A psicopedagogia em um ambiente violento
Confira sobre o papel da Psicopedagogia para a diminuição da violência na escola.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
Resumo
Muitos docentes apresentam dificuldades para lecionar em sala de aula, pois a violência está a cada dia mais presente, refletindo assim uma relação complicada entre docentes, educandos, comunidade e sociedade. Os profissionais da educação devem estar preparados para lidar com essa situação e não deixar esse fator atrapalhar os objetivos educacionais e colaborar de forma efetiva para a diminuição da violência. Esse artigo tem o objetivo de abordar o papel da Psicopedagogia para intervir e apoiar os docentes no processo de aprendizagem em conjunto com a comunidade, a fim de buscar a qualidade desse processo e diminuir a violência do ambiente como um todo. Para a construção desse artigo, foi realizada uma revisão da bibliografia, de dados secundários, relacionados ao tema, especialmente de livros e periódicos publicados em revistas especializadas. Foi constatada que a violência pode originar-se dentro das escolas ou não, pois está presente em todo o ambiente e as ações de intervenção da Psicopedagogia não devem permear somente a escola ou comunidade local, devem considerar sociedade em geral, afinal trata-se de um fenômeno social, que envolve ética, moral e direito, deve visar à boa conduta das pessoas em qualquer ambiente.
Palavras chaves: Educador. Violência. Comunidade.
Introdução
A violência é um fenômeno social que pode ocorrer tanto na escola, como na comunidade, como em ambiente familiar, como no trabalho ou qualquer outro local, ou seja, é uma manifestação das pessoas que podem estar relacionadas ou ligadas a diversos fatores. A escola, ao mesmo tempo em que é vítima, possui papel fundamental no processo de formação dos indivíduos e deve compreender as suas diferenças, o multiculturalismo, todas as influências externas à escola, para que assim promova um ambiente de aprendizado, de troca de experiências e desenvolvimento pessoal e assim possa colaborar para a diminuição da violência. A Psicopedagogia é a área responsável por solucionar problemas do contexto educativo e lidar com toda essa complexidade, considerando em suas ações de intervenção, o ambiente escolar, familiar, social, econômico e as questões intrínsecas, cognitivas, orgânicas e emocionais dos indivíduos.
A problemática do artigo é investigar de que forma a Psicopedagogia pode intervir e colaborar para a formação de um ambiente escolar saudável e menos violento.
O objetivo desse artigo é apresentar a Psicopedagogia como uma área que busca a criação de um ambiente escolar saudável, interativo, que visa à formação de cidadãos conscientes do seu papel perante a sociedade e que consequentemente essas ações contribuam para a diminuição da violência.
A violência nas escolas foi e sempre será um assunto no mínimo conflitante, pois, o que os indivíduos aprendem na escola devem ser complementados pela família, praticados na comunidade, identificados na sociedade e nem sempre esse processo ocorre. A Psicopedagogia busca identificar a origem da violência, os fatores motivacionais e particularidades dos indivíduos, apresentando-os condutas aceitáveis, promovendo o debate, mobilizando-os para o seu papel frente à sociedade e colaborando, acima de tudo, para a formação de cidadãos. Nesse sentido, a pesquisa desperta a atenção para o papel da Psicopedagogia em estreitar a relação entre docentes, educandos e comunidade, em busca de ações conjuntas e a diminuição da violência.
O artigo possui natureza bibliográfica e para a sua construção foram consultados livros e artigos científicos que abordam assuntos ligados diretamente ou indiretamente ao tema proposto pelo artigo, tais como: a violência na escola e o papel da psicopedagogia como forma de intervenção e apoio ao combate à violência na escola e sociedade. As fontes utilizadas para a construção do referencial teórico foram o google books, google acadêmico, periódicos scielo e periódicos capes, totalizando x livros e x artigos. “A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos” (GIL, 2002, p. 44). As palavras chaves definidas foram: Educador, Violência e Comunidade.
