Novo canal do Brasil Escola no
WhatsApp!
Siga agora!
Whatsapp

As Formas de Pensamento que Influenciam as Concepções Teóricas na Economia

Breve resumo sobre as formas de pensamento que influenciam as concepções teóricas na economia.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

O Que Diferencia o Pensamento dos Economistas Estruturalistas dos Hegelianos? Que Particularidades Institucionais e Culturais Podem Afetar os Resultados de uma Política Econômica? O Que Caracteriza o Homem Máquina e o Homem Econômico de Uma Economia?

Os economistas kantianos – ou estruturalistas ([1]) – partem do princípio de que, além das determinações estáveis e recorrentes, também existem particularidades institucionais e culturais que afetam os resultados de qualquer política econômica.

Assim, no entender deles, devem existir políticas públicas que regulem as constantes instabilidades estruturais de qualquer sistema econômico existente.

Já os economistas hegelianos ([2]) partem da análise das mudanças históricas, sendo esta a “resposta socialmente viável às demandas e pressões contraditórias suscitadas por “conflitos de interesse internos a um dado sistema”, condicionados por “institucionalidades históricas específicas.

Já o que orienta a pesquisa dos economistas cartesianos é a convicção de que o mundo é essencialmente ordenado, estável e simples. Apregoam os autores neoclássicos que, para além das aparências (de mudança, de crise, de irracionalidade, de alternativas abertas), o que existe é o “Homem Econômico”, racional, egoísta e hedonista, o qual busca a maximização de seu prazer, com um mínimo de dispêndio de recursos.

Sabendo-se que todos agem o tempo todo de acordo com o mesmo padrão essencial, bastam as informações sobre disponibilidade/distribuição dos recursos para projetar as consequências desta ou daquela política econômica, desta ou daquela “alteração das regras do jogo ([3]).

Assim, as políticas não devem subverter a essência do jogo econômico, das regras naturais. E, com a concepção acima delineada, os autores cartesianos vinculam-se ao conceito de “homem-máquina”.

O conceito de “homem-máquina” se baseia no comportamento puramente mecânico do homem; ou seja, na eliminação por completo das ideias do contexto, existindo explicações físicas para “todos os fenômenos observados ([4]).

Para justificar essa afirmação, o autor lança a seguinte pergunta: “Por que não estender ao estudo das criaturas vivas os métodos e modos de abstração que se haviam revelado tão úteis na explicação e previsão de fenômenos físicos que iam dos corpos celestes ao movimento local e reflexão da luz? ” (p. 41).

O autor afirma que essa noção contribui para a construção de empreendimentos intelectuais. Essa perspectiva, sob a influência do Iluminismo do século XVII, moldou as ciências empenhadas em “explicar a ação humana sem precisar recorrer às supostas crenças, desejos, intenções e julgamentos morais dos agentes” (p. 41).

Sendo assim, a ideia subjacente à noção de Homem Máquina foi a de considerar “os seres humanos e suas ações como objetos e eventos do mundo físico”, priorizando a objetividade e eliminando as subjetividades inerentes ao “pensamento moral e processos mentais em geral”. Essa visão do Homem Máquina influenciou a noção do Homem Econômico da Economia, onde as ações humanas são mecanizadas e baseadas na “utilidade” e no “auto interesse” (GIANETTI, 2003, p. 42).

Trata-se, de acordo com o autor, de compreender uma “esfera restrita da conduta humana” e que, por assim ser, permite a utilização da matemática e de processos de raciocínio para analisar as “ações lógicas” (cálculo da utilidade e do comportamento otimizador, por exemplo), em contraposição ao comportamento instintivo, aos sentimentos, às emoções e às demais ações não lógicas, que “têm por base não o cálculo e seleção de meios apropriados, mas fatores como costumes, hábitos, crenças supersticiosas, valores estéticos, noções de dever e coisas afins” (p. 79).

Ainda de acordo com o mesmo autor, na noção de Homem Econômico, caracterizada pela “aplicação dos instrumentos matemáticos da física à análise de nossas transações econômicas” (p. 60), influenciada pela perspectiva do homem-máquina, a ação humana é motivada por “sentimentos de prazer e dor”.

Essa visão da Economia […] demanda a normalização absoluta da conduta humana na vida econômica de modo a torná-la semelhante à máquina, no sentido de exigir respostas automáticas e uniformes dos agentes aos sinais dos preços na economia, independentes de opiniões morais e estéticas que esses agentes possam ter (p. 61).

Trata-se de uma separação entre “ação moral” e “ação econômica”. A ação econômica é definida como sendo aquela que não é “afetada por noções de dever, beleza, solidariedade ou obrigação moral, na medida em que está exclusivamente sujeita a cálculos de retorno das ações possíveis dentro do marco legal”.

A teoria econômica, que incorporou a noção de homem-máquina, explica, portanto, os fenômenos econômicos sem considerar o que é “moralmente correto” e as ações realizadas por instinto (impulso sem reflexão).

Gianetti explica que essa noção de Homem Máquina é uma abstração da ação econômica que permite afirmar que os homens tomam decisões movidos somente pelo auto interesse, e que, nesse processo, “não têm influência alguma a moral e as preocupações não econômicas do agente, suas crenças e opiniões” (p. 61).

A ação econômica, nessa perspectiva, pode ser definida como um jogo de xadrez, que propicia, assim, a relativização do certo e do errado, do bem e do mal; em outros termos, o Homem Econômico está em “férias morais na província da economia”. Essa metáfora do jogo fica mais bem evidenciada no seguinte arrazoado do autor:

O grande benefício obtido com essa definição é que, eliminando todas as questões de valores não econômicos e fins últimos da concepção econômica, torna-se então possível lidar com o comportamento de todos os agentes como se ele fosse equivalente a uma participação em um jogo de calcular, não diferente da participação que existe, digamos, no jogo de xadrez ou no aspecto puramente operacional de um confronto militar (p. 61).

