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BUSCANDO INTERPRETAR AS DIFERENTES LINGUAGENS, QUE PERMEIAM O AMBIENTE ESCOLAR E PODE CORROBORAR OU MINIMIZAR O PROCESSO DE ENSINO-PRENDIZAGEM E A INTEGRAÇÃO ENTRE OS FALANTES

Análise sobre a diversidade de linguagens, a integração, especificidades e singularidades dos alunos.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

RESUMO

O presente estudo busca fazer um breve relato acerca das diferentes linguagens que são utilizadas pelos falantes no ambiente escolar e que na maioria das vezes, promove ruídos, nos quais geram a incompreensão acerca do que o falante pretende colocar em exposição durante sua comunicação oral, mencionando que, não se pode desconsiderar que todos os seres humanos se comunicam de várias formas (jeito de andar, falar, expressão facial, etc.), mas a linguagem, no geral, quando não bem interpretada pelo ouvinte, que não tem uma formação complementar/continuada para discenir acerca da pretensão da fala do outro, acaba por não entender e deixar de considerar pontos importantes para o aprendizado. Ressaltando que, as falas iniciais produzidas na sociedade, são disseminadas em acordo com a aprendizagem da primeira base (família) e dos grupos pertencentes (comunidades), gerando pelo não conhecimento daquele que ouve, quando em lugares diferenciados, um preconceito linguistico, logo, possibilidades para não atender o aluno em sua singularidade, especificidade e demanda social. A escolha do tema justifica-se pela observação realizada em escolas públicas (experiências), onde demonstra que existe a necessidade dos profissionais da educação buscarem formação e; acima de tudo, tentar minimizar as discordâncias no espaço escolar, que algumas vezes, fazem com que a violência se torne presente por não aceitar o outro com suas variações linguisticas, que é na realidade a identidade do falante – o “eu”. A metodologia é uma revisão bibliográfica, com abordagem qualitativa e métodos descritivos, utilizou-se para a fundamentação teórica, alguns dos autores: FREIRE (1987); LABOV (2008); MORAN (2014); ESCOLA SESI (2015), dentre outros citados no decorrer dos textos, sem a intenção de esgotar o assunto, porém, criar no leitor a vontade em continuar averiguando sobre o tema.

Palavras-chave: Diferentes linguagens, Ambiente escolar, Aluno, Variação linguística.

INTRODUÇÃO

A escolha pelo assunto em voga tem como objeto de estudo, averiguar acerca das diferentes linguagens no ambiente escolar e; que muitas das vezes, pela ausência de conhecimentos de alguns profissionais da educação, acerca da diversidade da língua, acaba de uma forma não pensada, promovendo a exclusão de quem vem de comunidades que usam um “jeito” de falar com dialetos ou apresenta a própria identidade de fala construída na primeira base (família) e comunidades pertencentes.

E, esse “não saber!” dos profissionais, pode causar, também, a inadequação do aluno ao espaço de aprendizagem, levando a se sentir sem condições de acompanhar os que “falam para ele” de uma maneira regrada, isto é, dentro do convencional da língua portuguesa.

Para Coelho et al., (2012), o termo “variação linguística” tem como objetivo mostrar como a língua funciona e que se torna preciso um estudo cada vez mais detalhado acerca das diferentes linguagens apresentadas pelos falantes, para que a inclusão seja feita de uma forma espontânea em qualquer ambiente. E, ao se tratar da escola, onde se tem inúmeros alunos que são oriundos de comunidades diferentes, torna-se preciso que os educadores se atentem a essa questão para promover a inclusão, a qualidade no ensino e o respeito as diversidades.

As diferenças nas linguagens produzidas pelos seres humanos, de forma geral, levam ao desconhecido e esse se não for trabalhado por quem tem o mínimo ou um saber mais aprofundado (formação continuada), acaba causando rupturas na inserção de quem é chamado de “diferente”, que nem sempre é o aluno com síndromes (algum tipo de deficiência), mas o que traz uma bagagem de conhecimentos de sua primeira base e por aspectos relacionados a ausência de formação continuada de determinados educadores, deixa de levar o aluno a ser investigado de forma natural no seu dia a dia e impede as contribuições que podem ser expandidas com as experiências vivenciadas e realidades vividas (COELHO et al., 2012)

Mencionando que, um dos fatores que promove a não inclusão do aluno com sua linguagem “diferente” é na maioria das vezes, aquele que está com anos de profissão e mantém o conservadorismo. E, por não sentir a necessidade de buscar a formação continuada, acaba desconstruindo o aluno em seu processo de ensino-aprendizagem e inibindo o acesso aos novos grupos em que está inserido, desconsiderando a identidade e necessidade de integração do outro, junto aos novos pares.

