A educação escolar e sua abrangência econômica
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RESUMO
Este trabalho tem o objetivo de discutir a educação escolar brasileira e refletir sobre a sua função econômica, investigando se esta função está na raiz dessa prática, como herança cultural do nosso povo, uma vez que nossos antepassados viam a educação como uma ferramenta utilitária para formação de mão de obra qualificada, necessária ao desenvolvimento do país que migrava de um sistema econômico agrário para um sistema econômico industrial. Percebe-se que, apesar das reformas porque passou, a nossa educação escolar pratica uma educação dual, que favorece uma minoria em detrimento de uma maioria, formando classes sociais antagônicas, uma vez que é seletiva e, portanto, continua perpetuando as desigualdades, em nome de uma meritocracia que não esconde o objetivo de distribuir privilégios, pela sua inclinação antirrepublicana, beneficiando às elites dominantes, sendo necessário mudar essa práxis para, através de uma ação pedagógica inovadora, comprometida com a formação integral dos atores envolvidos nesse processo, caminhar com o objetivo de instituir uma educação significativa que insira social e economicamente os atores que atuam nessa área, transformando-os em protagonistas dessa ação e transformação.
PALAVRAS-CHAVE: Educação escolar; Função econômica; Herança cultural; Ação pedagógica; Desenvolvimento.
1 - INTRODUÇÃO
Lendo os jornais: Diário de Pernambuco e Jornal do Commercio do dia 20 de dezembro de 2012, constatamos, de acordo com dados do Censo 2010 apurados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),– um dos mais conceituados e respeitados institutos de pesquisa do país – que apenas 11,3% dos jovens com 25 anos ou mais tinham completado o ensino superior até aquele ano. Um crescimento aproximado de 5%, uma vez que em 2000 eram somente 6,8%. Outro dado alarmante é que mais de 49% da população adulta (25 anos ou mais) não completaram o curso fundamental e que há um abismo no nível de instrução de adultos entre o Nordeste e o Sudeste. É como se existisse no país, dois países diferentes. Apesar disso, percebe-se que a renda das famílias brasileiras cresceu e que há mais crianças na escola, como afirma Denise Colin, secretária nacional de Assistência Social do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS). O que se confirma quando é comprovado que o nível de instrução cresce entre a população mais jovem.
Ao se fazer uma leitura detalhada dos dados apresentados verifica-se, sem grandes dificuldades, como é complexa a relação entre a educação escolar e a economia, uma vez que muitas variáveis estão envolvidas nessa relação. História, cultura e herança dos nossos antepassados talvez expliquem o porquê desse descompasso entre o avanço econômico e o educacional. Apesar do Brasil ser considerado hoje como a sexta economia de mundo, continua sendo um dos últimos países no ranking educacional.
O professor americano Salman Khan afirma que para uma nova transformação acontecer, na área educacional, não é necessário dispormos de recursos mirabolantes nem tão dispendiosos. Ele defende o bom senso, revelando que todas as pesquisas da neurociência já provaram que as pessoas perdem a concentração em longas palestras, entretanto a aula-padrão é expositiva e leva, em média, uma hora. Por quê?
As aulas virtuais desse professor não ultrapassam vinte minutos. Elas são consideradas a coqueluche americana. Nas suas declarações ele utiliza a imagem de um queijo suíço para afirmar que o aprendizado atual é cheio de buracos, pois os educandos mudam de capítulos (conteúdos, fases) sem ter assimilado o capítulo anterior, sob a estranha tolerância do sistema de ensino. Também afirma que uma das raízes do fracasso escolar é a falta de ambição acadêmica, ao mesmo tempo em que critica a monotonia das salas de aula, uma vez que o mundo clama pelo surgimento de gente criativa, ousada e empreendedora que inove e se posicione contra esse modelo vigente que reforça a passividade dos educandos e acentua a divisão de classe, a partir dos interesses econômicos, contribuindo para essa estratificação, uma vez que inclina o sistema educacional a ignorar as reais vocações do educando, impondo a este um currículo fragmentado, de acordo com a sua classe social, sem respeitar seus anseios, suas potencialidades, seus limites e sua individuação.
