A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE PARA APRENDIZAGEM
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1 – ORIGEM DA PSICOMOTRICIDADE
Compreender as bases dos movimentos do corpo humano é uma preocupação que já vem desde a Grécia Antiga, quando a educação privilegiava a beleza física e agilidade do ser humano, porém o estudo do corpo humano era colocado em segundo plano, o que interessava eram apenas os aspectos descritivos em suas funções físicas e anatômicas. Era apenas um corpo de carne e osso, não se levava em conta os aspectos psíquicos.
Percebeu-se então que os estudos não poderiam ficar mais restritos às paredes dos consultórios médicos, visto que o grande foco do desenvolvimento motor e intelectual estava em instâncias que iam mais além: a escola. Então a Psicomotricidade surgiu pela necessidade de se perceber e entender os movimentos e como esses se processavam.
Na França em meados de 1960 já se preocupava com a preparação dos docentes para a prática da educação psicomotora nos anos iniciais de escolarização. A política educacional francesa definia desde seu início um espaço específico à prática da educação psicomotora, conforme relatos de Lê Boulch concebia que:
Em 1969, para que a educação pelo movimento se consolidasse na escola primária, se instituiu na educação francesa o Terceiro Tempo Pedagógico (Portaria Ministerial e Circular de Aplicação) aumentando para cinco horas semanais as atividades destinadas à área de educação física.[...] A educação psicomotora deve ser considerada como uma educação básica para a escola primária. Ela condiciona todas as aprendizagens pré-escolares e escolares; essas não podem ser conduzidas a bom termo se a criança não tiver conseguido tomar consciência do seu corpo, lateralizar-se, situar-se no espaço, dominar o tempo. (LÊ boulch, 1987, p.11)
Assim vemos que os primeiros estudos a respeito da psicomotricidade deram ênfase ao funcionamento corporal desenvolvendo aspectos como: os tônus, a organização espacial, o esquema corporal; baseando-se em padrões existentes e esperados para cada etapa do desenvolvimento. Os aspectos psicológicos, afetivos e emocionais eram abordados apenas quando a criança apresentava um maior comprometimento.
Outra grande preocupação dessa época foi quanto à aprendizagem da leitura e da escrita. Os estudos demonstram que a noção de espaço gráfico, por estar pautada no espaço e no tempo, requer no aprendiz a necessidade de já possuir no seu repertório alguns componentes psicomotores, sem os quais não alcançaria o sucesso no mundo letrado.
A psicomotricidade conquistou uma expressão significativa no universo da educação escolar, pois os educadores bem como estudiosos do assunto já percebiam que, se uma criança tem deficiência que a impede de chegar ao cognitivo, é porque o ensino que recebeu não respeitou as etapas do seu desenvolvimento psicomotor.
Segundo LE BOUCH (2004, p 21), o desenvolvimento motor já pode ser observado desde o terceiro mês de vida fetal, quando o bebê mexe espontaneamente braços e pernas em formação, afirmando que:
No recém-nascido, esse desenvolvimento ocorre numa direção harmônica e por etapas previsíveis. A maturação da estrutura acarreta mudanças no comportamento, a partir da cabeça para as partes inferiores do corpo (cefalocaudal); e do centro para as extremidades do corpo (próximodistal);
da geral ação maciça dos grandes sistemas do corpo para os sistemas específicos das partes menores do corpo. Os últimos movimentos a serem
dominados são os dos dedos.Como acontece em todas as manifestações humanas, há diferenças individuais de velocidade, de forma, de força e precisão, no desenvolvimento motor, de uma criança para outra, mas é possível especificar certos movimentos, característicos de determinada idade.
Os conceitos de psicomotricidade são apresentados para buscar maior compreensão da necessidade do trabalho corporal, integrando mente e corpo de modo a permitir que a criança perceba o seu corpo, domine os seus movimentos e melhore sua expressão corporal, paralelo a isso assegura o desenvolvimento intelectual considerando suas possibilidades. Com isto a eficiência dos movimentos deve ser trabalhada a fim de melhorá-los e gastar menos energia em busca do movimento pela consciência.
