ARQUITETURA ESCOLAR E APRENDIZAGEM: A INFLUÊNCIA DO ESPAÇO FÍSICO NO DESEMPENHO EDUCACIONAL
Breve análise sobre o impacto da arquitetura das escolas na qualidade da aprendizagem, considerando aspectos como conforto ambiental, acessibilidade, flexibilidade espacial e identidade escolar.
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ARQUITETURA ESCOLAR E APRENDIZAGEM: A INFLUÊNCIA DO ESPAÇO FÍSICO NO DESEMPENHO EDUCACIONAL
RESUMO
O espaço escolar é um componente fundamental no processo de ensino-aprendizagem, influenciando diretamente o desempenho acadêmico e o bem-estar de alunos e professores. Este artigo tem como objetivo analisar, por meio de uma revisão bibliográfica narrativa e sistemática, como a arquitetura das escolas impacta a qualidade da aprendizagem, considerando aspectos como conforto ambiental, acessibilidade, flexibilidade espacial e identidade escolar. Foram utilizados sete estudos científicos publicados entre 2004 e 2021, extraídos de bases como SciELO, Google Acadêmico, SpringerLink, ResearchGate e repositórios institucionais de universidades públicas e privadas. Os resultados demonstram que escolas com ambientes bem projetados – com iluminação natural, ventilação adequada, boa acústica e mobiliário ergonômico – promovem maior engajamento, concentração e inclusão, além de estimular práticas pedagógicas inovadoras. Conclui-se que o planejamento arquitetônico escolar deve ser interdisciplinar, democrático e sensível às demandas educacionais contemporâneas, reconhecendo o espaço físico como um agente pedagógico capaz de transformar a vivência escolar e promover uma educação de qualidade.
Palavras-chave: Arquitetura escolar; Espaço físico; Aprendizagem; Conforto ambiental; Educação inclusiva.
ABSTRACT
The school environment is a fundamental component in the teaching and learning process, directly influencing students’ academic performance and the well-being of both students and teachers. This article aims to analyze, through a systematic and narrative literature review, how school architecture impacts learning quality, considering aspects such as environmental comfort, accessibility, spatial flexibility, and school identity. Seven scientific studies published between 2004 and 2021 were used, retrieved from databases such as SciELO, Google Scholar, SpringerLink, ResearchGate, and institutional repositories of public and private universities. The results show that schools with well-designed environments – including natural lighting, adequate ventilation, good acoustics, and ergonomic furniture – promote greater engagement, concentration, and inclusion, in addition to encouraging innovative pedagogical practices. It is concluded that school architectural planning must be interdisciplinary, democratic, and sensitive to contemporary educational demands, recognizing physical space as a pedagogical agent capable of transforming school experiences and promoting quality education.
Keywords: School architecture; Physical space; Learning; Environmental comfort; Inclusive education.
INTRODUÇÃO
A arquitetura escolar, enquanto campo de interseção entre o espaço construído e os processos pedagógicos, tem ganhado relevância nas discussões sobre qualidade educacional. O ambiente físico da escola não se restringe à sua função de abrigo para as atividades didáticas, mas atua diretamente na mediação da aprendizagem, afetando aspectos cognitivos, emocionais e comportamentais dos alunos. A concepção espacial, nesse sentido, influencia tanto a dinâmica escolar quanto os modos de apropriação dos saberes, tornando-se objeto de estudo essencial para arquitetos, educadores e formuladores de políticas públicas.
Historicamente, os edifícios escolares foram concebidos com ênfase na padronização, disciplinamento e vigilância, em consonância com modelos educacionais centrados na transmissão unidirecional de conteúdos. Contudo, nas últimas décadas, com o avanço das abordagens pedagógicas ativas, colaborativas e interdisciplinares, passou-se a reconhecer que os espaços escolares precisam ser repensados para favorecer a autonomia, o protagonismo e a criatividade dos estudantes. Isso implica a necessidade de ambientes flexíveis, acessíveis, esteticamente estimulantes e que promovam bem-estar, conforto térmico, acústico e luminoso.