Tentaremos nesse trabalho desenvolver algumas questões que analisem essa relação, refletindo e propondo ações, a partir das nossas inquietudes, dentro de um entendimento que poderemos conceber sobre a abrangência da economia na educação escolar, a partir dessa pesquisa.
2 - METODOLOGIA
Para desenvolver esse estudo sobre a educação escolar e sua abrangência econômica tivemos que recorrer, também, a outro tipo de literatura, por isso nos debruçamos sobre jornais, revistas e sobre a obra de Mankiw (2007), intitulada: Introdução à Economia. Entretanto, as consultas aos registros realizados por estudiosos, tais como: Baschet (2006), Freire (2005), Laraia (2003), Pereira (2009) e RomanelliI (2012); além das informações contidas em documentos gerados por órgãos gerenciais e técnicos do sistema educacional brasileiro, tiveram um papel de suma importância, pois sem esses escritos, reflexões e teorias contidas nos mesmos, teríamos, certamente, sucumbido a essa árdua, porém sedutora tarefa.
A Escola Eloy Malta de Alencar, onde atualmente estamos trabalhando, foi o nosso laboratório. Nessa escola pudemos comprovar in loco, importantes afirmações teóricas. As suas turmas da 8ª. Série (9º. ano) e do 2º. ano se converteram em nossos objetos de observação, participando ativamente de todas as experiências desenvolvidas, o que contribuiu muito para a obtenção dos resultados. Essa escola entende que a educação escolar tem sim uma função econômica, mas que essa não é a principal função, como se confirma nesse registro tão apropriado.
A função primeira da escola é dar a seus alunos instrumentos de que necessitam para navegar no mundo: o domínio básico da escrita e das operações matemáticas. Sem elas, é impossível funcionar de maneira autônoma. Depois a escola precisa transmitir aos alunos uma vasta base factual, expondo-os ao conhecimento acumulado pela humanidade. Não apenas porque esse conhecimento é indispensável para o desenvolvimento do raciocínio (falo mais sobre isso em artigo futuro, sobre neurociência), nem porque, se bem ensinado, é intelectualmente estimulante, uma vez que as crianças são naturalmente curiosas, mas também porque essa exposição é necessária para que demos às crianças a chance de ter contato com suas reais vocações (Ioschpe, 2012, p. 105, 106).
3 - DESENVOLVIMENTO DO TEMA
Na educação estamos sempre praticando trocas entre os diversos objetivos que perpassam as ações formativas, educativas e pedagógicas das nossas praticas de ensino e aprendizagem. Essas trocas se dão, em virtude da escassez de recursos que parece uma doença crônica da área. Percebemos que o custo de quaisquer dessas ações é mensurado em termos de oportunidades criadas e/ou abandonadas, quando se identificam as ameaças e oportunidades a serem vivenciadas. Verificamos, sobretudo, que tomamos decisões – em todos os níveis – considerando sempre os custos e os benefícios marginais, assim como confirmamos as mudanças de comportamento das pessoas, à medida que incentivos lhes são oferecidos. Essas mudanças se realizam por indivíduos ou grupos que objetivam alcançar benefícios próprios e sem querer terminam construindo o bem comum. Isso pode ser observado quando os educandos do 2º. ano do ensino médio recebiam um bônus nas avaliações por participar de uma atividade extra.
Mankiw (2007, p. 01) revela-nos que “[...] cada família precisa alocar seus recursos escassos a seus diversos membros, levando em consideração as habilidades, esforços e desejos de cada um”. Como já afirmamos isso se realiza cotidianamente na escola, e mais, ela tem que realizar as chamadas mudanças marginais, também descritas pelo economista, para promover pequenos ajustes, incrementar ou cortar atividades constantes de um Plano de Ação Pedagógico em curso, devido a essa escassez. A partir dessa alocação ela pode comparar os benefícios e os custos marginais, avaliando os avanços obtidos e se a ação pedagógica foi vitoriosa, carecendo, ou não, de novos incentivos ou incrementos para avançar em direção dos objetivos e metas estabelecidos.