Percebe-se então que a psicomotricidade deve ser trabalhada desde os primórdios de nossa existência, Fonseca (1996, p. 142) coloca que:
(...) alfabetizar a linguagem do corpo e só então caminhar para as aprendizagens triviais que mais não são que investimentos perceptivo-motor ligados por coordenadas espaços-temporais e correlacionados por melodias rítmicas de integração e resposta.
Após estes estudos percebemos que as teorias psicogenéticas contribuíram para ampliar a importância dos aspectos psicomotores, contemplando todas as crianças, pois a necessidade das práticas pedagógicas francesa do início do século XX estava ligada à luta contra o fracasso escolar de educandos, os quais não apresentavam nenhuma patologia, e mesmo assim eram submetidas a processo de reeducação.
Após muitos anos de pesquisas, já nos tempos atuais os estudos sobre psicomotricidade ultrapassam os processos motores, direcionando-se à estruturação espacial, à orientação temporal, à lateralidade, às dificuldades escolares em crianças com desenvolvimento psicomotor normal.
Fonseca (1985, p.285) ainda explica o seguinte:
Porque a motricidade e posteriormente, a psicomotricidade representam a maturação do Sistema Nervoso Central, é compreensível que os problemas psicomotores, mais do que os motores, sejam evidenciados pelas crianças com dificuldade de aprendizagem.
A psicomotricidade é a relação entre o pensamento e a ação, englobando, portanto, funções neurofisiológicas e psíquicas, há uma combinação mútua entre a tonicidade e o equilíbrio para assegurar o controle postural, assim como a lateralização, a noção de corpo e a estrutura espaço-temporal se inter-relacionam para elaborar qualquer tipo de práxis. Por isso, que qualquer disfunção num fator psicomotor produz mudanças em todo o Sistema. Por este e demais fatores é que devemos atribuir cuidados ao desenvolvimento psicomotor humano desde cedo, sendo assim indispensável sua estimulação.
De acordo com o Site de Psicomotricidade (www.psicomotricidade.com.br acessado em 10/11/09), foi em 1982 que a Sociedade Brasileira de Terapia Psicomotora, atual Sociedade Brasileira de Psicomotricidade, propôs uma definição bastante abrangente do que vem a ser Psicomotricidade: “Psicomotricidade é uma ciência que tem por objetivo o estudo do homem, através do seu corpo em movimento, nas relações com seu mundo interno e externo”. Portanto, “Psicomotricidade é a área que se ocupa do corpo em movimento”. Mas não se pode esquecer que o corpo é um dos instrumentos mais poderoso que o sujeito tem para expressar conhecimentos, ideias, sentimentos e emoções. É ele que une o indivíduo com o mundo que lhe dá as marcas necessárias para que se constitua como sujeito.
1.1 PSICOMOTRICIDADE NO CONTEXTO ESCOLAR
Ao ingressar na escola, a criança que até então tem vivenciado suas experiências no mundo concreto, iniciará suas experiências cognitivas no mundo abstrato, simbólico.
Segundo LE BOULCH (2004, p. 58):
É através da experiência que são realizados os ajustes psicomotores. Os ajustes psicomotores referem-se à evolução e adequação dos esquemas que favorecem a percepção do próprio corpo e o controle mais eficiente dos movimentos.
Por sua vez, a psicomotricidade age de forma terapêutica, abordando, através do corpo, questões emocionais, afetivas, psicológicas e psíquicas que se descortinam no trabalho psicomotor, reelaborando conceitos e vivências que se tornam barreiras no desenvolvimento do indivíduo ou grupo.
Desde os tempos remotos o professor é visto como um direcionador do seu educando, assim não seria diferente na Escola cujo seu papel é de conduzir e estimular a aprendizagem, assim hoje sabemos a importância e o papel pedagógico, educativo, social desde a Educação Infantil até a prática de esportes no Ensino Fundamental e Médio.
