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Ensino de Leitura Literária nas Séries Iniciais: Uma Abordagem Sobre a Concepção de Formação de Leitores e a Concepção de Letramento Literário

Clique e conheça a concepção de formação de leitores e a concepção de letramento literário

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ABSTRACT: These paper objectives present a brief profile of the teaching of reading in the early grades in a school, establishing a parallel with the formation of the teacher-reader. Sought to study the design of teaching reading and the relationship between teacher and book. First I will address how discipline was handled reading in the early grades, then to talk specifically about the role of the teacher-reader and its role in shaping readers. It can be seen at the end of this case study, the contents worked in room focused solely on reading decontextualized and irrelevant, contrary to what many theorists provides education that prioritizes literary literacy training for the reader.

KEYWORDS:Reading. Literary literacy. Formation reader.

RESUMO: Neste trabalho objetivei apresentar um breve perfil do ensino de leitura nas séries iniciais em uma determinada escola, estabelecendo um paralelo com a formação do professor-leitor. Busquei analisar a concepção de ensino de leitura e a relação existente entre professor e o livro. Primeiramente irei abordar como era tratada a disciplina de leitura nas séries iniciais, para em seguida falar especificamente sobre a atuação do professor-leitor e seu papel na formação de leitores. Pode-se constatar, ao final desse estudo de caso, que o conteúdo trabalhado em sala focalizava-se exclusivamente na leitura descontextualizada e irrelevante, ao contrário do que prevê muitos teóricos da educação, que priorizam o letramento literário para a formação de leitor.

PALAVRAS-CHAVE: Leitura. Letramento literário. Formação de leitor.

Introdução

Este artigo é um estudo de caso, de cunho explanatório e não exaustivo, nasceu no transcorrer do estágio oferecido no curso de graduação de pedagogia da Faculdade de Cariacica no segundo semestre de 2012.

Após observação da estrutura da escola, das aulas e dos planejamentos, pertinentes à área da pedagogia da leitura em sala de aula detectou-se um fragmento na rotina do ensino de leitura literária, uma vez que desvinculada de um contexto pedagógico não formaria leitores.

O estágio na unidade escolar possibilitou a observação da prática da leitura literária existente entre os alunos das séries iniciais. Estes eram orientados pelos professores a irem até a biblioteca escolar e fazer empréstimos de livros.

Essa ação já era realizada desde anos anteriores em que os alunos deveriam ler livros independentemente se gostassem de ler ou não. Foram anos com a tal prática, que diante aos professores, assim os alunos de um jeito ou de outro estavam lendo e acreditavam, portanto, estar formando leitores.

Contudo, nesse ano, acharam melhor separar um dia da semana para que o aluno fosse à biblioteca a fim de que pegasse um livro para ler, pois concluíram que antes essa ação ficou solta, deveria exigir de todos os professores uma aula específica na biblioteca para que o aluno lesse mais.

Todavia, observa-se que essa ação ainda está dissociada do ensino de leitura literária, pois se percebe que tal prática acontecia aleatoriamente, sem estratégias, orientações e importância da mesma.

 O livro emprestado era guardado assim que o aluno chegasse à sala de aula, a fim de que a leitura fosse realizada em casa. As crianças levavam o livro para casa e liam para entregá-lo na semana seguinte, de acordo com a data especificada pela bibliotecária. Isso estava previsto acontecer sucessivamente, no decorrer do ano letivo, sem até então apresentar alguma intervenção pedagógica.

Percebeu-se que alguns alunos esqueciam o livro em casa e nada acontecia. Esquecer era natural e o mesmo poderia, quando lembrasse, entregar depois, não havia nenhum problema. Assim transcorriam as idas à biblioteca sem nenhum questionamento, só era importante pegar o livro, sem demonstrar interesse em tê-lo lido ou não.

Essa prática é constante em todos os alunos das séries iniciais. Já nas séries finais do fundamental essa atitude, que deveria ser postura leitora, não continua. A maioria não frequenta a biblioteca e demonstra atitude de aversão à leitura.

Seguem os estudos sem irem à biblioteca espontaneamente. Não se ver aluno lendo sem que a professora de literatura exija a leitura de algum livro para ser trabalhado em sala de aula.

