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DIFERENTES ENCAMINHAMENTOS METODOLÓGICOS PARA O ENSINO DA GEOGRAFIA EM SUBSTITUIÇÃO AO USO EXCESSIVO DO LIVRO DIDÁTICO

Análise sobre a metodologia do ensino de geografia, em substituição ao uso excessivo do livro didático.

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RESUMO

O presente artigo de revisão bibliográfica, tem como tema a utilização de diferentes encaminhamentos metodológicos para o ensino da Geografia em substituição ao uso excessivo do livro didático. Nesta pesquisa foram consultados diversos autores para confirmar que aulas unicamente expositivas, desvinculadas da realidade e do cotidiano vivido pelos alunos, bem como, com uso excessivo do livro didático se tornam desinteressantes e ineficientes. Foram pesquisadas também, alternativas de encaminhamentos metodológicos, em substituição às aulas tradicionais, com abordagens e linguagens diferenciadas a fim de tornar as aulas de Geografia mais interessantes e de cumprir com o objetivo da disciplina, que trata da compreensão do espaço geográfico e a partir de então, de uma participação efetiva e positiva no mesmo por parte dos alunos, sendo que,  cada encaminhamento foi descrito com suas características básicas e aplicações sugeridas pelos autores pesquisados. Ao final desta pesquisa qualitativa e bibliográfica, concluiu-se que, as aulas expositivas e baseadas somente no livro didático não são atrativas para os alunos, vale ressaltar porém, a importância do mesmo como fonte de pesquisa e referências, em algumas regiões do Brasil a única. Ainda, se comprovou com este artigo que a utilização de encaminhamentos metodológicos dinâmicos, com linguagens e procedimentos diferenciados são uma alternativa ao uso excessivo do livro didático e as aulas tradicionais, e, que a Geografia com sua característica interdisciplinar facilita a utilização desses encaminhamentos, tornando as aulas interessantes e contextualizadas, otimizando assim, a apreensão dos conteúdos.

Palavras chave: Geografia. Aulas Expositivas. Livro Didático. Encaminhamentos Metodológicos.

INTRODUÇÃO

O pouco interesse e a falta de atenção demonstrada pelos alunos nas aulas de Geografia podem ser causados pelo uso excessivo do livro didático e pela utilização de encaminhamentos metodológicos convencionais? Tal problema motivou a produção deste artigo, pois, conforme Baliski (2016, p. 86), “podemos observar o emprego excessivo do livro didático em várias escolas do Brasil, sendo em alguns casos o único material utilizado, servindo como fonte de organização de currículo, planejamento, informações,(...)”, essa característica das escolas brasileiras pode estar desmotivando os alunos, não criando situações de aprendizagem significativa para os mesmos, pois, segundo Baliski (2016, p. 87), os livros didáticos muitas vezes trazem “exemplos que não se vinculam à realidade dos alunos, por isso a importância de o professor utilizar estratégias para contextualizar a discussão.”

O presente artigo pretende demonstrar que a utilização de uma metodologia convencional, onde o aluno apenas recebe a informação através de aulas expositivas, leituras e observações no livro didático, bem como, resolução de exercícios, pode desmotivar e acabar por não atingir os objetivos da Geografia, que segundo Mello (2016, p. 66), “tratam da compreensão do espaço, que é resultante das relações entre os seres humanos, destes com a natureza e da própria natureza, que age conforme suas leis”. Além disso, este artigo pretende demonstrar que  a característica interdisciplinar da Geografia proporciona diversos encaminhamentos metodológicos oferecendo alternativas ao professor, e por consequência ao aluno, no processo de compreensão do Espaço Geográfico.

Para a investigação das informações anteriormente citadas, foi implementada pesquisa bibliográfica em livros e artigos publicados que abordam o tema da educação e os diferentes caminhos metodológicos possíveis para a educação, em especial para a Geografia.

Dessa forma, o presente artigo possui seu desenvolvimento estruturado em duas partes, sendo que, na primeira ocorre a investigação sobre os diversos motivos que podem levar ao desinteresse e a desmotivação dos alunos durante o ensino da Geografia, entre eles a utilização exagerada do livro didático, já a segunda contempla o caráter interdisciplinar da Geografia, as diferentes possibilidades para o ensino da disciplina, suas peculiaridades e encaminhamentos, de forma a recuperar o interesse do aluno e atingir os objetivos de compreensão do espaço como um todo.