Referencial Teórico
Violência na escola
O dicionário Aurélio define a violência como “Qualidade ou caráter de violento; Ação violenta: cometer violências; Ato ou efeito de violentar; Opressão, tirania: regime de violência; Direito constrangimento físico ou moral exercido sobre alguém." [1]
A violência pode ser compreendida como um termo ambivalente, não é possível defini-la por si só, pois depende do contexto no qual é empregada (MARRA, 2007).
Trata-se de uma ameaça, coação sobre terceiros, agressão, um conjunto de forças psicológicas ou físicas que podem causar danos ou lesões (MARRA, 2007).
A violência caracteriza-se como um ato de brutalidade, física ou psíquica contra alguém. Não se trata somente de agressão física, pois pode estar presente em vários outros aspectos, como preconceito, em metáforas, desenhos ou qualquer outra ameaça direcionada a alguém.
[...]. Em geral, violência é conceituada como um ato de brutalidade, física e/ou psíquica contra alguém e caracteriza relações interpessoais descritas como de opressão, intimidação, medo e terror. A violência não pode ser reduzida ao plano físico, podendo se manifestar também por signos, preconceitos, metáforas, desenhos, isto é, por qualquer coisa que possa ser interpretada como aviso de ameaça, o que ficou conhecido como violência simbólica [...] (SILVA; SALLES, 2010, p.218).
A violência pode estar associada ao desrespeito, a negação e a violação dos direitos humanos (SILVA; SALLES, 2010).
Desde a década de 80, a violência vem sendo tratada com certa preocupação pela sociedade Brasileira, por países Europeus, Asiáticos e das Américas. As instituições públicas, privadas, a família, a escola e os diferentes segmentos da sociedade são vítimas diretas da violência e dessa forma também acabam se tornando agentes sociais que buscam a solução dos problemas relacionados a ela.
A questão da violência que vem preocupando a sociedade brasileira, especialmente a partir da década de 1980, é também fonte de preocupação na Europa e em alguns países da Ásia e Américas, notadamente nos Estados Unidos. Os diferentes segmentos da sociedade – família, escola, as instituições públicas e particulares – estão sendo vitimados com formas violentas de manifestação de seus membros. Paradoxalmente, ao mesmo tempo em que contribuem para essa situação, esses mesmos segmentos vêm tentando achar soluções para resolver o problema (MARRA, 2007, p.36).
A escola é uma instituição composta por grupos diferenciados, porém com objetivos comuns e nesse sentido, todas as ações devem ser compartilhadas. Porém, o fato de estar organizada a partir de normas e procedimentos, de ser um segmento que propicia o desenvolvimento humano educacional, não a isenta de ser um ambiente violento.
A escola é uma instituição que agrega grupos diferenciados, voltados para objetivos que devem ser comuns. Para que esses objetivos sejam alcançados, a escola está organizada em torno de normas de funcionamento que devem ser acatadas. Porém, quando reconhecemos que a escola é também um espaço de violência, contribuímos para romper com a ideia desta instituição como espaço resguardado, destinado somente à aprendizagem de conhecimentos e a formação da pessoa, ao exercício da ética e do diálogo e à formação da cidadania, antítese, portanto, da violência. [...] (MARRA, 2007, p.39).
Conforme relatos de professores, a violência na escola está aumentando quantitativamente e qualitativamente. Os tipos de violência mais presentes são: ameaças, agressões verbais, físicas e desrespeito, entre os alunos e entre estes e os adultos (SILVA; SALLES, 2010).
É necessário diferenciar a violência na escola, a violência à escola e a violência da escola, afinal a escola reflete a violência de toda uma sociedade (SILVA; SALLES, 2010).
A violência escolar ou a relação conflituosa acabam gerando medo constante nos docentes, que recorrem ao reforço policial e isso acaba prejudicando a interação educativa e o clima escolar (SILVA; SALLES, 2010).
Ocorreu uma espécie de evolução do vandalismo da década de 90 para as agressões interpessoais, ocorridas atualmente nas escolas. Essas agressões acabam provocando um grande número de afastamento de docentes por problemas de saúde (SILVA; SALLES, 2010).