Ao se tratar dos objetivos, o geral, tem como perspectiva identificar as diversidades de linguagens que compõem o ambiente escolar público e que interferem diretamente, no modo como o aluno aprende e se integra nos ambientes de convivência.

Em se tratando dos objetivos específicos: apresentar a diversidade de linguagens, como um tema que necessita ser debatido na escola para inserir o aluno no contexto de aprendizagem, mencionando, a integração; mostrar que, os diferentes perfis de alunos inseridos no espaço escolar, algumas vezes, tem rupturas no processo de ensino-aprendizagem por não se sentirem aceitos, devido a cultura que retrata outra linguagem, isto é, fora da habitual em que o alunado está presente; relatar que com a ajuda do professor, as variáveis presentes no contexto escolar entre os falantes, podem favorecer para um aprendizado com uma comunicação que atenda as realidades, especificidades e singularidades dos alunos, sem causar qualquer ruptura no aprendizado, em relação à norma culta.

Ao relatar a problemática: quais metodologias podem ser utilizadas pelos gestores/docentes e demais profissionais do ensino, para construir um ambiente de comunicação aceitável, frente a diversidade de linguagem, com um ensino que favoreça a expansão do aprendizado dentro das propostas da qualidade e equidade do sistema e, disseminar/elaborar projetos, para debater e ensinar sobre as diferentes culturas presentes no contexto escolar?

A escolha pelo tema justifica-se a partir de experiências vivenciadas em duas escolas públicas, sendo a primeira com atendimento ao alunado do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental, com turmas do 4º e 5º ano. E, a segunda atende do Pré-II até a Educação de Jovens e Adultos (EJA), sendo as experiências obtidas com turmas do Pré-II, 1º, 2º, 3º e 5º ano do Ensino Fundamental.

A percepção obtida em ambas as instituições evidenciam que a questão da fala com os alunos; constuiu-se, também, em um problema de interpretação dos conteúdos ministrados nas aulas por eles, isso porque, o aluno que sai da Educação Infantil está treinado para o entendimento com palavras no diminutivo (livrinho, papelzinho, borrachinha, etc.) e, o docente não se atenta muito nas mudanças de linguagens que ocorrem durante o desenvolvimento da criança com seus primeiros membros de convivênia e, logo, passa para a norma culta, obrigatória pela legislação e currículo, sem procurar observar as comunidades de fala em que o aprendiz pertence.

As mudanças de linguagens, isto é, a forma como o docente ensina no início a criança no pré-escolar, não permite a percepção da individualidade do aluno em sua linguagem, pois o diminutivo é comum de ser repassado e não exige um olhar detalhado para a linguagem do aluno, o que torna mais fácil de levar a criança ao aprendizado que é dado na escola, o sistematizado.

Porém, quando se passa para idade/séries posteriores e com a chegada de  alunos de outras comunidades no ambiente institucional, a linguagem culta que é uma regra, evidencia as diferenças existentes no modo de fala que precisa ser trabalhado desde o início, para evitar o preconceito linguistico e, também, para  adequar a linguagem da criança/aluno e a própria postura do professor na proporção do desenvolvimento escolar, que obviamente será reproduzido fora dos muros da escola.

É relevante mencionar que o aluno quando está em fase de alfabetização e deve fazer a mudança de linguagem para a formal sem muitos “inhos”, para que ocorra uma comunicação dentro das regras cultas e sociais vigentes-curricular, o professor tem de ficar atento a multiplicidade de alunos que estão no ambiente escolar e propriamente em sala de aula, que na maioria das vezes, é formada por sala multiseriada, promovendo ainda mais, o preconceito linguistico e; as vezes, o desestímulo do aluno em aprender por achar-se diferente.

