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Aulas online: muitas questões, poucas soluções.

As medidas que vêm sendo adotadas, durante o período de pandemia de Cononavírus, originado de uma família de vírus que causam infecções respiratórias.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é relatar as medidas que vêm sendo adotadas, durante o período de pandemia de Cononavírus, originado de uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China (Ministério da Saúde, 2020) e se alastrou pelo mundo no ano de 2020, causando múltiplos impactos em todos os setores. Visando a continuação da educação brasileira em regime domiciliar, busca-se identificar quais são os impactos do emprego desta prática na educação, os problemas apontados por profissionais, alunos e responsáveis e apresentar o cenário de uma educação que vem se reconstruindo, constantemente, para comportar as necessidades dos indivíduos. 

Este trabalho se caracteriza por um levantamento bibliográfico, em que buscamos autores como Vera Candau, para detalhar nossos ideais a respeito da Inclusão-Exclusão no campo da educação, buscamos ainda Carl Rogers para afirmarmos a importância de uma aprendizagem significativa para os alunos, ademais se realizou para este estudo um questionário no qual houveram 29 participantes. Neste questionário foram apontados os pontos prós e contras do ensino domiciliar, as necessidades e queixas dos indivíduos, além de sugestões para melhorias desta prática visando um menor impacto na aprendizagem. 

Segundo o relatório do Banco Mundial, com o fechamento das escolas na pandemia, cerca de 1,5 bilhão de estudantes ficaram sem aulas presenciais em 160 países. O presente artigo implica em quatro níveis que embasam o uso das tecnologias aplicado a educação, são eles: a) a conexão de uma tecnologia desleal, sendo evidenciado este ponto a falta de acesso de alunos em situação de vulnerabilidade econômica e social; b) a adoção do sistema de aulas online, além de suas consequências e diferentes perspectivas; c) a educação bancária do séc. XXI, que consiste no depósito acelerado de matérias e materiais de estudo durante o isolamento, a rapidez e diminuição da carga horária durante este processo, assim como seus impactos; d) papel social do professor, em que consiste na interferência deste profissional na realidades de seus educandos, elaborando e criando meios para que os mesmos consigam se manter ativos a educação, e por fim, e) a relação da família e escola junto ao ensino, pois neste momento estão reelaborando a sua maneira a educação de seus filhos. 

EAD

Mas afinal o que são as aulas online? Apesar de estarmos mergulhados em uma era tecnológica, o termo "aulas online" ainda é confundido com EAD (Educação à distância). Muitas pessoas têm utilizado este termo para se referir ao momento atual da educação brasileira. Porém, muitos profissionais levantaram esta questão através das redes sociais tendo o propósito de informar a diferença. As aulas online são uma ferramenta criada tendo como base a EAD, que tem auxiliado a educação no período da pandemia, e que em algumas instituições exigirá a reposição destas aulas após o momento de crise, já que as mesmas estão sendo vistas como um reforço complementar. O que se difere da Educação à Distância, uma vez que segundo o MEC a “Educação à distância é a modalidade educacional na qual alunos e professores estão separados, física ou temporalmente e, por isso, faz-se necessária a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação” não havendo necessidade de reposições.

Nesse ciclo contemporâneo no qual estamos vivendo, é perceptível que a criança moderna já nasce inserida na era tecnológica, e durante o período de isolamento social, inúmeros pais e responsáveis abordam a hipótese de manterem seus filhos no sistema EAD ao final do isolamento. Porém, se cogitamos a ideia de uma perspectiva como esta, é possível deduzir que muitos destes desconhecem a importância da socialização. Pois segundo Vygotsky “o ser humano cresce num ambiente social e a interação com outras pessoas é essencial ao seu desenvolvimento” (apud Davis e Oliveira, 1993, p.56) Portanto, deve-se pensar como os ambientes educacionais são de extrema importância e relevância para o desenvolvimento social e cognitivo dos indivíduos. Todos estão em contínuo processo de aprendizagem, somos a todo momento influenciados pelo meio em que nos inserimos, e a escola é um destes ambientes, onde se terá contato com o corpo docente, funcionários da instituição, comunidade escolar, e principalmente um ambiente alfabetizador, que irá contribuir para o desenvolvimento das potencialidades do aluno. 