Pesquisas internacionais, como a de Barrett et al. (2013), demonstram que variáveis físicas do ambiente escolar — como qualidade da iluminação natural, ventilação, cor, organização do mobiliário e estímulos visuais — impactam em até 25% o desempenho acadêmico dos alunos. No contexto brasileiro, estudos como o de Granja (2018), realizado na UEB Monsenhor Frederico Chaves, confirmam que a arquitetura da escola influencia diretamente a concentração, a participação e a permanência dos estudantes nas atividades escolares.
A partir da psicologia ambiental e da pedagogia crítica, compreende-se que o espaço deve ser construído com base na escuta das necessidades dos usuários — especialmente estudantes e professores —, valorizando a adaptabilidade, a conectividade entre ambientes e a presença de áreas de respiro, lazer e convivência. Espaços escolares que ignoram essas dimensões tendem a reproduzir desigualdades, excluir alunos com deficiências e comprometer a inclusão educacional.
Nesse cenário, a arquitetura escolar é compreendida como um instrumento pedagógico em si, capaz de dialogar com os princípios do currículo e da gestão democrática. Um projeto arquitetônico sensível ao processo educativo pode incentivar a interdisciplinaridade, a colaboração entre pares e a formação de uma cultura escolar mais integrada, conforme discute Upitis (2004), ao tratar da complexidade dos ambientes de aprendizagem e sua interface com a experiência estética e criativa dos alunos.
Diante do exposto, este artigo propõe uma análise crítica da influência da arquitetura escolar nos processos de aprendizagem, com base em revisão bibliográfica de artigos nacionais e internacionais. A partir de estudos de caso e de discussões teóricas, busca-se compreender como o espaço escolar pode atuar como agente potencializador ou inibidor da aprendizagem, contribuindo para o desenvolvimento integral dos sujeitos e para a qualidade do ensino.
METODOLOGIA
Este estudo configura-se como uma pesquisa qualitativa de natureza exploratória, fundamentada em revisão bibliográfica sistemática e narrativa. A abordagem foi escolhida para investigar, de forma crítica, a influência da arquitetura escolar no processo de ensino-aprendizagem, com base em produções científicas nacionais e internacionais.
A coleta dos dados ocorreu entre 2000 e 2024, por meio da seleção e análise de artigos, monografias, capítulos de livros e relatórios técnicos extraídos de bases como SciELO, Google Acadêmico, SpringerLink e ResearchGate. Priorizaram-se estudos que abordassem a infraestrutura escolar, conforto ambiental, organização espacial, inclusão e desempenho acadêmico.
Utilizaram-se descritores como “arquitetura escolar”, “ambiente de aprendizagem”, “acessibilidade” e “espaço físico e educação”, permitindo localizar pesquisas interdisciplinares nas áreas de arquitetura, urbanismo, psicologia ambiental e políticas públicas.
Foram incluídas apenas publicações revisadas por pares, com foco no impacto pedagógico do espaço escolar. Estudos opinativos ou técnicos, sem aprofundamento teórico, foram descartados.
A análise dos dados foi categorial e interpretativa, estruturada em eixos como: evolução da arquitetura escolar, conforto ambiental, inclusão e cultura pedagógica. Isso permitiu construir um panorama crítico e fundamentado sobre o tema.
Por fim, foi realizada uma triangulação entre experiências nacionais e internacionais, com destaque para autores como Granja (2018), Barrett et al. (2013) e Upitis (2004), a fim de comparar realidades e identificar boas práticas arquitetônicas voltadas à aprendizagem.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A arquitetura escolar configura-se como um elemento pedagógico de relevância crescente nos debates sobre qualidade educacional. A disposição espacial, os materiais utilizados, a iluminação e até a sonoridade do ambiente impactam diretamente a forma como os alunos interagem, aprendem e se desenvolvem. Segundo Upitis (2004), os ambientes de aprendizagem fisicamente estimulantes contribuem para a construção de uma cultura escolar positiva, promovendo bem-estar e engajamento dos estudantes.
