GESTÃO DA SUSTENTABILIDADE NA ECONOMIA GLOBALIZADA
O desafio de ser competitivo e sustentável no meio corporativo e empresarial.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
Introdução
Quando pensamos em sustentabilidade logo nos vem à mente o meio ambiente e natureza, porém devemos ampliar nosso campo de visão e incluir no conceito de sustentabilidade várias outras questões como impactos sociais, questões energéticas e econômicas entre outras.
Este artigo não tem a intenção de abordar todos os pontos de vista sobre o assunto, limitando-se a uma abordagem voltada ao ambiente de uma empresa fictícia de venda e entrega de roupas com pedidos captados via internet.
Iremos analisar alguns possíveis pontos onde essas empresas podem ser competitivas e ao mesmo tempo sustentáveis, fazendo com que sejam viáveis a longo prazo tanto no quesito de finanças quanto na possibilidade de manter-se ao longo de sua vida sem exaurir os recursos naturais necessários à sua manutenção.
Desenvolvimento
História
Com o advento da Revolução Industrial, o homem teve pela primeira vez a capacidade de processar grandes quantidades de recursos naturais em um espaço pequeno de tempo. Essa capacidade gerou um grande crescimento econômico e muitas melhorias para a sociedade, porém também iniciou um grande problema pela mentalidade da época, onde não se pensava em reduzir a poluição e impactos ambientais, alguns países tinham até orgulho de sua poluição porque isso demonstrava que estavam na vanguarda do crescimento, inclusive existia um ditado inglês que dizia “onde há poluição, há dinheiro”.
“Até meados da década de 1970, uma empresa poderia ser considerada sustentável se fosse economicamente saudável, com um bom patrimônio e lucros crescentes, mesmo se houvesse dívidas” (MUNK, 2014)
Nas décadas de 1960 e 1970 devido à grandes mudanças implementadas pelos movimentos socioculturais, iniciam-se as grandes reflexões sobre os danos que a exploração causava ao meio ambiente.
Em Estocolmo na Suécia em 1972 na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (UNCHE na sigla em inglês) o conceito de Sustentabilidade foi utilizado pela primeira vez. Em 1983, foi criada a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, geradora do relatório Brundtland (1987). Estes serviram para o amadurecimento sobre o assunto que culminou com a ECO92 e suas 21 proposições conhecidas como Agenda 21 e a conferência de Kyoto em 1997.
Conceitos
Meadows, Meadows e Randers (1992) definem a sustentabilidade como uma estratégia de desenvolvimento que resulta na melhoria de qualidade da vida humana e na minimização simultânea dos impactos ambientais negativos.
Muitos conceitos são propostos citando uma gestão de negócios mais ética, humana e transparente. Grande parte dos autores que estudam o tema convergem na ideia básica que as organizações devem possuir atividades econômicas voltadas para dois recursos fundamentais: o natural e o humano.
Para Passet (1996) existem três pilares principais interdependentes para se entender e praticar a sustentabilidade: o pilar econômico, o pilar ambiental e o pilar social.
• O pilar econômico: Baseia-se na oferta de empregos, expansão e competitividade de mercado e lucratividade no longo prazo. Inclui-se a redução dos custos operacionais por meio de um gerenciamento eficiente e aumento da produtividade como consequência de uma mão de obra qualificada e motivada, entre outros. Para Dyllick e Hockerts (2002) uma organização é economicamente sustentável quando garante em qualquer período, fluxo de caixa suficiente para assegurar uma liquidez necessária, alcançando também maior retorno financeiro a ser oferecido aos acionistas que investem nas organizações. Uma empresa sustentável economicamente possui capacidade de realizar suas atividades de maneira responsável e ao mesmo tempo obtendo lucro considerável.
• O pilar ambiental: As organizações devem preocupar-se com a prevenção dos impactos que ela pode gerar nos sistemas naturais como terra, água, ar, entre outros. Sendo de responsabilidade das organizações, a avaliação dos produtos, processos e serviços eliminando gastos desnecessários, diminuir o nível de emissões de gases e tudo o que pode afetar os recursos naturais para as gerações posteriores.
• O pilar social: Deve incorporar questões relacionadas à saúde pública, questões de interesse ao bem-estar e à sobrevivência das comunidades, justiça social, segurança no trabalho, condições dignas de trabalho, direitos trabalhistas, direitos humanos entre outros. Pode ser dividido em categorias como: equidade (salários, oportunidades, benefícios); desenvolvimento humano e bem-estar (educação, saúde, segurança); e considerações éticas (direitos humanos, valores culturais, justiça).