Uma vez que as crianças são agentes culturais interferem diretamente neste conceito, assim como contribui para sua constante ressignificação; além de serem denominados agentes sociais, pois estão inseridos na sociedade Mas será que durante este isolamento as crianças se tornaram apenas “objetos pensantes?” segundo apontado por Paulo Freire em sua obra “Pedagogia do Oprimido”

Professores de várias esferas estão preocupados com o ano letivo de seus alunos. Muitos relatam a cobrança contínua por suas chefias e alegam que mesmo que a transmissão de conteúdos exposta em aulas online pareça ser lançada instantaneamente, eles estão cientes de que ninguém está satisfeito com a situação. Nesta perspectiva verifica-se que há um aumento na carga de trabalho dos profissionais da educação. A agilidade se torna uma característica e um requisito para permanência do trabalho, e estes fatores acabam gerando uma diminuição na carga horária das aulas e principalmente uma sobrecarga no professor. E ainda, identifica-se que os professores precisam reinventar suas práticas novamente, pensando em maneiras para que o ensino chegue a todos os seus alunos, além de serem capazes de suprir todas as questões que os mesmos possam levantar. Ser professor hoje é, antes de tudo, ser capaz de reinventar suas práticas.  

Os profissionais buscam sintetizar ao máximo para que o conteúdo não se torne exaustivo e incoerente para os alunos, no entanto, alguns ainda adotaram a prática de exercícios constantes como um ideal de resolução dos problemas. Este é um retrocesso para a educação, visto que os planejamentos neste momento (como em outros) devem estar pautados no cotidiano do aluno, deve ser válido e significativo, capaz de causar incômodos no educando para que o mesmo desenvolva sua autonomia, ou seja a capacidade de reger a si próprio, e ainda pensar de forma crítica e reflexiva sua realidade. Ainda sim, é possível perceber que uma grande parcela de pais acreditam que as aulas online sejam mais vantajosas. Do ponto de vista destes, é levado em consideração o custo-benefício que essa ferramenta proporciona. Como por exemplo, a redução de custo em relação ao transporte escolar, o custo de lanches/merendas e dos uniformes escolares que requer um custo além da mensalidade. Deduz-se que por mais que as plataformas de aulas online, que foram disponibilizadas, estejam dando base à educação domiciliar, elas são em contrapartida um reflexo de toda a desigualdade social que faz parte da estrutura do nosso país. As mesmas ofertam apenas os indivíduos com meios para serem ofertados, além de apresentarem-se como um canal para a desqualificação do trabalho docente, pois os  comentários rudes e impróprios nas páginas durante as aulas são diversos, vindos de alunos e responsáveis.  

É perceptível o aumento de casos de ansiedade e depressão entre jovens em tempo de isolamento. Um levantamento feito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro com 1.460 pessoas em 23 estados mostra que casos de depressão aumentaram 90% no intervalo de pouco menos de um mês, em meio às medidas de isolamento social para combater o novo Coronavírus (UOL, 2020). As redes sociais se tornaram um "diário" para uma parcela de estudantes que abordam suas dificuldades e questões. Eles relatam que recebem constantemente atividade, ocasionando um sentimento de insuficiência por não compreender as aulas, refletindo nos exercícios que necessitam ser entregues no prazo estipulado. O fato de estarem em um ambiente domiciliar, desperta a falta de atenção de alguns estudantes. Por não haver um local que se adequa às demandas deste tipo de aula, o aluno precisa criar medidas para se apropriar ao ambiente, com isso passam a ocorrer diversas interferências familiares, sonoras e de conexões. 

Constata-se que um segmento de alunos do ensino superior privado trabalha para pagar as suas mensalidades. Mensalidade nas quais, não houveram descontos por boa parte das instituições. Esse grupo de alunos revela que trabalham durante o horário das aulas online, com isso há uma defasagem nas notas e frequência. Ainda assim, esse mesmo segmento questiona o ato da “contratação de um serviço” no qual não estão obtendo resultados. É nítido que as aulas online suscitaram na queda da qualidade da educação no período de pandemia, e por educação de qualidade compreendemos a prática em que todos aprendem. 