Mediante esse pequena percepção, as discriminações na linguagem ocorrem frequentemente, pois além de cada ser humano ter a sua própria realidade cultural e de fala, quando a criança está na escola, ela continua a reproduzir a linguagem usada em sua comunidade, a qual reflete sua identidade e; hoje, devido as muitas questões de cunho social, tem-se a presença de alunos que tiveram de deixar a escola particular (problemas financeiros dos pais, principalmente, causada no período de Pandemia – Covid-19, dentre outros), mudança de localidade, etc., fazendo com que continue com uma “fala” mais formal dentro do novo ambiente, exigindo daquele que ensina, um olhar mais atento as diversidades de linguagens, para promover a inclusão.

Portanto, a busca pela interpretação acerca do tema é dada para uma melhor atuação no ambiente escolar, onde procura-se interpretar o aluno em sua linguagem e a cultura que traz consigo e, que pode muito cedo, contribuir para ampliar os saberes da comunidade escolar.

A metodologia aplicada para a elaboração do artigo científico é uma revisão em diferentes literaturas que retratam a Educação dentro de um contexto de variáveis linguisticas presentes nas escolas públicas e, que a partir das observações diárias no contexto institucional, torna-se perceptivel que é um fator no qual requer atenção e didáticas metodológicas para promover a integração do aluno e o aprendizado dentro e fora de sua comunidade de origem.

A abordagem é qualitativa e os métodos descritivos, cuja observação é dada com experiências em duas escolas públicas no Ensino Fundamental do Pré-II e 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental, tendo como base para a Fundamentação Teórica, alguns dos autores que descrevem os direitos à cidadania, Educação e a minimização da exclusão social em relação as variações linguisticas, são eles:

Tarallo (1997, p.7), no qual demonstra em seus estudos que “a língua falada é, a um só tempo, heterogênea e diversificada”. “No meio social as variantes coexistem em seu campo natural de batalha. “[...] podem ser chamados de sociolinguisticos todos aqueles que entendem por língua um veículo de comunicação de informação e de expressão entre os indivíduos da espécie humana [...]”.

Soares (2000, p.5), [...] na qual destaca que “é a Sociologia da Linguagem que, interpretando as condições sociais da comunicação, explora as relações de força linguistica que atuam na sociedade [...]”

Labov (1972/2008, p.40), que relata “a expressão não pode ser aplicada a um grupo de falantes que utilizam todos as mesmas formas e, sim, a um grupo que segue as normas relativas da língua”.

Os autores Campilongo; Gonzaga e Freire, com a Teoria Geral e Filosofia do Direito (2017), demonstram que “apesar do espírito positivista do século XIX” ter transformado as questões que permeiam as diferenças de raças-etnias entre os seres humanos, não se pode “ignorar” as diversidades, pois a biologia apresenta estudos científicos, nos quais esclarecem as dúvidas permeadas entre os indivíduos.

Também, relatam que nos dias de hoje, em pleno século XXI ainda se faz muito presente as discriminações que geram violências, exclui e minimizam as capacidades e habilidades das pessoas por sua linguagem, raça, etnia, cultura, hábitos e crenças (etc.), indo contra aos acessos com equidade em países que pregam a democracia aos direitos de igualdade, principalmente, no Brasil com a Constituição Federal do Brasil de 1988, onde explicita que,

“Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição (etc.).

Em continuidade, Viana e Mendonça (2021) apontam: O problema das Fake News e a crise da democracia liberal na era da pós-verdade”, retratam as distorções causadas por informações que “provocam ideologias” conturbadas, desmitificando as verdades acerca de variados assuntos, sendo os econômicos, políticos e sociais os que são constantemente retratados e afetam os vulneráveis e; na maioria das vezes, contribui para a retenção da expressão daqueles que pesquisam sobre temas do momento e aguçam a violência entre os vulneráveis, que por conservadorismo de alguns e “detentores abusivos dos direitos”, fazem com que a cidadania, o bem-estar-social frente à igualdade, se distancie da Educação como direito de todos.

Em contribuição, tem-se Pavão et al., (2019) no qual evidencia que a escola pública somente apresentará resultados significativos, quando houver o acesso as novas tecnologias e metodologias ativas, de modo a levar ao alunado à informações acerca dos direitos, tendo como meta evitar a reclusão dos que temem ser participativos na sociedade, por questões de cor, hábitos, linguagens, etnia, crenças, dentre outros, logo, a busca por influenciar para que haja o respeito em qualquer comunidade e nas diversidades, mas principalmente, na escola. 