As formas de maus tratos mais frequentes, ou de violência são: agressões verbais, que são caracterizadas pelos insultos, ameaças e a disseminação de boatos negativos referente a uma pessoa (SILVA; SALLES, 2010).
Vale destacar que os agressores podem ser caracterizados como: fisicamente mais fortes, reagem com mais agressividade, são provocadores, possuem tendência à hiperatividade, não costumam se preocupar muito com os outros, gostam de provocar sofrimento, são insociáveis, etc. Geralmente não gostam de estar na escola e nem dos professores, mas costumam ser considerados populares por seus grupos.
Os estudos evidenciam que os agressores são fisicamente mais fortes, reagem com maior agressividade, são provocadores, apresentam tendência à hiperatividade, manifestam pouca empatia com os demais e inclusive se mostram satisfeitos com o sofrimento que provocam. São egocêntricos, hedonistas e têm uma autoestima defensiva alta. Mantêm uma relação insatisfatória e hostil com a escola, pois não gostam dela e nem dos professores. No entanto, são populares especialmente dentro de seu grupo. [...] (SILVA; SALLES, 2010, p.221)
Geralmente, as vítimas de violência apresentam algumas características: são mais frágeis fisicamente, com aparência física desvalorizada, possuem algum tipo de deficiência, são inseguras, submissas, apresentam baixa estima, baixa autoconfiança, autoimagem negativa, se isolam, são pouco respeitadas e impopulares (SILVA; SALLES, 2010). Esses indivíduos possuem ao menos uma dessas características.
Alguns estudos sobre clima escolar têm destacado que a diminuição da violência está associada a uma postura firme e empenho nas atividades didáticas, por parte dos docentes, pela igualdade no tratamento dos alunos e também pelo interesse do aluno e pela sua perspectiva em desenvolver-se na escola.
Os estudos sobre clima escolar têm também destacado que a diminuição da violência passa por uma postura firme e pelo empenho nas atividades didáticas do corpo docente, pelo compromisso dos professores com o seu trabalho e pelo tratamento não diferenciado entre os alunos de melhores e piores rendimentos escolares. Passa também pelo interesse dos alunos pela escola e pelas tarefas escolares. Quanto maior a perspectiva que o estudante vê para desenvolver-se na escola menos atos violentos ele comete (SILVA; SALLES, 2010, p.223).
A família do indivíduo pode ser uma das originadoras da violência na escola, pois alguns estudos destacam uma relação entre conduta violenta dos alunos e ruptura estrutural familiar, conflitos familiares, pouca habilidade e permissividade dos pais. Além disso, a imposição e o autoritarismo inconsequente, a punição por parte dos pais pode desencadear nos indivíduos um comportamento agressivo generalizado (SILVA; SALLES, 2010).
Vale destacar que nem sempre a violência que está em torno da escola é fator determinante para um ambiente escolar violento, afinal existe escolas localizadas em comunidades violentas que não apresentam violência e outras escolas violentas em bairros não violentas, por isso a importância de compreender a violência social e suas conexões (SILVA; SALLES, 2010).
A sociedade atual apresenta indícios de que pode estar valorizando uma cultura individualista e dessa forma pode estar fomentando a violência para se atingir metas pessoais (SILVA; SALLES, 2010).
O papel da psicopedagogia em intervir e apoiar no combate à violência na escola
A área da Psicopedagogia é relativamente nova no Brasil, existe a cerca de 40 anos e vem despertando a atenção de diversos profissionais envolvidos com a educação ou que estão em contato com pessoas que apresentam dificuldades em aprender. Surgiu no final do século XIX, marcada por transformações históricas, sociais, políticas, culturais, etc, o que ocasionou em uma ampliação e formalização da rede escolar (GRASSI, 2009).
A partir daí muitas dificuldades e problemas relacionados ao contexto escolar foram surgindo (GRASSI, 2009).
A Pedagogia é a área que estuda o processo de aprendizagem humana e todos os seus componentes. Além disso, caracteriza-se como uma área multidisciplinar.