O grupo dos profissionais da educação também se tornou foco neste contexto, pois, como outros, estão passando por momentos de pressão tanto física, quanto psicológica. Mesmo tendo essa percepção em mente, alguns alunos, por exemplo, optaram por ir contra o bom senso e a ética, atacando profissionais através de redes sociais. Como retaliação de um sistema tecnológico insidioso, alguns alunos têm disseminado comentários ofensivos em chats de vídeo aula. Um desses comentários se polarizou por uma rede social, onde vários alunos compartilharam e comentaram relatos semelhantes ao ocorrido. O Twitch arrancou "risadas" de vários internautas que passaram a divulgar ainda em outros veículos de comunicação. No entanto, este é um ato criminoso configurado como Cyberbullying, no português mais conhecido como assédio virtual. Ou seja, é definido por uma prática que envolve o uso de tecnologias de informação e comunicação para dar apoio a comportamentos deliberados, repetidos e hostis praticados por um indivíduo ou grupo com a intenção de prejudicar o outro. E tem se tornado cada vez mais comum na sociedade, especialmente entre os jovens (Wikipédia). 

É lamentável saber que o desrespeito ao professor ultrapassa os muros da escola. O que antes era concebido na sala de aula atravessou a tela e hoje passa a ser um ataque em rede nacional. A falta de empatia ao trabalho deste profissional é visto quando o aluno desativa câmera e microfones para não participarem das aulas, ou até mesmo apenas utilizam o microfone para realizar ruídos e iniciar risadas de outros colegas. Nota-se que a preocupação é maior com o microfone ou webcam ligados do que com o conteúdo. É triste saber que a cada dia que passa está mais difícil reconhecer o trabalho de um professor, tal profissão, deveria ser uma das mais bem pagas mundialmente. De acordo com a pesquisa da instituição beneficente de ensino global Varkey Foundation, o Brasil é o país que mais desvaloriza o professor entre as 35 nações avaliadas (Veja 2018).

INTERNET DESLEAL    

Para a continuidade do ensino no Município do Rio de Janeiro, foi adotada a prática de aulas online em todas as esferas da rede, ou seja, alunos e profissionais da educação passaram a demandar medidas adotadas pela sua instituição regente, seja ela de origem pública ou privada, para facilitar e possibilitar o acesso de ambos nessas plataformas pelo qual, o ensino se difunde. Algumas escolas municipais do Rio de Janeiro adotaram ainda um sistema no qual usam redes sociais e blogs para informar a respeito de atividades propostas para seus respectivos alunos. Esse sistema requer não apenas comprometimento por parte dos estudantes e pais como também acesso a uma rede de internet e a aparelhos tecnológicos, além disso, uma elevada quantidade deste material disponibilizado necessita de download ou impressão, ademais as atividades precisam ser entregues, pela mesma plataforma de origem, para as escolas, onde será de responsabilidade do professor a correção.  Porém, esse sistema tem sido alvo de grande crítica por parte de pais e responsáveis, assim como professores, que relatam toda a dificuldade que está envolvida ao longo deste processo de acesso, realização e envio. 

Embora estejamos em uma era de nativos digitais, termo criado por Marc Prensky (Wikipédia, 2019) a aqueles que já nasceram com as mídias e tecnologia, é válido lembrar que muitas famílias ainda no século XXI não possuem este acesso. É comum que hoje em diversas residências, estabelecimentos comerciais, hospitais e até mesmo instituições de ensino haja acesso a uma rede wi-fi. Porém, essa é uma realidade distante de muitas zonas populares e periféricas da cidade do Rio de Janeiro, já que muitos indivíduos não têm acesso, ou não possuem meios para custear este acesso. 

Sendo assim, a partir dos pontos apontados, a existência de uma internet desleal aos indivíduos, uma vez que não integra os alunos e suas dificuldades, como também os profissionais da educação, que buscam incessantemente manterem-se ativos ao planejamento e a ministrar as aulas online. Sendo assim, compreende-se que há uma Exclusão-Inclusão dos indivíduos, como aponta CANDAU em que “este binômio exclusão-inclusão está ligado à problemática da desigualdade social” (2009, pág. 19) e, portanto, refletido na educação por meio do acesso garantido a alguns indivíduos, enquanto outros delimitam-se a serem deixados de lado por uma educação que deveria atendê-los. Levantando-se a seguinte questão, como pode ser essa a única ferramenta disponibilizada para o ensino?