DESINTERESSE NAS AULAS: CAUSAS E SUGETÕES DE ENCAMINHAMENTOS

O desinteresse dos alunos na escola é tema de diversos estudos ao longo dos tempos, discussões sobre objetivos a serem traçados e métodos a serem utilizados para mudar esse quadro são uma constante, inclusive, nas reuniões realizadas para a formatação da nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Conforme Correio Brasiliense 2018, um  estudo realizado pelo Ministério da Educação (MEC), com mil estudantes de 15 a 19 anos do ensino médio de São Paulo e de Recife, demonstrou que os jovens não percebem utilidade no conteúdo das aulas, somente as disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática são consideradas realmente importantes por respectivamente, 78,8% e 77,6% dos alunos. Já Geografia, História, Biologia e Física são consideradas descartáveis para 36% dos entrevistados. Tal estudo esteve limitado ao ensino médio, porém essa é a realidade nas salas de aula do Brasil como um todo, segundo o estudo. A seguir o artigo trata das possíveis causas do desinteresse dos alunos e soluções voltadas para a disciplina de Geografia.

Possíveis causas para o desinteresse nas aulas de Geografia

É comum professores de Geografia reclamarem da falta de atenção e interesse dos alunos durante suas aulas, tal situação pode interferir diretamente no aproveitamento dos conteúdos e por consequência na compreensão e formação do espaço geográfico, pois, de acordo com Medeiros (2017, p. 120), ” O espaço geográfico é organizado pelo ser humano em sua vida social e cada sociedade, historicamente, produz seu espaço como lugar de sua própria reprodução”, ou seja, o espaço reproduz as características de uma sociedade, e esta, sem compreende-lo, facilmente toma decisões equivocadas.

Tal problema pode ter origem em alguns encaminhamentos metodológicos escolhidos pelos próprios professores, como aulas excessivamente expositivas,  desvinculação dos conteúdos com a realidade do aluno ou uso excessivo do livro didático.

Aulas expositivas

Os momentos expositivos das aulas de Geografia são importantes para  que o aluno seja colocado a par do conteúdo a ser abordado, porém esse recurso não deve ser utilizado em excesso, sob pena de tornar as aulas desinteressantes e desvinculadas da realidade vivida pelo aluno, conforme Martins (2012, p. 11), “A escola é uma instituição que veicula o saber sistematizado. A transmissão é apenas uma das formas e práticas de interação entre professores, alunos e conhecimento.” Baseado nessa afirmação, se pode concluir que a estratégia utilizada pelos professores de Geografia deve contemplar mais do que a simples exposição dogmática dos conteúdos. Seguindo essa linha de pensamento, Silva (2014, p 10) comenta a respeito:

A Geografia não  é, e nunca, será um termo de  conceitos ou ideias formadas, pois a mesma não se trata de um conteúdo fechado e nem de um assunto limitado que nos impede de refazê-la a todo o tempo. Deve-se enriquecer o conhecimento geográfico através da premissa de que a Geografia é rica por natureza e a vivemos  constantemente.

Ainda conforme Martins (2012, p. 36), na aula expositiva dogmática, ainda muito utilizada, “o professor desenvolve seu raciocínio lógico sem a interferência do aluno”, essa situação nos dias atuais, tende a desinteressar o aluno, pois, a sociedade tecnológica atual impõe a participação efetiva e simultânea dos alunos durante o ensino de qualquer disciplina, quanto mais nas aulas de Geografia, onde o foco está em entender e participar positivamente do espaço em sua volta. Ainda segundo Martins (2012, p. 37):

Nessa abordagem de ensino, a relação entre professor e aluno tem o professor como centro do processo. É ele quem detém o conhecimento e o transmite, observando a sequência lógica dos conteúdos. Já o aluno, considerado “tábula rasa”, receptor passivo, é levado a aproximar-se dos modelos universais, conduzido pelo mestre.

Tal situação como a descrita pela autora, não cabe mais em um mundo onde a informação e o conhecimento mudam diariamente e numa velocidade cada vez maior, modelos arcaicos não são bem aceitos e isso causa a falta de interesse no aluno, essa opinião  é corroborada por Vieira (2014, p 04):

É consensual no meio da Educação que métodos tradicionais de ensino apresentam baixa eficiência no que se refere a aprendizagem dos alunos. Tais procedimentos são baseados em aulas expositivas monológicas, com conteúdos expressos tais quais os livros didáticos, sendo a interação entre professor e alunos, e destes entre si, pouco explorada no processo de ensino-aprendizagem.

