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Currículo, cotidiano e multiculturalismo

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Introdução

O presente artigo tratara a respeito do currículo escolar em sua totalidade  e os sujeitos sociais que participam, criam, interagem e influenciam nesse  currículo. O currículo é muito mais do que um documento dizendo a respeito da forma em que os professores devem atuar, suas metas e perspectivas, ele é tudo que influencia sobre a educação dos alunos, desde o ambiente até a lógica social onde esta inserido. Sendo assim, o objetivo do trabalho é mostrar que tudo que esta dentro do ambiente escolar faz parte da lógica curricular e modifica a forma em que os alunos encararão a escola e se disponibilizarão para estudar.

De fato, é importante compreender que todas as instancias que constituem a escola fazem parte do currículo, isto é, o público, a instituição material, os funcionários, os objetos que circundam ela, e todas a casualidades especificidades sociais e culturais da escola. Por isso, serão trabalhadas as diferenças no contexto da escola em escala global, regional e local. Também será analisado as escalas mais minuciosas como a diferenças entre turmas, turnos e alunos. O objetivo desse artigo é compreende o currículo escolar em uma perspectiva ampla e observas as diferenças cotidianas.

Além disso, o currículo não é neutro, e na seleção de seus conteúdos, práticas de ensino e métodos evolvem interesses econômicos e sociais, em uma constante luta de interesses e utopias. A direfença entre os currículos vai muito além dos métodos escolares, ela esta ligada ao cotidiano da escola e das relações sociais que são produzidas nesse ambiente e fora dele. Com isso, o currículo apresenta conflitos, contradições e resistências. Ele expressa uma cultura emergente, isso é o sofre influência da localidade, da classe econômica dos alunos e de todos os funcionários que trabalham na escola, e entre muitos outros itens que serão citados ao longo desse artigo.

Palavra-chave: Currículo, diferenças, sujeitos, escola,cotidiano.

O currículo escolar expressa tudo que acontece no cotidiano escolar. Todas as relações que chegam a escola são vividas pelos alunos e transmitidas no colégio faz parte do currículo. Na medida em que o cotidiano da escola é estabelecido devido a essa troca de informações, hábitos e costumes dos alunos. As pessoas fazem a escola, os sujeitos moldam a escola, assim como também são moldados por ela, é uma via de mão dupla. Essas relações estão dentro do contexto escolar, a uma serie de relações sociais onde os indivíduos transferem suas vivencias e conhecimentos a medida que recebem.

A escola é reflexo das pessoas que a constituem, e a cultura predominante da região. Sendo assim, a uma imensa diversidade de padrões culturais de escola para escola, nas classes, alunos e professores que são perceptíveis no cotidiano.

Assim, ao contrário da formação aprendida e desenvolvida na maioria das pesquisas do campo educacional, inclusive em muitas sobre o cotidiano escolar, que, de maneira muito freqüente, têm assumido uma forma de pensar que vem negando o cotidiano como espaço/tempo de saber e criação, vou reafirmá-lo como sendo de prazer, inteligência, imaginação, memória e solidariedade, precisando ser entendido, também e, sobretudo, como espoco/tempo de grande diversidade. Entre outras coisas, confirmando o que disse acima, porque assim vivo.   (Nilda Alves)

As relações espaciais e temporais que acontecem no cotidiano escolar mudam toda a lógica do local. Em uma única sala de aula existem alunos considerados bons e ruins pela lógica excludente escolar. Por que existem essas diferenças de comportamento se a aula, o professor e o ambiente são os mesmos? Observando apenas pela lógica cartesiana-newtonia, em uma perspectiva distante essas diferenças nunca seriam entendidas, mas examinando o cotidiano elas podem ser perfeitamente compreendidas.

Na comparação de alunos em uma turma de mesma escola pode-se dizer que a diferenças. A diferença esta no modo de encarar a escola, nas vivências e experiências vividas por cada individuo, na concepção que concluíram sobre a importância do estudo, nos ensinamentos familiares, nas vivenciais sociais, na condição de vida do aluno, na área que vive, na alimentação que possui, na distancia que tem da escola entre muitos outros fatores. A uma serie de fatos que influenciam na educação dos alunos desde a comida que é servida na cantina até o padrão de conduta e ensino que a escola adota e aplica.

