O ocaso MST: uma abordagem crítica acerca do declínio
Conheça a história da luta do MST e o papel da mídia envolvido.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
É sabido que a mídia tem o poder de construir uma realidade e que tem como ferramenta principal a elocução para ancorar um sistema de ideias e discussões a cerca de um determinado fato. Essa linguagem tem a capacidade de persuadir tanto aquele leitor que já detém opiniões formadas quanto aqueles que não apresentam um conceito próprio a respeito de apropriados argumentos, sendo este influenciado com maior facilidade.
O trabalho com fatos requer uma atenção redobrada, uma análise aguçada, exacerbada para que se tenha um bom argumento. Como de praxe sabemos que o jornalismo é tido como uma atividade que incide em trabalhar com estas observações e posteriores divulgações destes dados. O que concerne as essas publicações, estamos convictos que é o elemento chave do Jornalismo, podemos classificá-la como o resultado dessas observações e como uma forma de exposição do acontecimento por elementos linguísticos. Na maioria das vezes, a notícia apresenta um sentido impresumível, uma vez que geralmente diz respeito à sociedade como no caso da manchete que analisaremos.
Um jornalista por sua vez, em seu trabalho, adquire subsídios e os comunica para o público, contudo para desempenhar com êxito sua obrigação este profissional carece praticar seu discernimento crítico, faz-se necessário estabelecer as informações inseridas em uma situação social e interpretá-la. É imenso o tamanho da responsabilidade que um jornalista tem ao publicar um acontecimento, por isso os atos dele necessitam ser regulados pela moral e pelo discernimento. Um jornalista precisa perceber e possuir uma visão além do que vê na sociedade.
“Para uma compreensão global do estudo proposto, é preciso definir pontualmente algumas noções fundamentais que lhe dão sustentação” (FALCONE 2011 apud GIDDENS 2003), antes de qualquer tipo de análise feita aqui se faz necessário o conhecimento, mesmo que prévio, de algumas noções tais como ideologias, conhecimentos, atitudes, cognição, atos de fala, expressões visuais e, em especial, saber identificar a estrutura dum discurso midiático.
Tendo como foco a altercação da reportagem feita por Pedro Marcondes de Moura, colunista da revista ISTO É com apoio ilustrativo de Rafael Hupsel, edição 2184 do dia 16.09.2011 e, tendo como título “O ocaso do MST”. Porém antes de se travar uma discussão, cabe salientar que, segundo a própria revista, ela faz um jornalismo crítico e acima de tudo democrático, fala ainda que é uma revista feita às pessoas que querem manter-se bem informadas e saber unicamente a realidade dos fatos, mas sem demasias, ausência de veridicidade tampouco exercer um papel manipulador e/ ou tendencioso. De fato a revista ISTO É traz informações importantes para manter seu público a par do que acontece não só no país, mas também dos movimentos globais.
Um dos pontos cruciais a ser analisado e discutido no presente texto e que merece atenção especial são as imagens feitas por Rafael Hupsel. Somente em observar a primeira figura já deciframos o assunto a ser tratado na reportagem: temos a bandeira (símbolo do MST) que embora ainda erguida pode ser observada que está parcialmente destruída. Ao fundo, temos dois assentados numa estrada e de costas a bandeira. Esta imagem intensifica o que o autor aspira tratar no texto: primeiro a bandeira destruída simbolizando a enfraquecimento do movimento. Segundo, temos os dois assentados numa estrada, caminhando conta o símbolo do MST, mostrando e dando idéia de abandono, uma desistência do que tanto se lutou. Sem dúvida, o autor utiliza das imagens como “dicção figurativa” para transmitir o acontecido aos leitores.
Outra tese que merece aplicação analítica é o tema da reportagem: “O ocaso do MST”. É inegável que o articulista emprega figuras de linguagem, em especial, a metáfora para conceituar este processo de declínio do movimento. Ao falar em “ocaso”, nos remete o pensamento do entardecer, do crepúsculo, do pôr do sol, isto nos estimula a lembrar da oscilação de queda, de declínio o que segundo o autor, retrata bem a questão do MST abordada em sua reportagem trata-se da propensão do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Analisando ainda as palavras como monumento de ferro, embrião mítico, prova de fogo e peleja, que também aparecem no texto, podemos notar que são meios de referenciações utilizadas pelo autor a fim de construir um objeto de discurso sobre o declínio do MST, essa organização de palavras reativa um modelo mental de decadência.