Com essa breve reflexão é possível  afirmar que, o uso excessivo das aulas expositivas se mostra um dos fatores causadores do desinteresse e do baixo nível de aprendizado dos alunos na disciplina de Geografia.

Desvinculação dos métodos e conteúdos da realidade dos alunos

Um dos fatores que pode acarretar em desinteresse por parte dos alunos durante uma aula de Geografia é o distanciamento do conteúdo abordado com a realidade vivida, pois, é no seu dia a dia que o aluno relaciona a importância dos conteúdos aprendidos em sala com a sua realidade, tal afirmação é corroborada por Silva e Lima (2016, p. 04), que afirmam:

Muitos professores têm dificuldade para relacionar o conteúdo que está ministrando à realidade, ao cotidiano de seus alunos. Dessa forma, o assunto perde importância para o aluno, uma vez que ele não consegue ver ligação entre tal conteúdo e o seu dia a dia. Isso faz com que muitas vezes a Geografia seja vista como uma disciplina de difícil aplicação ou mesmo sem quase nenhuma aplicabilidade, pois há uma grande distância entre muitos conteúdos e a realidade dos alunos.

Como se pode observar é essencial que o aluno perceba que a Geografia faz parte do seu cotidiano, para, entre outros, despertar o seu interesse, ainda, conforme Silva (2016, p. 11):

É correlacionando a construção do conhecimento e aplicando o mesmo, que existe a possibilidade  de desenvolver a sensibilidade no aluno,  para  que este construa  um  entendimento  do mundo e de si, compreendendo que é capaz de desenvolver ações transformadoras que possam ajudar a refletir acerca de sua realidade.

Nessas condições fica claro que o cotidiano, bem como, o espaço em torno do aluno devem ser trabalhados de forma relevante em sala de aula, para que este tenha a capacidade de criar um senso crítico da sua realidade.

Ainda sobre esse tema vale ressaltar a opinião de Santos (2002, p. 25-26), que afirma:

O espaço geográfico está presente no cotidiano de cada sujeito, nos sistemas de ações  e  de  objetos  indissociáveis,  onde  através  da  análise  espacial  a  compreensão  da paisagem,  dos  diferentes  territórios  e  regiões,  da  produção  dos  lugares,  de  uma interpretação  da  sociedade,  (...) os  educandos  desenvolvam reflexões investigativas sobre o lugar em que habitam.

Com base nesse autor se percebe a importância e o papel da Geografia, que inserida no cotidiano do aluno, pode acarretar não somente em um maior interesse durante as aulas, mas também, no entendimento do aluno como ser importante e decisivo no espaço que o cerca, tal linha de pensamento é corroborada por Baliski (2016, p. 10), que defende: “um dos principais objetivos do ensino da Geografia é desenvolver o raciocínio espacial para que este possa ser utilizado pelo aluno na sua vida em sociedade,” ou seja, essas reflexões reforçam a importância de um ensino de Geografia, que não seja uma simples memorização de informações sobre regiões ou continentes, e sim, uma disciplina presente, que provoque reflexões e ajude o aluno a tomar decisões no seu dia a dia, como ressalta Baliski (2016, p. 36), “é preciso partir do concreto e do vivido pelos alunos (...) para que estes possam ter os instrumentos necessários para reconhecer o mundo onde vivem e, por meio de seus posicionamentos construir e modificar sua sociedade e seu espaço.” Então, cabe ao professor utilizar metodologias que prendam a atenção, promovam a reflexão e a investigação, demonstrando assim o quão importantes e interessantes podem ser seus estudos.

Uso excessivo do livro didático

Um dos principais aspectos a serem abordados por este artigo é o uso excessivo dos livros didáticos como única ferramenta para se trabalhar os conteúdos da Geografia, erro esse que pode ocasionar o desinteresse dos alunos.

É reconhecida a importância desse recurso ao longo da história, principalmente no início da Geografia escolar, pois, conforme Baliski (2016, p. 86), os professores que trabalhavam com a disciplina não tinham a devida formação, ainda conforme a autora, nos dias atuais essa dependência deve ser revista. Vale ressaltar também, que o Brasil é um país continental, onde diversas realidades completamente distintas estão presentes e por essa característica, segundo Baliski (2016, p. 87), “em determinadas situações de infraestrutura escolar precária, esse material tenha uma maior importância, mas ele não deve ser o único meio de se trabalhar os conteúdos das disciplinas.” Ou seja, existem comprovadamente no Brasil, locais onde os livros didáticos são a única fonte de leitura e pesquisa ao alcance dos alunos, nesse sentido o mesmo se torna uma ferramenta de democratização do conhecimento, porém, até mesmo nesses locais o professor  deve proporcionar aos alunos diferentes encaminhamentos metodológicos que proporcionem novas experiências, tornem as aulas mais interessantes e promovam a aproximação dos conteúdos com a vivência diária dos alunos. A respeito dessa afirmação Baliski (2016, p. 87) afirma:

Além do uso mais contextualizado desse material, defendemos aqui a relevância da inserção de outros recursos no ensino de Geografia, de modo que os encaminhamentos metodológicos adotados pelo professsor em sala de aula permitam o contato dos alunos com outros tipos de linguagem, além da textual presente nos livros didáticos.

