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Espiritualidade e Educação: Relação entre processos educacionais e as vivências de práticas religiosas da Juventude

Relação entre processos educacionais e as vivências de práticas religiosas da Juventude.

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1 – Introdução

Toda religião oferece, para os/as fiéis que aderem a ela, uma proposta de sentido de futuro e último: o que comumente se chama Salvação. Na sociedade contemporânea em que vivemos, não parece mais novidade a quantidade impressionante de religiões que apareceram e continuam a aparecer, cada uma com sua proposta e seu caminho de sentido último para o/a fiel. Mais ainda, é possível, como alguns críticos gostam de sugerir, comparar esse amontoado de propostas religiosas como um grande Shopping Center, com suas diversificadas e variadas lojas, cada uma oferecendo um produto específico para cada necessidade particular do/da consumidor/a.

Reconhecemos esse aspecto negativo (e por vezes ilusório) desse grande “mercado religioso” (a grande parábola da pós-modernidade). Porém, queremos lançar nossos olhos para além dele. Queremos partir da própria subjetividade da pessoa, do/da jovem ao procurar e se descobrir participante e praticante de uma religião, ou de uma prática religiosa e de fé.

Partiremos do pressuposto (que acreditamos ser verdadeiro) de que cada jovem ao procurar uma religião busca um sentido para a própria vida, busca respostas a questões que o cotidiano parece não oferecer com satisfação e profundidade, busca felicidade. É um movimento subjetivo humano/juvenil e genuíno, o qual gostaríamos de considerar e afirmar como presente no interior de todo/a jovem ao se aproximar de uma prática de fé. Nenhum jovem procura uma religião sem nenhum motivo aparente, mas a procura por um impulso subjetivo de desejo de sentido e felicidade.

Lançamos, aqui, nossos olhos para além de instituições religiosas específicas, ou seja, consideraremos essa atitude subjetiva do jovem e da jovem, que busca uma prática de fé como uma atitude universal, presente na subjetividade de cada jovem, independente de especificidades religiosas. Por isso, intitulamos, no presente artigo, o termo Espiritualidade. E é partindo desses pressupostos que o propomos.

Da mesma forma que a busca pela vivência da dimensão de sua Espiritualidade revela uma atitude subjetiva e natural do/da jovem, também os processos educacionais se revelam como uma forma própria do movimento subjetivo deste/a mesmo/a jovem em busca de sentido e felicidade.

Por isto, neste artigo, queremos nos perguntar em que medida a vivência da dimensão da sua Espiritualidade faz o/a jovem a viver e participar de processos educacionais. É possível, na prática da fé de um/a jovem, seja ela qual for, falar de processos educacionais desta mesma prática?

Diante de um mundo globalizado, onde as propostas de informação parecem oferecer absolutamente tudo para o/a jovem, ao mesmo tempo em que somada a esse universo globalizado as propostas de Espiritualidades desejam oferecer um sentido que parece não encontrado em todo este contexto, parece-nos de fundamental importância considerar a vivência da Espiritualidade na Juventude como proposta de processos educacionais, ou não. É isso que pretendemos refletir neste artigo, que nasceu do processo vivido na disciplina “O educador de Adolescente e Jovem” ministrado pela Professora Carmem Lúcia Teixeira do Curso de Pós-graduação em Juventude e Adolescência no Mundo Contemporâneo.

2 – Processos educacionais: reconhecer o lugar de onde estamos falando.

Educação, Educador, Educando. São conceitos que nos remetem a uma atitude que, ao longo da história, fez e faz parte da vida humana. O ser humano sempre se preocupou em adquirir conhecimento. Mais do que se preocupar, o ser humano sempre mostrou um impulso originário e natural para conhecer, para mudar a partir daquilo que, como processo de aprendizado, passa a conhecer.