Hoje, configura-se como um área de estudo, pesquisa e atuação que se preocupa em compreender o processo de aprendizagem humana e suas dificuldades, incluindo, na aprendizagem, o ensino e todos os seus componentes. Para isso, baseia-se em várias ciências e áreas do conhecimento, não apenas na psicologia e na pedagogia, como o nome sugere, tendo como se organizado como área multidisciplinar (GRASSI, 2009, p.16).
A escola enfrenta sérios problemas no que diz respeito à ordem pedagógica e estrutural. Os professores apresentam insatisfação com as condições de trabalho, acabam tendo que lidar com situações que não são do seu campo de atuação e muitas vezes acabam culpando o que ali ocorre como fatores extraclasses (SAES, 2012).
Já os alunos apresentam desinteresse, pois não veem a necessidade de aprender os conteúdos e experiências oferecidos pela escola, pois vivem uma realidade totalmente discrepante com o mostrado na instituição e dessa forma são rotulados como alunos problema e assim acabam aceitando essa realidade (SAES, 2012).
Infelizmente a educação ainda é tratada como um projeto político, ideológico e é vítima da disputa pelo poder e manipulação do homem e sociedade, deixando para segundo plano as reflexões, os debates e os investimentos necessários para uma crescente ou desenvolvimento. A violência da escola contemporânea agrava ainda mais os problemas relacionados à educação, puro reflexo de uma sociedade injusta e até mesmo modificados, transformados, com alto grau de contestação (SAES, 2012).
A escola deve ser um espaço de troca de experiências, de aprendizagens, de sustentação de sonhos e desejos, de criatividade, de ajuda mútua, de forma que os educandos entrem em contato com a realidade, encontrem o seu caminho. É necessário compreender e enfrentar os fenômenos da violência, de forma integrada, repensar as relações humanas, para que a educação contínua não seja prejudicada. É importante ressaltar que os planos das escolas devem ir além da programação escolar, que colabore de fato para a formação de cidadãos (SAES, 2012).
O comportamento, o desenvolvimento cognitivo, social e afetivo e o processo de aprendizagem dos indivíduos são influenciados pelas transformações da sociedade atual, cercada pelo individualismo, pelo capitalismo, pela tecnologia, pela globalização, pela competitividade, etc. Esses impactos são percebidos primeiramente, nos espaços no qual os indivíduos costumam passar a maior parte do seu tempo adquirindo a educação básica e os princípios da cidadania, como a escola e a família. São nesses espaços que a indisciplina costuma se manifestar com maior frequência.
As constantes mudanças vividas pela sociedade atual têm reflexo direto no comportamento geral dos indivíduos, no desenvolvimento cognitivo, sócio - afetivo, e nos processos de ensino e aprendizagem das crianças e adolescentes desse tempo. O reflexo desses impactos são sentidos e percebidos primeiramente, pela escola e pela família, onde teoricamente são os espaços, tempos de maior vivência dos sujeitos durante a Educação Básica. Um desses reflexos podemos chamar de (in)disciplina (SANTOS; SILVEIRA, 2011, p.2).
“É possível notar que as crianças chegam à escola, cada vez mais sem limites, sem os comportamentos educativos mínimos, como por exemplo: de respeito, gratidão e cumprimento de regras básicas, que deveriam ser trabalhados pela família” [...]. (SANTOS; SILVEIRA, 2011, p.2).
As razões da indisciplina podem ser diversas: a própria escola, o próprio indivíduo, o problema pode estar na família dos envolvidos, nos valores e comportamentos ali vivenciados, pode estar relacionada a desigualdade social e tantos outros fatores gerados pela transformação da sociedade. Não existe a possibilidade de associar a indisciplina em sala de aula somente a falhas psicopedagógicas, afinal a realidade que o jovem, que a criança vivencia pode estar em conflito com o vivenciado na escola, é preciso compreender todo o ambiente, o que de fato pode ser aceito moralmente por todas as pessoas (SANTOS; SILVEIRA, 2011).