Ainda sobre esse tema, Pontuschka, Paganelli e Cacete (2009, apud SILVA; LIMA, 2016, p. 03), demonstram sua opinião:

(...) há professores utilizando o livro didático como sua única bibliografia, copiando o assunto no quadro com explicações rápidas do conteúdo e às vezes até mesmo sem explicações. Tais práticas inibem o interesse até mesmo dos melhores alunos.  Há  uma  enorme  variedade  de  recursos  didáticos  que  pode  ser  usada  para  dar  mais dinamicidade  às  aulas  e  assim  torná-las  mais  agradáveis,  tais  como  uso  do  laboratório  de informática, uso de representações gráficas, entre outros. O livro didático é sim um bom recurso, mas não pode ser o único.

Como se pode perceber, fica evidente a necessidade de diferentes encaminhamentos metodológicos para que a Geografia se torne uma disciplina interessante e cumpra seu papel, de ajudar os alunos a compreenderem o espaço geográfico e interagirem nele de maneira positiva.

Vale reforçar que o objetivo deste texto não é a abolição da ferramenta livro didático das salas de aula, o que se pede é o seu uso contextualizado e em conjunto com outros encaminhamentos metodológicos e outras formas de linguagem, a fim de tornar as aulas de Geografia mais interessantes e atrativas, conforme Silva (2016, p. 09), “o uso  excessivo  do  livro  didático  no desenvolvimento das aulas, (...) de certa maneira acaba potencializando o desinteresse dos  alunos”, é esse desinteresse que se quer evitar. A respeito dessa perspectiva Silva e Lima (2016, p. 03) afirmam que:

(...) os  professores,  geralmente,  utilizam  o  livro  didático  como  único  recurso didático em sala de aula, quando, na verdade, deveria ser mais um dos recursos que o docente dispõe para sua pratica pedagógica. Ademais, o professor, ao escolher um livro didático, não pode fazê-lo de forma aleatória, pois alguma reflexão necessita ser realizada se o mestre tem consciência de que o alvo é, no presente caso, o aprendizado geográfico.

Com essa afirmação, os autores também defendem que no processo de escolha do livro didático a ser trabalhado, os professores envolvidos façam uma criteriosa análise sobre as obras e selecionem aquelas que realmente abordem os temas de maneira contextualizada e relacionada com o cotidiano de seus alunos, de sua região e lugar, e que não deixem de contemplar temas relacionados as desigualdades sociais, desenvolvimento e subdesenvolvimento, apenas como exemplos, pois são situações presentes no dia a dia de toda sociedade e não podem deixar de ser abordados e refletidos, em nome da consciência geográfica tão necessária aos alunos e cidadãos.

Em suma, o livro didático é uma ferramenta útil no processo de ensino da Geografia, mas não pode ser a única, nem utilizada em excesso, sob pena de tornar as aulas desinteressantes e distantes da realidade vivenciada.

Alternativas de encaminhamentos metodológicos e linguagens para o ensino da Geografia

A Geografia se mostra uma disciplina escolar diferente das demais por ter  característica interdisciplinar, ou seja, apresenta temas de outras áreas do conhecimento, claro, com uma abordagem diferenciada, que conforme Baliski (2016, p.29) no caso da Geografia, “caracteriza-se pela compreensão da espacialidade dos fenômenos”, tais temas podem ser abordados em conjunto com outras disciplinas, em projetos por exemplo, ou de maneira isolada, porém, com a possibilidade de uma variedade de encaminhamentos metodológicos e linguagens para a compreensão do conteúdo. Em outras palavras, é o que relata Silva (2016, p. 18):

A  Geografia  é  uma  disciplina  que possibilita  o  desenvolvimento  de atividades dinâmicas e indissociáveis entre teoria e prática, também pode ser trabalhada de  forma  interdisciplinar, dessa  maneira tem  condições  de  propiciar experiências  diversificadas  e  desenvolver  um  diálogo  com outras disciplinas, (...)tais dinâmicas  possibilitam a construção  do conhecimento,  correlacionando vários recursos, materiais e abordagens.