Portanto, uma empresa não pode ser considerada sustentável quando atender, ainda que eficientemente, apenas um ou outro pilar da sustentabilidade. Os três pilares sustentam e viabilizam a sustentabilidade organizacional, logo, uma empresa para alcançar o estado de sustentabilidade, deverá antes, desenvolver os três pilares de maneira equilibrada e eficiente.
Exemplo prático
Analisando como exemplo uma empresa de venda e entrega de roupas pela internet, temos a impressão que a sua “pegada ecológica” é pequena, principalmente por não termos contato físico com sua estrutura. Porém, mesmo que muitas vezes não tenhamos noção, existe um gasto muito grande nesse modelo de negócio, apenas para exemplificar há o gasto de energia dos servidores que ficam ligados o dia todo, há um gasto maior em embalagens, consumo de combustíveis para efetuar as entregas, gasto com as centrais de estocagem e de expedição entre outros.
Para se ter uma idéia, Gustavo Sumares no site www.olhardigital.com.br escreveu:
“Dependendo de seu uso, os servidores podem consumir de 3 kilowatts (três mil watts) de energia por rack nos data centers menores chegando a 12 a 15 kilowatts por rack nos maiores. Considerando que grandes centros de dados podem chegar a ter 600 racks de servidores, o consumo total de energia deles poderia chegar a 9 megawatts (9 milhões de watts).
Um computador doméstico, em comparação, consome cerca de 200 watts apenas, e considera-se que uma usina hidrelétrica que produza 19 megawatts de energia consegue abastecer uma cidade de 150 mil habitantes.” (SUMARES, 2016)
Novas tecnologias vem reduzido esse impacto, criando servidores mais eficientes e também a migração de muitos datacenters individuais para os centros de dados que otimiza o uso dos servidores através da virtualização, onde um único servidor pode ter seus recursos divididos e agir como máquinas independentes que entregam apenas o processamento necessário, possibilitando que os servidores possam ser compartilhados entre várias empresas. Também existe o fato de que os processadores mais novos entregam mais processamento por Watt consumido e tem eficiência térmica melhor, gerando menos calor. Isso nos leva ao gasto com refrigeração do datacenter. Se antigamente os grandes computadores precisavam de temperaturas máximas em torno dos 16 a 18 graus para trabalhar, hoje temos nos novos servidores exemplos como os Poweredge da Dell que possibilitam trabalhar em temperaturas de até 30 graus, aceitando até 35 graus por algum tempo (cerca de 900 horas por ano). Em uma empresa isso possibilitaria reduzir muito o uso de climatizadores e em algumas épocas do ano, o sistema de refrigeração pode até ser desligado (INFOMACH, 2015).
Outra frente onde pode-se diminuir o impacto ecológico é nas entregas, utilizando bicicletas e carros elétricos, pois, a energia elétrica é renovável e principalmente aqui no Brasil uma das mais limpas. Empresas como a CarbonoZeroCourrier (https://carbonozerocourier.com.br) na capital de São Paulo já tem utilizado essa metodologia de trabalho com custo financeiro praticamente igual ao das entregas feitas por carros e motos. Outro grande exemplo é o sistema de entrega de marmitas na Índia conhecidos como os Dabawallas (“carregadores de marmita” em hindi), onde um sistema de entrega altamente eficiente é baseado em uma cultura antiga de ciclistas que tem na eficiência e eficácia de seu trabalho o seu maior orgulho. Esta cooperativa existe desde 1890 e ainda hoje é tida como um exemplo de eficiência e eficácia sendo objeto de estudos de várias grandes universidades além de ser um serviço ecologicamente correto. Esses, entre outros, são exemplos de como podemos diminuir a emissão de gases de efeito estufa e manter a entrega eficiente.
Quanto às embalagens, as empresas devem evitar o uso de embalagens de plástico que demora muito tempo para se decompor gerando grande impacto no meio ambiente, por outro lado, 100% reciclável, a embalagem de papelão ondulado retrata como poucas a qualidade de ser sustentável. Economicamente apresenta excelente custo-benefício: resistente e leve, oferece proteção com racionalização nos gastos com logística e distribuição.
