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Drogas: breve contextualização histórica e social

Clique aqui e confira uma breve contextualização histórica e social das drogas.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

O uso da droga é tão antigo quanto o ser humano. Porém as transformações nesse uso e em seus significados é que vem acompanhando as transformações da humanidade.

À medida em que os seres humanos foram dominando o uso de plantas para alimentação e medicina, seus diversos efeitos diretos e indiretos também foram sendo descobertos e organizados, “ao sentir seus efeitos mentais, passaram a considerá-las “plantas divinas”, isto é, que faziam com que quem as ingerisse recebesse mensagens divinas, dos deuses. Assim, até hoje em culturas indígenas de vários países o uso dessas plantas alucinógenas tem esse significado religioso. Alguns autores também as chamam de psicodélicas. A palavra psicodélica vem do grego (psico = mente e delos = expansão) e é utilizada quando a pessoa apresenta alucinações e delírios em certas doenças mentais ou por ação de drogas. Essas alterações não significam expansão da mente.”  (http://www.obid.senad.gov.br)

Em muitas plantas existem substâncias psicoativas, que logo os povos, com hábitos de vida antigos e naturais, foram descobrindo e foram associando e utilizando nos rituais religiosos. Esse uso divide-se em dois tipos básicos. Os alucinógenos, que alteram a percepção e sensibilidade dos sentidos. Esses são os tipos mais utilizados religiosamente,  pois no espiritualismo tribal, a sensibilidade espiritual, ou mediunidade,  é aguçada através do uso dessas plantas. E os estimulantes que tiram o sono, aumentam a adrenalina e a euforia. Contudo, sob qualquer ponto de vista, não podemos separar a relação sagrada e ritualística do uso dessas “drogas”, com o objetivo direto de conduzir ao “transe”. Com uso controlado e hierárquico admistrado pelos chefes tribais. Álcool, maconha, tabaco, peyote, ópio,  cogumelo, são alguns dos alucinógenos e/ou psicoativos mais antigos do mundo. Utilizados por quase todos os povos do mundo. 

Quando falamos de cultura e religião não podemos associar juízos de valor. Devemos estabelecer uma relação de respeito às  diferenças.

Capitalismo: as tranformações dos valores humanos e o uso de Drogas

Com as transformações tecnológicas e cientificas do ser humano, que se iniciam nos primeiros grandes impérios do Egito e Mesopotâmia, passando por Grécia, Roma, Europa Medieval e por último culminando no ínicio do capitalismo, revolução industrial e científica, também na Europa, passamos pela contínua separação entre homem/natureza, homem/religião e indivíduo/coletivo.  As relações de individualismo e consumismo próprias do sistema capitalista fazem com que tudo se torne produto. Beleza, sexo, violência e prazeres. As pessoas cada vez mais fazem desses animalismos da humanidade, ou seja, aquilo que mais nos aproxima dos animais, a fonte da felicidade.

A busca excessiva por prazeres, distração, diversão, ociosidade perante um mundo que sempre impõe, de um lado, as guerras cotidiana de sobrevivência das classes desfavorecidas e,  do outro, a monotonia do conforto proporcionado pelas boas condições financeiras dos indivíduos, dão um novo sentido ao uso de drogas.

Nesse contexto, a droga deixa de lado seu uso ritual, para ser utilizada com fonte de prazer. Prazer proporcionado pela alteração da consciência. A droga torna-se um grande produto (lícito ou ilícito) do capitalismo. Transfere-se o uso religioso e coletivo para  o uso individual e o prazer imediato. A ciência aprimora, transforma e potencializa seus usos e efeitos.

Transformações intelectuais típicas do século XX, em que explodem sentimentos, busca pela sensibilidade, por separação da realidade materialista, consumista, ou mesmo ondas de depressões e problemas psicológicos causados pelo ritmo de vida urbano, fazem do uso de “drogas” uma opção alternativa de hábitos,  prazeres ou mesmo soluções e fuga dos problemas. Considerando que as populações maiores consumidoras de drogas (lícitas e ilícitas) é a classe média, a mais suscetível e manipulada pelo poder da mídia.

Popularização das drogas ilícitas

Movimentos artístico-culturais, como o Hippie das décadas de 50 e 60, trazem para o Brasil a popularização do uso da droga. Num contexto histórico mundial de guerras, violências, ditaduras e censuras ideológicas que permeiam o séc. XX, a utilização de drogas, como maconha, LSD, cocaína e outros, traz para as pessoas um sentido de libertação. Protesto. De busca e transformação no sentido das coisas. O Woodstock é o evento que marca esse movimento. Nele “sexo, drogas e rock'n roll” se misturam a “Paz e Amor”. Uma grande parcela da classe média brasileira adere e divulga esse movimento em todas as suas instâncias: música, moda, cabelo, ideologia e drogas.