A adoção de encaminhamentos e linguagens diferenciados no ensino da Geografia por parte do professor se mostra como uma alternativa viável para o desenvolvimento de diversas habilidades nos alunos, e com isso, a melhor compreensão do espaço geográfico, tais encaminhamentos porém, não são garantias de ótima aprendizagem, por este motivo deve-se ressaltar o importante papel do professor, sendo mediador nesse processo, como corrobora Silva (2014, p.10):

Diante  de  uma  sociedade  tecnológica  e  informacional na  qual  vivemos,  faz-se necessário  refletir  sobre  a  prática  docente  e  a  necessidade  de  estabelecer  situações  de ensino/aprendizagem  que  explorem  as  diferentes  linguagens  de  ensino  que  estão  disponíveis. Contudo, sabe-se que não é o fato de fazer uso de um bom recurso que vai garantir uma boa aprendizagem  do  aluno,  pois  o  recurso  não  vai  superar  o  papel  do  professor,  mas  sim auxiliá-lo.

Ainda, sobre as habilidades a serem desenvolvidas pelos alunos com os diferentes encaminhamentos metodológicos a serem adotados nas aulas, Baliski (2016, p. 35 e 36) descreve que o ensino da Geografia na educação básica contribui para a formação de três dimensões do desenvolvimento humano: intelectual (habilidades básicas de pensamento, como observação, comparação, interpretação, síntese e avaliação), atitudinal (posicionamentos valorativos, sensibilidade quanto a problemas coletivos, respeito às diversidades étnica, cultural, religiosa entre outros) e psicomotora (habilidades adquiridas através da construção de maquetes, croquis, perfis e leitura de mapas, cartas, plantas, fotografias aéreas, gráficos, entre outros). Esse desenvolvimento em conjunto com suas respectivas habilidades, segundo a mesma autora, deve ser considerado um objetivo a ser atingido no ensino da Geografia.           

Fica claro então, que os diferentes encaminhamentos, com suas respectivas linguagens e abordagens são  ferramentas importantes a serem utilizadas pelo professor em substituição as aulas meramente expositivas e ao uso excessivo do livro didático.

A seguir serão expostas algumas das ferramentas para o ensino da Geografia de uma forma mais dinâmica e atraente para o aluno.

Recursos audiovisuais

Neste campo é abordado o uso de filmes, vídeos e músicas no ensino da Geografia, essas se apresentam como ferramentas úteis e acessíveis a compreensão dos alunos, segundo Campos (2006, p. 01) os filmes se apresentam como:

(...) um meio de expressão artística, um importante instrumento de comunicação e, por isso, ignorá-lo como meio didático-pedagógico pode ser omitir, no processo educativo, uma discussão sobre valores cuja riqueza somente o cinema pode transmitir. É um recurso que pode ser usado para criar condições para um conhecimento maior da realidade e para uma reflexão mais profunda.

Confirmando tal afirmação Baliski (2016, p. 90 e 91), entende que o cinema é uma fonte de cultura e informação, podendo demonstrar aspectos da realidade e, ao mesmo tempo, se utilizado de maneira correta, evidenciar as diferentes ideologias divulgadas mundialmente pelas grandes produções comerciais da área. A mesma autora coloca ainda que, os filmes apresentam potencial para enriquecer o processo de ensino-aprendizagem em Geografia, pois inserem o lúdico e promovem impressões sobre a realidade, além disso, estabelecem noção de espaço, pois, qualquer história representa e está ambientada em algum lugar, mesmo que seja fictício.

Fica clara então a utilidade dos filmes e vídeos nas aulas de Geografia, porém, o professor deve tomar alguns cuidados para que este recurso seja aproveitado da melhor maneira, Barbosa (2013, apud BALISKI, 2016, p. 91-93) sugere o uso de três filtros para o emprego dessa ferramenta: o primeiro trata da autenticidade, ou seja, se as paisagens representadas refletem a realidade do local onde se passa a história, o segundo trata dos estereótipos, relacionados aos figurinos, ambientações e representação das sociedades envolvidas na história, ou seja, muitas vezes as características de uma determinada população são reduzidas em nome de uma ideologia e por fim, o terceiro que trata da subjetividade, ou seja, o modo como os enquadramentos de uma obra descrevem determinada situação, visto que, nenhum filme é neutro e isso ocorre por conta dos financiadores e das preferências de seu público alvo.