Vale destacar que em relação ao contexto familiar, a indisciplina está associada à idéia de formação psíquica, a formação ética e moral, enraizadas nos indivíduos, afinal a ausência desses fatores pode refletir em agressividade, rebeldia, indiferença, falta de respeito e violência, gerando obstáculos para a ação pedagógica.
No que se refere ao prisma das relações familiares, a indisciplina estar associada à idéia de estruturação psíquica e ética, de acordo com seus determinantes psicossociais, cujas raízes se encontrariam no sujeito, da noção dos valores éticos, morais e afetivos (idem). Nos alunos, a ausência destes parâmetros se traduz em agressividade/rebeldia, apatia/indiferença ou ainda desrespeito/falta de limites, que supõe índices de insalubridade moral, além de obstáculos à ação pedagógica (SANTOS; SILVEIRA, 2011, p.3).
Em relação à escola, a indisciplina está relacionada ao velho modelo de cumprimento de regras e respeito à alta hierarquia, dos anos 70. É um modelo que segue os princípios do militarismo e da religião, onde o indivíduo que não cumprir com as regras estabelecidas está sujeito a penalidades ou é tratado com desprezo, é exposto ao ridículo, etc. A sociedade, a economia e a democratização imprimem novos ritmos, dando origem a novos contextos e certamente esse modelo antigo não condiz com a realidade ou não se adepta a realidade dos indivíduos, seria como ignorar tudo que ocorre fora da escola. É necessário que o modelo de educação permita o debate e considere todos os fatores. Exemplos: O desemprego, a inflação colabora diretamente para o aumento dos índices de violência; A democratização exige novos modelos e desafios para o aumento da qualidade da educação; A sociedade valoriza muito as transformações tecnológicas, logo as instituições envolvidas com a educação devem incluir a tecnologia ou a modernidade em seus processos de aprendizagem e daí por diante. A desconsideração desses aspectos por parte da escola contribui para o descontentamento, para a rebeldia, para a falta de respeito, para a desordem e violência.
É nesse contexto histórico e social que a indisciplina tem crescido de modo exorbitante, como produto de uma sociedade que ergue seus valores a partir da lógica econômica e hedonista da sociedade capitalista neoliberal. Que impõe alterações que afetam as relações humanos e familiares e chegam ao contexto escolar, manifestando-se das mais variadas formas, a exemplos da agressividade, inquietude exagerada, competitividade, falta de respeito, limites, desconhecimento de autoridade e de leis (SANTOS; SILVEIRA, 2011, p. 4).
Diante desse contexto, o professor deve facilitar o desenvolvimento da autonomia e do comportamento ético, pra que assim contribua com a diminuição da violência.
Hoje, o professor dever mediar os processos de aprendizagem, deve favorecer ao desenvolvimento da autonomia e do comportamento ético, que são princípios defendidos pelo construtivismo, por Piaget, Vigotsky, Wallon, e “seguidores” (SANTOS; SILVEIRA, 2011, p. 4).
É necessário compreender as questões de ordem psicológica, afetiva e cognitivas e encontrar meios para motivar os indivíduos, de melhorar a relação entre docentes e educandos, inovar os métodos, reunir recursos, infraestrutura de modo a alcançar a eficácia do processo de aprendizagem.
A psicopedagogia deve considerar a totalidade em suas ações, principalmente no que diz respeito às formas de aprender de cada indivíduo, suas particularidades, etapas de desenvolvimento da vida e todas as influências que afetam o seu aprender. O seu papel é auxiliar no enfrentamento das dificuldades de aprendizagem e tudo que o envolve.
Cabe a Psicopedagogia uma visão sistêmica, holística, que busque a compressão das múltiplas formas de aprender de cada sujeito, como se desenvolve diversas etapas de vida, seus contextos e influências externas do sujeito, o desenvolvimento e as especificidades do aprendente. O psicopedagogo, portanto, precisa utilizar seu papel articulador para auxiliar no enfrentamento das dificuldades de aprendizagem e suas causas (SANTOS; SILVEIRA, 2011, p. 5).