Caracterizamos neste momento a Inclusão-Exclusão dos sujeitos no campo da educação, que tem se tornado ainda mais evidente durante a pandemia, já que diversos alunos não possuem meios para ingressar nas plataformas digitais. Estes alunos estão “incluídos” no plano da educação, mas não foram tomadas medidas para suprir as suas demandas neste momento. Muitas famílias preocupam-se com a falta de alimentação diária, com o pagamento das contas e passaram ainda ter como preocupação garantir que seus filhos estudem neste período de isolamento. E o que notamos a todo instante é o ajuste dos alunos e responsáveis para manterem-se ativos às propostas das instituições. Alguns passaram a copiar as atividades diárias, há a aqueles com meios de imprimi-las para outros alunos e também a realizar o compartilhamento por grupos de aplicativos. No entanto, afirma-se que um percentual elevado de alunos não possui maneiras ou fundos para custear este acesso diário, o que também é o caso de muitos professores, que dependem dos dados móveis do celular para ficarem ativos às plataformas de aulas online. Esta tentativa de acesso por parte dos professores dependerá ainda das suas condições de rede do celular, como por exemplo, caso a rede seja instável o acesso também será. Com isso, a instituição de ensino tem cobrado de seus profissionais aulas online nas quais não são averiguados se há possibilidade do mesmo providenciar os recursos para a realização, como as edições, gravações e postagens dos vídeos, tendo em vista que as aulas são feitas em "home Office". 

O trabalho passa a ser feito em diversas vezes sob pressão, levando o profissional a agir com rapidez e em menor tempo. O planejamento torna-se um inimigo do tempo, e precisa ser entregue no prazo exigido. Caso haja falha, os profissionais são expostos a corte dos salários ou até mesmo demissões. E reafirma-se assim a exclusão de indivíduos “incluídos”, dentro do campo da educação. Por lei a educação é garantida a todos, porém não identificamos iniciativas para regular isso durante a pandemia. As aulas online retratam de forma explícita a seletividade na educação, em que as aulas persistem mesmo que a maioria dos alunos não estejam ativos nas plataformas, não havendo ainda iniciativas que garantam o ensino-aprendizagem destes. 

Outro ponto importante é refletir que alguns alunos da rede particular de ensino não têm acesso às aulas devido à falta de conexão, e afirma-se a seletividade dentro do campo da educação, em que, nas instituições públicas ou privadas as famílias demandam de assistências. E por assistências compreendemos a importância em projetos incluídos no plano político pedagógico da escola que envolva feiras, palestras e cursos de assistência à tecnologia e informação para alunos e profissionais das instituições, visando o preparo para situações como a atual. Além disso, a escola deve investir em equipamentos escolares à longo prazo. Isso inclui investimento em materiais tecnológicos que visam promover uma aprendizagem significativa. É neste momento que a tecnologia deve ser usada como uma ferramenta de complementação junto ao planejamento do professo. A escola, portanto, deve promover esse tipo de ferramenta para que em casos como esse (a pandemia) a tecnologia não seja um malefício e sim um benefício para toda a comunidade escolar. Pensando em como a mesma pode incluir os indivíduos junto à educação. 

Compreendemos dentro dos pontos a serem abordados, a aprendizagem significativa segundo apontado por ROGERS (1959) em que “é aquilo que provoca profunda modificação no indivíduo. Ela é penetrante, e não se limita a um aumento de conhecimento, mas abrange todas as parcelas de sua existência” sendo assim, por mais que as aulas estejam sendo realizadas em casa, é necessário que elas interfiram junto a realidade dos sujeitos, não devemos buscar por uniformizar o que é fundamentalmente singular, priorizar esta prática é adotar uma medida que julgamos ser capaz de quantificar o conhecimento do aluno.   Elevamos neste momento também a importância da escola não se apresentar como mais um mecanismo de reprodução de desigualdades, porém um meio capaz de transformação social, de inclusão, em seu verdadeiro sentido, não apenas de inserir os indivíduos no contexto, mas de oferecer medidas para que os mesmos sejam parte da comunidade escolar.    Nessas circunstâncias é possível perceber uma quebra de estereótipos, devido a conexão junto à tecnologia ultrapassar padrões sociais e econômicos, estabelecendo uma nova narrativa da realidade. 

Só então, a partir da estruturação de uma ferramenta tecnológica dentro do campo escolar, é possível pensar na moderação no qual a mesma deve ser usada. Para tal é válido ressaltar que o professor/gestor deve se colocar no plano reflexivo ao questionar o seu próprio fazer. E perguntar-se, qual é a relevância da tecnologia já que a mesma limita nossas práticas?