Além desses cuidados, vale ressaltar a importância do planejamento por parte do professor, conforme Baliski (2016, p. 94), os filmes e os vídeos em geral não devem ser utilizados aleatoriamente, e sim, inseridos no contexto do tema a ser trabalhado, deve estar definido o objetivo a ser alcançado com a atividade, bem como, tempo disponível para a exibição, meios de avaliação e faixa etária de classificação das obras.

Outro recurso disponível para o ensino da Geografia são as músicas, seu uso em sala de aula advém da relevância em se trabalhar com diferentes linguagens no ensino da disciplina, conforme Pontuschka, Paganelli e Cacete (2007, apud BALISKI, 2016, p. 97), relatam:

(...) as várias linguagens utilizadas, tanto no ambiente escolar quanto em outros lugares, ampliam os horizontes do conhecimento em jovens, professores (...), ao tratar especificamente da música, constatamos como essas afirmações são válidas, afinal, determinadas canções ensejam a reflexão sobre alguns aspectos da vida em sociedade.

Dentre os vários encaminhamentos possíveis para inserção da Geografia no cotidiano dos alunos, a música se apresenta com destaque, pois, está presente no dia a dia da maioria deles, conforme Silva (2014, p. 12) relata:

Vários  são  os  meios  de  aprimoramento  que  facilitam  a  aprendizagem,  de  maneira especial  a  música.  Com certeza este  meio  de  aprendizagem  aprimora  o  esforço  educativo resultando na participação e interesse por parte dos alunos. A música de certa forma traz aos alunos situações vivenciadas em seu cotidiano e é também para eles sinônimo de diversão e alegria. 

Ainda reforçando a importância da música como ferramenta didática no ensino da Geografia, Balliski (2016, p. 97), ressalta que a música se tornou um importante mediador no processo de apreensão dos conteúdos da disciplina, uma vez que, esse a mesma representa uma alternativa a escrita para a compreensão dos elementos que compõem o espaço geográfico, além disso, Mello (2016, p. 176), descreve que “é comum nas letras das músicas constarem a descrição de paisagens, lugares, territórios e regiões, que são conceitos ou categorias específicas da Geografia.” Fica claro por tanto, que a música permite aos alunos um olhar para a Geografia sob uma nova perspectiva, despertando o interesse nas aulas, pois, ainda segundo Baliski (2016, p. 97), se apresenta como recurso ideal para aproximar os alunos dos temas a serem estudados, seja pelo gosto musical, gerando debates, ou pela afinidade com determinada letra, melodia e intérprete.

Textos alternativos

Nesta parte do artigo é ressaltada a importância de textos alternativos aos encontrados nos livros didáticos, textos que reflitam a realidade do espaço geográfico acontecida a poucos instantes, como os presentes em jornais e revistas, ou textos que sejam reflexos de processos históricos, geográficos, políticos econômicos, sociais e culturais, como os presentes na literatura.

Conforme Baliski (2016, p.104), os jornais impressos, mesmo em meio a todas as mídias tecnológicas, oferecem a leitura geográfica em várias escalas, pois é possível ter em mãos exemplares de circulação nacional, regional ou local, tal diferença entre as escalas pode trazer as diferentes e conflitantes realidades do espaço geográfico em um mesmo assunto abordado, além de uma perspectiva diferenciada, de acordo com os interesses da publicação. Saber identificar quais são esses interesses e que nenhuma publicação é neutra ou imparcial, é de suma importância para a utilização desse recurso no ensino da Geografia.

Já o texto literário, conforme Baliski (2016, p. 110), “favorece o desenvolvimento da habilidade dos alunos de estabelecerem relações do ser humano com a paisagem, a localização espacial e o ambiente.” Além disso segundo Mello (2016, p.184), textos como os poemas podem atrair a atenção dos alunos, pois neles, existem descrições de paisagens e lugares, que são construídas nas mentes das pessoas, e expressam o desejo nas mesmas de conhecer ou interpretar tais locais.

Fica claro portanto, que a utilização desses encaminhamentos metodológicos traz diversas possibilidades para o ensino da Geografia de uma maneira alternativa a atraente.

Quadrinhos e imagens

Conforme Mello (2016, p. 192), “podemos dizer que uma imagem tem grande poder de emocionar, provocar e indignar uma pessoa”, tais características são fundamentais para atrair a atenção e abordar diversos temas na Geografia, segundo Baliski (2016, p.133), as imagens se mostram um importante instrumento para a leitura e compreensão do mundo, pois, revelam aspectos do espaço geográfico, da espacialidade dos fenômenos analisados e da época que representam.

