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A alfabetização entre o ensinar e o aprender

Reflexão sobre a alfabetização.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

No presente texto é feita uma reflexão sobre a alfabetização, a partir dos papéis desempenhados pelos sujeitos escolares envolvidos nesse processo: professor e aluno. A escolha da temática justifica-se pelo fato de a alfabetização ser uma das aquisições mais importantes do ser humano. Por meio das capacidades de leitura e escrita, podemos ter acesso ao repertório cultural acumulado por uma determinada sociedade, melhor organizar nosso pensamento e nos comunicar de maneira mais eficaz com os outros. Desse modo, conhecer e refletir sobre o processo de alfabetização é de suma importância para estudantes e profissionais da área de ensino, sobretudo para aqueles que atuam (ou vão atuar) nas séries iniciais.

De acordo com Weisz (2011), as investigações sobre a temática “alfabetização” tradicionalmente são norteadas por um questionamento (“como se deve ensinar a ler e escrever?), cujo foco geralmente está em “como se ensina” em detrimento de “como se aprende”. No entanto, com o processo de escolarização em massa, com o chamado “fracasso escolar” cada mais patente, houve a necessidade de se repensar o processo de alfabetização para além de concepções simplistas. Assim, surgiram novos entendimentos sobre os diferentes papéis desempenhados pelos sujeitos escolares no processo de alfabetização, enfatizando as relações entre “quem ensina” (professor), “quem aprende” (a criança) e o “objeto do conhecimento” (no caso, a escrita como sistema de representação da linguagem).

Nessa lógica, compreender como os alunos aprendem a escrever e quais significados eles constroem a respeito do sistema de escrita (dentro e fora da sala da aula) passam a ser mais importantes do que visualizar o quê os alunos aprenderam. Em outros termos, o foco se desloca dos resultados para o processo, o que significa captar a essência por trás da aparência. Portanto, “se pensarmos que uma criança aprende só quando é submetida a um ensino sistemático, e que a sua ignorância está garantida até que receba tal tipo de ensino, nada poderemos enxergar” (FERREIRO, 2011, p. 20). Isso significa que, fora da sala de aula, a criança também recebe informações, adquire conhecimentos, tem contato com as letras e pode produzir textos.

Sendo assim, Ferreiro (2011) critica tanto a investigação pedagógica tradicional, que considera a análise da escrita infantil apenas em seus aspectos gráficos (ignorando assim seus aspectos construtivos), quanto as discussões sobre a prática alfabetizadora centradas em dicotomias sobre qual o melhor caminho metodológico: “métodos analíticos versus método sintéticos” ou “método fonético versus método global”.  Dito isso, a autora propõe que os estudos sobre a escrita infantil levem em consideração as concepções e representações das crianças sobre o sistema de escrita, pois “se aceitarmos que a criança não é uma tábula rasa onde se inscrevem as letras e as palavras segundo determinado método; se aceitarmos que o ‘fácil’ e o ‘difícil’ não podem ser definidos a partir da perspectiva do adulto, mas de quem aprende” (FERREIRO, 2011, p. 32), então deveríamos “aceitar que os métodos [...] não oferecem mais do que sugestões, incitações, quando não práticas rituais ou conjunto de proibições” (idem).

Consequentemente, a partir das observações tecidas nos parágrafos anteriores, é plausível considerar que não existem fórmulas ideais, receitas prontas ou uma espécie de guia prático sobre qual seria a melhor forma de alfabetização. Remetendo novamente ao pensamento de Ferreiro (2011), uma nova (e desejada) pedagogia da alfabetização não surgirá a partir de um novo método de ensino, tampouco com novos livros didáticos, mas a partir do entendimento da criança como ser cognoscente, que constrói interpretações, que se apropria e age sobre o real.

Também é fundamental pensar a escrita em toda sua complexidade: seu contexto, significados e as relações entre signos e significantes. Diferentes alunos, expostos a uma mesma situação de ensino-aprendizagem, obterão resultados completamente diferentes em relação à alfabetização, que tendem a variar de acordo com suas características cognitivas, socias, culturais e emocionais. Em suma, a análise e compreensão sobre o êxito de uma determinada situação de alfabetização está mais em “quem aprende” do que propriamente em “quem ensina”.

Referências bibliográficas 

FERREIRO, Emília. Reflexões sobre alfabetização. 26 ed. São Paulo: Cortez, 2011.

WEISZ, Telma. Prefácio. In: FERREIRO, Emília. Reflexões sobre alfabetização. 26 ed. São Paulo: Cortez, 2011.


Publicado por: Francisco Fernandes Ladeira

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.