Música, dança e moralidade
Reflexão sobre o uso da música e da dança socialmente, como instrumento educacional e como ferramentas comunicativas de idéias, sentimentos e necessidades.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
Resumo - O objetivo deste documento é refletir sobre o uso da música e da dança socialmente – como instrumento educacional e como ferramentas comunicativas de idéias, sentimentos e necessidades – e debater sobre o preconceito que gira em torno dessas atividades.
Palavras-Chave – Comunicação. Dança. Educação. Música. Preconceito.
Abstract – The objective of this document is to reflect about the use of music and dance socially - as an educational instrument and as communication tools of ideas, feelings and necessities - and to discuss about the prejudice that turns around these activities.
Key words - Communication. Dancing. Education. Music. Prejudice.
I. INTRODUÇÃO
Em uma breve análise da educação, notamos que ela é bastante complexa. Para uma educação de qualidade que mude o atual paradigma dualista que divide o corpo entre mente-espírito e corpo físico é necessário o rompimento de barreiras e preconceitos. A ordem social vigente tende a proteger os poderosos e dar-lhes acesso à educação diferenciada da que os menos favorecidos recebem e, sendo que os poderosos/opressores é que ditam como deve ser a educação e a sociedade em si (e isso pode ser historicamente comprovado como realidade palpável, para tanto basta analisarmos os escritos de Peeters (1969)), dependemos deles para que qualquer mudança ocorra, porém, mudanças envolvem temores, o que atravanca todo o processo.
Neste documento é proporcionada uma reflexão dos problemas encontrados na escola e na sociedade na implantação de atividades de grande valor educativo e formador como a dança e a música, que esbarram em preconceitos e paradigmas sociais arcaicos difíceis de serem modificados .
A. Dualismo Mente X Corpo
Segundo Santin (2003) e Galeno (2000) o discurso moderno de educação difere muito de sua realidade prática. O utópico holismo do discurso de Yus (2002), na prática, se transforma em reducionismo e fragmentação; busca-se prioritariamente valores humanos, no entanto, o que se vê é a preocupação com a manutenção da ordem social vigente e economicamente estabilizada, centrada no dualismo classe dominada X classe dominante ao qual se refere Freire (1975).
O atual paradigma social é “mentalista”, como se o “eu” fosse algo puramente psíquico ou intelectual que habita um corpo que lhe serve de ferramenta, sendo aquele superior e esse inferior, menor ou um fardo. Ainda podemos considerar a visão que, por vezes, é originada na religião, que divide o ser em corpo X espírito, tendo o corpo como fonte de todos os pecados e males que depende do espírito para a condução as coisas superiores, puras e boas.
B. Dança e a Música no Dualismo Mente X Corpo
Quando a sociedade olha para a dança, imediatamente a rotulam através de seu preconceito como uma manifestação, a princípio, corporal sendo assim, imediatamente, relacionada às “coisas da carne” às festas pagãs da antiguidade, ao pecado, ao erro e a sensualidade socialmente condenadas.
A música, contudo, apesar de ser por vezes relacionada a boemia e frivolidade, aparta-se do julgamento que recai sobre a dança por ser uma manifestação de “faculdades mentais desenvolvidas”, distanciando-se da condenação que recai sobre as “coisas do corpo”. Porém, até mesmo alguns estilos musicais e letras são condenadas como imorais e/ou impróprios.
C. Uma Questão Moral
Um fato curioso observável com relação à música e à dança é que muitos (ou até todos) gostam de música, porém muito poucos gostam de dançar. O motivo de muitos gostarem de música, mas poucos gostarem de dançar está muito mais relacionado à ética, moralidade e propósito comunicativo do que ao preconceito, porém, uma ética e moralidade mal informada e tradicionalista, aprisionadora e pouco desenvolvida e, isso sim, conduz ao preconceito.
Freire (1975) esboça essa questão moral ao referir-se a unicidade entre igreja e escola, sendo que ambas são criadoras dos paradigmas sociais e se integram e se completam, sendo, segundo ele, difícil falar de paradigma social sem fazer a relação igreja X escola. Ele fala, por exemplo, da igreja/educação tradicionalista, necrofílica, fatalista; preocupada em mostrar aos homens e mulheres que seu papel nesse mundo é “pagar a pena por serem homens e mulheres”, naturalmente pecadores e merecedores do inferno e não dos prazeres do mundo. Ao depreciarem o mundo como um mundo de pecado, vício e impurezas, é, a sua maneira, uma “vingança” contra seus opressores. É como se falassem: “vocês são poderosos, mas possuem um mundo mal, ao qual renunciamos”. Assim, a igreja/educação tradicionalista é castradora da liberdade e da criatividade, “abrigando as massas” e anestesiando suas consciências.