A compreensão da evolução histórica dos espaços escolares permite identificar como a arquitetura reflete concepções pedagógicas dominantes em diferentes períodos. No modelo tradicional, prevalecia uma estrutura hierárquica e rígida, com salas padronizadas voltadas para o controle disciplinar. Com o avanço de paradigmas construtivistas e humanistas, houve uma revalorização do espaço como suporte à autonomia e à criatividade (Granja, 2018).
Estudos apontam que o desempenho acadêmico dos alunos pode ser influenciado por variáveis arquitetônicas como o layout da sala de aula, a qualidade do mobiliário, a acústica e o acesso à luz natural. Barrett et al. (2013) demonstraram que fatores como iluminação e flexibilidade do ambiente físico podem explicar até 16% da variação no progresso de aprendizagem dos alunos do ensino fundamental. Tais evidências sustentam a necessidade de considerar o projeto arquitetônico como parte integrante das políticas de melhoria educacional.
O conforto ambiental é uma das dimensões mais diretamente relacionadas ao desempenho cognitivo dos alunos. Ambientes mal ventilados, com iluminação artificial precária ou alta reverberação sonora, comprometem a concentração e o aprendizado. Conforme o estudo de Faria e Santos (2020), a temperatura interna e a acústica inadequada estão entre os principais fatores de desconforto relatados por professores e alunos em escolas públicas brasileiras.
A flexibilidade espacial, por sua vez, é essencial para a implementação de metodologias ativas de ensino, como trabalhos em grupo, ensino por projetos e aprendizagem baseada em problemas. Estruturas fixas e inflexíveis dificultam a adaptação do espaço às demandas pedagógicas contemporâneas. Nesse sentido, os autores do artigo publicado na revista Complicity (Upitis, 2004) enfatizam que ambientes escolares adaptáveis favorecem o desenvolvimento de competências socioemocionais e cognitivas.
Outro aspecto crucial é a acessibilidade, não apenas arquitetônica, mas pedagógica e sensorial. A arquitetura escolar deve considerar as necessidades de todos os alunos, promovendo equidade no acesso ao conhecimento. A Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015) reforça a obrigatoriedade de eliminar barreiras físicas e atitudinais no espaço escolar, promovendo ambientes que valorizem a diversidade e a inclusão (Ingrid Granja, 2018).
A psicologia ambiental contribui para compreender como o espaço influencia o comportamento e as interações em sala de aula. Elementos como cores, texturas, sons e iluminação modulam estados emocionais e processos cognitivos. Segundo Weinstein (1979), citado em Upitis (2004), o design físico da escola pode facilitar ou inibir comportamentos como colaboração, atenção e iniciativa, influenciando o clima pedagógico.
A arquitetura também desempenha um papel na formação da cultura institucional da escola. A forma como os espaços são organizados reflete valores e prioridades da instituição. Escolas que valorizam a transparência, a integração e o diálogo tendem a apresentar ambientes mais abertos, com áreas comuns estimulando a convivência e a construção coletiva de saberes (Barrett et al., 2013).
Os espaços de convivência, como pátios, bibliotecas, refeitórios e áreas verdes, também são fundamentais para o desenvolvimento socioemocional dos estudantes. Ambientes que incentivam o encontro, o diálogo e a recreação contribuem para a formação de vínculos, a prevenção da violência e o fortalecimento da identidade coletiva (Faria & Santos, 2020).
Nesse sentido, a escola pode ser entendida como um território de cidadania, onde o espaço físico constitui uma dimensão formadora. A apropriação simbólica dos ambientes escolares permite que estudantes e professores reconheçam o espaço como seu, sentindo-se pertencentes àquele coletivo. Essa dimensão territorial é essencial para a construção de sujeitos críticos e participativos (Granja, 2018).