EDUCAÇÃO MERCENÁRIA DO SÉCULO XXI 

Professores com seus salários reduzidos, mensalidades sem descontos e pais com dificuldades financeiras. Tais fatos levaram muitas pessoas a questionarem a relevância da educação na conjuntura atual. Muitos ressaltaram a importância da sobrevivência humana ao dizer que “a educação é importante, mas comer é mais importante”. Ou seja, muitos alunos podem estar agora em suas respectivas residências sem a alimentação que recebiam da escola, devido ainda à falta de trabalho dos responsáveis pela renda familiar. Com a pandemia só trabalhadores essenciais puderam continuar a realizar suas tarefas, o que em grande parte não implica no salário ao final do mês. Apesar disso, muitos trabalhadores autônomos tiveram uma perda significativa em suas rendas, o que nos leva para as zonas periféricas do Rio de Janeiro, onde se encontra um maior número desses trabalhadores. A Lei 13.987/20 prevê a distribuição da merenda escolar a estudantes da rede de ensino pública, devido a suspensão de aulas, durante a pandemia. Porém, nota-se que não foram criadas iniciativas ou sistemas para a entrega destes alimentos às famílias, o que se tornaria um grande diferencial na alimentação diária dos alunos. 

Esses são alguns dos reflexos proporcionados por uma educação mercenária e excludente que tem se instalado ao decorrer da pandemia. Porém, ainda há esperança quando ouvimos que algumas instituições privadas adotaram um sistema de antecipar as férias escolares, por motivos que vão além da perspectiva capitalista. Gestores de algumas dessas instituições optaram por adiar o ano letivo, para que não houvesse danos significativos no processo de ensino-aprendizagem de seus alunos. Estas medidas e apontamentos de críticas levaram a escola a repensar sobre sua estrutura tecnológica e a realidade de sua comunidade. Outro ponto positivo em meio a tantos impasses é o auxílio oferecido pelo município do Rio de Janeiro para os estagiários da área de Educação Especial das escolas municipais, mesmo com todas os percalços este auxílio foi mantido. Estagiários da rede alegam que estão recebendo corretamente e que não houve descontos. O que por um lado é uma vitória para a classe dos estagiários que desempenham um papel importantíssimo nas escolas públicas e privadas de toda a cidade. Além disso, é importante ressaltar o auxílio liberado por meio de um cartão, no valor de R$ 100,00 para alunos da rede municipal, uma iniciativa que busca reduzir os impactos da pandemia na alimentação diária das famílias, por mais este valor não seja capaz de suprir a necessidade de alimentação diária das famílias. 

Ainda assim, algumas instituições embarcaram na era virtual sem realizar uma análise para concluir se haviam condições de manterem as aulas em regime domiciliar, buscando sempre o alcance a seus alunos e ao mantimento da qualidade. O que gerou protestos por parte de pais e alunos, foi além de tudo a manutenção no valor da mensalidade, sem comunicação para uma renegociação. Argumento para tal redução é duração inferior às horas de aulas indicadas na grade curricular. E reafirma-se a importância das instituições manterem-se abertas a comunicação durante o isolamento, com o objetivo de resolver da melhor maneira as questões levantadas por responsáveis.  Segundo o portal R7, no ano de 2020 existem "três projetos de lei que tramitam na Câmara dos Deputados que visam conceder descontos nas mensalidades escolares durante a suspensão das aulas presenciais em decorrência da emergência de saúde pública provocada pela pandemia de Covid-19, doença causada pelo coronavírus (Sars-Cov-2).

O Projeto de Lei 1119/20 obriga as escolas privadas de ensino fundamental e médio a reduzirem a suas mensalidades em, no mínimo, 30% durante a suspensão das aulas. De autoria da deputada Clarissa Garotinho (Pros-RJ), o argumento é que as escolas estão com seus custos reduzidos, seja com consumo de água, luz, gás, alimentação de funcionários, material de limpeza e higiene, dentre outros itens. Já o Projeto de Lei 1108/20, por sua vez, permite a renegociação de mensalidades diretamente com as instituições particulares de ensino básico e superior, nos casos de suspensão das aulas presenciais por conta da pandemia. Segundo a proposta, o percentual de redução das mensalidades não poderá ser menor que 20% nem maior que 30%". Porém, em entrevista a Revista Abril (2020) o diretor executivo do PROCON-SP, Fernando Capez, afirma que "as mensalidades devem continuar a serem pagas normalmente, porque trata-se de uma situação de força maior, que não é nem culpa da instituição de ensino nem dos alunos”. Tal apontamento nos permite enxergar o impasse gerado a partir da possibilidade da manutenção ou não nos valores das mensalidades.

