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A estranha e curiosa esfera virtual - novos textos exigem novas leituras

relação Brasil x leitura, formação de alfabetos funcionais, advento da internet, novas formas de texto e leitura, jovens e o hábito de ler, o ato de escrever.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

O que seria da humanidade sem bons livros? Infelizmente este não é um questionamento que  atinge um grande contingente de pessoas. No Brasil, por exemplo, raras são as pessoas que se entregam à leitura de um bom livro. A cultura literária, já naturalmente empobrecida, vem perdendo seu “reles” espaço para a televisão e para a Internet.

Esses aspectos favorecem o surgimento dos analfabetos funcionais, que, no Brasil, chega a 85% da população.

A geração que aí está, quando lê, não consegue interpretar e, tampouco, expressar aquilo que leu.

O advento da Internet trouxe consigo novas formas de texto e de leitura. Infelizmente, em se tratando de uma geração que não lê, a leitura que a Internet proporciona é insuficiente para formar leitores fluentes, pois apresenta textos curtos e objetivos, que não exigem reflexão para a compreensão. Além disso, como não é uma boa ferramenta para desenvolver a criação escrita, uma vez que o novo código escrito criado para este ambiente, não atende aos padrões necessários para a escrita de um bom texto ou para a estruturação de uma pesquisa.

No entanto, um alto índice desses “analfabetos” sai da escola básica a cada ano. Jovens que não cultuam o hábito de ler e, conseqüentemente, bloqueiam o hábito de escrever. Assim, a criação ou expressão da aprendizagem dessa geração fica seriamente comprometida, uma vez que, como afirmou Machado (2000) o ato da leitura sem a escrita não proporcionará ao sujeito a criação de algo, tampouco a transformação deste algo em aprendizagem, pois se não existir a interação entre o autor e o leitor, não há a possibilidade de surgirem novas conexões e novas reflexões a partir do que já está escrito.

Mas se, como afirmam muitos, atualmente a sociedade é chamada de “sociedade do conhecimento”, como resolver este paradoxo que assombra as instituições escolares de todos os níveis? Como atrair as pessoas de volta para a cultura letrada da qual fazem parte, fazendo-as se arriscar em registros e criações textuais, não deixando se extinguir o campo da pesquisa, da interação e da transformação de idéias?

É óbvio e urgente o investimento na qualidade da educação. Projetos que, desde a pré-escola, formem leitores competentes são fundamentais.

A insistência dos professores na leitura e produção de seus alunos também é indispensável. A formação para a pesquisa, desde cedo, primordial.

Em relação a isso, Marques (2001, p. 23) acrescenta:

Construção de novos saberes, a partir de saberes anteriores; na verdade, uma reconstrução deles, no sentido de desmontagem e recuperação de modo novo. Os saberes de cada interlocutor confidentes, leitores, autores convocados com suas obras, sujeitos de práticas sociais a quem ouvi, entrevistei, interpelei - e os meus saberes se fundem e se transformam, reformulam-se. De maneira muito especial, meus saberes anteriores se configuram agora outros. A isso chamamos de aprendizagem. Por que não de pesquisa?

A pesquisa é um ponto importante e erroneamente difundido no modelo de escola atual. Os discentes, “inocentemente” usam as funções “recorta” e “cola” e entregam aos professores os “trabalhos” como sendo “pesquisas”. E os professores, também leitores e produtores, muitas vezes inexperientes, aceitam e disseminam essa fórmula que não se constitui em construção de aprendizagem, tampouco, em pesquisa.

A Internet é um instrumento riquíssimo de pesquisa, pois nela encontra-se tudo sobre qualquer assunto. Sem falar que se pode lançar pesquisas próprias na Internet para auxiliar no trabalho de outras pessoas.

Entretanto, a Internet se tornou uma terra de ninguém e isso exige que se tenha muito cuidado com o que se escreve e lê neste meio. Nem tudo é como ali está escrito. Os textos são inacabados, uma vez que cada leitor pode alterá-lo da forma como quiser e lançá-lo novamente ao ambiente virtual.

Para que os alunos possam utilizar a Internet com segurança e responsabilidade, projetos em sala de aula que coordenem esse uso são essenciais. E, em momento algum, é possível a substituição de livros e materiais impressos pelo material virtual. Tudo o que a Internet e as mídias oferecem são complementos para enriquecer a formação dos discentes. Cada item tem seu espaço e sua importância. A leitura, por exemplo, na Internet é muito clara e objetiva. Os textos são curtos e não exigem um mergulho do leitor, nem precisam da participação criativa deste.

Logo, a formação de leitores deve acontecer cotidianamente, dentro das salas de aula, com o uso de material concreto. Sabe-se que a leitura e escrita são complementares. Se não se consegue formar leitores de um dia para o outro, tampouco escritores que aceitem o desafio de (re)construir textos. E este estímulo deve começar o quanto antes, não só na escola, mas na família e sociedade em geral.

O ato de escrever envolve não apenas a leitura. No entanto, sem a leitura ele é impossível. Talvez seja esse o fator que inibe os seres a expressar aquilo que habita suas mentes o que, conforme Marques (2001) até é um ato natural uma vez que “as resistências ao ato de escrever são, aliás, comuns mesmo entre os que a ele se dedicam de forma acentuada.”(p. 79).

Em suma, só se aprende a escrever, escrevendo. A leitura é o ingrediente básico e a pesquisa, o elemento motivador que ascende e mune o “escritor” de ferramentas e possibilidades, que encadeiam e arranjam as palavras de tal forma que assumam novos sentidos, novos elementos e transmitam “novos” conhecimentos, até que estes sejam novamente reordenados, e assim sucessivamente sem deixar a palavra e os conceitos estagnarem no tempo e sem deixar que os livros se extingam de nossa sociedade. O meio virtual existe para a difusão desses conhecimentos. Através dele, os textos produzidos atingem mais e mais leitores e, quem sabe, se for utilizado com eficiência, forme mais e mais escritores também.

O importante é munir-se de todos os meios possíveis que possam, de alguma forma, auxiliar o aluno no processo de ensino-aprendizagem. Seja no âmbito virtual ou no real, as ferramentas vem como auxílio e as formas são apreendidas conforme o ambiente em que o aluno está. O que não se pode é deixar que os saberes fiquem engavetados, sem serventia. Eles devem ser difundidos e compartilhados para que atinjam o maior contingente de pessoas possíveis.

REFERÊNCIAS

MACHADO, Ana Maria Netto. O sexo das letras. Porto Alegre: Laboratório da Escrita, 2001.

MARQUES, Mario Osório. Escrever é preciso: o princípio da pesquisa. 4. ed. Ijuí: Unijuí, 2001

FABEULE SIMONE BEHLING é professora de Língua Portuguesa de Ensino Fundamental - séries finais - e Ensino Médio, na rede municipal de Taquara, no Rio Grande do Sul. Formada em Letras pela Unisinos, é aluna de Pós-Graduação em Metodologia de Ensino.


Publicado por: FABEULE SIMONE BEHLING

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