Isso, entretanto, parece nem sempre ter se realizado. A econômica na área de educação escolar tem se mostrado claramente reguladora, mas parece enfrentar uma “falha de mercado”, devido às diversas “externalidades”, sendo derrotada pelo poder de mercado. O Governo tenta corrigir isso autoritariamente. Herança cultural que nos parece estar na origem da formação do nosso povo que não respeita a economia de mercado.
Embora a mão invisível geralmente leve os mercados a alocar os recursos de forma eficiente, isso nem sempre acontece. Os economistas usam a expressão falha de mercado para se referir a uma situação em que o mercado, por si só, não consegue produzir uma alocação eficiente de recursos. Uma possível falha de mercado é a externalidade, que é o impacto das ações de uma pessoa sobre o bem-estar dos que estão próximos. Um exemplo clássico de custo externo é a poluição. Outra causa possível de uma falha de mercado é o poder de mercado, que se refere à capacidade de uma pessoa (ou pequeno grupo de pessoas) influenciar indevidamente os preços de mercado (Mankiw, 2007, p. 10,11).
3.1 – EDUCAÇÃO: HERANÇA CULTURAL E FUNÇÃO ECONÔMICA
Nossa educação é influenciada, nitidamente, pela nossa herança cultural. A nossa história, a memória e os nossos dirigentes governamentais não nos deixam esquecer os fatos e atos que deram lastro a ela. A nossa identidade cultural é abalizada pelos nossos atos, rituais e ações advindos das nossas crenças e dos nossos valores e dos códigos dominados por nós. Estes, que são processos educativos vão desaguar nas nossas práticas pedagógicas, pois como afirma Brasil (2005, p. 36). “A cultura de um povo, de uma civilização, sobrevive pelas práticas de recriação e de transmissão quando os mais velhos comunicam aos mais novos as suas tradições”. Talvez isso explique porque nossa educação realiza um controle social, através da seleção discriminatória, perpetuando a supremacia de uma classe dominante em detrimento de outra.
O desenvolvimento implica em conhecimento que se obtém através da educação. Baschet (2006, p. 147) registra: “O desenvolvimento das cidades dá lugar a um fenômeno sobre o qual a historiografia herdada do século XIX gostou de insistir: a formação das comunas, muitas vezes apresentadas como resultado da luta triunfante da “burguesia” em sua aspiração revolucionária por liberdade”.
Nos últimos tempos o desenvolvimento econômico registrou um fenômeno de migração do campo para as cidades, entretanto, desenvolvimento não se mede apenas por avanço econômico, pois desde que os jesuítas aportaram em nossas terras, os índios que aqui habitavam foram obrigados a agir e pensar como os povos portugueses. Como eles se rebelaram e não aceitaram o tipo de educação a eles imposto, foram taxados de preguiçosos e rebeldes, sendo substituídos pelos africanos importados dos seus países de origem, com o objetivo de garantir as benesses dos brancos aqui existentes, sendo explorados e castigados, severamente, quando se insurgiam contra os maus tratos.
Desde esse período as pessoas foram estratificadas por classes sociais. Nessa sociedade foi introduzido o trabalho como instrumento de dignificação do homem, mas contraditoriamente esta mesma sociedade não oferecia aos trabalhadores condições dignas de exercer as suas atividades laboriosas. Já se percebia aí as premissas do modo de produção capitalista. As classes dominantes edificaram, portanto, uma sociedade hierárquica e autoritária, onde uns trabalhavam e outros lucravam com essa força de trabalho.
O Marquês de Pombal, movido pelas ideias de filósofos como: Newton, Montesquieu, Voltaire, Diderot, Rousseau, Smith e Kant conseguiu expulsar a Companhia de Jesus de Portugal e de seus reinos, reafirmando a autoridade real, civil e laica sobre a religiosa. Entretanto a educação gerenciada por ele era utilitária e profissional.