No entanto, professores de instituições privadas e públicas denunciam a sobrecarga de trabalho durante a quarentena, e temem ficar sem salário. Apesar disso, alguns pais acreditam que não pagar a mensalidade é o melhor a ser feito, já que seus filhos não estão tendo um ensino no qual contrataram no ato da matrícula. Porém, em alguns casos esses mesmos indivíduos não se permitem pensar além da realidade. 

Ou seja, supõe-se que os profissionais da instituição e seus respectivos professores não possuem família, despesas e o principal, o direito de viver dignamente com os seus salários. É inominável pensar que algumas instituições privadas não ofereceram descontos nas mensalidades, no entanto reduziram significativamente o salário de seus professores. O que se mostra como um ato de má fé em um tempo no qual, grandes empresários deveriam ter mais solidariedade com seus trabalhadores.

Mais uma vez a educação é tratada como uma mera mercadoria, em que a sociedade capitalista precisou fundar a escola para formar um profissional qualificado. Ou seja, está em uma busca contínua por qualificação, porém prepara para o alienamento e excluindo a importância do trabalho deste profissional. O que nos remete às práticas fordistas, que são voltadas para sistemas de produção em massa (Wikipédia, 2020). Contudo, as práticas educacionais se reconfiguram nesses tempos de pandemia e nos mostram mais uma vez que a educação precisa ser pensada na perspectiva do direito e não do privilégio, direito de acesso a todos os indivíduos que a almejam, não apenas na perspectiva de uma dádiva dada a estes mesmos indivíduos. 

PAPEL SOCIAL DO PROFESSOR 

A concepção de verticalização do conhecimento do docente, ou seja, o professor como detentor de todo o saber e o aluno como um ser sem luz, e que necessita que o professor o ilumine (transmita seu conhecimento para o vazio) é antiga, porém não há certificações de que esta concepção persista hoje no campo da educação brasileira. No entanto, com o passar dos anos novas práticas surgiram para contrapor-se a esta, principalmente a de que o conhecimento deve ser construído junto com o aluno e por fim ser refletido no planejamento escolar, na didática, no Projeto Político Pedagógico e principalmente na construção do Currículo. Buscamos neste momento apresentar duas compreensões que embasam a função social do professor. 

A primeira perspectiva compreende que o professor contribui na formação de indivíduos para a sociedade. Com as práticas educativas o professor busca criar um indivíduo capaz de regular a si mesmo, ou seja, autônomo, o que se contrapõe a os que passam por este mesmo processo e tornam-se heterônomos, isto é, que são regidos por normas de outros indivíduos. Além disso, vale afirmar que o professor não é detentor de um saber absoluto, pois não há um saber absoluto na formação humana, uma vez que todo indivíduo possui sua própria compreensão acerca das questões que envolvem o conhecimento, com isso refletido no saber escolar, afirma-se que o mesmo deve ser pensado junto ao aluno, para que o use da melhor forma na sociedade. Sendo contemplado ou inserido neste saber o indivíduo vai estar cada vez mais ativo ao mesmo, devemos fazer com que este conhecimento garanta a igualdade política, econômica e social entre os indivíduos, isto é, não uma ferramenta de exclusão; este conhecimento deve ser ainda capaz de refletir a respeito da realidade dos sujeitos, não ser utópico ou incoerente, porém reflexivo e questionador. E, em todos esses pontos abordados, qual será o papel do professor? É justamente o de mediar essa possibilidade de construção, instigar esse despertar dos sujeitos. Logo, seu papel social é também junto a um conhecimento construído e repensado constantemente, levando em consideração as especificidades dos alunos.  

O segundo ponto a se destacar, a cerca da função social do professor, é mediante a participação que o mesmo exerce junto a seu aluno fora do espaço escolar. O sistema educacional brasileiro tem passado pelos impactos da pandemia, e como afirmado anteriormente os profissionais da educação buscam incessantemente diminuir os desgastes na educação dos alunos. E com isso, notamos as diversas medidas que vem sendo tomadas, exemplo disso é a professora Luciana Lira, que reside nos Estados Unidos e, após toda a família de um de seus alunos terem contraído o Coronavírus, a professora passou a cuidar do irmão recém-nascido do seu aluno. Em diversas partes do mundo, professores tem sido destaque por seus atos solidários, e estas ações reforçam o quanto os professores estão envolvidos na vida dos seus alunos, direta e explicitamente. Muitos são os relatos de pessoas que tiveram suas vidas e realidades mudadas devido a condutas de seus professores, e estes intervêm de maneiras infinitas com o objetivo de “ser apenas professores” como afirma Luciana Lira. Estar em contato recorrente com seus educandos, orientá-los e ouvi-los ocasiona em trocas e aprendizagens significativas para ambos. 