Reconheceremos aqui, falando de processos educacionais para/de jovens, os conceitos de Educação e Educar como experiências de acompanhamento de processos da própria vida do/da jovem, como partilhar conhecimentos, como aprender. Isso partindo do pressuposto de que direcionamos nossa atenção a um sujeito muito específico: o Jovem, a Jovem. Este/a, situado/a em uma faixa etária caracterizada por transformações, por mudanças, por questionamentos e, sobretudo, por buscas. E mais ainda, um sujeito que, exatamente por viver em uma etapa de buscas, é um sujeito de Direitos. Consideramos, primeiramente, ser muito importante ter presente essas idéias que nos movem ao escrever esse artigo, ou seja, situarmos no chão que pisamos para falar de processos educacionais para Jovens.

Geralmente escutamos, primeiramente, a palavra Educação no ambiente da escola. E ela está sempre associada e vinculada, de alguma forma, a modos. E por isso, se transporta para o ambiente familiar.

Dentre os autores que dedicaram uma vida a falar de Educação, destacamos Paulo Freire. Este, entre outras coisas, fala da educação popular crítica. Segundo ele, a educação tem um fim último, e esse fim é crítico no sentido de construir alguma coisa. O papel do educador, segundo ele, é problematizar, ou seja, o fato dado precisa ser questionado, problematizado. E isso acontece em um processo dialógico que não separa o conteúdo da forma, ou seja, apresenta-se aspectos diferentes da situação trabalhada. Seu pensamento está permeado por uma dimensão ética do saber que, sobretudo, considera e respeita os chamados saberes populares. Poderíamos supor, quando falamos em processos educacionais em Paulo Freire, a imagem do caminho. Por isso, pode-se afirmar que “o caminho se faz caminhando”, ou seja, na experiência e atitude do conhecimento, supõe-se uma postura, um posicionamento frente ao mundo, uma atitude que permite uma constante e contínua transformação deste mesmo mundo. A neutralidade frente ao mundo, nesse sentido, é um ato de imoralidade, de entorpecimento da condição juvenil como condição de possibilidade para o conhecimento.

Por isso, a educação, segundo supõe Madalena Freire (seguindo os passos de seu pai) é um movimento como processo da própria vida. E nesse sentido, o/a educador/a é aquele/a que vê o movimento da vida a partir do outro e da outra situado e situada em um lugar concreto. O movimento do VER, da ESCUTA e da FALA que, segundo ela, deve provocar o desejo do outro e da outra. O medo, segundo ela, paralisa o processo de educação. O sistema social e cultural em que vivemos parece querer ampliar o medo: basta vermos as cercas elétricas. Sem falar da sociedade e a cultura da competição em que vivemos: é só olhamos para a maioria das experiências das propostas avaliativas de nossas instituições educacionais, quando se avalia o estudante exclusivamente por notas. O/a melhor é quem tira a maior nota. O padrão de educação, o grau de inteligência é dado por uma nota, e essa nota qualifica a vida do/a jovem estudante.

Tentando nos desvencilhar dos pré-conceitos e posturas superficiais a cerca dos processos educacionais de/para jovens, pensamos ser importante re-afirmar Educação, como um processo de formação da competência humana, social e política que encontra no conhecimento inovador a alavanca principal da intervenção ética e moral da realidade onde vive.

3 – Espiritualidade: reconhecer o que nos move.

Da mesma forma que há uma diversidade muito grande de opções religiosas e suas formas de conceber o mundo, as pessoas, a ética e a moral, há também uma diversidade muito grande de Juventudes, com muitas formas de se posicionar no mundo onde vivem.

A diversidade no ambiente religioso das práticas de fé tem mostrado, ou seja, as diversidades de religiões tem revelado, neste últimos tempos, um desafio muito grande. Basta olharmos para as intolerâncias e fundamentalismos. Basta olharmos para a dificuldade da vivência de um Ecumenismo ou Diálogo Inter-religioso genuíno e sincero.

