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A importância da prática científica para a construção do conhecimento no ensino de ciências

Estudo sobre como as aulas práticas influenciam na construção do conhecimento em ciências

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

RESUMO

O modelo tradicional de ensino, utilizado por vários educadores, trata do conhecimento como um conjunto de informações passadas do professor para o aluno em suas aulas, o que nem sempre resulta em um aprendizado efetivo. Para que uma aula seja realmente eficiente, de acordo com a teoria de Piaget, a mesma deverá ser acompanhada de ações e demonstrações e, sempre que possível, deve dar aos alunos a oportunidade de agir através do trabalho experimental. Para que haja mais aulas experimentais, é necessário que cada vez mais professores sejam capacitados para trabalhar na construção do conhecimento de seus alunos através de metodologias realmente eficazes. A aula prática ajuda no desenvolvimento de conceitos científicos, pesquisas, soluções de problemas, sendo uma boa estratégia que auxilia o professor a retornar um assunto abordado construindo com o aluno uma nova visão sobre o assunto, ampliando suas reflexões, discussões, expondo ideias e respeitando a opinião dos outros. Trabalhar na construção do conhecimento no aluno é despertá-lo, onde o educador elabora metas estando preocupado em formar pessoas críticas que entendam o mundo a sua volta utilizando, além da pratica, a teoria para auxiliá-los.

Palavras chave: Aula prática; ciências; ensino fundamental.

INTRODUÇÃO

O modelo tradicional de ensino, utilizado por vários educadores, trata do conhecimento como um conjunto de informações passadas pelo professor aos alunos em suas aulas, o que nem sempre resulta em um aprendizado efetivo, pois esse aprendizado pode ter por resultado apenas uma memorização temporária, geralmente para o aluno realizar a avaliação e o mesmo esquece em curto prazo, tudo que lhe foi transmitido. Para que uma aula seja realmente producente, segundo teoria de Piaget, a mesma deverá ser acompanhada de ações e demonstrações e, sempre que possível, deve dar aos alunos oportunidade de agir através do trabalho experimental.

Para que aconteçam aulas experimentais, é necessário que cada vez mais professores sejam capacitados para trabalhar na construção do conhecimento dos alunos através de metodologias eficazes. Existe um consenso entre a comunidade cientifica e educacional de que a formação dos professores tem deixado a desejar, seja por falta de conteúdo teórico ou preparo cientifico prático, resultando na concepção errônea de ciência como conjunto acabado e estático de verdades já definidas. Dentro do universo de escolas observadas foi possível perceber que a aula prática tem sido uma atividade ausente e muitos professores utilizam a maior parte do seu tempo em garantir a aprendizagem teórica, bibliográfica de ciências.

De acordo com Piletti (1988), “a aula prática é muito importante para os estudos de Ciências, pois é por meio dela que o educando aprende a tirar conclusões e a fazer generalizações sem nenhum “esforço” com fatos fundamentais para a disciplina, desenvolvendo a capacidade de explicar o meio em que vive e podendo atuar sobre ele”.

A aula prática ajuda no desenvolvimento de conceitos científicos, pesquisas, soluções de problemas, sendo uma boa estratégia que auxilia o professor a retornar um assunto abordado construindo com o aluno uma nova visão sobre o assunto, ampliando suas reflexões, discussões, expondo idéias e respeitando a opinião dos outros. Trabalhar na construção do conhecimento no aluno é despertá-lo, onde o educador elabora metas estando preocupado em formar pessoas criticas que entendam o mundo a sua volta utilizando, além da prática, a teoria para auxiliá-los. Existem várias atividades que unem teoria à prática, o que permite uma integração na busca de soluções de problemas, ponto esse marcante em toda ciência.

Segundo Gil Pérez (1983), “quando o individuo consegue construir um significado, reproduzindo o que lhe é ensinado, está participando do processo de construção ativa de seus próprios significados”. Neste aspecto, o individuo re-elabora suas concepções alternativas para os conceitos pertencentes ao conhecimento cientifico. Tudo o que é significativo para o individuo, passa a fazer parte da sua representação cognitiva nas mais variadas situações. O que é realmente re-elaborado na estrutura cognitiva do individuo, passa a fazer parte de sua visão mediante o mundo. Portanto, o individuo passa a utilizar-se dessa visão, relacionando-a a outras situações e com outros indivíduos em diferentes níveis de interação.