Com a chegada da corte portuguesa ao Brasil foi ratificada a educação aqui implantada direcionada às elites, enquanto os africanos e os indígenas eram excluídos do processo educacional e permaneciam bem longe das escolas. Em Pernambuco, os senhores de engenhos não permitiam que sentassem junto aos seus filhos nas escolas, negros ou índios que se constituíam na maioria da nossa população.
Aqui no Brasil a educação foi um privilégio dos filhos dos abastados, e o restante da população teve de lutar para ter direito ao acesso à escola e aos bens culturais e patrimoniais.
.............................................................................................................................................O decreto número 1.331 de 17/02/1854, estabeleceu que nas escolas públicas do país não seriam admitidos escravos e a previsão de instrução para adultos dependia da disponibilidade de professores.
.............................................................................................................................................O decreto número 7.031-A de 06 de 08/1878 estabelecia que os negros libertos, maiores de 14 anos, só podiam estudar nos cursos noturnos e as despesas com as luzes das salas de estudos tinham que ser pagas pelo ministério de Império (Brasil, 2005, p. 44,45).
Isso talvez venha justificar o insucesso dos programas de alfabetização de adultos em nosso país. O que tem colocado a nossa educação muitos níveis abaixo de outras da América Latina. Autoridades e políticos da época discutiram a necessidade de escolarizar a população pobre, mas as elites entenderam que os lucros diminuiriam, caso os lavradores e os seus filhos fossem para a escola e não para o trabalho. Romanelli (2012, p. 33) nos informa: “Foi a família patriarcal que favoreceu, pela natural receptividade, a importação de formas de pensamento e ideias dominantes na cultura medieval europeia [...]. A classe dominante, detentora do poder político e econômico, tinha de ser também detentora dos bens culturais importados”.
Observamos, portanto, que desde os nossos antepassados, houve uma nítida conotação econômica e uma necessidade de cristalizar a supremacia das elites econômicas na implantação do regime educacional do país pelo acesso restrito à educação escolar. Ainda no século XIX, geralmente, era proibido o acesso de crianças negras às escolas, mesmo que fossem livres. Em algumas regiões do país as mulheres eram proibidas de frequentar as escolas. Damatta (2004) questiona essa educação: “Como fundar um sistema universal de educação em uma sociedade em que não passa pela cabeça de quem é branco botar o menino dele sentado ao lado do filho de um escravo?” (Apud Pereira, 2009, p.33).
Isso, de certa forma, passa a ser um complicador para que a educação expanda a sua função econômica. Romanelli (2012, p. 25) estudando esse sistema antigo de ensino diz: “O sistema arcaico de ensino, seletivo e aristocrático, torna-se então um obstáculo ao sistema econômico. Este passa, pois, a pressionar o sistema educacional no sentido de renovar-se”.
3.2 – ORIGEM DA FUNÇÃO ECONÔMICO-SELETIVA DA EDUCAÇÃO ESCOLAR
A nossa educação passou por diversas reformas no século XX, como a que Benjamin Constant promoveu em todo o país, no ano de 1910. Em 1911, Rivadávia Correia promoveu outra reforma e em 1915, Carlos Maximiliano também promoveu uma reforma no país. Em 1926, Anísio Teixeira promoveu uma reforma só na Bahia e, aqui em Pernambuco, Carneiro Leão promoveu uma no ano de 1925. Mas essas reformas não foram suficientes para garantir aos negros, índios e adultos, excluídos pela própria estrutura econômica e social brasileira, o acesso aos seus bens e aos direitos elementares de sobrevivência.
Quando o país se transformou em República e avançou na área industrial, justificava-se o nosso atraso pelo nível educacional do nosso provo. A educação escolar passou a ser vista como “redentora de todos os males sociais”. A nossa economia começou a exigir outro nível de formação do nosso educando, futuro trabalhador, que necessitaria ter um domínio maior de conhecimento e manuseio de novas ferramentas, além de outro tipo de comportamento.