Isso porque, o aluno precisa ser respeitado e ter o auxílio/recursos para adequar-se ao ambiente de ensino, pois o novo cenário altamente digital e que propõe distanciamento entre os falantes, é um fator que aguça ainda mais o preconceito linguistico e a aceitação do outro com suas singularidades.

Relatando que, a escola como lugar de disseminação dos saberes, tem a obrigação junto às políticas públicas (órgãos municipais, estaduais e federais), de procurar construir projetos para propor acesso sem qualquer tipo de exclusão, preconceito ou discriminação (FREIRE, 1987).

DESENVOLVIMENTO

A pequena descrição acerca do tema escolhido, pretende despertar a atenção dos profissionais da educação, pelo fato de ser um assunto que é pouco discutido no ambiente escolar e depende da busca pela formação continuada docente, assim como dos demais educadores/mediadores, para entender que a variação de linguagens entre os falantes é um elemento que pode contribuir para a disseminação de culturas e favorecer a um aprendizado mais dialógico, não somente entre professor/aluno, mas os falantes que fazem parte do espaço instituicional, seja por questões de mudança de região, país, comunidades, ou pela própria conviência com a primeira base educacional (a família) (SOARES, 2000).

Segundo Magada Soares (2000, p.6),

O conflito entre a linguagem de uma escola fundamentalmente a serviço das classes privilegiadas, cujos padrões linguisticos usa e quer ver usados, e a linguagem das camadas populares, que essa escola censura e estigmatiza,é uma das principais causas do fracasso dos alunos pertencentes a essas camadas, na aquisição do saber escolar.

Para a autora, é preciso haver uma ligação entre a língua materna e a formal ensinada na escola, porque o ser humano tem de se comunicar, independente de seu modo de fala, então, ocorre a necessidade de respeitar o falante com seus dialetos e comportamentos culturais. E, o espaço institucional é o lugar que pode evitar os conflitos dentro e fora dos muros da escola, porque quando alguém fala e consegue ser entendido pelo outro, está realizando trocas de informações indispensáveis ao cotidiano, por isso, a instituição tem de ter práticas pedagógicas que se associem a realidade dos alunos com suas diferentes linguagens.

E, também, quando se trata de indivíduos vulneráveis e com poucos membros inseridos na escola, onde retra uma variação na língua, ainda mais identificável pelos ouvintes, estes julgam aquilo que ouve como certo ou errado, interrompendo as contribuições que poderiam ser dadas pelo falante “chamado de diferente”, além de “vir a gerar” conflitos (violências, estigmas, preconceitos, etc.), o que ainda inibe a participação do aluno no ambiente escolar, tornando-o distante do aprendizado e convívio social, logo, promovendo desigualdades e falta de acesso à aprendizagem (SOARES, 2000).

Ressaltando que, o modo de fala com suas especificidades explanadas pelo alunado no ambiente escolar deve respeitado, pois, “todos numa perspectiva linguistica, são indispensáveis para o processo de comunicação” (LEMOS, 2008, p.65).

Chambers & Trudgill (1993 apud Monteiro, 2008, p.67), descreve que,

[...] Parece claro que, se numa dada comunidade de fala uma variável é simplesmente um indicador, então ela exerce um papel menos decisivo na característica das diferenças de classe do que um marcador. [...] Uma óbvia indicação de que uma variável é um marcador, e não um indicador, é que ela costuma ser tema de comentários desfavoráveis na comundiade [...].

Os temas desfavoráveis que surgem na comunidade de fala tem forte poder de coerção para inibir o falente já estigmatizado pelas condições sociais e que entra na escola com expectativas de mudar a própria realidade, mesmo que ainda não entenda a importância dela – Educação, para as questões associadas a convivência social e transformações na própria vida, seja de cunho pessoal ou profissional.

Segundo Tarallo (1997, p.7), “[...] Willian Labov quem, mais veementemente, voltou a insistir na relação entre língua e sociedade e na possibilidade, virtual e real, de se sistematizar a variação existente e própria da língua falada [...]” . O que significa que, o olhar de Labov (1972/2008) não estava tão somente direcionado ao falante de classes privilegiadas, aqueles que aprendem, se utilizam e usam constantemente a norma culta em seus meios, mas, também, no que carrega consigo a identidade de sua língua materna, país, região, estado, cultura, etnia, etc.