 Já os quadrinhos (charges, tirinhas, cartuns, entre outros), tratam de uma imagem, ou um conjunto de imagens representadas com o intuito de passar uma mensagem, ainda segundo Mello (2016, p. 192), “as charges e os cartuns também trabalham com os conceitos fundamentais da Geografia - lugares, territórios, regiões e paisagens - e, portanto, capacitar nossos alunos a identificar essas informações é o melhor caminho quando se trata do ensino.” Fica clara então, a relação desse recurso com a Geografia, já, Baliski (2016, p. 131), destaca a capacidade desse material em atrair a atenção e provocar a análise e interpretação do mesmo, em função do apelo visual, que torna a leitura agradável e instigadora, de modo que os alunos consigam interpretar o espaço vivido em suas diferentes escalas, do local ao global.

Vale ressaltar, o mesmo cuidado que se deve ter com a utilização dos vídeos, deve estar presente na utilização desse material, pois, todos carregam ideologias, parcialidades e devem estar dentro do contexto do conteúdo abordado.

Estudo do meio e aulas de campo

O estudo do meio, para a Geografia, ocorre quando alguns professores montam um projeto interdisciplinar para conhecer um determinado espaço, conforme Baliski (2016, p. 145), é necessário um estudo interdisciplinar pois, a complexidade total de um espaço dificilmente seria desvendada por uma disciplina isolada, sendo assim, ocorre a colaboração entre diversas áreas do conhecimento. Essa metodologia implica na escolha de um local pelos professores envolvidos e com base nessa escolha, cada disciplina contribui com uma parte do conhecimento, de maneira que este vá se desenvolvendo em um todo, e, próximo da realidade vivida, para isso, as aulas de campo são fundamentais.

De acordo com Baliski (2016, p 145 e 146), o estudo do meio é uma importante ferramenta para o ensino da Geografia, pois, essas aulas saem da tradicional sala de aula e atuam no local do objeto de estudo, seja um local mais próximo onde se pode realizar mais de uma visita, ou um local mais distante onde a visita ou aula de campo é a complementação do projeto. Segundo a mesma autora, a aula de campo, amplia as possibilidades de relação com os conhecimentos científicos, fornecendo experiências concretas para os alunos.

Vale ressaltar que tal encaminhamento metodológico necessita de preparação prévia, com estipulação dos objetivos, programação da atividade e preparação dos alunos, afinal segundo Baliski (2016, p. 147), “como o professor poderá avaliar se os alunos fizeram observações na aula de campo, por exemplo, se isso não era um objetivo definido preliminarmente para a atividade e os alunos não foram orientados para tal?” Baseado nessas informações fica claro que se trata de um encaminhamento mais complexo, porém, se for bem planejado trará resultados excelentes para o ensino da Geografia e para resgatar o interesse do aluno.

Produção de materiais didáticos alternativos

Na busca de informações sobre como resgatar o interesse dos alunos pelas aulas de Geografia, bem como, nos possíveis encaminhamentos metodológicos e nas diferentes linguagens a serem adotadas para que o espaço geográfico seja entendido e os alunos se tornem sujeitos que atuem positivamente nele, se reafirmou a necessidade da aproximação entre teoria e prática e nesse ponto entra a elaboração de  materiais didáticos alternativos pelos próprios alunos, segundo Baliski (2016, p. 164), se trata de “uma prática representativa para o processo de aprendizagem, pois permite a construção do conhecimento pela prática, estabelecendo uma relação entre conteúdo trabalhado e vivência no ambiente escolar.”

Entre os vários materiais didáticos que podem ser elaborados em conjunto pelos alunos estão  maquetes, globos, relógios de sol, pluviômetros e muitos outros, todos podem tornar o ensino mais concreto e interessante, na medida em que um livro didático só traria o texto ou uma imagem sobre um determinado assunto, tais atividades propiciam a montagem de algo concreto e uma discussão mais profunda e interessante sobre os temas, para que o material saia do papel.

Conforme Baliski (2016, p. 167) a construção de maquetes por exemplo, empolga os alunos  e permite uma compreensão mais concreta do espaço geográfico. Nelas podem ser representadas desde a sala de aula, formas de relevo, mapas hipsométricos e uma infinidade de itens. Com essa atividade prática os alunos podem desenvolver uma melhor compreensão das teorias que seriam abordadas em sala sobre altitudes, leituras de mapas (alfabetização cartográfica), curvas de nível e escalas só para citar alguns exemplos.