As funções da escola pública seriam, então, determinadas por meio de modelos de homens e de mulheres que se desejaria para uma sociedade capitalista, de classe. Portanto, coube às escolas, entre outras instituições, selecionar, hierarquizar e classificar aqueles que tinham aptidão para as atividades de comando. Outros, considerados incapazes de aprender, deveriam ser encaminhados para tarefas manuais e inferiores (Brasil, 2005, p. 54).
Eis aí então a origem da função seletiva e econômica da nossa educação escolar. Quando se afirma a divisão de classes sociais, cristalizando o preconceito econômico-social e não racial em nosso país, porque não é ao negro, mas aos pobres e socialmente discriminados que lhes são negados seus direitos básicos. Isso só reforça e legitima a separação entre aqueles que pensam e aqueles que executam as ações culturais, econômicas, sociais e políticas, mantendo o privilégio de poucos e as desigualdades, em nome de uma meritocracia falseada pelos ritos econômicos, políticos e culturais de uma sociedade neoliberal e globalizada regida pelo sistema capitalista dentro de uma lógica do mais valia.
Assim, como podemos observar a educação escolar pública brasileira forma ilustradamente as elites dirigentes e prepara “vocacionalmente” para o trabalho uma maioria, sendo pragmática e utilitária, ou clássica e “propedêutica” quando pretende formar as elites burocráticas – uma minoria – para conduzir e administrar o nosso país.
O poder da função econômica sobre a nossa educação pode ser observado, já em 1932, quando o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova proclama:
[...] se a evolução orgânica do sistema cultural de um país depende de suas condições econômicas, é impossível desenvolver as forças econômicas ou de produção sem o preparo intensivo das forças culturais e o desenvolvimento das aptidões à invenção e a iniciativa que são os fatores fundamentais do acréscimo de riqueza de uma sociedade (Apud Romanelli, 2012, p. 148).
Só tardiamente a nossa educação escolar pública confirma que está a serviço do desenvolvimento econômico e do direito universal do homem à formação humana. No segundo Manifesto, lançado em 1958, ela se afirma laica, gratuita, liberal e sem distinção de classes, raças e credos, voltada para o trabalho e para o desenvolvimento econômico.
Não obstante essa afirmativa, os filhos dos trabalhadores conseguem, no máximo, se profissionalizar. Já os filhos de famílias abastadas recebem uma educação “propedêutica” que garante aos mesmos uma formação capaz de fazê-los pensar e conduzir os destinos do nosso país. Comprova-se, desta maneira, que a nossa educação pública escolar é dual, uma vez que é ilustrada para o rico e profissionalizante para o pobre, e que possui uma abrangência econômica relevante, desde a sua origem. Esta não pode ser desprezada. Ela exige avanço educacional.
Quando Pereira (2009, p. 111) conclui a sua investigação sobre o ensino informal para o teatro, ele confirma a função econômica e formativa de uma ação pedagógica inovadora, que dá asa e liberta o educando, afirmando: “Surgem artistas mais críticos, mais instrumentalizados, empenhados em serem respeitados, o que amplia o mercado de trabalho. O SESC se sobressai como a empresa que mais absorve profissionais dessa área”.
Entretanto, outro grave problema dessa ampliação é que o número de educadores em sala de aula não acompanha o crescimento do número de educandos. As desigualdades sociais aumentam, evidenciando-se o modelo capitalista e patriarcal da nossa sociedade patrimonial, onde o que é público, nas mãos de alguns, torna-se privado. Os interesses das duas classes estratificadas por nós como sujeitos históricos, tornam-se antagônicos, diferentes. A classe dominante quer ratificar o aumento dos seus lucros. À dominada cabe apenas o direito de lutar para garantir, pelo menos, respeito e avanços sociais.
A educação pública de qualidade deveria ser é direito do cidadão e dever do Estado. A Constituição de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBN) número 9394 de 1996 nos seus artigos sete e quatorze instituíram os parâmetros da Gestão Democrática. Entretanto, esses instrumentos não garantem ainda escolhas livres e tomadas de decisão por vontade própria. Tudo acontece à deriva, movido pelos acontecimentos que envolvem os atores principais em jogos políticos e simulacros sociais, onde o poder econômico e as máscaras sociais ditam as normas, transformando, sem exceção, os sujeitos da ação em meros objetos. De acordo com Benjamin (1994) “A tradição dos oprimidos nos ensina que o “estado de exceção” em que vivemos é na verdade a regra geral” (Apud Lobo, 2010, p. 110).