Para resumir a notícia, como todos os artigos de reportagem, possuem o lead, uma espécie de resumo da reportagem e, neste caso, nos chama a atenção determinadas palavras que nos submetem a análises minuciosas. Primeiro Pedro Marcondes começa falando que hoje o MST “é um arremedo do que foi no passado”, ou seja, como argumentarei posteriormente na análise, o movimento já foi visto como um dos mais fortes movimentos do país, mas ao falar em “arremedo” nos faz entender que hoje o Movimento dos Sem-Terra virou nada mais que uma piada na sociedade, uma paródia e até mesmo um motivo de ridicularização àqueles que ainda defendem essa causa. Utiliza essa palavra como uma espécie de argumentação totalmente negativa para conceituar o MST. Mais a frente encontraremos expressões dizendo que atualmente o movimento está sem rumo e que se tornou incapaz de formar e manter grandes assentamentos. Do mesmo modo utiliza de palavras (incapaz) que nos remete a entender a incapacidade ou a dificuldade que o MST tem de determinar os rumos que devem ser tomados.
Já partindo para a análise da reportagem é conveniente ressaltar a história da luta do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST – que a própria reportagem também cita como base de dados. A princípio o MST era tido como um movimento forte que lutava pela tão sonhada reforma agrária e que chegou até a resistir o governo militar, um grupo de guerreiros querendo melhorias e tendo como objetivos a luta pela terra, pela reforma agrária e a luta por uma sociedade mais justa e fraterna, “por isso, o MST participa também de articulações e organizações que buscam transformar a realidade e garantir estes direitos sociais”. Inclusive o autor da reportagem mais uma vez utiliza outra metáfora para tentar nivelar a fortaleza do movimento, ele alude como monumento de ferro, ou seja, uma coisa sólida, forte e praticamente indestrutível, um movimento que perdurasse por longos anos e que de fato durou. Mas o que nos chama a atenção, neste cenário, é o fato de que o inesperado aconteceu, não a tão almejada melhora na agricultora brasileira, mas o fracasso desse movimento.
Para fundamentar suas ideias e delinear o apogeu, a reportagem mostrar como este movimento vem perdendo autoridade o texto reforça como vem perdendo a força e entrando em declínio. Para exemplificar tal situação cita que num assentamento onde viviam cerca de 80 famílias, hoje uma quantidade insuficiente se faz presente, das 83 que ali viviam apenas um quarto delas passa por lá durante o término da semana e feriados relata, ainda, que grande parte, diferentemente do passado, trabalha, estuda e até mesmo mora em centros urbanos ou em zona rural próximos aos assentamentos.
Em depoimento, uma das integrantes do grupo e representante da assembléia, Darci Maschio, relembra que antigamente o MST tinha mais apoio, que no final da ditadura a defesa da reforma agrária estava em quase todos os partidos, ou seja, grandes partes das alianças políticas apoiavam e davam subsídios ao movimento, mas que hoje o PT está no “poder”, entretanto, a questão saiu de pauta. Quando ponderamos o Partido dos Trabalhadores (PT), necessitamos nos recordar a ideologia dele, tem em sua essência a luta em prol dos trabalhadores, a defesa da causa dos oprimidos. A partir desse ponto de vista e da total falta de apoio dos partidos políticos, em especial do PT, o autor nos remete a uma indagação: ora, se o PT sempre “lutou” pela causa dos trabalhadores, se é um partido da classe dos menos favorecida a troco de que, atualmente, não apóia a causa do MST e deixou chegar ao ponto em questão?
Diante do questionamento o que nos leva a concluir é que se transparece o fato de o PT não cumprir com suas ideias partidárias, assim afirmam dois entrevistados: Laércio Barbosa e Darci Maschio, ocupantes de assentamentos distintos do movimento.
Tendo em vista a reportagem analisada, podemos concluir que o discurso midiático exerce fortes influências sobre o ser leitor, a forma como o assunto é relatado nos faz perceber essa tendência que a revista insinua durante toda a leitura, utilizando uma elocução bastante propensa à culpa de o movimento estar em decadência. O único ponto de vista que defende é o seu, colocando o MST como um movimento ilegal e revelando uma visão estereotipada a respeito não só dos componentes, mas também do movimento. É fato que a mídia, sempre que pode, faz o papel de marginalizar os movimentos sociais e não foi diferente no caso do MST, deslegitima um modelo de ideologia do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra que demorou tempos a ser reconhecido com movimento que luta em prol de uma melhoria na distribuição de terras.
O texto em sua essência constrói e reativa um modelo mental negativo sobre o MST, colocando como artifício de discurso, o movimento que submerge sua eficácia e que chega a uma decadência. É obvio quão poderoso e tendencioso é papel da mídia, uma vez que utiliza de situações e palavras para exaltar o seu pensar na sociedade e fazer com que pensemos expressivamente como é verídico os fatos por ela mostrados.
Josimar Santana Silva
Licenciado em Letras com Habilitação em Língua Portuguesa e Literatura.
Pós-graduando do curso de Especialização em Literatura Baiana
UNEB - Universidade do Estado da Bahia/ Campus XIV
Publicado por: Maar Silva
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