Porém a tecnologia presente na vida da criança desde muito cedo tem sido um fator de destaque no contexto atual restringindo muito o brincar da criança que é a fonte de descobertas, de aprendizagem, não só em relação com si mesma, mas em interação com o grupo.
Fonseca (1987, p. 21) assinala sua preocupação com este fato quando afirma:
[...] a ausência de espaço e a privação de movimento é uma verdadeira talidomida da atual sociedade, continuando na família (urbanização) e na escola. A não-aceitação da necessidade de movimento e da experiência corporal da criança põe em causa as atividades instrumentais que organizam o cérebro.
Hoje se percebe que uma criança é capaz de passar horas sozinhas, na frente do computador ou da televisão, mas não consegue brincar de pular corda. Pode se mostrar desajeitada ao tentar subir em uma árvore, porém irá ter uma habilidade fantástica ao manusear o controle do vídeo game. As atividades acabam sendo em grande parte, solitárias e sem estimulação motora.
A criança não corre mais, não percebe os movimentos que pode realizar, não domina seu próprio corpo, sentindo-se insegura em relação com o mundo. Toda essa falta de habilidade irá repercutir no desenvolvimento emocional, cognitivo e social, diminuindo possibilidades nas aquisições motoras que serão a base para muitas aprendizagens escolares.
Percebe-se assim que são necessários fundamentos sólidos que sustentem uma prática educativa amplamente engajada no sentido da compreensão de homem e da adoção de uma pedagogia vinculada a atividades coerentes aos processos de desenvolvimento psicológico deste homem, com isto, a Educação Psicomotora, deverá está incluída em um projeto mais amplo de educação que considere o conhecimento em relação à vida, proporcionando tanto a descoberta do mundo exterior, das coisas, do mundo objetivo, quanto a descoberta do mundo interior, do autoconhecimento, da auto organização.
A prática da educação psicomotora está se consolidando nos processos brasileiros de escolarização, com um caráter eminentemente preventivo, facilitando o desenvolvimento global dos indivíduos, sendo aplicada às crianças em situação escolar, desde o ingresso na Educação Infantil, distanciando a visão clínica dessa ciência para uma visão educacional.
A nós educadores cabe propiciar atividades diversificadas e criar ambientes educativos cada vez mais ricos e desafiadores. Um dos caminhos que vem privilegiando tal situação é o da brincadeira, o qual proporciona todo o desenvolvimento cognitivo, além de ser prazeroso, pois se descobrem o mundo que a cerca e é a partir da exploração do seu próprio corpo e dos amigos que iniciam as construções dos conhecimentos e habilidades principais.
Há muito já se percebe a importância das atividades que contribuam com o desenvolvimento motor e intelectual das crianças não cabendo mais em nossas escolas lugar para os impedimentos das brincadeiras, pois é através delas que os conhecimentos veem aflorando cada vez mais consistente e consciente, o ideal é apresentar materiais que incentivem brincadeiras diversas e enriqueçam cada vez mais o processo ensino-aprendizagem.
Em sala de aula toda atitude da criança, relacionada ao corpo, deve ser estimulada, respeitando-se a individualidade de cada um como ser único, diferenciado e especial, permitindo a autonomia de forma tal que respeite as diferenças individuais e possibilite a esta criança alcançar a autonomia. E é pela ação que a criança vai descobrindo suas preferências e adquirindo a consciência dos esquemas corporais, e para que isso ocorra de fato é importante que ela vivencie experiências diversas no processo do seu desenvolvimento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FONSECA, VITOR DA. Psicomotricidade. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1985.
___________________ Psicomotricidade. 4. ed. São Paulo: Martins Fonte, 1996.
___________________ Escola, Escola, Quem És Tu? “Perspectivas Psicomotoras do Desenvolvimento Humano" - Porto Alegre, Artes Médicas, 1987.
LE BOULCH, J. A educação pelo movimento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1983.
___________, Educação psicomotora: a psicomotricidade na idade escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.
___________, O Desenvolvimento Psicomotor: do Nascimento aos 6 anos. 2004. Porto Alegre: Artes Médicas.
Publicado por: Amled Julião Rodrigues
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