Década de 90: reforma educativa e a descentralização
Síntese do artigo intitulado: Organismos Internacionais: arautos da descentralização educativa na década de 90, do autor Silvio Cesar Nunes Militão.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
Este texto refere-se a uma síntese feita do artigo intitulado: Organismos Internacionais: arautos da descentralização educativa na década de 90, do autor Silvio Cesar Nunes Militão, que faz uma análise dos documentos sobre reforma educativa produzidos por importantes organismos internacionais e suas principais convergências, tendo com foco principal de suas recomendações à descentralização dos Sistemas de Ensino dos países da América Latina.
O artigo está estruturado da seguinte forma: abstract, introdução, subtítulo: A Descentralização Educativa no Discurso dos Organismos Internacionais e considerações finais. O autor inicia descrevendo predominância dos organismos internacionais no delineamento de políticas educacionais nos países em desenvolvimento, ou seja, o que ocorre nos dias de hoje nos países da América Latina. E no centro das reformas educativas para todos os países em desenvolvimento, uma recomendação é ponto comum, a descentralização, que segundo o ator é uma constante nos documentos elaborados por organismos internacionais como o Banco Mundial - BM, o Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe - CEPAL e a Organização para a Educação, a Ciência e a Cultura das Nações Unidas - UNESCO.
Um dos primeiros documentos analisados pelo autor é o Educación y Conocimiento: eje de la transformación productiva com equidad, publicado em 1992 pela CEPAL e UNESCO. De acordo com o autor o documento aponta como uma necessidade, a ampla reforma dos sistemas educativos. Tendo como objetivo a criação de condições para que houvesse uma transformação acelerada nas estruturas econômicas. Aumentando assim, a competitividade, reforçando a organização institucional e os valores democráticos nos países da América Latina e Caribe. Para alcançar este objetivo usa-se como estratégia a “articulação em torno de objetivos (cidadania e competitividade), critérios inspiradores de políticas (equidade e eficiência) e diretrizes de reforma institucional (integração nacional e descentralização)” (MILITÃO, 2006, p.1).
A CEPAL recomenda a reorganização da gestão educacional, em que visa a descentralização para propiciar uma maior autonomia às escolas e outros centros educacionais e de forma implícita demonstrar que esta é a única forma pela qual a educação poderá contribuir para o fortalecimento e harmonia de uma sociedades cada vez mais segmentada, pois assim as instituições educacionais estariam mais próximas da comunidade e poderiam desta forma atender melhor aquela região.
Segundo o autor no ponto de vista da CEPAL, a centralização do regime educacional traz limitações, e somente a iniciativa com autonomia sem a opressão da burocracia de um organismo central, estariam em melhores condições de atender as exigências do mercado. Ao mesmo tempo, deixa por conta do governo central o papel de definir os conteúdos mínimos da educação obrigatória, avaliar os resultados obtidos pelas unidades descentralizadas e estabelecer as normas gerais para o sistema educacional.
O segundo documento analisado pelo autor é o de política setorial Prioridades y estratégias para la educación, lançado em 1995 pelo Banco Mundial, que como o documento anterior, enfatiza a necessidade dos países em desenvolvimento promoverem uma urgente reforma educativa visando adequar-se ao mercado.
Para o Banco Mundial os principais problemas que afetam os sistemas educativos dos países em desenvolvimento são: a) acesso; b) equidade; c) qualidade; e d) redução da distância entre a reforma educativa e a reforma das estruturas econômicas. Para superar tais desafios, recomenda que os países em desenvolvimento promovam mudanças nos sistemas de financiamento e gestão da educação, além de acelerarem a reforma educativa.
Ainda de acordo com o BM à medida que as instituições escolares tornam-se mais autônomas e próximas da comunidade, dará abertura à participação dos pais nas atividades escolares, o que resultaria em pais mais satisfeitos com a escola. Contudo, esta participação não seria apenas nas atividades, mas também financeira para a sustentação da infraestrutura escolar. Desta forma a participação da família e da comunidade no que diz respeito à educação estará cada vez mais, relacionada aos aspectos econômicos. O documento do BM segundo o autor recomenda as mesma atribuições ao governo central que o documento anterior da CEPAL e UNESCO, onde a função que o Estado deve desempenhar é o de regulamentar o conjunto do sistema, exercendo uma função redistributiva, normativa e avaliadora, ou seja, as políticas educacionais são centralizadas.
O terceiro documento analisado pelo autor é o “Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI”, publicado em 1996. Este documento segundo o autor também é favorável a uma ampla descentralização dos sistemas educacionais, apóia a autonomia das escolas e a participação efetiva da comunidade. Apesar do apelo social desse documento, existe uma finalidade maior que é exposta, haja vista que assim como nos outros documentos até aqui analisados pelo autor, este também enfatiza como objetivo principal o atendimento às exigências do mercado, justificando que este exerce grande influência nas políticas educacionais em função de seu grande poder de financiamento.