A semelhança do que Tonolli (2000) propõe, “é necessário repensar na prática pedagógica proposta pelo professor em sala de aula, já que o aluno e o professor estão acostumados ao ensino tradicional”. Essas mudanças deveriam iniciar-se no ensino fundamental, de forma que busquem uma prática pedagógica séria e fundamentada em referências que trabalham com o cotidiano do aluno, vinculando teoria e prática.

A Construção do conhecimento no ensino de ciências

O ensino de ciências

Conforme a ciência e a tecnologia foram evoluindo, sendo reconhecidas como essenciais no desenvolvimento econômico, cultural e social, o ensino de ciências foi crescendo, tornando-se objeto de inúmeros movimentos de transformação do ensino. Um episódio significativo ocorreu no período da “Guerra Fria”, nos anos 60, quando os Estados Unidos fizeram investimentos de recursos humanos e financeiros para produzir projetos de 1ª geração de ensino de física, química, biologia e matemática para o ensino médio, projeto este baseado na idéia de formação de uma elite que garantisse a hegemonia norte-americana, onde os cursos das ciências identificassem e incentivassem jovens talentos a seguirem carreiras cientificas. Era notória na década de 60, a importância do conhecimento e da capacidade no uso do método cientifico, compreendido como processo de tomada de decisões, aonde vimos o valor dado as aulas práticas que originavam-se de sua eficiência como forma de aquisição de informações dos chamados produtos de ciências, resultando no potencial educativo repetido de processos utilizados pelos cientistas em laboratórios.

Como conseqüência, atribuía-se notória importância e relevância aos procedimentos: observação, elaboração de hipóteses e confrontação com dados obtidos como resultados significativos a vários modelos experimentais, tornando-se um meio eficaz de preparar o cidadão para cooperar com o bem coletivo. A exacerbação da potencialidade atribuída a esse processo levou a uma esquematização simplista do chamado método cientifico que seguiria sempre etapas comuns e predeterminadas, tomando forma de “receitas” para guiar a elaboração de experimentos. “A origem do trabalho experimental nas escolas foi há mais de cem anos, influenciada pelo trabalho que era desenvolvido nas universidades. Tinha o objetivo de melhorar a aprendizagem do conteúdo cientifico, porque os alunos aprendiam os conteúdos, mas não sabiam aplicá-los”. (Izquierdo, Sanmartí e Espinet, 1999). “As atividades experimentais, embora aconteçam pouco nas salas, são apontadas como a solução que precisaria ser implementada para a tão esperada melhoria no ensino de ciências”. (Gil Pérez, 1983).

No Brasil, a necessidade de preparação dos alunos mais aptos era defendida em nome da demanda de investigadores para impulsionar o progresso da ciência e tecnologia nacional, buscando superar a dependência e tornar-se auto-suficiente. No período de Ditadura Militar a escola modificou-se, deixando de enfatizar cidadania para buscar a formação do trabalhador para o desenvolvimento econômico do país. Em 1996, foi aprovada uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação, n°9.394/96, a qual estabelece no parágrafo 2° do seu artigo 1° que a educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e a pratica social. Em relação ao Ensino Fundamental, o artigo 32, inciso III estabelece o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimento e habilidades e a formação de atitudes e valores. Em relação ao Ensino Médio, o artigo 35, inciso IV estabelece a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando à teoria com a prática, no ensino de cada disciplina.

O processo ensino aprendizagem é importante no ensino das disciplinas científicas, onde a solução de problemas é um componente essencial, trata-se de fazer questionamentos, encontrar alternativas de respostas, planejar e organizar experimentos. No caso de um currículo que focaliza primordialmente a transmissão de informações, o trabalho em laboratório é motivador da aprendizagem, levando ao desenvolvimento de habilidades técnicas e auxiliando a fixação do conhecimento.