Daí observa-se que devido à fragmentação do ensino de leitura literária a escola não foi capaz de formar leitores, mas alunos que, às vezes, nem se quer gostam de ler devido à “obrigação que lhe foi imposta” nas séries anteriores.

Para tanto, percebeu-se a necessidade de elucidar a prática da leitura literária na escola na formação de leitores, cujo objetivo visa assegurar o acesso aos bens culturais e conquistar a autonomia dentro da sociedade.

A leitura precisa ser encarada como uma oportunidade de tornar o aluno crítico para conquistar a sua chance de ser cidadão comprometido com a realidade social. Ler é tão necessário quanto o ar que respira, uma vez que é uma atividade presente no dia a dia.

Para tanto, faz-se necessário observar a postura do professor. Este precisa ser integrado com a leitura para que possa instigar no aluno o desejo de conhecer obras literárias e clássicas da literatura.

1.  Concepção da relação existente entre professor e o livro

A leitura é uma questão emergente na escola. Importa salientar que é constante por parte dos professores a discussão de formação de leitores, contudo, isso se demonstra como atividade complexa para muitos educadores.

Percebe-se o empenho em fazer do aluno um grande leitor, mas a preocupação sobre a sua própria relação com o livro e sobre a importância dessa relação no desenvolvimento do hábito de ler das crianças à sua volta está distante.

Para formar leitores é preciso que o professor seja leitor. Instigar a leitura é também, apresentar um encantamento nessa prática. Conquistar o aluno, apresentar-lhe a leitura como algo prazeroso e atraente. Seduzi-lo para o mundo da literatura, uma atitude de prazer revelada nas palavras de um escritor.

Para tanto, é preciso começar por uma articulação entre a leitura e a formação do docente. Ler deve estar presente à formação profissional do docente. Estudar a leitura do professor numa perspectiva metodológica a fim de que seja constituída uma leitura significativa.

O professor precisa ser leitor, buscar incessantemente a leitura em seu dia a dia como priori em sua atuação escolar. O desempenho educacional está associado a uma prática diversificada buscando um fazer fundamentado no ensino de leitura com qualidade. Como afirma ANDRADE (2007) “... à produção de um professor-leitor que incorpora a teoria e estão pronto a seguir, na prática, as noções e os conceitos que lhe são propostos”.

Quem demanda e quem executa a leitura presente na sala de aula são os professores. Estes exigem o fazer, uma prática efetivamente realizada e avaliada na aprendizagem. Adotar uma consciência leitora e não uma atuação pedagógica moldada em determinadas práticas.

Necessita-se criar condições para que a leitura aconteça. Rever práticas pedagógicas enfadonhas que não criam espaços para ler, uma vez que os alunos estão condicionados pelos organismos socioculturais, que os afastam desse hábito e rapidamente passam a detestar a leitura.

Sob esse aspecto, a didática de leitura mata paulatinamente o aluno-leitor. O professor como não leitor é incapaz de ensinar a leitura com entusiasmo uma vez que seu repertório literário é limitado. Além, de se observar, também, essa limitação em outros funcionários responsáveis pela formação do leitor.

Em termos de pedagogia da leitura, há uma necessidade de reformular radicalmente as formas como são encaminhadas as aulas de leitura. Rever uma prática decadente que tem afastado os alunos da leitura e criar meios de sensibilização destes, mudando a atuação nesse papel de formação.

Há uma necessidade de movimentar todos os sujeitos da educação para que sejam criadas condições de leitura. Sair do anonimato, da sombra, da escuridão a fim de que possa observar e refletir mais sobre o mundo que está em volta, como sujeito atuante e não um mero espectador.

Como foi ressaltado por SILVA (1998) “... a leitura é um importante instrumento para a libertação do povo brasileiro e para o processo de reconstrução de nossa sociedade”.  Vale elucidar o papel do professor como mediador dessa ação.

Essa mediação deve ser uma prática constante, em que o professor realiza um trabalho voltado para a leitura. Mas aquela dissociada do conservadorismo - sem querer generalizar – ao nível de seleção e da sua colocação junto ao aluno.

