A figura do pesquisador-pedagogo no Ensino Superior
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Vivemos o século XXI, um período de verdadeira universalização da imagem, onde com cada vez mais intensidade as manifestações visuais – televisão, fotografia, cinema, teatro – estão mais presentes em nosso cotidiano, assim como a tecnologia, e cuja sociedade tem se preocupado, a meu ver, na aquisição de bens materiais E de consumo, o que culmina diretamente numa educação – em qualquer que seja o nível – que prepara o sujeito para o mercado de trabalho, pretendendo deixa-lo pronto para ocupar um posto nessa “máquina técnica”, e isso se torna ainda mais claro quando analisamos o Ensino Superior.
Diante desse quadro tem-se apresentado nas instituições de Ensino Superior – irei deter-me, basicamente, a discutir somente este nível educacional – profissionais docentes que atendem à esta demanda, formar tecnicamente sujeitos para o mercado de trabalho. Mas, diante do quadro social que vivemos, das reclamações por parte de muitos alunos da falta de “didática”, das falhas nas relações humanas e ética no trabalho que presenciamos será que esse profissional atende à demanda, realmente? Acredito que seja preciso modificar essa estrutura de ensino para algo mais humano; Técnico sim, mas também humanizado, e é pelo professor que essa mudança pode começar.
BORBA e SILVA (2014) nos apresentam essa necessidade e esse “novo sujeito” de forma muito clara, condiserando que o professor universitário, como o de qualquer outro nível, necessita apenas de sólidos conhecimentos na área em que pretende lecionar, mas também de habilidades pedagógicas suficientes para tornar o aprendizado mais eficaz. Além disso, o professor universitário precisa ter uma visão de mundo, de ser humano, de ciência e de educação compatível com as características de sua função.
A história é rica justamente por ser composta de gente que viveu no tempo de suas vidas, agiu, construiu, e deve ser respeitada como tal. Nossa sociedade não é diferente das demais no sentido de viver cercada por paradigmas, ser sustentada por eles em certa medida, e o papel do professor no Ensino Superior é um paradigma que está sendo modificado, ou ao menos esta é a tentativa latente na academia, o que não quer dizer que seja possível julgar como incorreta a visão anterior, pois ela atendia às necessidades de seu tempo, do mesmo modo que uma nova forma pretende atender ao nosso. A esta nova forma, cuja ideia para mim consiste basicamente no que os autores mencionados acima apontam, chamo de “pesquisador-pedagogo”.
Inicio minha defesa partindo da ideia de que, como afirma BITTENCOURT (2005), o laboratório de pesquisa do professor é a sala de aula; não é porque alguém se graduou como professor e não fez um bacharelado que ele não é pesquisador, e não deve dar continuidade a suas pesquisas quando sair da academia, e também não é porque alguém não se formou numa licenciatura que deve esquecer-se de qual o papel do professor, quando este assume uma sala de aula. Acredito que o profissional docente deve encarar as salas de aula como seu laboratório de pesquisa, e o ensino como objeto – além, é claro, de suas demais pretensões de pesquisas científicas –.
Por isso compartilho do pensamento de SHON (2000), de que o conhecimento do profissional docente deve formar-se sobre a experiência, através da qual ele pode experimentar a ação e a reflexão em situações gerais, de modo que a sala de aula funcione como um laboratório prático em consonância com estudos teóricos.
E levando em consideração esses aspectos o professor deve se dispor a pensar a sua ação, para ser capaz de planejar e elaborar uma proposição de aula que esteja comprometida com a qualidade da aprendizagem. E isso é basicamente a ideia defendida por BONADIMAN (2014) em seu artigo ao expor a ideia de pensadores da educação, que o professor reflexivo é aquele que racionaliza sua própria prática, a crítica, revisa e a fundamenta.
O docente do Ensino Superior deve problematizar sua prática pensando no processo de ensino e aprendizagem. E para tal, é preciso que o professor tenha consciência que deve prezar por um ensino mais humanizado, e ir além da transmissão de conhecimento específico, devendo então reconhecer a realidade do seu corpo discente para então problematizar as mais variadas questões com os mesmos (claro, em consonância com os conteúdos da disciplina ministrada), aliadas ao conhecimento técnico que irá dar ao sujeito a possibilidade de inserção do mercado de trabalho.
Dentro dessa perspectiva acredito que para que isso ocorra são necessários profissionais, pesquisadores-pedagogos, que se preocupem não apenas com eles, mas com os alunos aos quais atendem e realizem o chamado Estudo da Realidade.
PERNAMBUCO e PAIVA (2005) fizeram pesquisas acerca deste estudo e concordo com elas quando colocam que compreender a realidade é “reconhecer os nexos que se estabelecem entre esses diversos aspectos, da cultura, da ciência, da tecnologia e as formas como os sujeitos explicam, agem, avaliam e convivem com o outro” (PERNAMBUCO, PAIVA, 2005, p.4).