Ainda segundo o autor, é comum que nas comunidades existentes nos meios sociais, as falas venham a se diversificar em função de alguns grupos, mencionando que, o comum é a minoria de uma grande maioria chamada “grupos vulneráveis”, os que criam variáveis fora da língua padrão, como por exemplo: o acréscimo de /s/ e /r/ em palavras, tal como “as menina tão aí (p.10)”, “pobrema”, dentre outros.

Para Tarallo (1997) “ [...] a variante considerada padrão é, ao mesmo tempo, conservadora [...]”, “[...] as variantes inovadoras, por outro lado, são quase sempre não-padrão e estigmatizadas pelos membros da comunidade.... no caso da marcação de plural no português do Brasil, a variante /s/ é padrão, conservadora e de prestígio; a variante /o/, por outro lado, é inovadora, estigmatizada e não-padrão. “Labov (1972/2008), observou duas maneiras distintas de se pronunciar o fonema /r/ pós-vocálico: a presença do segmento fônico ([r]) vs., sua ausência, em contextos fonológicos idênticos (p.12)”.

Com base no pensar do autor, as mudanças linguísticas sempre irão existir e serão criadas na dimensão da percepção de grupos sociais, que em grande porcentagem, também, não tem a escolarização básica como um ponto de partida para manter a língua formal, mas mesmo que tivesse, as transformações do tempo acabam produzindo novas linguagens, o que define que as variações linguisticas serão sempre parte dos meios sociais, seja nos grupos de prestígio (elitizados) ou nas classes mais baixas, a relevância está no processo de manter a comunicação e não de buscar por falas “corretas, cultas”, para expressar.

De acordo com Bickerton (ap. Hudson, 1984, p.63),

As explicações dos linguísticas nem sempre se harmonizam. Entende que toda variabilidade linguística ou é aleatória ou é consequência de diferentes gramáticas usadas em distintas ocasiões (e em geral por falantes diversos). E, sendo assim, quando a variação é aleatória, propõe que seja estudada mediante um aparato de regras opcionais; quando é sistemática, que seja tratada simplesmente por meio de diferentes gramáticas.

Bickerton (ap. Hudson, 1984), evidenciam que as variações que ocorrem na língua precisam ser estudadas em acordo com a forma apresentada. Não se deve colocar uma única regra gramatical, pois os resultados não serão apresentados em acordo com a norma culta, haja vista, que para isso acontecer, teria de haver uma população com porcentagens elevadíssimas de pessoas com nível de instrução/estudo dentro da sistematização, no caso a escola, o que não acorre em nenhum lugar no mundo. Pode sim, haver a busca pela manutenção da linguagem de um determinado país/região/estado, etc., para diferenciar-se em termos históricos, turísticos, etc., mas, mesmo assim, haverão aqueles que se utilizam de variações para se comunicar.

Em consonância a este pensar, Martellota (2011, p.26) relata,

[...] a prática educativa tradicional insiste em moldar a língua de acordo com o uso dos melhores autores clássicos, mas os linguísticas olham primeiro para a fala, que cronologicamente precedeu a escrita em todas as partes do mundo. [...] os linguísticas, portanto, consideram as formas faladas e escritas pertencentes a sistemas distintos, já que exibem diferentes padrões de gramática e vocabulário e seguem regras de uso que lhes são específicas [...]. 

Para Martellota (2011), procurar estabelecer um padrão linguistico entre os falantes é desconsiderável na prática, pois os seres humanos são diversos e o que precisa acontecer é buscar promover a comunicação, valorizando as diversidades existentes e tendo em mente que cada um pode contribuir para o saber histórico, cultural, social e que as variações com o tempo, vão adquirindo novos modelos de falas (inovações), que estando ou não em acordo com a gramática será pronunciada e propagada (mesmo que muitos não aceitem), nas diferentes sociedades existentes.

Fasold (1984 apud Labov, 1972/2008, p.147) em seus escritos diz que,

A realidade é talvez mais complexa ainda no caso das divergências dialetais.... não resta dúvida que seria quixotesca uma iniciativa de treinar professores nos dialetos das crianças das várias regiões, tendo o cuidado sobretudo de não desvalorizá-los (os dialetos, é claro). Ensinar a criança a ler em livros escritos numa variedade de fala estigmatizada é um meio de limitar suas futuras oportunidades de acesso a um melhor padrão de vida.