 Há um questionamento instigador sobre o trabalho de leitura, pois o professor acredita que essa ação é precária baseada nos valores existentes no mercado para se adquirir uma obra literária.

Identifica-se certo conformismo diante das condições de adquirir uma obra literária. Deixar como pretexto determinados valores, em pleno século 21 seria uma desculpa precária, uma vez que as bibliotecas escolares possuem um acervo grandioso no quesito literário, o que não impede de que o professor seja leitor.

Mas essa condição cai ao descaso e muitos fazem uma leitura fragmentada ao ler trechos de obras ou reproduzir cópias baseado na desculpa de que os valores são altos. Portanto, faz-se a necessidade dessa reprodução para trabalhar em sala de aula, constando-se uma leitura precária, cujo ato torna-se ilegível devido ao tamanho da fonte, causando certo desconforto para a leitura de qualidade. A autora verifica a fragilidade na concepção de se trabalhar leitura em sala de aula:

“... os professores não deploram o impedimento de realizar um trabalho de leitura que seria desejável, como foi o caso da leitura de livros (por compra ou por biblioteca), mas o aspecto que aparece muito concretamente diz respeito à precariedade das condições de trabalho da leitura universitária. De modo a baratear o custo da leitura, as cópias têm qualidade frequentemente perto do ilegível. Diminui-se o tamanho da letra, para que se possam fazer mais páginas em uma só cópia, usa-se pouca tinta, o fundo é cinzento, com muitas manchas, e a pressa, dada a sobrecarga, faz com que haja movimento do texto em cima da prancha no momento da cópia e com que as letras fiquem fora de foco.” (ANDRADE, 2007)  

Isso implica na reflexão de que professor e leitor não são os mesmos, ou seja, apresentam características divergentes. Encontra-se no contexto escolar duas figuras de professor: a do professor na prática docente e a do professor em formação. Aquele é o condutor de uma atitude crítica em relação às práticas escolares, já este busca incessantemente o seu desenvolvimento intelectual.

Portanto, devem-se moldar certas práticas na atuação pedagógica. Tornar possível e desejável a leitura entre professores, uma vez que se observa a grande necessidade nessa área tão carente entre os educadores.

Está em pauta nas universidades a formação do educador-leitor. As práticas de leitura presentes nas aulas e projetadas para os alunos como algo fundamental para a formação do cidadão. A leitura como constituinte de um saber prático necessário à sobrevivência do educador.

MORIN (2008) explicita a reforma de pensamento baseada na reforma da universidade. A reorganização na formação do professor-leitor, preparando-o para atuar em sala de aula, destinado a um saber multidisciplinar valorizando o entorno social.

Destarte a prioridade em que um professor necessita de ser leitor atuante para que provoque o hábito de leitura em seus alunos e realize aulas de leituras significativas a fim de que desperte o senso crítico literário nos educandos.

A preocupação em escolher a leitura adequada, o modo como será direcionada e, principalmente pensar naqueles que farão parte dessa leitura. Buscar textos significativos e que conduzem o aluno para um amplo mundo literário, não restrito à cópias ou outros tipos de reprodução.

Em sendo assim, isso implica buscar a leitura literária conhecendo o autor e o que realmente pensa sobre determinado assunto e quais os recursos simbólicos foram utilizados para transmitir sua mensagem a partir de estratégias de ensino de leitura bem elaboradas.

2.  Estratégias no ensino de leitura literária

Um professor leitor já domina toda a estrutura textual e sabe como é fundamental observar, para compreensão do texto, a sequência em que ele foi produzido, analisando os fatos e sua ordem.

Assim devem ser as aulas de leitura, propostas com significados para que o alunado seja conduzido para o mundo literário e desperte o prazer pela leitura, uma vez que diferentes aspectos serão observados e são relevantes para a compreensão da obra.

Na prática observa-se o ir à biblioteca simplesmente para pegar um livro e lê-lo em casa, sem nenhuma preocupação se o professor vai cobrá-lo ou não, mas se isto não acontecer, o máximo a ser cobrado será a feitura de um resumo ou resenha cujo texto muitos professores desconhecem.

Contudo, como afirma SOLÉ (1998) para se trabalhar a leitura em sala, o professor precisa elaborar estratégias de leitura. As situações de leitura devem ser incentivadas na escola, ler uma obra implica avaliar os fins de que o texto trata.

