Crianças: responsabilidade de todos na pandemia
Dúvidas, incertezas e o que sabemos até agora sobre a Covid-19 e sua relação com as crianças.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
Ainda sabemos pouco sobre a Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus, que parou o mundo em uma pandemia. Ainda há muitas incertezas sobre a doença e a transmissibilidade do novo coronavirus e como será a sua cura, mas desde o começo ficou claro que crianças não eram seu alvo favorito. Seus efeitos nos pequenos, porém, vêm se mostrando muito nocivos e vão além da saúde e da quarentena que tiraram cerca de 850 milhões de crianças da escola em 2020, no mundo. Tudo indica que o problema pode se agravar em lares vulneráveis à violência: a tensão do momento, das relações familiares e a distância de adultos protetores pode comprometer ainda mais crianças.
O distanciamento da escola também agravou diversos pontos, além do indicado acima. Segundo estudo do Núcleo Ciência Pela Primeira Infância (NCPI) de Harvard, o estresse causado pelas incertezas e confinamento têm impacto no desenvolvimento infantil. Um estudo feito com mais de 300 crianças apontou que o período causou problemas como dependência exagerada dos pais, falta de atenção e sintomas de falta de sono e apetite. O estresse continuado nesse período pode comprometer o desenvolvimento do cérebro e trazer problemas como mudanças bruscas de comportamento, queda na imunidade, ansiedade e depressão.
Antes da pandemia já tínhamos quase 30% das crianças brasileiras - cerca de 5,4 milhões - vivendo em domicílio pobres, ou seja, com renda mensal abaixo de R$250. Além de cumprir o papel pedagógico, muitos desses lares têm nas escolas uma fonte importante de alimentação e seu fechamento não garante a segurança alimentar dessa parcela. No município de São Paulo, o problema foi contornado com a entrega de cartões-alimentação aos 273 mil alunos já cadastrados no Bolsa Família. Os que frequentam creches receberão R$ 101 mensais. Para os matriculados na educação nas escolas municipais de educação infantil, o valor é de R$ 63 por mês.
A súbita decisão de fechamento das escolas não foi seguida imediatamente de discussões por parte do poder público ou mesmo pelas associações de como seria o “novo mundo” do ensino no Brasil, principalmente quando se fala de educação infantil. Após quase cem dias dias de isolamento e com início da retomada das atividades econômicas na cidade, na última terça-feira (25/6) o governador de São Paulo, João Dória, trouxe a público a possibilidade de retorno das aulas presenciais a partir de 8 de setembro, desde que cumpridos os critérios técnicos de saúde do Plano São Paulo. Juntamente com o anúncio veio também o protocolo setorial do governo do estado para o sistema de ensino, com orientações sanitárias para o retorno.
Entretanto é preciso ter um olhar cuidadoso para a primeira infância. Creches e escolas de educação infantil têm diversas particularidades no atendimento aos alunos que precisam ser considerados e contemplados nos protocolos. Nesse segmento, a escola tem um papel muito além do ensinar: é um espaço de socialização e de aprendizagens pra o auto cuidado que tem grande impacto no desenvolvimento da criança. O momento, no entanto, não é de apontar dedos e sim de colaboração. O mandato da vereadora da cidade de São Paulo Janaina Lima, ciente da responsabilidade, convidou diversos especialistas de diferentes áreas para discutir e apresentar diretrizes que poderão auxiliar creches, profissionais da área do ensino, e mesmo as famílias. São 3 eixos que irão trazer, em uma linguagem clara e acessível, sugestões de medidas a serem tomadas pelos estabelecimentos escolares antes da abertura, com foco nas necessidades da primeira infância, e com medidas de cuidados que devem permanecer como rotina, mesmo após a pandemia. Esses cuidados passam pela atenção psicossocial e acolhimento, segurança alimentar e nutricional e atenção à saúde da criança, pautados em aspetcos sanitários sem deixar de considerar as necessidades integrais para o desenvolvimento infantil.
Sabemos que o isolamento social e a pandemia irão passar, mas os seus impactos na Primeira Infância podem ser permanentes. Enquanto muitos falam que a pandemia nos tornou iguais, gostaríamos de afirmar que isso não é verdade: alguns enfrentam a tempestade em um iate, outros numa boia. O mundo já concluiu que se não investirmos nessa fase crucial do desenvolvimento humano, dos zero aos seis anos, teremos um desenvolvimento medíocre, sem inovação e mantendo os nossos péssimos índices de produtividade. A única oportunidade que a pandemia nos dá é de sermos todos responsáveis por nossas crianças e conduzir a pauta do desenvolvimento e prosperidade do nosso país.
Autoras:
Janaína Lima nasceu no Capão Redondo e é vereadora de São Paulo (Novo). Advogada, especialista em direito público, com extensão em Liderança Executiva em Primeira Infância em Harvard (EUA) e no Internacional Program for Public Leaders pela Johns Hopkins (EUA). Membro do Global Shapers, rede do Fórum Econômico Mundial, líder Raps desde 2015 e membro da Rede Juntos, da Comunitas.
Vivian Zollar é nutricionista e mestre pela UNIFESP em segurança dos alimentos e alimentação escolar.
Referência bibliográfica:
Banco Mundial https://openknowledge.worldbank.org/bitstream/handle/10986/30326/211296PT.pdf?sequence=9&isAllowed=y
Undime – União Nacional dos Dirigentes Muncipais de Educação – Subsídios para a elaboração de protocolos de retorno às aulas na perspectiva das redes municipais de educação
Todos pela Educação – Nota Técnica: O retorno às aulas presenciais no contexto da Covid-19
Publicado por: Maria Clara
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