Caso brasileiro: Criminalidade, periferia, tráfico e modernização

A realidade histórica brasileira que recebe a onda do movimento Hippie é complexa e propícia. De um lado uma burguesia e classe média em formação. Movimento estudantil. Jovens e ideologias de classes a todo vapor. De outro lado uma periferia com pobres, ex-escravos excluídos das oportunidades da recente República brasileira. Aglomerados nas periferias urbanas. Sem direitos, portanto sem deveres. Desprovidos de fonte de renda, sujeitos aos subempregos.

Com um classe que aspirava ao consumo de drogas de um lado (classe média e alta), e outra classe que não tinha uma fonte de renda garantida pelo poder público do outro, tínhamos o cenário ideal para a formação da rede de tráfico associada às periferias.

Se o poder público não se importava com os direitos dos ex-escravos e sertanejos vindos do norte-nordeste, estes não se importariam com os deveres e leis do poder público. Com isso cria-se então um poder paralelo ao Estado, sustentado pelo consumo de drogas daqueles que são atendidos e beneficiados pelo próprio Estado. Poder paralelo que fica cada vez mais forte e associado.

Além disso, o processo histórico de formação dos nossos órgãos administrativos e de segurança, é permeado por uma realidade corrupta, burocrática e mal organizada. Desde a colonização, com as primeiras redes de impostos e cobranças pela coroa portuguesa, esses agentes se banhavam em corrupção, pois a fiscalização era mínima para um fluxo de riqueza altíssimo. Nos processos de independência e república, quase nada mudou. A reprodução de constituições e órgãos com moldes importados de outros países como EUA, França e Inglaterra, nunca foi suficiente para as particularidades de nosso país. Assim uma imensa rede burocrática que sustenta uma complexa e quase indestrutível rede de corrupção, caixas dois, entre outros, tem o comércio ilegal como aliado e forte fonte de renda para os membros desses setores.

As indústrias farmacêutica, bélica, automobilística, empresas de segurança privada, entre outros, lucram milhões com a violência.

O futuro de um ser humano nas sociedades atuais seguem uma lógica simples: OPORTUNIDADES E ESCOLHAS.

QUANTO MAIS POBRE, MENOS OPORTUNIDADES, MENOS OPÇÕES DE ESCOLHAS. No mundo capitalista, uma das principais oportunidades presentes no mundo das classes baixas é o crime, em todas as suas formas. Lembrando que o verdadeiro crime é histórico. A escravidão dos negros, o extermínio dos indígenas e o sentimento de superioridade dos europeus que construíram as bases da nossa injusta sociedade. Bases reproduzidas, mantidas e corrompidas por nossos políticos que são, na maioria, descendentes desses europeus, que escravizaram, mataram e excluíram. Portanto não querem mudanças.

Portanto não pode-se associar violência e tráfico aos pobres. E sim aos processos históricos promovidos pelos ricos que excluíram os pobres. E os mais excluídos foram os negros. Pois vieram para cá na condição de escravos e assim permaneceram por mais de 400 anos.

Da mesma forma, não se deve associar o uso de drogas ilícitas como algo criminoso. Mas sim como caso de saúde pública, como se trata tabagismo e alcoolismo. Na doença social e ideológica em que países pobres e em desenvolvimento vivem, devido a desigualdades e injustiças sociais; alienação política; aculturação ao modo de vida consumista e individualista; culto aos padrões de estética, moral e comportamental aos moldes estadunidenses; crise nos valores e estrutura familiar; dentre muitos outros, os vícios (lícitos ou ilícitos) adquirem dimensões ameaçadoras à própria sociedade que promove tal situação.

Falar em legalização ainda é muito cedo. A droga é sim um grande destruidor de famílias e jovens. Mas não se deve encarar como simples criminalidade. Pois, se o uso for controlado pelo sistema de saúde, se criar-se um órgão para o controle  (já que é impossível combater o uso pela força e repressão), as conseqüências imediatas seriam: afastar o usuário do contato com crack, cocaína e outros; tirar uma das principais fontes de renda do crime organizado e transferir o problema para a saúde pública. O problema é que essa mesma burocracia, que está montada há séculos (assim como a corrupção e a falta de fiscalização), se beneficiaria com isso tudo. Além disso temos uma população ignorante quanto às noções de direitos e deveres. Assim a legalização tornaria a questão do uso de drogas um intenso caos.

Enfim, soluções imediatas e eficientes ainda não são possíveis. Mas a melhor defesa contra um inimigo é conhecê-lo e entendê-lo. 


Publicado por: Myleo Geraldo

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