Essa prática deve ser objeto de promoção de uso de determinadas táticas de leitura – individual, participada ou grupo -, tarefas de leitura bem planejadas, que observe as ações dos alunos, garantindo desafio e apoio para que este persista avançando.

Para tanto se faz necessário uma ação pedagógica que faça intervenção de um leitor ativo, que processa e atribui significado àquilo que está escrito. Ler um texto a partir de conhecimentos prévios, aquilo que já se sabe, que faz parte da bagagem de experiência.

Assim, como já demonstrou SOLÉ (Idem) o leitor aprenderá que ler é compreender, sobretudo um processo de construção de significados sobre o texto que pretendemos envolver. O mesmo busca informações dentro do próprio texto, possibilitando-o para a compreensão deste, caso tenha algum termo desconhecido, a busca de esclarecimento possibilitará atribuições de sentidos para o presente obstáculo submergindo-o numa leitura envolvedora.

Em suma, para compreender um texto é necessário compreensão de termos desconhecidos. O leitor deve possuir conhecimentos adequados para elaborar uma interpretação sobre o que se lê. Analisar as relações entre ler, compreender e aprender. Estar em busca de processos de significação de expressões que visam à compreensão.

Formar leitores autônomos significa formar leitores capazes de aprender a partir dos textos. Portanto, visa elaboração de estratégias de leituras a fim de que estes enfrentem de forma inteligente textos de índoles muito diversas. Estratégias tais de elaboração e de organização do conhecimento necessárias para aprender a partir do que se lê.

Destarte a fomentação de questões relevantes na estratégia de leitura. O aluno precisa ter ciência de algumas questões básicas de interpretação que o conduza à compreensão do texto. Entre elas pode-se citar a compreensão de propósitos implícitos e explícitos da leitura.

Isto é, o aluno busca a compreensão do que tem ler e para que ler. Não basta deixar a proposta aleatoriamente a compreensão, o que não acontecerá. Mas sim conduzir o leitor para a importância da mesma e sua funcionalidade dentro de seu contexto social. Falar de leitura abarca informações pertinentes sobre a mesma e sobre o seu leitor.

Identificar a importância de textos aportados à leitura os conhecimentos prévios relevantes para o conteúdo. Saber sobre o conteúdo do texto proporcionará informações úteis para o leitor, além disso, buscar outras fontes que possam ajudar sobre o autor, o gênero, o tipo de texto e muito mais.

Tal aplicação permitirá uma leitura fundamentada e ampliará a compreensão do mesma. Expandir informações sobre o autor consiste em associar fatos e dados fundamentais para interpretação do texto, ou do livro proposto para leitura.

Como argumenta COSSON (2007) essas ações precisam ser organizadas para que a leitura literária seja uma prática significativa, que tenha uma sustentação, pois a literatura é isso, capacitarmos para nos ajudar dizer o mundo e a nós mesmo, ou seja, o letramento literário.

O ensino da literatura na escola deve ser compreendido como linguagem em seus três tipos de aprendizagem: a aprendizagem da literatura, que consiste fundamentalmente em experienciar o mundo por meio da palavra; a aprendizagem sobre a literatura, que envolve conhecimentos da história, teoria e crítica; e a aprendizagem por meio da literatura, nesse caso, os saberes e as habilidades que a prática da literatura proporciona aos seus usuários.

Portanto, como já vimos no capítulo anterior, as duas últimas literaturas são contempladas na escola, ainda que superficialmente, mas trabalhadas. Contudo, a primeira que deveria ser primordial é ignorada, o que desmitifica a literatura letrada.

Redimensionar essas ações e conduzi-las para um modo satisfatório no processo de letramento literário para que o ensino de leitura segue novo caminho. Isto quer dizer que os professores precisam deixar de lado a mera leitura de obras literárias, o consumo de textos literários e agregarem em suas práticas pedagógicas o processo de letramento, compreenderem a literatura como uma prática, um discurso.