Para exemplificar outros exemplos de materiais  possíveis de se construir com os alunos, Baliski (2016, p. 173) cita a criação de perfis do solo, onde os elementos relacionados a Pedologia ficam mais claros, como horizontes do solo e características físicas, como cor e textura, tudo fica mais claro para o aluno que pode construir esses perfis em garrafas plásticas translúcidas por exemplo, proporcionando assim uma aula mais dinâmica e palpável.

Ainda como exemplo de material a ser produzido em projetos de Climatologia, Baliski (2016, p. 177) cita os pluviômetros, que podem ser elaborados pelos alunos e depois utilizados em um projeto de pesquisa, onde no final do projeto é possível a confecção de um mapa pluviométrico da região onde a escola está localizada. Este tipo de projeto envolveria saídas de campo e poderia ser desenvolvido em conjunto com disciplinas como Matemática por exemplo, o que ajudaria na elaboração dos dados estatísticos.

Ao final dessa parte do artigo fica clara a variedade enorme de possibilidades de elaboração de materiais, que podem ser utilizados inclusive, em conjunto com outras disciplinas, evidenciando também o caráter interdisciplinar da Geografia que, em diversos momentos consegue desenvolver, de forma interessante, projetos paralelos com Matemática, Ciências, História, entre outras. Tal desenvolvimento de atividades diferenciadas propicia a complementação do saber por parte dos alunos que, verão o mesmo assunto sob abordagens diferenciadas e terão aulas mais dinâmicas e interessantes.

Metodologia

A metodologia empregada na realização deste artigo utilizou como base a pesquisa bibliográfica, que segundo Gerhardt e Silveira (2009, p. 37) compreende a busca de informações em referências teóricas já analisadas e publicadas nos meios escritos e eletrônicos, como artigos, livros e sites devidamente reconhecidos como confiáveis. Já a pesquisa qualitativa, conforme Gerhardt e Silveira (2009, p. 32), “busca explicar o porquê das coisas, expressando as ações a serem tomadas, porém não quantifica os valores, nem os remete a prova.”

Os critérios de seleção dos livros e artigos utilizados como fonte de pesquisa foram, por ordem, referentes aos temas relacionados à Geografia, aos encaminhamentos metodológicos para o ensino da Geografia e à metodologia científica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final deste artigo, fica evidenciado que os questionamentos aqui levantados durante a problematização encontraram respostas nos mais diversos autores consultados durante esta pesquisa bibliográfica, existe inclusive, um  certo consenso entre esses autores de que, aulas de Geografia expositivas e tradicionais sob o ponto de vista pedagógico, com o uso excessivo do livro didático, tornam o ato de aprender cansativo e difícil para os alunos. Além desse fator, fica evidenciada a necessidade de aproximar os conteúdos da realidade e do cotidiano dos alunos, para que os mesmos consigam visualizar a presença da Geografia no seu dia a dia e reconheçam a sua importância.

De acordo com as informações aqui apuradas fica claro o caráter interdisciplinar da Geografia, que trabalha conteúdos de outras disciplinas com abordagem diferenciada, tal característica permite a realização de projetos  interdisciplinares e propicia uma série de encaminhamentos metodológicos diferenciados, que, como ficou registrado, podem atrair a atenção dos alunos, tornando as aulas mais interessantes e atingindo assim o objetivo da disciplina, que trata da compreensão do espaço geográfico em todas as suas escalas e a partir daí interagir positivamente no mesmo.

Durante essa leitura é possível visualizar também, alguns exemplos desses encaminhamentos metodológicos, com suas características básicas, aplicações e linguagens diferenciadas das tradicionais a fim de desenvolver as mais diversas habilidades nos alunos.

Finalmente é possível concluir que, realmente, o livro didático tem a sua importância comprovada, na medida em que o Brasil é um país de dimensões continentais apresentando diversas realidades, o mesmo acaba por democratizar o conhecimento em localidades onde, inclusive, é a única fonte de pesquisa, porém, fica comprovado que seu uso excessivo, associado à aulas meramente expositivas são fatores que causam o desinteresse e distanciam os conteúdos da realidade dos alunos, cabendo aos professores de Geografia buscar implementar os encaminhamentos diferenciados, para tornar suas aulas mais atrativas e assim demonstrar a real importância da Geografia.

REFERÊNCIAS

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Publicado por: Luiz Antonio Beuting

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