Dessa forma, o Homem Econômico “como uma máquina de prazer”, está desprovido de “autonomia e responsabilidade nas transações econômicas”, “deixa de ser uma pessoa moral” nas relações de trocas econômicas e torna-se essencialmente um jogador.

Na Economia neoclássica, portanto, “a prescrição é o auto interesse, limitado pela lei”. Nesta perspectiva, se todos os agentes econômicos agirem de forma egoísta, o resultado será o bem-estar de todos. Essa “mão invisível” da Economia, desprovida de motivação moral, resultará em um “máximo moral”, o bem de todos (p. 64).

Portanto, a Economia ortodoxa construiu uma arena para a atuação dos indivíduos, com um cenário desprovido de obstáculos teóricos complexos, subjetivos e difíceis de serem considerados nas análises econômicas.

Entretanto, Gianetti chama a atenção para a constatação de que “libertar a vida econômica da moralidade revela-se não apenas um ponto de partida promissor para a análise abstrata, mas também se torna um ponto de chegada moral, isto é, um estado de coisas desejável” (p. 64).

Essa ideia de “descontaminar as ações econômicas das opiniões morais e estéticas daqueles que as praticam”, para torná-los jogadores no “palco econômico”, é uma abstração excessiva do comportamento humano, que permite avançar na interpretação sobre a existência de um caminho livre para a “persuasão” dos agentes econômicos e o controle de seu comportamento: não uma persuasão que buscará moldar diretamente suas condutas, utilizando prescrições morais e julgamentos de valor, mas uma “persuasão” baseada em mecanismos de preços – ou na alteração das regras do jogo. Segundo Gianetti, a persuasão ocorre com a mudança das regras do jogo econômico:

A concepção de que os julgamentos de valor e crenças gerais dos agentes moldam sua conduta econômica deixa de ser levada em conta para explicar o comportamento observável dos agentes no sistema. Estritamente falando, passa a não ter sentido procurar dissuadir os agentes econômicos de uma certa linha de ação para fazê-los perceber e seguir uma linha mais desejável.

É somente mudando algumas regras do jogo econômico e administrando os sinais de preço apropriados que é possível alterar o comportamento dos agentes envolvidos e produzir os ajustes necessários. Não há lugar para a persuasão moral quando o palco econômico é montado e os atores começam a sua atividade (p. 64).

O resultado dessa construção abstrata do Homem Econômico (Economia moderna), influenciada pela noção de Homem Máquina(ciência moderna), foi a normalização, simplificação e homogeneização do comportamento individual dos agentes econômicos na vida prática, “de modo que as ações do agente individual pudessem ser explicadas como respostas automáticas a mudanças nos sinais de preços na economia”; ou seja, resultou em uma redução dos “fatores ligados à escolha” (utilidade) e em uma construção intelectual da natureza humana como constante, ou não maleável, ao longo do tempo e baseada essencialmente no auto interesse ou no egoísmo.

Em síntese, a teoria neoclássica construiu uma “explicação científica da ação humana” (comportamento individual) com o objetivo de entender o comportamento do sistema econômico, tendo como referências as noções de Homem Máquina e Homem Econômico.

O Homem Econômico pressupõe o uso de “eventos mentais”, tais como o raciocínio e o uso de conhecimentos. Já a noção de Homem Máquina“ exclui a eficácia causal de todos os processos mentais” e estabelece que “ideias, motivos e sentimentos” não têm papel algum na determinação da conduta (p. 68).

Assim, em decorrência dessas duas noções – Homem Máquina e Homem Econômico –, a Teoria Neoclássica pressupõe que o indivíduo possui uma racionalidade econômica em busca da maximização de seu auto interesse.

Portanto, as análises ortodoxas da Economia assentam-se, pois, fundamentalmente, em três pilares: individualismo, racionalidade econômica e maximização.

Referências

([1]KANT Immanuel - Filósofo prussiano considerado por muitos como o principal filósofo da era moderna. Os adeptos de sua abordagem da Economia enfatizam a importância de considerar características tipicamente estruturais ao empreender a análise econômica

([2]HEGEL Georg W. Friedrich. Sua obra é um marco na filosofia mundial, podendo ser incluído no que se chamou de Idealismo Alemão (movimento filosófico marcado por intensas discussões entre pensadores de cultura alemã). Essas discussões tiveram por base a publicação da “Crítica da Razão Pura” – de Immanuel Kant

([3]PAIVA Castro. CUNHA André M. Noções de Economia. Fundação Alexandre Gusmão. 2008, p 35

([4])  GIANETTI, Eduardo. Mercado das Crenças: Filosofia,1ªED.(2003)

JULIO CESAR S. SANTOS

Professor, Jornalista e Palestrante. Articulista de importantes Jornais no RJ, autor de vários livros sobre Estratégias de Marketing, Promoção, Merchandising, Recursos Humanos, Qualidade no Atendimento ao Cliente e Liderança. Por mais de 30 anos treinou equipes de Atendentes, Supervisores e Gerentes de Vendas, Marketing e Administração em empresas multinacionais de bens de consumo e de serviços. Elaborou o curso de Pós-Graduação em “Gestão Empresarial” e atualmente é Diretor Acadêmico do Polo Educacional do Méier e da Associação Brasileira de Jornalismo e Comunicação (ABRICOM). Mestre em Gestão Empresarial e especialista em Marketing Estratégico


Publicado por: JULIO CESAR DE SOUZA SANTOS

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.