Primeiro passo a seguir é a construção de comunidades de leitores. Isto é, uma comunidade que ofereça um repertório, um envolvimento cultural, que possibilitará ao leitor movimentos e construção de si. Obras devem ser selecionadas assim como as práticas de sala para que possam ampliar e consolidar o repertório cultural do aluno.

De acordo com COSSON (Idem) existem sequências que sistematizam o enfoque do material literário em sala de aula interligado a três aspectos metodológicos. A primeira é a oficina, que ensina o aluno aprender com a prática, ou seja, para cada atividade de leitura acontece a escrita.

­­­­­A próxima é conhecida como a técnica do andaime, isto é, cabe ao professor dividir com aluno o conhecimento. As atividades estão associadas à construção do conhecimento com auxílio do outro. Este é o professor que passará para o aluno saberes literários, envolvendo pesquisas e desenvolvimento de projetos.

E como última perspectiva, temos o portfolio, que oferece aos alunos e professores o registro de diversas atividades realizadas. Ao anexar as atividades trabalhadas o aluno perceberá o seu crescimento. Observará o desenvolvimento na atividade, ou seja, na formação leitora.

Essas ações fazem com que o leitor seja participante ativo das comunidades leitoras, objetivando seu crescimento e formação no quesito leitor. Não basta indicar a leitura, mas torna-la significativa para a formação do leitor.

O trabalho tradicional de leitura não formará leitores, portanto, cabe ao professor ser ativo no desenvolvimento da leitura aprofundada. Com afirma SOUZA (2004) o conhecimento do professor numa coletividade, em que as informações podem ser partilhadas sem comprometimento da individualidade da leitura.

Em suma a leitura nas séries iniciais não deve ser esporádica como alguns professores fazem um “semanário” em que um dia da semana pega um livro para leitura, mas trabalhada diariamente. Ter em mente de que uma leitura puxa outra e uma conversa sobre um livro sempre estimula a leitura de outro.

Destarte que a literatura no contexto escolar deve ser exercício cultural, ensaio, prazer, violação, alento para o fantasioso e feitio de interação com o outro, além de levar uma grandeza de sentidos e significados que todos os dias são descobertos por leitores e que devem ser sempre compartilhados.

3. Ensino fundamentado no letramento literário para formação de leitores

A partir de um trabalho de leitura significativo em sala de aula como foi abordado no capítulo anterior, o professor terá formado leitores. Ensinar a leitura literária é ir além do que está escrito e buscar autonomia na seleção de obras.

Esse processo interfere ativamente na formação leitora do aluno. As habilidades são desenvolvidas objetivando a sua formação enquanto sujeito atuante e capaz de rever sua prática leitora a fim de que possa interferir no mundo em que está inserido.

Como afirma MORIN (2007), a leitura possibilitará ao homem sua realização plena como ser humano por meio da cultura e na cultura. A funcionalidade da leitura transformadora de opiniões visando à fundamentação social como sujeito crítico na sociedade.

Reafirma o autor supracitado sobre a importância do cérebro humano na cultura e um será inexistente sem a presença do outro, ou seja, a capacidade de consciência e pensamento é nula sem a cultura.

Daí, vimos à importância de formar leitores em nosso contexto escolar. Esse é o espaço em que serão oportunizadas aprendizagens de letramento de leitura literária - questionadores de um mundo, de uma cultura.

O importante é que o aluno possa expressar-se sobre leitura, como cita BALDI (2009). A troca de opiniões sobre um livro seja ela com próprio colega ou outro de outra turma/série só irá ampliar a leitura realizada individualmente.

Essa contextualização de leitura e formação de opiniões resgata a responsabilidade leitora que deve ser instigada nos alunos. A leitura precisa ser contemplada amplamente abarcando os diferentes saberes e questionamentos sobre o texto lido.

Para tanto se faz necessário a escolha de uma obra ou texto respeitando a turma/série. Não basta pegar um livro ou simplesmente indicar a sua leitura, mas cabe ao professor e a equipe pedagógica estar atentos ao foco a ser estudado e qual modalidade fará leitura do mesmo.

Após essa observação, deve-se atentar para apresentação dos textos/obras aos alunos, variando as estratégias mediante a necessidade. Cabe ao professor a apresentação do mesmo para a turma, disponibilizar um exemplar de modo que circule pela sala a fim de que passe por cada aluno para que leia e assim instigue a leitura deste.