Dentro de cada escola existem milhares de particularidades, a salas com mais luz, menos luz, mais arejadas, mais apertadas, salas com mais ventilação e mais quente ou frias. Como os alunos e o próprio profissional da educação que fica na pior sala se sente em relação a seu trabalho? Essas diferenças de relações entre o meio em que trabalham interferem no ensino? O estado psicológico dos alunos e professores que sabem que estão na pior sala muda em relação aos alunos da melhor sala do recinto? A resposta é sim.

Na escola Municipal Presidente Médici localizada no bairro Bangu RJ, os melhores alunos são colocados propositalmente na turma 1, essa turma possui os alunos mais jovens, que estão na idade referente ao seu ciclo. A turma 1 recebe aulas no período da manhã. Volta e meia aparecem mães de alunos da tarde pedindo para o diretor colocar seus filhos no período da manhã. Porque acontece essa diferença? Um emaranhado de circunstancias faz com que esse fato aconteça e isso é justificado pelo cotidiano da escola.

Bangu é um bairro quente e por isso a tarde faz muito calor, causando um estado de desconforto aos alunos e professores. No período da tarde os motoristas costumam deixar os alunos das redes publicas horas e horas no sol, sem parar para eles. A escola passa os alunos mais velhos para a tarde, a maioria já parou de estudar, trabalha, repetentes, à muitas meninas grávidas e é comum o uso de drogas no banheiro e brigas são  freqüentes. Estranhamente a menos guardas municipais na escola no período da tarde e eles também já estão mais estressados nessa parte do dia. Esse conjunto de fatores só são possíveis de serem analisados quando se olha de perto para a escola, quando se analisa o cotidiano de cada um e se observa como as relações sociais são estabelecidas.

Com todos esses fatos e particularidades é possível começas a entender o cotidiano escolar e suas lógicas únicas.  É preciso mergulhar na realidade escolar cotidiana para assim poder analisa e compreender os porquês, as diferenças na qualidade do ensino, o porquê que muitos abandonam a escola, e não possuem sucesso na vida escolar. É preciso viver o que os alunos, profissionais da educação e funcionários vivem para compreender o porquê que os alunos da manhã no colégio Médici possuem notas melhores do que os alunos da tarde. É preciso sentir o calor de Bangu, assistir as brigas, sentir o desprezo dos motoristas e guardas para compreende as diferenças de resultados quantitativos e qualitativos.

Viver com(conviver)essas questões, esses cheiros, esses gostos, esses sons, essa luminosidade ou obscuridade, com os sentidos que aí são vividos, não é fácil. Mas é possível realmente compreende o que aí se passa sem isto? Se continuo somente “olhando do alto”, como os quem têm poder, vou compreendê-lo muito limitadamente, é preciso reconhecer. (Nilda Alves)     

É preciso, portanto compreender as problemáticas do local, não só da escola, mas todas as dificuldades que os alunos enfrentam até chegar a ela, no transporte, na distancia e todos os desafios que ela representa. É necessário enxergar a lógica cotidiana em suas casas, em suas vidas. As circunstancias mudam de aluno para aluno, e turma para turma. Além dos problemas que os profissionais enfrentam para expor seus conteúdos didáticos perante as particularidades do prédio da escola, do modelo de carteira e do comportamento dos alunos. Para compreender esses sujeitos sociais é vital penetrar no dia-a-dia deles, além dos muros distantes e uma visão superficial.

O grande Mergulho.

A visão do alto sobre essas questões, a visão superficial que muita das vezes é feita em conselhos e plenárias não são capazes de analisar o todo escolar, nem mesmo de uma única sala. Por isso, para se chegar a boas soluções sobre as questões educacionais e melhorar o desempenho dos alunos, tornando a educação mais acessível e de qualidade, é preciso analisar o cotidiano. É fundamental enxergar as relações sociais, os sujeitos e fatos ocultos que fazem a escola ser como ela é e obter os resultados que ela tem. A compreensão parte da atenção a tudo que se passa se acredita se cria se inova no cotidiano desses sujeitos.

Para se analisar antropologicamente a dinâmica escolar é preciso atenta-se as particularidades das relações sociais do seres que a compõem. A lógica do currículo oculto, de interesse político sobre os alunos, o que o poder público quer realmente que saia de determinada escola, que tipo de alunos está sendo “feitos”. As estruturas as formas, a administração escolar, as atividades academias, os lideres políticos da região e sua intencionalidade sobre a escola, a realidade social ao redor, a cultura de quem a freqüenta, e a lógica socioeconômica que os sujeitos sociais estão inseridos.