A psicopedagogia, através de suas ferramentas, procedimentos e em conjunto com outras áreas da educação é indicada para lidar com as dificuldades de aprendizagem, com a indisciplina na escola e todas as suas dimensões, afinal não se pode negar a multidisciplinaridade no tratamento dos problemas relacionados à educação e nem todas as suas relações com os fatores externos.
Olhar a indisciplina a partir da Psicopedagogia, seus conceitos, sua dimensão holística, é sem dúvida optar pelas ferramentas, posturas e procedimentos mais indicados para trabalhar com (in)disciplina na escola. Trata-se de buscar respostas sobre as dificuldades de aprendizagem a partir do sujeito integral, e suas relações e dimensões (SANTOS; SILVEIRA, 2011, p. 5).
A indisciplina é um fenômeno complexo e é caracterizada pela variação de comportamentos negativos apresentados em sala de aula, na escola e em seus entornos, que vão desde boicotes em atividades escolares a agressão física, psicológicas etc. Deve-se identificar os motivos desses comportamentos para que as ações sejam de fato adequadas.
Percebe-se, portanto, que a indisciplina é um fenômeno complexo e que deve ser analisada a partir de vários contextos, perspectivas e sujeitos, e da inter-relação entre esses elementos. Refere-se a alterações nos comportamentos dos alunos em sala de aula, nos demais espaços da escola e seus entornos. Tais alterações têm si configurado das mais diversas formas, atualmente atreveis de ações coletivas e coorporativas, boicote entre outras, e alguns casos desembocam em violência e agressividade na escola. Todavia a indisciplina não está no comportamento, mas na alteração, desses comportamentos, no que gera essas inquietações (SANTOS; SILVEIRA, 2011, p. 8).
A intervenção psicopedagógica consiste em um trabalho conjunto, pois o objetivo é o debate, que cada parte considere o seu contexto e expresse a sua opinião, bem como as suas dificuldades. É ouvir o aluno, o professor, a família, é considerar a interdisplinaridade, os fenômenos interligados e formar um consenso para o combate à indisciplina ou violência.
É nisso que consiste essa intervenção psicopedagógica no trabalho conjunto das mãos entrelaçadas dos principais sujeitos do fazer educacional. Essa intervenção pressupõe que todos os sujeitos conheçam melhor os seus contextos, e os contextos da indisciplina e que a partir de um trabalho construído em grupo se possa unir forçar em função de buscar soluções, ações que diminuam ou acabem com a indisciplina (SANTOS; SILVEIRA, 2011, p. 10).
A Psicopedagogia considera a família o principal elo no processo de aprendizagem, afinal é lá que ocorrem os primeiros contatos com a sociedade e que estabelecem as primeiras relações. É com a família que os indivíduos passam a maior parte de seu tempo, é onde são influenciados, onde desenvolvem os primeiros elementos de identidade e personalidade (SANTOS; SILVEIRA, 2011).
A intervenção deve estar baseada nos conceitos de Pichón Reviére, de grupo operativo, onde se realizam trabalhos com as famílias dos envolvidos em atos de indisciplina e depois de uma forma mais geral, para todos os alunos, através de encontros, atividades, palestras, aproximando alunos, família e professores. Prichón Reviére defende a idéia que os grupos possuem maior capacidade para influenciar, afinal os indivíduos, desde que nascem, já são inseridos em grupo familiar, se relacionam com amigos, parentes, com professores, etc. O objetivo é fazer com que os envolvidos reflitam a respeito de sua realidade, que tenham autonomia, que busquem a ressignificação de conceitos, que reconheçam as suas responsabilidades diante da sociedade (SANTOS; SILVEIRA, 2011).
O foco da mediação psicopedagógica deve ser o aluno, mas deve visar o diálogo entre escola e família, os dois principais influentes da formação dos indivíduos. O aprender é construído internamente, porém para se desenvolver, o individuo precisa se relacionar com o todo e nesse sentido a família assume um papel de orientador, facilitador do diálogo em conjunto com a escola.