Conforme o tipo de texto ou obra e o trabalho que se vai propor, este deve ser explorado em diferentes sessões. Vários textos podem ser trabalhados ao mesmo tempo, desde que haja um rodízio nas duplas ou grupos de alunos, conforme a necessidade da turma e, ou desempenho dos mesmos.

Esta ação visa à integração e a afirmação de semelhanças dos textos. Tal atividade provoca reflexão no aluno. Um conhecimento aprofundado sobre o autor ou a obra trará à tona o desejo pela leitura, uma motivação, uma propaganda, os quais envolvem o aluno, deixando-o curioso.

Como comenta SOUZA (2004), faz-se necessário uma comunhão entre o leitor e o texto. Não vale indicar uma leitura de obra simplesmente pela necessidade de ler ou formar leitor, mas objetivar a relação entre eles baseada no prazer, na identificação, no interesse e na liberdade de interpretação.

É importante deixar claro sobre o valor que essa leitura precisa ter para o leitor. Este, ao identificar-se, adentrará em um mundo imaginário que somente a literatura proporciona. Atentar-se-á para a forma de arte feita com as palavras.

Compreender-se-á que o título, nome ou ausência deste não é por acaso, há uma reflexão a ser realizada em cada parte do texto, ou seja, significa remeter-se à ficção e ao discurso poético. Através do qual há uma resultante de múltiplas leituras, conduzindo o leitor para diferentes interpretações.

Essa busca pela interpretação pode conduzir o leitor a pensar sobre a vida e o mundo. A leitura abre um leque de questionamentos sociais. Assuntos relevantes, muitas vezes evitados, apresentam discussões e posicionamentos do leitor, dando-lhe autonomia para falar sobre determinado personagem, mas de modo prazeroso e lúdico.

Na formação do leitor é importante que haja espaço para falar de personagens provocantes e contraditórios. São estes que provocarão especulações e troca de opiniões. Há, nesse caso, um compartilhar de experiências, uma identificação emocional entre o leitor e o que lê.

Mesmo que haja incertezas sobre o que se vai discutir, cabe ao aluno oportunidade para tal. Não se pode afirmar que há certezas de todas as coisas existentes no mundo, mas adentrar nelas para buscar certezas do que já existem como afirma MORIN (Idem) “o conhecimento é a navegação em um oceano de incertezas, entre arquipélagos de certezas”.

Sabe-se aonde se quer chegar, mas não como chegar, assim é a leitura literária. O leitor passará por diversos caminhos até mesmo duvidosos para que alcance o saber de tal texto, aquilo que o autor quis transmitir com determinadas expressões e outros recursos poéticos, proporcionando ao leitor um conhecimento sobre o assunto explorado.

Nessa leitura do que pode ser a obra, o leitor estabelece uma relação, objetivando a necessidade de interpretá-la e buscando como resultado sua experiência. Como comenta SOUZA (2006), a discussão sobre determinada obra dá margem para que o aluno tenha experiência do outro à medida que conhece a conduta do outro.

Daí decorre o processo de interação entre os leitores e principalmente entre o leitor e a obra. Nessa concepção o leitor é introduzido às múltiplas possibilidades de comunicação. Há uma dialética entre posicionar-se ou calar-se diante dos fatos lidos e compreendidos na obra literária.

Leitura, enfim, não como hábito, mas gosto e paixão, o simples fato de desvendar as histórias e seus mistérios. É permitir que o leitor adentra-se historicamente no mundo imaginário aprendendo um saber acumulado, simplesmente pelo fato de ler e reler diferentes obras literárias.

Portanto, não se pode negar o direito do aluno ao exercício de leitura da literatura. Mas sim conduzi-lo ao direito de inscrever-se historic amente em sociedade. Essa atividade pedagógica possibilita ao leitor uma interpretação focada no presente ou na sua inter-relação com o passado ou o futuro.

Assim, o personagem-leitor expõe sua visão de mundo. Torna-se parte integrante de uma obra, vivenciando aquilo que tem lido e expondo seus sentimentos e insatisfações sobre determinados assuntos que leu.

