São Paulo, 2005.
SILVA, Maria Odete. Da exclusão à inclusão: concepções e práticas. Revista L. de Educação, n 13, Lisboa, 2009.
Elenice Daiana Bratz - Especialista em Educação Física Escolar com ênfase: em recreação, saúde e fisiologia. Faculdade de Educação e Tecnologia da Região Missioneira-FETREMIS.
Carla Vasconcelos de Menezes - Mestre em Educação. Faculdade de Educação e Tecnologia da Região Missioneira-FETREMIS.
Publicado por: Carla Vasconcelos de Menezes
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