A identidade estudantil também é influenciada pelo ambiente físico escolar. Escolas visualmente agradáveis, acolhedoras e bem cuidadas transmitem mensagens positivas sobre o valor da educação e o respeito às pessoas que ali convivem. Segundo Upitis (2004), a estética do espaço influencia na autoestima dos alunos e na percepção de que a escola é um lugar importante e digno de cuidado.
Diversos projetos arquitetônicos inovadores têm sido implementados no Brasil e no mundo, demonstrando o potencial da arquitetura escolar para transformar práticas pedagógicas. O uso de espaços abertos, mobiliário modular, cores estimulantes e áreas externas integradas ao currículo tem sido associado à melhoria do desempenho e à maior motivação dos alunos (Barrett et al., 2013).
O planejamento participativo é uma estratégia que visa incorporar as necessidades de estudantes, professores e comunidade no processo de concepção arquitetônica. Essa abordagem favorece a criação de ambientes mais significativos e funcionalmente eficientes, além de fortalecer os vínculos entre escola e território. Granja (2018) destaca que escolas concebidas com base em escuta ativa da comunidade tendem a ser mais apropriadas e bem cuidadas por seus usuários.
As experiências internacionais também oferecem importantes referências. Países como Finlândia, Dinamarca e Japão têm investido em projetos arquitetônicos escolares centrados no bem-estar, na sustentabilidade e na inovação pedagógica. Esses modelos reforçam o entendimento de que o espaço pode ser um mediador da aprendizagem e da equidade social (Barrett et al., 2013).
No Brasil, o Plano de Ações Articuladas (PAR) e o Programa Nacional de Reestruturação e Aquisição de Equipamentos para a Rede Escolar Pública de Educação Infantil (Proinfância) estabeleceram diretrizes técnicas para construção de escolas, com foco em acessibilidade, sustentabilidade e segurança. No entanto, ainda há desafios para garantir a aplicação dessas normas em contextos locais, especialmente em regiões periféricas.
Por fim, as perspectivas futuras para a arquitetura educacional apontam para a necessidade de integração entre projeto arquitetônico, currículo e gestão escolar. A escola do século XXI demanda espaços flexíveis, inclusivos e tecnologicamente preparados, capazes de acompanhar as transformações sociais e culturais. A arquitetura, nesse contexto, deixa de ser apenas suporte físico e passa a ser agente ativo da aprendizagem.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados da presente revisão bibliográfica revelam que a arquitetura escolar é um elemento estruturante do processo educativo, cuja influência extrapola os aspectos físicos e se estende ao campo simbólico, emocional e pedagógico. Os estudos analisados demonstram que ambientes bem planejados promovem conforto, segurança, inclusão e motivação, configurando-se como um suporte essencial para o desenvolvimento integral dos estudantes. Tal constatação reforça a urgência de políticas públicas que valorizem o espaço escolar como instrumento ativo no processo de ensino-aprendizagem.
Um dos principais achados refere-se à relação entre conforto ambiental e desempenho acadêmico. A pesquisa de Barrett et al. (2013) indica que salas de aula com iluminação natural adequada, controle térmico eficiente e acústica satisfatória potencializam significativamente a concentração e o engajamento dos alunos. O impacto de tais elementos sobre o rendimento escolar é quantitativamente relevante e aponta para a necessidade de repensar os padrões construtivos ainda predominantes em muitas escolas brasileiras, marcados pela precariedade e padronização.
Outro aspecto recorrente nos estudos revisados é a importância da flexibilidade espacial. Ambientes que permitem diferentes configurações, com mobiliário móvel e áreas adaptáveis, favorecem a implementação de metodologias ativas, como o trabalho em grupo, a aprendizagem baseada em projetos e a interdisciplinaridade. Segundo Upitis (2004), a rigidez do ambiente físico compromete a autonomia dos estudantes e dificulta a inovação pedagógica, especialmente em contextos onde se busca promover uma aprendizagem mais significativa e colaborativa.