É por isso que, ao contrario de tantos que se dedicam a perceber, a partir de uma questão e de um certo olhar, como se organizam ou se criam representações e comportamentos sobre os objetos do cotidiano, o estudo de espaço/tempo cotidianos que faço parte de questões muito amplas e de um total envolvimento com os sujeitos do cotidiano, pois só assim conseguirei entender o que o “usuário” destes espaços/tempos “fabrica” com os objetos de consumo a que tem acesso e que redes vai tecendo no seu viver cotidiano, que inclui pessoas e objetos.(Nilda Alves)

Compreende os alunos e sua realidade é necessária até para conduzir o conteúdo da aula. Garantir o interesse do aluno garante uma maior aprendizagem, por isso, é preciso romper com as visões inflexíveis e atrasadas sobre conhecimento. O aprendizado é uma troca, é criação e produção, ao contrario da visão do século xvII em que o aluno( ser sem luz) ia para escola para receber informações ,hoje essa lógica já é questionada. No processo de trocas de informações é preciso que o aluno e o professor estabeleçam conexões, críticas e analises. A cultura do aluno não pode ser desprezada, pois ela é conhecimento e faz parte do cotidiano do mesmo.

Multiculturalismo

A escola precisa apresentar um território multicultural, isto é, deve a possibilitar que toda a diversidade dos costumes dos sujeitos sociais coexistam. A sociedade é constituída de identidades plurais, como gênero , classe social, habilidades, padrões culturais e lingüísticos, e entre outros. O conceito de multiculturalismo trabalhado nas escolas, deve ir muito além de uma visão fixa sobre cultura. Muitos colégios tem uma visão fragmentada de cultura e entendem como preservação da cultura a valorização da cultura folclórica ou algo exótico. Porém, multiculturalismo vai muito além dessa visão da valorização de antigas culturas, também esta inserida do presente.

Multiculturalismo é questionar a própria construção das diferenças e itens valorizados da cultura, é ultrapassar as barreiras dos estereótipos e do preconceito, é compreende os intitulados como “diferentes” nessa sociedade excludente e desigual. Dessa forma, o professor deve inserir uma critica a cultura nos conteúdos escolares, trabalhando textos que abordem o assunto, e possibilitando uma visão histórica mais ampla, além de inserir o cotidiano cultural dos alunos na aula. Os países vencedores ao longo da historia sempre tiveram o privilégio de contá-la e tornar sua cultura predominante, tentando sempre tornar as demais marginais.

O professor deve rompe com essas barreiras criadas pelo etnocentrismo, que geram preconceito de descriminação. Rompendo com isso, o professor deve valorizar a cultura do aluno, para superar o fracasso escolar. Os alunos devem ser capazes ao longo de sua formação de discutirem suas próprias culturas de origem, compreendendo o contexto discriminador, etnocêntrico e preconceituoso que existe no mundo cultural. Sendo assim, o multiculturalismo é a idéia que não existe cultura superior a outra, a uma igualdade racial, lingüística e social.

O principal dever do multiculturalismo é romper com o preconceito e a visão hierarquizada de cultura. Desconstruir construções sociais já normatizadas, que são racistas e trabalhar o contexto escolar a partir da realidade em que o aluno esta inserido. É importante não separar o ambiente que o aluno vive e sua cultura   e sim transpor a realidade deles para a sala de aula. Com isso, o currículo escolar não é apenas uma área técnica onde se tem procedimentos e métodos, mas sim uma concepção mais abrangente e multicultural.

Curriculo

O currículo escolar tem um significado muito amplo, ele abrange todas as experiências escolares cotidianas. A palavra currículo remete muita das vezes a uma espécie de emenda, onde se teria métodos de aprendizagem e todo o conteúdo programático para o estudo, porém ele é bem mais amplo que isso. Segundo Antonio Fabio Barbosa existem dois currículos, o formal e o em ação.  