Ainda no ambiente escolar é possível elencar as relações sociais que o professor estabelece entre indivíduos. Este promove uma interação que vai além da relação escola e sociedade. Pensando em uma educação mais humanista, podemos dizer que ela promove uma transformação de dentro para fora que superam as expectativas sociais. Segundo Vygotsky (1996) nossa relação com o mundo não pode ser avaliada apenas pelo ponto de vista evolutivo, e sim pela relação cultural e social.

RELAÇÃO PAIS E PROFESSORES

Famílias brasileiras tentam se adequar ao homeschooling, ou educação domiciliar, devido a suspensão das aulas. O desafio é grande não apenas para professores, mas também para pais e alunos. Por outro lado, o uso dos aplicativos tem facilitado esse meio de comunicação entre pais e educadores. A ferramenta "WhatsApp" tem sido muito utilizada, docentes relatam que criaram grupos junto aos pais em uma tentativa de manter ambos atualizados a respeito de propostas de estudo, dúvidas dos alunos e também as condições de acesso para cada um. No entanto, um segmento de professores aborda que notam uma falta por parte dos pais, que se mostram ausentes aos debates, não apontam possibilidades e dificuldades de acesso e realização das atividades enviadas. Neste momento evidenciamos que, os responsáveis passaram a exercer um papel mais ativo, além de fundamental, com o ensino das crianças, determinar os horários para estudo, manter-se em dia com as datas, suprir as dúvidas, dentre outras questões necessárias, passaram a ser de principal responsabilidade do adulto em casa junto à criança. Levantamos ainda a preocupação com os alunos que não possuem um responsável para que esse acompanhamento ocorra, quais são as medidas que tem sido feitas para ajuda-los? Como mantê-los ativos as aulas remotamente? Como adaptar os espaços e acessos para que os mesmos participem? Todas essas são questões levantadas pela comunidade escolar constantemente, e para tais respondemos “somos apenas professores”. Logo criaremos formas para que os mesmos tenham acesso ao material, realizando a impressão e distribuição do mesmo, os manteremos atualizados, faremos o acompanhamento à distância para remediar a ausência de um adulto, sejamos todos apenas professores.

Ao abordarmos a família é necessário que haja de início a desconstrução do estereótipo da mesma, em que sua constituição é de um pai, mãe e filhos. Essa perspectiva de família tradicional está ultrapassada diante da sociedade contemporânea. É na família que ocorre o fenômeno de responsabilização dos adultos. Ou seja, é aquele tipo de responsabilidade que não cabe somente para o pai e a mãe, e sim, para um irmão mais velho, tios, avós e assim por diante. Em alguns casos a instituição educacional exerce esse papel de responsabilização do sujeito e a função da família passa a ser exercida pelo profissional da instituição. É preciso pensar que o formato de família pode mudar de sociedade para sociedade, e dentro da mesma podem existir várias outras. Segundo Giddens, família é: “Grupo de indivíduos, ligados por laços consanguíneos, casamento ou adoção, que formam uma unidade socioeconômica, sendo os membros adultos responsáveis pela criação dos filhos (GIDDENS,2016)

Nessa nova fase da educação, pais de todo o mundo tiveram que assumir o papel do professor em suas residências. Porém, dedicamos ainda atenção para a desqualificação do trabalho docente que tem tomado uma maior repercussão, devido ao aumento no número de críticas e queixas, feitas por responsáveis as secretarias escolares e redes sociais. No entanto, pais e professores exercem papéis distintos na vida das crianças, por mais que ambos possam entrelaçar-se em determinado momento do percurso educacional. A partir de agora é preciso pensar em como essas famílias, cada uma com suas singularidades, tem lidado com as aulas online. Primeiramente é preciso pensar no fenômeno da tecnologia, e o quanto ela tem um grande impacto na vida de todos. Em segundo lugar é preciso pensar que as crianças a cada dia que passam possuem uma demanda maior e os pais atualmente estão cada vez mais sem tempo. E por último e mais importante, é preciso reconhecer que cada família tem suas crenças em relação à escola. 