As contribuições da arquitetura escolar para a inclusão educacional também foram amplamente discutidas. A acessibilidade arquitetônica – compreendida como a eliminação de barreiras físicas e sensoriais – é condição indispensável para garantir o direito à educação de alunos com deficiência. No entanto, a literatura destaca que é preciso ir além do cumprimento de normas técnicas, incorporando princípios de acessibilidade universal no planejamento dos espaços, como destaca Granja (2018). Isso implica considerar a diversidade humana como valor, e não como exceção.
A dimensão simbólica da arquitetura escolar também foi ressaltada como fator determinante na construção da identidade e pertencimento dos alunos. Escolas bem cuidadas, visualmente acolhedoras e esteticamente agradáveis transmitem aos estudantes uma mensagem de valorização da educação e do próprio sujeito. Essa percepção influencia a autoestima, o comportamento e o vínculo com o espaço escolar, conforme apontado nos estudos de Upitis (2004) e Faria e Santos (2020). Ambientes escolares negligenciados, por outro lado, reforçam sentimentos de exclusão e desvalorização.
Outro resultado relevante refere-se à função social da escola como espaço de convivência, expressão e cidadania. As praças internas, bibliotecas, refeitórios e áreas de lazer, quando bem projetadas, fortalecem os vínculos sociais e contribuem para a construção de uma cultura de respeito, diálogo e solidariedade. A presença de áreas verdes, por exemplo, além de favorecer o bem-estar e a saúde mental, proporciona oportunidades pedagógicas que transcendem o currículo formal, como atividades ambientais e projetos interdisciplinares.
No campo da gestão escolar, os resultados apontam que a apropriação e manutenção dos espaços são facilitadas quando a comunidade escolar é envolvida nas decisões sobre a organização do ambiente físico. A participação ativa de professores, estudantes e gestores no planejamento arquitetônico reforça o sentimento de pertencimento e fortalece o uso pedagógico dos espaços, como apontam os estudos analisados. Essa perspectiva participativa ainda é incipiente no Brasil, mas tem se mostrado promissora em experiências internacionais e projetos inovadores em redes públicas municipais.
Os estudos também revelam que há uma carência de formação específica para arquitetos, engenheiros e gestores educacionais sobre os impactos do espaço físico na aprendizagem. Essa lacuna compromete a qualidade dos projetos e dificulta a integração entre arquitetura e pedagogia. Granja (2018) defende a necessidade de equipes multidisciplinares no planejamento escolar, com a participação de educadores, psicólogos, urbanistas e demais especialistas que possam contribuir para uma visão holística do ambiente escolar.
A análise dos documentos permitiu ainda identificar experiências exitosas em arquitetura educacional no Brasil e no exterior. Exemplos de escolas projetadas com foco na sustentabilidade, na integração com o território e na flexibilidade espacial mostram que é possível aliar estética, funcionalidade e pedagogia. Contudo, a implementação de tais modelos exige vontade política, financiamento adequado e compromisso com a gestão democrática da educação, fatores ainda desiguais entre diferentes regiões do país.
A comparação entre escolas de diferentes contextos geográficos evidenciou profundas disparidades na qualidade dos ambientes escolares. Enquanto em centros urbanos mais desenvolvidos observa-se um avanço na adoção de boas práticas arquitetônicas, em áreas rurais e periferias urbanas persistem construções precárias, sem ventilação, acessibilidade ou segurança adequadas. Essa desigualdade compromete a equidade educacional e impõe limites ao pleno exercício do direito à aprendizagem.