.  Com isso, o currículo apresenta conflitos, contradições e resistências, e segundo Antonio Fabio Barbosa;

” Essa nova visão de currículo inclui: planos e propostas (o currículo formal), o que de fato acontece nas escolas e nas salas de aula (o currículo em ação), bem como as regras e as normas não explicitas que governam as relações que estabelecem nas salas de aula ( o currículo oculto). Aponta, assim, para o fato de que no currículo desenvolvem-se representações, codificadas de forma complexa nos documentos, a partir de interesses, disputas e alianças, e decodificadas nas escolas, também de modo complexo, pelos indivíduos nelas presentes. Sugere, ainda, a visão do currículo como um campo de lutas e conflitos em torno de símbolos e significados”.        (Antonio Fabio Barbosa)

A proposta curricular seria os planos e propostas para o aprendizado, uma parte mais burocrática da ação, onde os conteúdos são descritos com metas e planos de ação para o aprendizado. Porém, esses planos devem seguir a realidade cultural da escola que esta atuando, com as realidades e particularidades próprias da mesma, abrangendo o contexto multicultural. E para isso a escola precisa ter liberdade na elaboração de seu currículo de forma autônoma, sem depender de órgãos centrais e intermediários para definir as políticas de educação que fazem da escola uma mera executora do processo.

O educador deve ter autonomia, já que autonomia e liberdade fazem parte da própria natureza do ato pedagógico, e respeitando e interagindo com a cultura predominante dos educandos. Nada deve ser jogado fora daquilo que é cultural de um povo, por isso, fazer dos hábitos culturais dos alunos objetos de estudo e utilizar esses mesmos hábitos para aplicar o conteúdo e conduzir o aprendizado.

“A formação do pensamento ocidental dominante, que exige “ver para crer”, levou a grande dificuldade em se aceitar o múltiplo: Os múltiplos sentidos, os múltiplos caminhos, os múltiplos aspectos, as múltiplas regras, as múltiplas fontes.”(Nilda Alves)

Assim, não se deve excluir o conhecimento cotidiano produzido nas relações sociais e culturais desse contexto, o aluno não vem para escola vazio, ele traz consigo uma serie de vivencias e aprendizados que não deve ser desprezado. A escola deve dar espaço para o aluno expor seu conhecimento e usar meios alternativos para apreender o conhecimento programático da escola, a pedagogia deve ser livre e libertário e não excludente. Os diversos caminhos para se chegar ao conhecimento e muitos conhecimentos que não são reconhecidos pela escola, mas que fazem parte do cotidiano dos alunos, talvez essa seja a razão de haver certo desinteresse para alguns.

Assim também existe o currículo oculto, o currículo não é neutro, e na seleção de seus conteúdos, práticas de ensino e métodos são envolvidos interesses econômicos e sociais, em uma constante luta de poder e utopias. Essa seria a parte mais massacrante do currículo, que seria o sucateamento de escolas para a classe media baixa e na elevação de qualidade das escolas para a elite. Existe toda uma lógica nada inocente por traz do currículo, na verba dada ao ensino publico, nas construções escolares, e da super lotação dos colégios. Seria um modo de separar o filho do trabalhador com o filho do burguês. Assim o filho do burguês estaria destinado a grandes cargos separados exclusivamente para os mesmo, enquanto o pobre estuda para ser funcionário e trabalhador.

Com isso, o currículo não é neutro e este implicado em relações de poder. O currículo tem historia, produz identidades transmite visões. O objetivo central do currículo é, garantir a aprendizagem do aluno em uma perspectiva multicultural e valorizando o conhecimento que o alunos traz a escola, em sua realidade e vivências. O currículo deve desconstruir estereótipos e visões preconceituosas que são normatizadas pela sociedade, deve permitir a analise crítica da história e da cultura. Ele também deve compreender os cotidianos dos sujeitos sociais que o compõem, trabalhando dessa forma para a superação do fracasso escolar.

Bibliografia:

Alves, Nilda. Decifrando o pergaminho- o cotidiano das escolas nas lógicas das redes cotidianas. Uerj, RJ.

Canen, Ana. Multiculturalismo e currículo em ação: um estudo de caso. Revista Brasileira de educação.2002.

Flavio, Antonio. Sociologia e teoria crítica do currículo: uma introdução.

Mendes, Lucieneide Pires.Ensino de Geografia: cotidiano, praticas e saberes. Goias. 2012.

Veiga, llma Passos Alencastro. Projeto Politico pedagogico da escola, uma construção coletiva. 14 edição, Papirus,2002.


Publicado por: JESSICA BILITARIO DE MEDEIROS

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