Com base na citação acima, não se pode negar a sistematização do ensino, porém, a escola precisa entender junto aos seus profissionais que, somente os livros didáticos não expandem a cultura, mas sim, as singularidades dos alunos com suas diversidades de falas e dialetos, pois havendo comunicação, a cultura ganha proporções admiráveis, pois cada um irá compartilhar o saber com sua história de vida e acrescentar na vida do outro, informações sobre lugares, histórias, etc., o que em muito ajuda no crescimento e aproveitamento dos conteúdos didáticos-pedagógicos e facilita a integração no ambiente escolar (FASOLD, 1984 apud Labov, 1972/2008).

Labov (1995, p.140), em seus relatos explana que,

[...] por isso, mesmo que o fracasso possa ter sido condicionado por alguma carência, resultou muito mais diretamente de fatos e interações que ocorreram durante os anos escolares [...]. [...] Ligada a hipótese anterior, admitiu-se que as deficiências cognitivas derivadas principalmente da falta de estímulos culturais determinavam um déficit linguístico, responsável pela pobreza do vocabulário e por uma sintaxe bastante reduzida [...].

O autor acredita que o preconceito linguistico pode ser também um dos fatores que interferem para o não aprendizado do aluno no ambiente escolar, quando este apresenta um modo de fala diferenciado dos demais grupos e; isso, é estigmatizante, em especial, para aquele que está buscando se adequar aos padrões de ensino (quando se trata de aluno que muda de lugar, comunidades, estados, etc.) ou que tem em sua identidade um modo de fala próprio da comunidade em que participa (LABOV, 1972/2008).

Portanto, a qualidade no processo de ensino-aprendizagem dos alunos dos dias de hoje, depende de inúmeros fatores amplamente debatidos, tais como, maior participação do poder público, especialização gestora, conteúdos didáticos dentro das diversas realidades sem sair da proposta do sistema, condições de acesso, acessibilidade, etc., acrescentando os discursos no Conselho de Classe, isto é, valorizar o aluno em sua linguagem, mesmo que a abordagem represente para o professor/gestor sair fora dos padrões da norma culta, na realidade não se trata de “abandonar a lingua padrão”, mas, sim, corroborar para o mais importante que é a comunicação, isso porque é por meio dela que ocorrem as trocas de experiências, logo, o aprendizado (MONTEIRO, 2008).

Mencionado que, a linguagem culta não será excluída, pelo contrário, produzirá no falante e nos receptores a vontade de interpretar e conhecer o outro em sua especificidade e, com isso, levar o docente/mediador a promover planejamentos dentro das regras do sistema, mas usando na comunicação (emissor/receptor), quem ensina e quem aprende uma linguagem mais simples, que faça chegar ao aprendiz, o ensino dentro das propostas escolares, sem abandonar o “eu” de cada aluno. Porque quem ensina, precisa levar a quem aprende/ouve, entender os conteúdos dentro de suas singularidades.

Ressaltando que, há a necessidade de adequação ao ambiente escolar em meio as diversidades de linguagens que são inseridas cotidianamente como forma de inclusão e algumas vezes, causa nos receptores (os demais pares/alunos), o não entendimento de que o outro tem uma linguagem que não impede a comunicação, mas é diferente pelas diversidades de questões que abarcam a vivência do aluno com a realidade de seus familiares, portanto, esse não entendimento, porque a criança não possui essa capacidade de interpretar-se e interpretar o outro em sua individualidade, e por não ter um professor/mediador que ensine, acaba incentivando a violência linguistica, discriminação, agressão verbal e psiocológica, o que pode contribuir para a negação do aluno em aprender e a própria exclusão do ambiente escolar.

No entanto, as perspectivas de um trabalho educacional precisam estar voltadas para a realidade que abarca a inserção obrigatória de alunos com diferentes falares no espaço escolar. Porém, sem qualquer treinamento para os gestores/professores/mediadores em termos de apoiar e conduzir as diversidades de culturas que são presentes no espaço institucional, acabam eximindo as trocas de informações entre professor/aluno em sala de aula/demais pares e promovendo a ausência de saberes acerca das culturas que fazem parte da vida do aluno que “fala diferente” e de seu lugar de pertencimento atual (MONTEIRO, 2008).