Freire (1975) também cita uma igreja/educação profética, revolucionária e cheia de esperança. Enquanto profética não pode ser “abrigo das massas” ou agência de conservadorismo, mas sim, deve ser assim como foi Cristo: caminhante, viajante constante, revolucionário, morrendo e renascendo, instaurando um método de ação transformadora a serviço permanente da libertação dos homens, que não se dá só na consciência, se não na radical transformação das estruturas e, nesse processo, possibilitando a transformação das mentes, sempre num esforço de clarificação do concreto e do absoluto, onde educadores-educandos e educandos-educadores encontram-se ligados através de sua presença atuante.
O paradigma vigente hoje e mais facilmente observável tende para o tradicionalismo, necrófilo e fatalista, que fragmente o homem e coíbe sua liberdade comunicativa. No entanto, não podemos nos esquecer que a liberdade trás consigo grandes responsabilidades. A dança é uma livre expressão comunicativa do nosso corpo – não do corpo dualizado, fragmentado, mas do integral. Toda comunicação é um ato de transformação através de sua mensagem que, ao ser recebida, provoca uma reação. O grande temor é: qual é a mensagem que estou comunicando, para quem eu a comunico, qual é a reação que provoco?
D. Comunicação e Preconceito – Homens e Mulheres
Podemos ainda observar que existe uma tendência às mulheres gostarem mais de dançar que os homens e digo que isso não é só por preconceito por parte dos homens. Segundo Gardner (1994), as mulheres são mais comunicativas, emotivas, trabalham mais com o hemisfério direito do cérebro e normalmente suas inteligências inter e intrapessoal são bem desenvolvidas, o que as capacita a expressarem-se melhor em atividades como a dança, que é uma boa ferramenta para externar as emoções. Já o homem tende a ser mais lógico e racional, mais funcional e menos emocional que as mulheres; isso o leva a usar a comunicação pra atingir o mais rápido e com a maior eficiência possível seus objetivos imediatos e, ao ponto que a dança é uma forma de comunicação mais informal e emocional, não se adequa tanto aos objetivos do homem, levando-o a afastar-se e não desenvolver essa habilidade. A falta de diálogo e debate sobre o tema também conduz tanto homens como mulheres a insegurança e ao medo relacionados a essa prática.
Como já foi dito, a dança é socialmente condenada como algo impuro, portanto, muitos se afastam dela por temerem represálias. Apesar de sua utilidade na formação motora e social, é visto que o uso dela na mídia tem sempre caído no mau gosto, incentivando o afloramento sexual precoce de muitas crianças que assistem mulheres e homens na tv “segurando o than” e “descendo na boquinha da garrafa”, sem mencionar os funks que agridem as mulheres chamando-as de cachorras e tudo mais.
Querendo ou não, é inegável que todos os nossos atos comunicam o que somos, o que pensamos e o que queremos, por isso devemos cuidar de nossas ações, principalmente no que se relaciona com a educação e formação, principalmente moral, de nossas crianças.
II. CONCLUSÕES
A dança, agindo com a música, dentro da escola, atuando como ferramenta pedagógica, tende a enriquecer e fortalecer a aprendizagem, principalmente no que diz respeito ao crescimento e desenvolvimento motor, o que, por sua vez, influirá na educação em todos os aspectos. Contudo vale ressaltar que é necessária a cuidadosa investigação do como fazer e do que fazer no tocante a escolha de músicas e coreografias, afinal, nosso papel enquanto educadores, conjuntamente com a família e a sociedade, é formar cidadãos éticos e moralmente desenvolvidos, com um mínimo de decência e bom gosto.
Com relação à liberdade revolucionária da dança e sua utilidade expressiva, espero que cheguemos a ser “proféticos”, livres e cheios de esperança, plenos em nosso ser; e não só nela, mas em todas as nossas ações, nos esforçando sempre para romper o medo da transformação social, porém, sem nos esquecermos da ética e moralidade revolucionárias de Cristo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
YUS, Rafael. Educacao integral : uma educacao holistica para o seculo XXI. Porto Alegre: Artes Medicas, 2002.
PEETERS, Madre Francisca ; COOMAN, Madre Maria Augusta de. Pequena História da Educação. 9 ed. São Paulo: Melhoramentos, 1969.
FREIRE, Paulo. Las iglesias, la educacion y el proceso de liberacion humana en la historia. 3ª. Buenos Aires: La Aurora, 1974.
SANTIN, Silvino. Educação física: uma abordagem filosófica da corporeidade. 2 ed rev. Rio Grande do Sul: Unijui, 2003.
GALENO, Eduardo. De pernas pro ar: a escola do mundo avesso. Porto Alegre: LSPM, 2000.
GARDNER, Howard. Estruturas da mente (teoria inteligencias múltiplas). Porto Alegre: Artes Medicas Sul, 1994.
Publicado por: Agair Gil
O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.