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As tecnologias digitais e a ressignificação da "leitura do mundo".

Análise sobre as tecnologias digitais e a ressignificação da leitura do mundo.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Paulo Freire, (1989, apud CASTORINO, FURIN e SELUSHINESK, 2019, p. 245), escreveu a sua icônica frase: “A leitura do mundo precede a leitura da palavra”.  Talvez essa seja uma das frases mais lembradas e citadas no meio pedagógico. Porém é necessário refletirmos sobre o fato de que foi escrita em um cenário tecnológico e comportamental totalmente distinto. A criança de trinta anos atrás tinha, quando muito, um aparelho televisor e um rádio em casa. Portanto, sua visão de mundo era bastante restrita em relação á criança da atualidade. Hoje em dia uma criança de três anos, mesmo sem nunca ter ida a um zoológico, sabe o que é um macaco, um elefante ou um urso, por exemplo. Isso porque desde bebê ela já tem contato com tablets, smartphones, smartTVs, onde diariamente assiste online à variados vídeos infantis que a possibilita conhecer a estes e muitos outros animais e coisas. Peço licença para compartilhar uma experiência pessoal. Em 2017 eu trabalhava na zona rural da minha cidade. Numa escola do campo clássica com pouco mais de 40 alunos em turmas multisseriadas. Às sextas-feiras eu costumava passar algum filme para minha turma. Levava o meu pen-drive e colocava o filme no único desktop disponível. Apesar da tela do monitor ser pequena, as crianças conseguiam assistir e se divertiam. Certo dia, na animação apareceu a imagem da Estátua da Liberdade. Imediatamente um aluno falou: -Olha! Nova York! Eu fiquei surpresa! Principalmente porque tratava-se um aluno com muitas dificuldades de aprendizagem, com idade distorcida em relação ao seu ano de escolaridade e considerado nos “bastidores da escola” como um aluno desafiador. Mas como ele poderia saber que tal monumento fica em Nova York? Ele nunca saiu de sua cidade. Ele não dominava a leitura. Contudo, mesmo uma criança pobre da zona rural foi capaz de identificar Nova York pela Estátua da Liberdade mesmo sem jamais ter saído de sua localidade. Isso deve-se ao fato de que as tecnologias digitais já estão presentes até mesmo em comunidades distantes, oportunizando tal conhecimento. Portanto, a belíssima frase do saudoso Paulo Freire, deve ser contextualizada com os dias atuais, visto que o avanço tecnológico ampliou o repertório infantil ao trazer o mundo para as palmas das mãos das crianças.

Entre as dez competências que a BNCC estabelece que sejam desenvolvidas pelos alunos ao longo da vida escolar, temos:

5 - Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva. (BRASIL, 2018, p. 9)

O professor da atualidade necessita entender que ele não ensina mais a uma criança do século XX. E que não se pode ignorar todo esse contexto tecnológico em que essa criança está inserida.  De acordo com Salles, Leite e Frasson (2019, p. 184) “As inovações que se utiliza hoje se tornará obsoleta futuramente, assim a prática docente é constantemente desafiada pelas necessidades de mudanças ocasionadas pelos novos cenários do século XXI”.

No entanto, a formação continuada dos docentes deve ser entendida como um investimento urgente para atender às demandas desse aluno, que hoje em dia chega à escola conhecendo muito mais coisas do que o de trinta anos atrás. Seu modo de “ler o mundo” evoluiu. A escola também precisa evoluir. Já é tempo de romper-se com a ideia de relacionar os recursos digitais apenas à entretenimento e diversão, e de apropriar-se dos mesmos como ferramentas pedagógicas eficientes que podem sim ser facilitadoras no processo de ensino e aprendizagem.

REFERÊNCIAS:

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018, pag. 9. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf Acessado em 23 de agosto de 2021

CASTORINO, Adriano;  FURIN, Mara Mone Ferreira Soares; SELUSHINESK, Rosane Duarte Rosa.  Leitura do mundo e leitura da palavra em Paulo Freire. Revista Humanidades e Inovação v.6, n.10 – 2019, pag. 245.

SALLES, Virgínia Ostroski; LEITE, Damaris Beraldi Godoy; FRASSON, Antônio Carlos (org). Formação de professores: Perspectivas Teóricas e Práticas na Ação Docente. Ponta Grossa, PR: Editora Atena, 2019 pag. 184.

Por Jussara Mendonça Luquetti Ribeiro


Publicado por: Jussara Mendonça Luquetti Ribeiro

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.