Contribuindo para que possamos entender, ainda mais, a educação escolar e sua abrangência econômica, Romanelli (2012, p.14) teoriza:
[...] a forma como evolui a economia interfere na evolução da organização do ensino, já que o sistema econômico pode ou não criar uma demanda de recursos que devem ser preparados pela escola.
Percebemos, pois que isso não está acontecendo, hoje, nas escolas públicas brasileiras. Observa-se, inclusive, que a maioria oprimida, de acordo com o pensamento de Freire (2005), continua sem dominar, sequer, as ferramentas necessárias ao manejo social para se instituir como elemento transformador, visto que a educação escolar não avançou nesse sentido e continua reproduzindo ritos antigos, onde o educando é apenas um aluno – sem luz – objeto e não sujeito da sua ação formativa.
4 - CONCLUSÃO
Para finalizar concluímos que é na escola que definimos a nossa posição no mundo e, em especial, no mundo do trabalho. E, ainda, que por herança cultural a nossa educação escolar é laica e se propõe a ser um direito de todos, porém está longe de atingir esse objetivo, porque uma grande parcela da nossa população continua fora das salas de aula. Ela é, portanto, contraditoriamente, seletiva e dual, porque de um lado está a serviço apenas do desenvolvimento econômico e de outro lado apresenta-se como direito universal para a formação humana. O estatuto social vigente aponta para a cristalização da divisão de classes, favorecendo apenas, infelizmente, o desenvolvimento – inclusive o econômico – das elites.
A escola possui um papel fundamental nesse processo. Ela pode transformar essa realidade, porém os atores envolvidos nela, em sua maioria, ainda não despertaram por isso. As gerências e os que pensam a nossa educação escolar teimam em perpetuar modelos e processos pedagógicos, controlando a chamada “autonomia escolar”. Isso dá corpo à estratificação, às desigualdades e às injustiças sociais que desembocam na divisão de classes e garante a hegemonia de uma classe opressora sobre a outra oprimida.
No Consenso de Washington foi feita uma opção pelo modelo econômico neoliberal, contudo, entendemos que não podemos explorar a educação como um negócio comercial, subordinando-a as leis de mercado. Apesar de compreendermos o viés econômico que ela possui, desde a sua origem, quando os jesuítas implantaram um modelo educacional que não permitia o culto á diversidade, o que se perpetuou pelos protocolos sociais vigentes e pelo interesse da classe dominante, resultando numa ação pedagógica cheia de buracos.
Sabemos que a garantia efetiva ao direito e à educação, nesse país, é uma luta permanente. O modo de produção econômica e as estruturas sociais aqui instaladas revelaram condições históricas de discriminação e de negação dos direitos e aos bens culturais. Somos uma nação construída na diversidade étnico, cultural e regional, fruto de uma formação heterogênea (Brasil, 2005, p. 99).
Para reparar isso é necessário que a cultura do nosso povo seja considerada em nossas práticas pedagógicas, utilizando os erros históricos para eliminar os atuais e não cometer os mesmos no futuro e as práticas educativas sem um viés cultural talvez não dêem conta dessa transição, onde cada um dos atores envolvidos persegue apenas os seus objetivos, sem pensar no bem comum e numa educação de qualidade social. É como se uns fossem macacos e outros homens tentando se comunicar, mas apenas realizando um enfrentamento sem fim, porque o mundo escola está sendo, cada vez mais, gaiola e não asa. A competição e a falta de ética permeiam as relações.
Laraia (2003, p. 27) afirma que Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), em 1775, no seu: Discurso sobre a origem e o estabelecimento da desigualdade entre os homens, “[...] seguiu os passos de Locke e de Turgot ao atribuir um grande papel à educação, chegando mesmo ao exagero de acreditar que esse processo teria a possibilidade de completar a transição entre os grandes macacos (chimpanzé, gorila e orangotango) e os homens”.