Bell (1997 apud Monteiro, 2008, p.68) assinala,

... duas perspectivas sociolinguisticas para o estudo do estímulo. Uma associada ao trabalho de Hymes, que engloba as múltiplas formas pelas quais os falantes podem expressar-se em diferentes situações. Isto significa que as marcas do estilo devem ser rastreadas nos mais diversos níveis linguisticos, desde o fonológico, o sintático, o léxico o semântico, até o nível do discurso.

Significando que, o falante precisa ser observado e considerado em sua fala, analisado como se expressa, para que o entendimento a partir de seu falar seja entendido pelos receptores, mesmo que por vezes, a linguagem formal esteja totalmente excluída num meio de comunicação, isso porque, o que se usa para a comunicação diária é o informal, e o importante é a comunciação para a interação, pois a partir do momento em que ocorre a interação; fica mais fácil para quem ensina, no caso do professor e demais profissionais, levar ao aluno aos conteúdos necessários a sua formação.

Mencionando que, se não ocorrer uma organização direcionada a resgatar o aprendizado do aluno a partir de sua variável linguistica, a exclusão social, irá caminhar contra as propostas da cidadania, isto é, igualdade, qualidade, equidade na educação, saúde e bem-estar-social, implicando em índices significativos de exclusão do ensino na trajetória educacional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nos dias de hoje, é preciso que a escola como lugar de aprendizagem leve os profissionais educadores a observarem o alunado em sua realidade de vida, com suas experiências, linguagens diferenciadas, estilos com marcas da comunidade pertencente, dentre outros, para evitar que muitos alunos que usam um modo de fala diferenciado não seja estigmatizado pelos demais ouvintes no ambiente escolar e fora desse espaço de aprendizagem.

Segundo Soares (2000, p.6) “[...] é indispensável a uma prática de ensino que, fundamentando-se em conhecimentos sobre as relações entre linguagem, sociedade

e escola, e revelando os pressupostos sociais e linguísticos dessas relações, seja realmente competente e comprometida com a luta contra as desigualdades sociais [...]”.

O que significa que a escola, com seus profissionais precisa ser ao mesmo tempo incentivadora do processo de ensino-aprendizagem e busque interpretar as diferentes falas pronunciadas pelos alunos, de modo, a evitar os confitos sociolinguisticos e evitar a exclusão por alguns grupos, que julgam uma fala como “certa ou errada”.

Neste pensar, Bagno (2007, p.14) destaca que, “[...] é nessa perspectiva que somos tentados a dizer: tudo na língua é por acaso. Não porque o uso seja arbitrário e/ou inexplicável, mas porque o sentido, o modo e a razão de ser de cada discursos só se revelam se integrados em seu heterogêneo contexto cultural de origem [...]”.

O autor revela que cada ser humano independente da comunidade pertencente deve ter sua linguagem valorizada, isso porque, as diferenças e inovações fazem parte do contexto de vida, o que deixa em evidencia a importãncia dos profissionais educadores atentarem para o modo de fala de seus alunos e buscarem a educação continuada como uma forma de aprimorar os próprios conhecimentos e ajudar o aprendiz a se integrar em diferentes ambientes em que participa.

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Camila do Rosário[1]

Giselle Alves da Conceição[2]

Salvador de Souza de Freitas[3]


[1] ROSÁRIO, Camila do. Licenciatura em Pedagogia – Mestranda em Cognição e Linguagem - Universidade Estadual do Norte Fluminense – Darcy Ribeiro – UENF.

[2] CONCEIÇÃO, Giselle Alves. Licenciatura em Pedagogia – Universidade Estadual do Norte Fluminense – Darcy Ribeiro – UENF. Ciências Econômicas – Universidade Candido Mendes (UCAM) – Campos dos Goytacazes – RJ. Pós-graduação em diferentes áreas: Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental – Neuropsicologia, Administração e Marketing, Psicologia comportamental e Cognitiva (em andamento), Orientação Educacional e Supervisão Escolar - ESAB/FAVENI/FACUMINAS. Aluna Especial - Congnição e Linguagem - UENF/2023.1.

3FREITAS, Salvador de Souza. Mestrando em Cognição e Linguagem – UENF, 2023.

Artigo apresentado como requisito final da Disciplina de Sociolinguística – Curso de Pós-graduação em Cognição e Linguagem – UENF, 2023.1.  

Currículo Lattes – CNPq.


Publicado por: Giselle Alves da Conceição

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