Para elas, "o ponto de partida do nosso fazer pedagógico deve ser conhecer a realidade dos sujeitos envolvidos no processo educativo, o que significa conhecer suas experiências familiares, sua comunidade, suas estratégias de sobrevivência, seus conhecimentos, suas expectativas, suas formas de lazer, pois tais elementos orientam suas condutas nos diversos espaços da vida social, seja na escolas, na comunidade, constroem interpretações e explicações sobre as coisas. (PERNAMBUCO, PAIVA, 2005, p.3)
Ou seja, é preciso que os profissionais docentes reflitam não apenas sobre eles e suas práticas, mas sobre os alunos e como eles aprendem, ensinam e compreendem através de suas práticas e do seu cotidiano, suas vivências. Uma relação ensino-aprendizagem cidadã, humana, considera a realidade dos sujeitos e aborda os conteúdos de modo que eles façam sentido e tenham significado para a formação do alunado enquanto cidadãos conscientes, e o professor pratico-reflexo é o profissional capaz de compreender isso e aliar tal compreensão às suas práticas pedagógicas e ao objetivo claro desse nível de ensino em nosso país, que é formar sujeitos para ocupar um espaço no mercado.
FREIRE (1996) afirma que os professores devem estudar para exercer a docência, e que devem estar em constante pesquisando, pensando suas práticas e adequando-as à realidade dos alunos, para que seja ele um meio auxiliar na construção do conhecimento por parte dos alunos. Fica assim evidenciada a necessidade de tudo que for realizado em sala de aula estar em consonância com o público alvo, do contrário os objetivos almejados não serão atingidos, sendo o principal deles a formação de sujeitos críticos capazes de pensar e transformar o mundo em que vivem, como aponta FREIRE (1996). E, fica evidente após esta reflexão que o profissional docente é um dos instrumentos principais nesse processo formativo.
Logo, sobre a figura do “pesquisador-pedagogo” acredito ser o docente do Ensino Superior que conhece sua área de atuação muito bem, sendo capaz de problematiza-la em diversas instâncias, sejam elas teóricas, práticas e teórico-práticas, e está em constante pesquisa sobre a mesma, atualizando-se, mas também o sujeito que, além disso, relaciona todo seu conhecimento específico a outras áreas do conhecimento, de modo que a pluralidade está presente em sua fala, as possibilidades de relação, e está preocupado com a maneira como constrói conhecimento com seus alunos – não apenas transmite conhecimento específico, troca e constrói com o corpo discente através dos diferentes lugares de fala –, de maneira que os sujeitos formados em sua sala de aula tenham consciência crítica sobre os temas tratados a partir do momento em que fazem relação com a realidade que vivenciam. Valendo a salientar que essa relação está comumente presente na fala dos alunos que aponta professores “sem didática”.
Esse é o novo paradigma do Ensino Superior no século XXI, aliar o saber científico ao humano, um ensino profissionalmente coerente com as demandas e humanizado, e para tal, é preciso que os professores sabem “o quê” e “como” ensinar.
MOSCOVICI (1978) entende que “toda ordem de conhecimento pressupõe uma prática e uma atmosfera que lhe são próprias e lhe dão corpo.” E, também, sem dúvida alguma, um papel particular do individuo conhecedor. Cada um de nós preenche de modo diferente esse papel quando se trata de escrever o seu ofício na arte, na técnica, ou na ciência. E ser docente do Ensino Superior deve ser significativo para quem é e para os que são atendidos e constroem conhecimento com ele.
REFERÊNCIAS
BITTENCOURT, Circe (org.) O saber histórico em sala de aula. São Paulo - SP: Contexto, 2005.
BONADIMAN, Heron Laiber. O professor reflexivo para uma escola cidadã: tensões e possibilidades. Disponível em: http://www.abrapso.org.br/siteprincipal/images/Anais_XVENABRAPSO/112.%20o%20professor%20reflexivo%20para%20uma%20escola%20cidad%C3.pdf Acessado em: 28 de fevereiro de 2014
BORBA, Ernesto Oliveira, SILVA, Regina Nogueira da. A importância da Didática no Ensino Superior. Disponível em: http://www.ice.edu.br/TNX/storage/webdisco/2011/11/10/outros/75a110bfebd8a88954e5f511ca9bdf8c.pdf Acessado em: 28 de fevereiro de 2014.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
MOSCOVICI, Serge. A Representação Social da Psicanálise. Rio de Janeiro – RJ: Zahar Editor, 1978.
PAIVA, Irene A, PERNAMBUCO, Marta Maria, Caderno Didático 1: pesquisando as expressões da linguagem corporal; (Artes e Educação Física). Natal: Paidéia/UFRN, 2005.
SCHÖN, Donald A. Educando o Profissional Reflexivo: um novo design para o ensino e a aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.
Publicado por: Ildisnei Medeiros da Silva
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