A educação carece, portanto de uma reforma ampliada para que possa formar, tendo como base a aculturação, porque os valores e crenças de nosso povo parecem terem se diluído na poeira desse tempo globalizado e competitivo. Tempo que anulou o limite e o respeito, onde o ter tem mais valia que o ser e o outro não representa “nada”, mesmo nesse caminho de mão dupla que é trilhado pela educação escolar. Esta deveria formar sujeitos, não objetos, e todos nós que fazemos a educação deveríamos nos converter em agentes dessa transformação, sobretudo os educadores, porque como compreendia Freire (2005, p. 67): “O educador que aliena a ignorância, se mantém em posições fixas, invariáveis. Será sempre o que sabe, enquanto os educandos serão sempre os que não sabem”.
5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Muitos problemas precisam ser solucionados na educação escolar. Já que os currículos não se relacionam, não contemplam as aptidões dos alunos e nem os interesses da sociedade, de forma igualitária; já que a individuação do educando não é respeitada; as “assimetrias regionais” muito menos; a repetição de ano é interpretada como um insucesso escolar, criando o estatuto indesejável de “fracassado”, o que é discutível, como comprova Mendonça (2009, p. 68) “O termo insucesso escolar é ainda mais discutível, porquanto encerra várias ideias; em primeiro lugar, a ideia de que o aluno “fracassado” não progrediu praticamente nada, nem no âmbito dos seus conhecimentos escolares nem ao nível pessoal e social [...]”, isso faz desabrochar um sentimento de frustação, desinteresse e falta de confiança, o que é fatal nessa área, porque para o educando que carrega em si esse sentimento, tudo perde o significado e parece inadequado, como confirma estudos realizados.
Vejo as salas de aula com um ambiente de aprendizado artificial e ineficiente que a sociedade foi forçada a inventar porque os seus ambientes informais de aprendizado mostravam-se inadequados para a aprendizagem de domínios importantes de conhecimento; como a escrita, a gramática ou matemática escolar (Papert, 1980, p.23).
As intervenções pedagógicas necessitam, urgentemente, ressiginificar as práticas formativas e a utilização da cultura, incluindo aí as manifestações artísticas como o teatro, que pode ser a chave para dar um novo significado as ações educacionais, adequando-as a esse novo tempo que exige uma participação maior da sociedade em todos os níveis de atuação. Afinal o homem respeitado e livre transforma a natureza, não se submetendo as suas leis. Passando da sua condição animal de dominado para humana dominante, pelo desenvolvimento do seu trabalho, como acentua Carcanholo (2011).
No nosso ponto de vista o pensamento de Lev Semarovich Vygotsky (1896-1934) pode servir de inspiração para resgate de valores como o respeito ao outro, pois ele defendeu o papel do outro social no desenvolvimento do educando, transformando o educador num mediador da aprendizagem, pelo uso de um método genético ou de desenvolvimento e pela consideração de que as mais elevadas funções mentais no indivíduo nascem de processos sociais, e que esses processos, assim como os psicológicos, se formam através de ferramentas ou artefatos culturais.
O grande desafio é reinventar a educação escolar para que ela se torne inclusiva, significativa, provocando um verdadeiro desenvolvimento no país, deixando de ser também um problema econômico, como compreende Mendonça (2009, p. 08). “Daí que o insucesso escolar, além de se apresentar como um problema social, constitua também um problema econômico cuja resolução constitui um autêntico desafio para todas as nações ao nível de seus responsáveis políticos”.
Para finalizar afirmamos que é preciso definir, claramente a dimensão política das metas educacionais, para evitar a desilusão pedagógica e lutar por uma escola de todos, que não estratifique, não exclua e nem rotule. Uma escola asa, que utilize a cultura e as suas manifestações artísticas de forma adequada, inovadora e significativa na formação de um sujeito histórico, consciente e crítico. Somente assim a educação escolar cumprirá desejavelmente a sua função econômica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Livros e Artigos
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Publicado por: Benedito José Pereira
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