Considerações históricas sobre as Teorias Pedagógicas Conservadoras e Progressistas
Origem da teoria pedagógica, renascimento para o iluminismo, pedagogia realista, características gerais e tendências das teorias progressistas.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
O pensamento pedagógico de autores como João Amós Comênio, John Locke e Francis Bacon, proeminentes no século XVII, seguiram o caminho do experimentalismo. Essas formulações deram origem a uma teoria pedagógica própria na passagem do renascimento para o iluminismo que ficou conhecida como pedagogia realista.
Segundo escreve Franco Cambi (1999), tal pedagogia realista, a partir do pensamento Lockeano, enfatiza a importância do papel do professor no desenvolvimento intelectual do aluno. Porém, essa relação professor-aluno era baseada na submissão dos discentes aos adultos, visando fazê-los “espírito dócil e obediente” em um processo de memorização diante de um professor que “dá a lição” e depois “toma a lição”. A proposta de Locke, aponta ainda que a educação deveria apenas ser administrada à elite, pois apenas estes homens poderiam se ocupar do exercício da cidadania. Alinhado com esse pensamento, Francis Bacon valorizava o pensamento indutivo e apresentava a ideia de compreensão e controle das forças da natureza para o uso humano. No geral, portanto, reconhecemos uma educação moral, física e intelectual, identificada por Locke como formação do gentleman, o que unida a ideia de “saber é poder”, de Bacon, caracteriza a pouca mobilidade social dentro do conservadorismo (LUZURIAGA, 1963).
Seguindo esse pensamento, as tendências educacionais conservadoras mais atuais, como por exemplo a tradicional e a tecnicista, defendem que a educação deve ser prestada com fins de formar os indivíduos para papéis fixos dentro de uma ordem social industrial racionalizada. Em outras palavras, educação intelectual para a elite e educação puramente técnica para as classes mais baixas.
Outro pensador do século XVII, o monge João Amós Comênio, conhecido como pai da didática, defendia a ideia da escola como “oficina da humanidade” em seu livro “Didática Magna”. Comênio, tanto quanto também o fez Rousseau (2000) no século XVIII, defendia uma escola voltada para a ação, isto é, dentro da ideia de que “só se aprende fazendo”. Não por acaso, o psicólogo suíço Jean Piaget, identificado atualmente com o pensamento da Escola Nova, desenvolveu a ideia de instalação de laboratórios, de oficinas, de hortas e de imprensa nas unidades escolares, tornando o ensino mais eficiente no que tange a ideia de “aprender fazendo”.
Ainda sob esse contexto escolanovista, a linha de pensamento Liberal Renovada Não-Diretiva, cujo principal nome é o psicólogo Carl Roger (1985), aponta para uma maior preocupação com formação de atitudes com foco no estímulo da busca dos alunos pelo conhecimento por seus próprios meios, o que ficou conhecido como “Liberdade para aprender”. Por outro lado, a linha Liberal Renovada Progressivista, tendo como nome de destaque Maria Montessori, aponta que a escola deve agir no sentido de adaptar as necessidades individuais às necessidades do meio social, oferecendo a ele experiências em um processo de construção e reconstrução dos objetos de análise, em uma interação de estruturas cognitivas do indivíduo com as estruturas do ambiente onde vive. Trata-se do “aprender a aprender” descrito em “Mentes absorventes” (MONTESSORI, 1985). No Brasil, contudo, o escolanovismo se fortaleceu no início do século XX com a Revolução de 1930 e a chegada de Getúlio Vargas ao poder. A influência da obra de John Dewey sobre os educadores Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo e Lourenço Filho, principais nomes do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932 (XAVIER, 2012).
Contudo, dentre as pedagogias conservadoras, a mais discutida nos dias atuais é a tecnicista. Esse modelo de ensino, que no Brasil se desenvolveu durante a ditadura civil-militar, teve como primeiros marcos as Leis 5.540/68 e 5.692/71. Depois do processo de distensão política e maior democratização nos anos 1980, o modelo voltou com força a partir dos anos 1990. Entre críticas e adaptações, desde os anos 2010, graças a reforma do Ensino Médio realizada pelo governo Temer (Lei n.º 13.415/17) –e também graças ao perfil do atual governo – essa tendência pedagógica deverá ganhar terreno de maneira institucionalizada (CUNHA, 2017). Nessa tendência, tomando por base as características dos autores que já citamos, compete aos sistemas escolares organizar o processo de aquisição de habilidades, atitudes e conhecimentos específicos úteis e necessários para o indivíduo se integrar à engrenagem social.
O professor José Carlos Libâneo, ao escrever o artigo “O dualismo perverso da escola pública brasileira” (2012), aponta que esse modelo conservador fortalece a tendência em fazer com que o aluno se torne um indivíduo receptor de uma espécie de “kit de sobrevivência” para ingressar no mercado de trabalho. O professor, por sua vez, seria transformado em um mero técnico responsável por transmitir saberes acabados que lhe foram enviados por uma instância superior. Dessa maneira, o tecnicismo realiza uma divisão entre o que seria uma educação intelectual para as classes mais abastadas e um saber puramente técnico para as classes mais pobres. Considerando que as famílias mais abastadas deverão procurar um ensino diferenciado nas escolas privadas, essa separação, termina por gerar uma dualidade na formação dos alunos, fomentando a alienação do jovem quando chega ao mundo do trabalho. Este será um dos pontos chave de críticas realizadas pelos teóricos das Tendências Pedagógicas Progressistas que constroem suas teorias sobre a ideia de mobilidade social e desenvolvimento individual.