De alguma forma, a diversidade das religiões também nos mostra uma visão diversificada do/a jovem. Algumas, por certo, aparentemente equivocadas e pré-conceituosas. A essas imagens, queremos desvelar o que está por trás delas, sugerindo o conceito de “paradigma”, isto é, há muitos paradigmas, muitas vozes ocultas e históricas presente nas religiões que consideram, caracterizam, taxam o/a jovem de uma forma.

O Primeiro paradigma diz respeito à “Juventude como período preparatório”. Por ser uma etapa da vida que prepara o/a jovem para alguma coisa, para um emprego, para um futuro, este paradigma, em muitas religiões, considera a Juventude a partir de uma concepção marcada exclusivamente pelo viés biológico. Muitas das experiências próprias da etapa juvenil, principalmente no que diz respeito à dimensão da sexualidade do/da jovem, são vistas dentro do aparato moral e ético de determinada religião como uma experiência negativa que, ao ser vivida, precisa ser purificada, precisa ser redimida da experiência sexual vivida, como algo vivido que “vai passar”. Por estar em um período da vida sempre de preparação, esse paradigma revela uma postura das religiões que consideram o Jovem sempre aprendiz, sempre passivo e, por isso, deve ser “educado”. A referência religiosa do líder, conselheiro, pastor, padre, etc. acaba, dentro da religião, se tornando no educador que inicia o/a jovem no aparto simbólico, ético e moral da religião.

O segundo paradigma diz respeito à “juventude como etapa problemática”. É, talvez, o paradigma que mais se enraíza nas práticas religiosas em relação ao jovem. Na verdade, são vozes ocultas que, ao longo da história, vem se repetindo. Vozes que afirmam o/a jovem como aquele/a que é inútil, que não tem nada para oferecer à religião e, por isso mesmo, está ali para apenas se “salvar”, para se redimir dos muitos pecados e muitos males que cometeu na sua vida devassa de jovem. Por considerar ser uma etapa de vida marcada pelo pecado, a postura institucional religiosa chama e se aproxima do/da jovem com métodos que partem do princípio de que a juventude é um poço vazio de sentido e, por isso mesmo, também, precisa se redimir. É o paradigma que revela os conflitos geracionais introjetados na vida do jovem dentro, muitas vezes, de sua própria família, mas também em relação à própria instituição religiosa, na figura de seus líderes: geralmente adultos, legalistas e fechados.

O terceiro paradigma, que ao longo da experiência das aulas foi se revelando e se sugerindo como o ideal, é o que diz respeito à “Juventude como ator estratégico do desenvolvimento”. O/a jovem aqui é visto como aquele/a que tem potencial, que é sujeito de direitos que, ao longo da história e da sua vida, parece ter sido negado como direito natural e divino. Esse paradigma, de alguma forma, toca no próprio sentido da religião enquanto instituição que oferece sentido e verdade para o/a fiel, ou não. Afirmamos isso por reconhecer que a religião, enquanto instituição social, e historicamente situada, não pode e deve estar alheia ao que existe ao ser redor. Muitas delas, se prendem à discursos espiritualizantes alienados do chão onde pisam. A experiência religiosa movida por esse paradigma tende a considerar o/a jovem como sujeito de Direitos, como aquele/a que é protagonista do seu próprio futuro, de sua busca por sentido e felicidade. O jovem aqui, mais do que uma agente passivo da instituição religiosa, é considerado como aquele/a que, exatamente pelo que vive e sente, é chamado e interpelado, pela fé, a participar ativamente da religião e, sobretudo, a renová-la e transformá-la.

É dessa forma que, reconhecer a dimensão da espiritualidade juvenil como processo de formação humana, parece-nos sugerir o próprio sentido da religião enquanto instituição que promove, ou não, aprendizado em seu conteúdo e proposta de vivência para o/a jovem. Por isso, para elas mesmas, é uma reflexão de interpelação para superar posturas de dominação, autoritarismo e manipulação. Por isso, seu sentido parte de uma interpelação que está além de si, porque está num chão concreto onde o/a jovem vive, sente, olha, ouve e, sobretudo, faz.


Publicado por: José Wilson Correa Garcia

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