Destarte a aplicabilidade dessa prática educativa, como questiona MORIN (2005) pautada na perspectiva de que a desordem precisa ser eliminada e buscar, por sua vez, a sequência didática fundamentada na formação do leitor.

Formar leitores é buscar o letramento literário, ou seja, trabalhar a prática leitora em sala, visando à integração aluno-livro buscando o relacionamento entre as ideias e questionamentos a serem discutidos, aceitando opiniões divergentes e respeitando singularidades.

Portanto, percebe-se que leitura literária desperta e conserva representação de mundos e seres estranhos na confrontação de experiências e situações inconciliáveis no interior dos acontecimentos. Isto significa que o letramento literário dar-se-á por meio de conhecimento da obra na íntegra e em compartilhar com o outro discutindo o que assimilou e vivenciou na leitura proposta.

Conclusão

A partir do desenvolvimento desse trabalho, pode-se observar que há um longo caminho a ser percorrido no que se trata de formação de leitor. Principalmente no que diz respeito à prática pedagógica de professores.

O ensino de leitura literário de ser repensado pelos professores e todos envolvidos na educação. Leitura, como vimos, não é ler simplesmente pelo ato de leitura, vai além, está ligado diretamente ao papel social, o estar no mundo, fazer parte deste como cidadão crítico.

Os aportes teóricos supracitados no texto nos permitiu perceber, de forma mais enfática, como é importante conceber a leitura literária como forma de interação, pois valoriza o aluno como um sujeito integrante do processo de leitura , além de propiciar situações de aprendizagem, nas quais o conhecimento seja construído. É importante ressaltar que, nessa concepção, o professor deve estabelecer um repertório de situações enunciativas para a interação em sala de aula, ou seja, recriar situações para que o aluno tenha acesso a diferentes conhecimentos sobre a obra literária estudada.

A leitura literária não deve ser uma obrigação, mas uma situação de aprendizagem. O professor, de acordo com o currículo Básico Escola Estadual (2009), deve fixar objetivos e estratégias de leitura, articulando várias partes para formação de um todo, isto como pressuposto metodológico. O aluno deve ser inserido em um contexto e precisa considerar isso para compreensão de livros. Portanto, ao contrário do se percebe na realidade, a concepção que privilegia a leitura literária e suas estratégias de ensino, não forma alienados, que não questionam o mundo ao seu redor, mas permite que o aluno torne-se um cidadão capaz de interagir com o mundo e se tornar um ser reflexivo com leitor formado.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Ludmilla Thomé de. Professores leitores e sua formação: transformações discursivas de conhecimentos e de saberes. Belo Horizonte: Ceale. Autêntica, 2007: p.64.                                                                              

BALDI, Elizabeth. Leitura nas séries iniciais: uma proposta para formação de leitores de literatura. Porto Alegre: Editora Projeto, 2009.

COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. 1 ed., 2 reimp. São Paulo: Contexto, 2007.

CURRÍCULO BÁSICO ESCOLA ESTADUAL. Secretaria da Educação. Ensino fundamental: anos iniciais. Vitória: SEDU, 2009.

MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento; trad. Eloá Jacobina, 14 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.

___________.Os sete saberes necessários à educação do futuro; trad. Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya; ver. téc. De Edgard de Assis Carvalho. 12 ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2007.

 __________. Ciência com consciência;trad. Maria D. Alexandre e Maria Alice Sampaio Dória, 9ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. 

PAIVA, A. et ali. Literatura e letramento: espaços, suportes e interfaces – O jogo do livro. Organizado. 1 ed., 2. reimp. Belo Horizonte: Autêntica/ CEALE/ FaE/ UFMG, 2007.

SILVA, Ezequiel Teodoro da.  Leitura na escola e na biblioteca. 2 ed. Campinas, SP: Papirus, 1986.

SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura; tradução Cláudia Schilling. 6 ed. Porto Alegre: Artmed, 1998.

SOUZA, Renata Junqueira de. Caminhos para a formação do leitor; organizadora. 1 ed. São Paulo: DCL, 2004.

SOUZA, Santinho Ferreira de. Percursos com a leitura; organizador. Vitória: Flor&cultura, 2006.

 


Publicado por: Sayonara de Andrade Dutra

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