Como proposta de abandono desses modelos conservadores de educação dual e alienadora, a teoria marxista afirma que a escola pública deveria preparar o homem para a emancipação e libertação (práxis libertadora) por meio de uma educação intelectual, ligada a instrução tecnológica (bem como a de educação física), ou seja, uma educação unitária, completa, capaz de fazer o indivíduo compreender todo funcionamento do sistema (MARX, 1978). Dito isso, é importante ressaltar que educadores ligados a teorias progressistas apontam que o papel da educação é o de fazer os indivíduos perceberem que são construtores da própria história e da história de sua sociedade. Trata-se de estimular, como característica geral das tendências progressistas o inconformismo e a inquietação, de incentivar o desenvolvimento da capacidade questionadora e a disposição crítica, segundo escreve o educador José Carlos Libâneo (1985).
Seguindo esse pensamento, a tendência Libertadora, cujo maior expoente nacional é Paulo Freire (1996), afirma que os temas geradores de discussões a serem desenvolvidos pelos alunos em sala de aula devem ser retirados de suas vidas cotidianas. Problemas econômicos, políticos, além de questões sociais devem ser debatidos e estimulados pelo professor em um relacionamento horizontal. Quanto a isso, é possível afirmar que as tendências pedagógicas libertadora e libertária combatem a ideia de autoritarismo no que tange ao sistema e a atuação do professor em sala de aula.
Já a tendência Libertária ainda vai mais fundo nessa questão de discussões em grupos, esperando que, a partir da atuação de conselhos, assembleias, associações e sindicatos, aconteça uma transformação na escola e na sociedade. Segundo Sílvio Gallo (1996), uma das palavras chave dessa tendência é justamente a “autogestão” do indivíduo, pois desde jovem o aluno é estimulado a procurar grupos de discussão com fins de crescimento e autonomia. A pedagogia Libertária abrange ainda variadas interpretações, como a anarquista, a psicanalista, a dos sociólogos e professores progressitas, tendo como principais nomes Alexander Neill, Miguel Arroyo e Célestine Freinet.
Em tempo, vale ressaltar que entre os anos 1970 e 1980, o filósofo brasileiro Dermeval Saviani desenvolveu um novo conceito, que ficou conhecido como Crítico-Social os Conteúdos (2011). Nesse modelo, além das características gerais das teorias progressistas, o professor se torna um mediador dos saberes a serem ministrados dentro de sala de aula. A escolha dos conteúdos continua sendo relacionada à realidade social dos jovens, bem como os ideais de transformação social. Porém, conforme aponta o nome da tendência, tais conteúdos devem formar o jovem para mundo adulto e para os problemas que ele irá enfrentar, não apenas focando no encaixe no mundo do trabalho, como seria em uma tendência conservadora, mas também a sua participação ativa em uma sociedade democrática.
BOURDIEU, P. & PASSERON, J. A reprodução. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1982
BOURDIEU, Pierre et al. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1975.
CANIVEZ, Patrice. Educar o cidadão? Campinas: Papirus, 1991.
FREINET, Célestine. As técnicas Freinet da escola moderna. Trad. Silva Letra. 4ª ed. Lisboa: Estampa, 1975.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Paz e Terra. Pp.57-76. 1996.
GADOTTI, Moacir. História das idéias pedagógicas. São Paulo: Ática, 1993.
GALLO, Sílvio (1996). Pedagogia libertária: princípios políticos-filosóficos. In: PEY, Marua Oly. Educação libertária: textos de um seminário. Rio de janeiro/ Florianópolis.
GIROUX, H. Teoria crítica e resistência em educação. Petrópolis: Vozes, 1986
JAEGER, Werner. Paideia: a formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 2013.
LARROYO, Francisco (1974). História Geral da Pedagogia (Tomo II). 2ª. ed. [Tradução: Luiz Aparecido Caruso]. São Paulo: Mestre Juo. 487p.
LARROYO, Francisco. História Geral da Pedagogia. ed.. São Paulo: Editora Mestre Juo. São Paulo, 1974.
LIBÂNEO, José C.; Democratização da Escola Pública a Pedagogia Crítico Social
dos Conteúdos. São Paulo, Loiola, 15ª edição, 1985.
LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da escola pública: a pedagogia crítica-social dos conteúdos. 8. ed. São Paulo: Loyola, 1989.
LUZURIAGA, L. (1963). História da Educação e da Pedagogia. 2ª. ed. rev. São Paulo: Editora Nacional. 291p.
LUZURIAGA, Lorenzo (1963). História da Educação e da Pedagogia. 2ª. ed. rev. [Tradução de Luiz Damasco Penna e J. B. Damasco Penna]. São Paulo: Editora Nacional. 291p.
ROGER, Carl. Liberdade para aprender. Belo Horizonte: Interlivros, 1973,
ROGERS, Carl (1985). Liberdade para aprender.
SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia. 31 ed. Campinas: Autores Associados, 1997.
Publicado por: FÁBIO SOUZA LIMA
O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.