O foco da mediação psicopedagógica deve estar centrado no aluno, mas a partir de uma relação dialógica entre escola e família. A aprendizagem deve ser encarada como um processo construído internamente, pelo individuo, mas que se desenvolve na relação com o meio e nas vivências grupal, sobretudo no grupo familiar. Acreditamos, portanto que a família constitui elemento estruturante das relações de aprendizagens e que ela é fundamental na construção um diálogo em favor de minimizarmos a indisciplina. O trabalho com grupo envolvendo esses sujeitos poderá favorecer a construção da identidade do grupo, da ressignificação das relações entre esses sujeitos e na construção e desconstrução do conceito de indisciplina (SANTOS; SILVEIRA, 2011, p. 11).
A psicopedagogia deve conhecer e considerar todo o contexto que irá intervir, de forma a contribuir com a reflexão e ressignificação de práticas e relações.
A contribuição de um profissional em psicologia nesse movimento pode ser fundamental, desde que se disponha a conhecer o contexto em que irá intervir, que se disponha a ouvir seus diferentes partícipes e construir com estes espaços de reflexão e ressignificação de práticas e relações (REIS; ZANELLA, 2008, p. 12)
“[...]. Afirma-se isso porque se reconhece a necessidade de que a atuação da psicologia em contextos escolares seja ampliada, de modo a envolver todos os professores, outros profissionais, os alunos e seus responsáveis” (REIS; ZANELLA, 2008, p. 12).
Nesse sentido, se faz necessário ampliar os canais de comunicação, a fim de proporcionar o debate em busca de soluções para os problemas relacionados ao processo de aprendizagem (REIS; ZANELLA, 2008).
Conclusão
Limitar as ações pedagógicas ao ambiente escolar pode ser considerado um erro grave, afinal, tanto o processo de aprendizagem, quanto a violência se origina a partir de indivíduos que se relacionam com o todo, logo não é possível desmembrar ou tratar a violência como um fenômeno isolado, seria como medicar sem identificar a doença.
Para a compreensão da violência na escola e para a criação de possíveis intervenções psicopedagógicos é necessário antes identificar os motivos pelo qual aquele comportamento está sendo apresentado naquele momento, naquele local, se possui ligação ou está associado a um determinado contexto, se está sendo criado a partir da escola ou por motivo externo.
A família do indivíduo possui relevância no tratamento da violência, afinal é lá que os indivíduos fazem os primeiros contatos com a sociedade, aprendem a participar de grupos, enraízam a sua personalidade e constroem valores e que principalmente são mais influenciados.
A psicopedagogia busca tratar a violência a partir do debate, da participação dos indivíduos, do incentivo a autonomia, da ressignificação de conceitos e com o envolvimento dos familiares, com o estudo do contexto atual possa se formar uma concepção aceitável por todos os envolvidos.
Referência Bibliográfica
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2002.
GRASSI, T. M. Psicopedagogia: um olhar uma escuta. Curitiba: Ibpex, 2009.
MARRA, C. A. dos S. Violência escolar: a percepção dos atores escolares e a repercussão no cotidiano da escola. São Paulo: Annablume, 2007.
SAES, D. S. A Violência nas Escolas sob a Ótica do Pensamento de D. W. Winnicott. Construção psicopedagógica, vol.20, n.21, p. 90-105, 2012.
SILVA, J. M. A. de P; SALLES, L. M. F. A violência na escola: abordagens teóricas e propostas de prevenção. Educar em Revista, Curitiba, n. especial 2, p. 217-232, 2010.
REIS, A. C. dos; ZANELLA, A. V. Indisciplina e intervenção psicológica em sala de aula: relato de experiência. Cadernos de Psicopedagogia, vol.7, n.12, p.01-15, 2008.
SANTOS, J. B. dos; SILVEIRA, A. C. (IN)disciplina e intervenção psicopedagógica. In: IV Colóquio Internacional de Educação e Contemporaneidade, 2011, São Cristóvão. Anais, São Cristovão: editora, 2011. p.1-13.
[1] Disponível em: < http://www.dicionariodoaurelio.com/Violencia.html>. Acesso em 02 dez. 2013
Publicado por: ROBSON LEXSANDRO LEITE DA SILVA
O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.