Por fim, os resultados indicam que o investimento em arquitetura escolar não deve ser entendido como gasto supérfluo, mas como componente estratégico da política educacional. A valorização do espaço físico como recurso pedagógico contribui para a promoção da qualidade da educação e da equidade, atendendo aos princípios constitucionais de uma escola pública, gratuita, inclusiva e de qualidade para todos. A articulação entre planejamento urbano, políticas educacionais e participação comunitária é, portanto, condição fundamental para a construção de escolas mais humanas, inovadoras e eficientes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente revisão bibliográfica permitiu evidenciar que a arquitetura escolar exerce influência direta e significativa sobre os processos de ensino e aprendizagem, afetando tanto o desempenho acadêmico quanto o bem-estar físico, emocional e social dos estudantes. A análise dos estudos nacionais e internacionais demonstrou que o espaço escolar vai além de sua função abrigadora, constituindo-se como um agente ativo na mediação pedagógica e na construção da cidadania. Nesse sentido, torna-se imprescindível que os ambientes escolares sejam concebidos a partir de uma lógica educativa, inclusiva e sensível às necessidades contemporâneas da educação.
O espaço físico da escola, quando bem planejado, promove ambientes mais estimulantes, seguros e acolhedores, que favorecem o desenvolvimento da autonomia, da criatividade e da cooperação entre os alunos. Elementos como iluminação natural, ventilação cruzada, isolamento acústico, ergonomia do mobiliário, integração com áreas verdes e flexibilidade do layout têm se mostrado fundamentais para potencializar a aprendizagem. Esses fatores, se ignorados, podem comprometer o processo pedagógico, sobretudo em contextos de vulnerabilidade social.
A arquitetura escolar também se revelou um importante instrumento de inclusão. Espaços acessíveis, adaptados à diversidade dos corpos e das subjetividades, contribuem para a permanência de alunos com deficiência, além de fortalecer o sentimento de pertencimento de toda a comunidade escolar. Por isso, a acessibilidade deve ser compreendida não como mera adequação técnica, mas como um princípio de justiça espacial e pedagógica. O planejamento de escolas inclusivas requer, portanto, um compromisso ético com o direito universal à educação de qualidade.
Os resultados deste estudo indicam ainda a necessidade urgente de maior articulação entre os campos da arquitetura, do urbanismo e da pedagogia. A ausência de diálogo entre arquitetos e educadores tem gerado espaços escolares desfuncionais, pouco flexíveis e distantes das práticas pedagógicas atuais. Para superar essa limitação, é essencial adotar metodologias participativas no processo de concepção e requalificação de unidades escolares, envolvendo professores, alunos, gestores e demais atores da comunidade educativa.
Outro ponto relevante diz respeito à desigualdade no acesso a infraestruturas escolares qualificadas. O mapeamento de experiências mostra que, embora existam iniciativas inovadoras e bem-sucedidas, essas ainda são pontuais e concentradas em contextos privilegiados. Em muitas regiões brasileiras, sobretudo em áreas rurais e periféricas, persistem escolas precárias, insalubres e mal equipadas. A superação dessa desigualdade depende de investimentos estruturais, planejamento territorial integrado e políticas públicas que valorizem o espaço escolar como vetor de transformação social.
Conclui-se, portanto, que repensar a arquitetura das escolas é condição essencial para a promoção de uma educação democrática, inclusiva e de qualidade. O espaço não é neutro: ele comunica, influencia comportamentos, potencializa ou limita experiências educativas. Assim, a construção de ambientes escolares mais humanos, flexíveis e conectados com os princípios contemporâneos da aprendizagem deve ser prioridade no planejamento educacional brasileiro, orientando projetos futuros que promovam o desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e jovens em todas as suas dimensões.
REFERÊNCIAS
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Publicado por Maria Eduarda de Sá Siqueira e Souza[1]
[1] Discente de Arquitetura e Urbanismo da UniFap - Centro Universitário Paraiso Ceará.
Publicado por: Maria Eduarda de Sá Siqueira e Souza

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