Muito se fala sobre a relação dos pais com a educação domiciliar de seus filhos, porém, não abordamos a respeito de professores que além de docentes, exercem o papel de pai ou mãe de alguém. Primeiramente é preciso saber que a profissão é uma das nossas identidades assim como ser pai e mãe. Nesse período de isolamento profissionais da educação têm vivenciado estas duas formas, ser o pai/mãe e professor. Além de preparar as aulas e manter-se aberto as dúvidas de seus alunos, ainda é necessário lidar com o ensino de seus filhos, que precisam de auxílio na hora das tarefas. Esta dupla carga horária, soma-se ao cotidiano de docentes que executam a função de "pamãe", termo utilizado para se referir ao indivíduo que assume a função paterna e materna ao mesmo tempo, e, portanto são os únicos chefes de família da sua respectiva residência. Dessa forma, as tarefas domésticas, juntamente com a responsabilidade por uma criança, emprego e as adversidades do dia a dia são acrescentadas a vida do professor, o que gera um desgaste físico e emocional.  Contudo, muitos educadores relatam que seus filhos não o enxergam como "professores" e não veem suas respectivas residências como escolas. E por isso, o interesse pelo material de estudo enviado tem sido baixo. O estresse, a angústia e frustração são consequências deste desgaste constante para um professor, no exercício de pai e mãe, no período de isolamento. Mas levantamos a seguinte questão, ser professor facilita o auxílio dado a seu filho? 

Em contrapartida, existem responsáveis que não possuem nenhuma formação acadêmica, para auxiliar as crianças e jovens neste momento. De acordo com a Gazeta do Povo em uma pesquisa publicada em 2019, do total de 133,7 milhões de brasileiros com 25 anos ou mais, 44,2 milhões (33,1%) não terminaram o ensino fundamental e 16,8 milhões (12,5%) não haviam concluído o ensino médio em 2018. Além disso, 9,2 milhões (6,9%) não têm instrução formal. Esses dados nos levam a seguinte reflexão: como esses pais que não possuem instrução formal ou que concluíram apenas o ensino básico, lidam com a educação domiciliar de seus filhos? É nítido que as aulas e atividades online tem sido uma angústia para esse grupo de pais, que podem apresentar dificuldades em realizar, o que consideramos ser uma simples explicação ou atividade. Segundo o site Desafios da Educação em 2019, os professores valorizam o dever de casa porque esta atividade disciplina os estudantes. Os pais entendem que este é um parâmetro para avaliar se uma escola é “forte" ou não. Porém essa afirmação cai em contradição ao perceber os impactos que o dever de casa tem causado em várias residências brasileiras. Em vez de ajudar, o dever de casa virou um fardo aos estudantes e pais.

CONCLUSÃO

A partir dos apontamentos realizados, inferimos ainda as conclusões realizadas a partir do questionário. Nota-se a abrangência das consequências na educação durante a pandemia, pois alunos de diversas áreas, como Engenharia, Pedagogia, Arquitetura, Direito e do Ensino Fundamental e Médio, retratam todas as suas dificuldades. O questionário contou com a participação de 29 estudantes, sendo 11 de instituições públicas e 18 de instituições privadas.  

Uma das perguntas realizadas foi como tem sido a experiência com as aulas online. O resultado para tal questionamento foi a evidência de que grande parte dos participantes as descreveram como “não satisfatórias, ruim, pouco produtivas, péssimas e difíceis”. O que reafirma os pontos abordados neste estudo, a adesão de aulas que excluem, escolhem e elegem os que possuem meios para acessá-las. Em outro momento, perguntamos como tem ocorrido a interação com os professores durante a aula online, notamos que a maioria dos participantes apontou a inexistência desta interação. E por fim, apontamos para o estabelecimento de regras durante estas aulas, que consistem em, manter o microfone fechado durante a fala do professor, garantir que a câmera esteja ligada, estar presente para a aula no local indicado além de realizar conforme os prazos as atividades atribuídas. Conclui-se após o período de realização do questionário o gráfico abaixo, que tem por objetivo levantar o número de participantes durante o processo de pesquisa. 

Instituição pública 11 37,93%

Instituição privada 18 62,07%

Total 29 100,00%

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

CANDAU, Vera (org.) Didática: questões contemporâneas. Rio de Janeiro: Forma & Ação, 2009. 

GIDDENS, Anthony. Conceitos essenciais da sociologia. 2 ed. – Rio de de Janeiro: Editora: Unesp, 2016.

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Publicado por: Caroline ferreira Teles Penna

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