Também tão importante quanto praticar atos sustentáveis, é necessário que as empresas e organizações façam divulgação desses atos para que o consumidor consciente possa dar o devido crédito à estas pelas suas ações.
Conclusões
Através dos dados apresentados, chegamos a conclusão que é possível diminuir os impactos que uma empresa causa no meio ambiente através de planejamento e implementação de atitudes sustentáveis. Algumas dessas atitudes irão aumentar o custo final dos produtos e serviços, porém esse custo pode ser revertido em uma imagem positiva para a empresa, imagem essa que irá atrair clientes que estejam de acordo com a visão da sustentabilidade. Em outros casos, essas atitudes podem se pagar no médio ou longo prazo, como no exemplo da troca de servidores por mais modernos no e-commerce que tem o seu custo final atenuado com a economia gerada com o menor uso de energia tanto no equipamento como com a refrigeração. Também importante citarmos o caso da Carbonzerocurrier que além de diminuir as emissões de carbono, assim combatendo o aquecimento global, ainda auxilia na criação de novos empregos, uma vez que o trabalho que seria feito com um motorista é substituído por 4 a 5 ciclistas.
Precisamos nos atentar para que não esgotemos os recursos do nosso planeta e principalmente ter em mente que um mundo sustentável é aquele onde não consumimos os recursos naturais mais rápido que esses podem sem repostos.
REFERÊNCIAS
Munck, Luciano. Gestão da sustentabilidade: Um novo agir frente à lógica das competências. Cengage Learning Editores, 10/2014. [Minha Biblioteca].
Conaway, Oliver Laasch | Roger N. Fundamentos da Gestão Responsável: Sustentabilidade, Responsabilidade e Ética . Cengage Learning Editores, 2016-06-24. [Minha biblioteca]
JR., FILIPPI, Arlindo, SAMPAIO, Carlos Cioce, FERNANDES, Valdir (eds.). Gestão Empresarial e Sustentabilidade . Manole, 11/2016. [Minha biblioteca]
ROSA, André Henrique, FRACETO, F., MOSCHINI-CARLOS, Viviane organizadores. Meio Ambiente e Sustentabilidade . Bookman, 01/2012. [Minha biblioteca]
DIAS, Reinaldo. Gestão Ambiental - Responsabilidade Social e Sustentabilidade, 3ª edição . Atlas, 02/2017. [Minha biblioteca]
AZAPAGIC, A. Systems approach to corporate sustainability: a general management framework. Tra ns IChemE, Reino Unido, v. 81, n. 3, 2003.
WHEELER, D. et al. Creating sustainable local enterprise networks. MIT – Sloam Management Review, Cambridge, Massachusetts, v. 7, n. 41, 2005.
CHENG, C. Y.; FET, A. M. HOLMEN, E. Using a Hexagonal Balanced Scorecard approach to integrate Corporate Sustainability into Strategy, Proceedings for the 16th International Sustainable Development Research Conference. Hong Kong, 2010
Munck, L.; Munck, M. G. M.; Borim-de-Souza, R. Sustentabilidade organizacional: a proposição de uma framework representativa do agir competente para seu acontecimento. Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia, Juiz de Fora, v. 4, n. 2, ed. Especial, p. 147-158, 2011.
MOLTENI, M.; PEDRINI, M. In search of socio-economic syntheses. Journal of Management Development, Bingley, Reino Unido, v. 29, n. 7/8, p. 626-636, 2010
Meadows, D. H., Meadows, D. L., & Randers, J. (1992). Beyond the limits: confronting global collapse, envisioning a sustainable future. Chelsea: Chelsea Green Publishing
Passet, R. (1996). L’economique et le vivant. Paris: Economica.
Dyllick, T., & Hockerts, K. (2002). Beyond the business case for corporate sustainability. Business Strategy and the Environment, 11(1), 130-141.
SUMARES, Gustavo. Data Centers: tudo que você precisa saber. 2016. Disponível em: . Acesso em: 13 abr. 2018.
VILELLA, Viviane. Dabbawala, o melhor serviço de logística da Índia. 2014. Disponível em: . Acesso em: 13 abr. 2018
INFOMACH. Como reduzir o consumo de energia no Datacenter. 2015. Disponível em: . Acesso em: 03 maio 2018.
Por: ALEXANDRE NARESSI LUCCI
Publicado por: Alexandre Naressi Lucci
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