Escola X Juventude
Escola X Juventude, processo de construção de aprendizagens, a realidade e os problemas como preconceito social e racial, medo, drogas, marginalidade e até mesmo a burocracia, oportunidade de escolher, conscientemente, sua forma de existência.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
“A finalidade de nossa escola é ensinar a repensar o pensamento, a ‘desaber’ o sabido e a duvidar de sua própria dúvida; esta é a única maneira de começar a acreditar em alguma coisa.”
Juan de Mairena
“A educação deve ser um processo de construção de aprendizagens em que formamos cidadãos críticos, conscientes, ativos e criativos na sociedade” - conceito bonito e, por vezes, utópico, já que sabemos que a instituição “escola” enfrenta diversos problemas em várias instâncias.
A realidade nos traz, durante o pleno exercício da profissão, problemas como preconceito social e racial, medo, drogas, marginalidade e até mesmo a burocracia que submete professores à hierarquia de poder, e conseqüentemente, tolhe sua vontade e condição de desempenhar um papel comprometido com a formação de indivíduos críticos, ativos e autônomos.
Sabemos que é através do domínio efetivo da língua, que o indivíduo se torna capaz de observar, estabelecer comparações, concluir, transformar, opinar e participar. Mas, sem a comunicação o indivíduo não existe, não ocupa lugar na sociedade e, por conseguinte não usufrui seu direito de ser. Cabe aos professores, dar aos alunos a oportunidade de escolher, conscientemente, sua forma de existência.
Impossível, nesse quadro, deixar de pensar na escola: Que papel deve ela cumprir na formação do jovem? Como prepará-lo para os desafios dos novos tempos? Como prepará-lo para a vida, se o futuro, como diz Morin, chama-se "incerteza"?
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1996 e as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM), aprovadas em 1998, são uma resposta possível a essas questões. A LDB inova ao colocar o Ensino Médio como parte da educação básica, afirmando a necessidade de universalização desse nível de ensino. Inova também ao separar o ensino profissionalizante: ao assegurar terminalidade, o Ensino Médio deve oferecer formação geral, ficando a profissionalização para cursos concomitantes ou posteriores ao Ensino Médio. E inova, por fim, ao propor flexibilidade na organização curricular, nas formas de pensar o tempo na escola e a trajetória escolar do aluno.
O jovem tem expectativas bastante sensatas em relação à escola, espera sentir-se parte dela e poder dela se orgulhar. Para isso, quer que ela tenha uma "cara própria" e que lhe ofereça canais de participação, além da oportunidade de se envolver em questões que digam respeito a ele mesmo e a sua comunidade, como as relacionadas à saúde (sexualidade, drogas), meio ambiente e qualidade de vida.
Como espaço de aprender a ser e de aprender a conviver, a escola é também um espaço onde o jovem pode e deve exercitar o protagonismo, atuando efetivamente nela, apresentado propostas, promovendo discussões que digam respeito à vida escolar ou ao interesse da comunidade, participando de organizações como grêmios ou outros grupos de seu interesse - teatro, dança, banda ou jornal - capazes de contribuir para a construção ou o fortalecimento da identidade da escola.
Apesar de todos os problemas, a escola ainda se mostra um espaço atraente para adolescentes e jovens pela possibilidade do encontro com outros jovens. Os corredores, pátios e outras dependências transformam-se em espaços privilegiados de convivência, e por isso mesmo, são considerados interessantes. Algumas escolas reconhecem a importância dessa convivência e procuram favorecê-la fazendo com que adolescentes e jovens se apropriem do espaço escolar e reforcem os laços de identificação com a escola.
Junto com seus iguais, longe do controle dos adultos, consumindo ou produzindo cultura, os jovens e adolescentes podem manifestar suas dúvidas, angústias, trocar conhecimentos, realizar desejos, experimentar comportamentos e atitudes, elaborando suas identidades e seus modos de se relacionar com o mundo.
Situando-se na mediação entre o espaço público e o privado e tendo o foco de sua ação na construção e socialização de conhecimentos, valores e atitudes, a escola tem a possibilidade de ajudar o aluno a fazer uma tradução crítica das vivências que traz, mostrando-lhe novas possibilidades de leitura, tanto de si e quanto do mundo, tornando-se, assim, uma referência para eles. Pela importância socialmente atribuída à escola, pela peculiaridade de seu papel, pelo tempo em que adolescentes e jovens nela permanecem; ela tem grande potencial para tornar-se um espaço em que esses alunos vejam suas questões, dúvidas, angústias e descobertas acolhidas e trabalhadas de forma a ampliar o campo no qual constroem suas identidades e projetos. Reconhecer como legítimas as experiências que eles vivenciam, nos mais diversos espaços, torna-se condição para que o conhecimento escolar tenha sentido.
A escola pode, ainda, interferir positivamente junto aos jovens, no que se refere ao comportamento de risco e à transgressão, próprios dessa fase, para assumir firmemente seu papel em questões como a prevenção do uso das drogas; mas para tanto, a escola precisa ter a tranqüilidade necessária à compreensão de qualquer problema e jamais estigmatizar os alunos que porventura façam esse uso.
O convívio com a diferença, propiciado pela escola, é importante, também, para a percepção de que ser diferente não é problema é peculiaridade da espécie humana; cabe, portanto, à escola não rotular o aluno como fraco e sim como diferente. Esse convívio contribui, ao mesmo tempo, para percepção de que não é necessário ser sempre do mesmo modo: as pessoas mudam, constroem novos valores, assumem novas atitudes, desenvolvem novas relações. As diferenças representam, ainda, a possibilidade de se enxergar no outro e poder afirmar com clareza: “sou assim, sinto assim, manifesto meus sentimentos assim e penso assim; ele é diferente de mim, pensa de outro modo, sente e manifesta seus sentimentos de outro modo.”
A escola proporciona momentos de reflexão de qualidade distinta daquela exercida em outros âmbitos; pode, também, contribuir para que percebam e reflitam sobre diferentes projetos propondo como foco de sua influência a ampliação e a problematização das escolhas possíveis; pode, inclusive, ser reconhecida pelos alunos como um espaço que acolhe suas questões e contribui para encontrem respostas para seus questionamentos.
A escola precisa, portanto, ser acolhedora; estruturar-se de maneira viva, dinâmica estimulando os alunos a se manifestar, a organizar atividades que favoreçam o convívio extra classe; favorecer a ação autônoma e a participação em instâncias da gestão escolar; proporcionar e incentivar uma comunicação intensa e livre, para trabalhar na perspectiva do diálogo com os estudantes tendo como referência as culturas juvenis das quais participam, visando o desenvolvimento de suas capacidades, a ampliação e o enriquecimento dos referenciais para a construção de identidades e projetos de que dispõem, seja no tratamento das áreas e temas transversais, seja no convívio social que possibilita aos seus alunos e professores.
Desta forma a escola poderá cumprir seu papel principal: propiciar a formação da “consciência crítica” necessária aos alunos para que eles conquistem não só o letramento exigido dentro dela, como também aqueles que surgem e se desenvolvem fora dela, não menos importantes no seu processo de formação pessoal.
* Patrícia Ferreira Bianchini Borges é professora da Rede Municipal de Ensino de Uberaba, licenciada em Letras pela Uniube – MG, e pós-graduanda em Estudos Lingüísticos: “Fundamentos para o Ensino e Pesquisa” pela UFU – MG.
Publicado por: Patrícia Bianchini
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