Ainda de acordo com o autor o documento enfatiza que medidas descentralizadoras podem ser adotadas por todo o país independente do modelo político adotado, mas adverte que medidas descentralizadoras podem reforçar a desigualdade social. Outra semelhança em relação aos outros documentos é a do papel do Estado que é o de centralizar a regulamentação, a redistribuição, a normatização e a avaliação.
Em 1996 o Banco Mundial publica um documento específico sobre descentralização educativa com o título de Decentralization of Education: Politics and Consensus, elaborado por Edward B. Fiske. Neste quarto documento segundo o autor, são reafirmados os efeitos positivos na melhoria educacional, na eficiência administrativa e financeira, ao permitir que as decisões sejam locais, possibilitando assim uma cobrança maior, forçando professores e administradores a realizarem um melhor trabalho, sem grande burocracia e utilizando-se de recursos locais, os profissionais da educação ficariam mais estimulados a serem mais produtivos.
No entanto, o autor do documento (Fiske) alerta para o fato de que a descentralização não é uma solução mágica e que dela pode decorrer também efeitos indesejáveis, como já referidos em documentos anteriores, isto é, com a descentralização surge uma maior desigualdade social.
O quinto documento analisado é La educación como catalizador Del progreso: La contribuición del Banco Interamericano de Desarrollo, lançado em 1998 pelo BID. Este, assim como os documentos anteriores faz a relação entre educação e desenvolvimento econômico, destacando a necessidade e a urgência de se promover uma ampla reforma educativa na América Latina e Caribe para favorecer o potencial de desenvolvimento da região. Os desafios encontrados no que diz respeito à educação segundo o documento analisado pelo autor são: instituições, informação, docentes, tecnologia e financiamento. Assim como os organismos internacionais citados anteriormente o BID, faz críticas a centralização e descreve benefícios da descentralização que possibilita uma maior autonomia escolar e poder de decisão, satisfazendo os interessados finais que seriam em tese os estudantes e seus pais.
Em 1999 o Banco Mundial lança o documento, Más Allá Del centro: La descentralización del estado, elaboradopor Burki,Perry e Dillinger, dedicado à questão da descentralização do Estado na América Latina. Este documento descreve que nas últimas décadas a descentralização do governo tornou-se algo comum em inúmeras regiões e o setor educativo não foi exceção. Nos anos noventa o número de países que passaram a implementar reformas descentralizadoras na educação cresceu rapidamente.“Destacam, ainda, a existência de uma tendência mundial para outorgar maior autonomia no poder de decisão para as escolas, com o interesse de melhorar o desempenho e a responsabilidade destes estabelecimentos” (BANCO MUNDIAL, 1999 apud MILITÃO, 2006, p 6).”
Segundo o autor a descentralização educativa assume muitas formas, no documento afirma-se que o nível de descentralização das decisões educacionais varia desde o governo regional e local até a comunidade e a escola. Algumas funções educativas encontram-se descentralizadas, inclusive nos sistemas centralizados, e outras se encontram centralizadas, inclusive nos sistemas descentralizados. No que diz respeito as metas, também variam entre os países, haja vista que enquanto algumas reformas têm como foco apenas a estrutura, outras visam a melhoria da aprendizagem centram-se no conteúdo da reforma educativa.
Nas considerações finais o autor assevera que apesar dos documentos mencionados serem tecidos de maneira diferente eles convergem em vários aspectos, ou seja, denominando a descentralização educacional como sinônimo de maior eficiência, autonomia e qualidade do ensino, além de propiciar maior acompanhamento e participação da comunidade na gestão escolar, bem como permitir a cobrança de responsabilidade por seus resultados.
No entanto, segundo o autor a descentralização educacional tem a finalidade de diminuir a responsabilidade do Estado com gastos nessa área, deixando a cargo da comunidade este quinhão. Ainda podemos descrever que existe uma ideologia nesta disseminação pela descentralização dos sistemas educacionais, quando na verdade o que há é a coexistência da centralização e da descentralização.
Neste sentido Estado descentraliza apenas as responsabilidades diretas com a execução, deixando de ser o principal executor das políticas educacionais; centralizando em suas mãos a fiscalização, avaliação e normatização, passando a constituir-se numa instância apenas controladora e/ou avaliadora.
Referência:
MILITÃO, S. C. N. Organismos Internacionais: arautos da descentralização educativa na década de 90. interATIVIDADE, v. 1, p. 1-7, 2006.
Publicado por: Franciele Paula Maceno
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