Pressupostos Teóricos

A Pedagogia Renovada e o processo ensino-aprendizagem

No final dos anos 60, as idéias de Jean Piaget sobre desenvolvimento intelectual começaram a ser conhecidas e discutidas. Passa a ter papel central no processo ensino-aprendizagem da ciência numa perspectiva cognitiva, enfatizando o construtivismo. À medida que a influencia cognitivista foi se ampliando, passou-se a encarar o laboratório como elemento fundamental no estágio de desenvolvimento do aluno e ativação do progresso ao longo do ciclo de aprendizado. Uma consideração importante na concepção de Piaget (1971) refere-se à “motivação, como elemento afetivo que impulsiona estruturas do conhecimento dando origem a um esforço a ser desenvolvido”. Quando existe um problema que desafia a inteligência da criança, ela tem a necessidade de agir para restabelecer o equilíbrio. O conceito de aprendizagem para Piaget envolve uma atividade inteligente através da descoberta ou invenção, onde os interesses espontâneos da criança podem constituir fontes de motivação.

É necessário motivar o aluno para ele aprender, isso impõe uma reformulação das práticas pedagógicas tradicionais, onde professores devem desenvolver estratégias através de métodos ativos. A Inteligência para Piaget (1971) é o mecanismo de adaptação do organismo a uma situação nova implicando na construção continua de novas estruturas, onde indivíduos se desenvolvem intelectualmente a partir de exercícios, estímulos, buscando aperfeiçoamentos. A teoria de Piaget nos mostra que o individuo só recebe um conhecimento se estiver preparado para recebê-lo, se puder agir sobre o objeto de conhecimento para inseri-lo num sistema de relações. Não existe um novo conhecimento sem que o organismo já tenha um conhecimento anterior para assimilá-lo e transformá-lo.

Para Piaget, aquilo que uma criança pode aprender é determinado pelo seu nível de desenvolvimento cognitivo, enquanto que para Vygotsky o desenvolvimento cognitivo é condicionado pela aprendizagem. Um conceito importante no trabalho de Vygotsky relaciona-se com a importância da relação e da interação com outras pessoas como origem dos processos de aprendizagem e desenvolvimento humano. Vygotsky (1998) usa o termo mental para referir-se aos processos de pensamento, memória, percepção e atenção, onde o pensamento tem origem na motivação, interesse, necessidade, impulso, afeto e emoção. A interação social é decisiva para o desenvolvimento, onde o sujeito é interativo, e é na troca com outros sujeitos e com ele mesmo que se vão internalizando conhecimentos. Assim, a escola é o lugar onde a intervenção pedagógica desencadeia o processo ensino-aprendizagem.

O professor tem papel de interferir no processo provocando avanços nos alunos, tornando possível a formação de conceitos espontâneos ou cotidianos desenvolvidos no decorrer das interações sociais partindo de um sistema organizado de conhecimento. O aluno não é somente o sujeito da aprendizagem, mas também aquele que aprende junto com o outro, valores, linguagem e o próprio conhecimento. As aulas práticas mostram-se sempre o momento propício para a aplicação de agrupamentos produtivos e interação com o grupo, assim como, permite ao aluno tornar-se construtor de seu próprio saber e de fortalecer suas estruturas prévias e estabelecer novas estruturas para conhecimentos subseqüentes.

A pedagogia renovada é uma concepção que inclui correntes ligadas ao movimento da Escola Nova, tais correntes assumem um mesmo principio norteador de valorização do individuo como ser livre, ativo e social, onde o mais importante não é o ensino e sim o processo de aprendizagem. Através da experimentação é que se dá a produção científica e assim o aluno constrói o seu saber e tem a oportunidade de produzir ciência e não apenas de absorver a ciência de forma passiva na qual ele não se vê como agente criador.

Em oposição à Escola Tradicional, a Escola Nova destaca o principio da aprendizagem por descoberta e estabelece que a atitude de aprendizagem parte do interesse dos alunos, que aprendem fundamentalmente pela sua própria experiência. O professor é visto como facilitador no processo de busca de conhecimento, faz-se necessário que o professor tenha esta idéia de si mesmo como princípio básico para a sua atuação profissional. Somos veículo de saberes clássicos já estruturados ao longo do caminho científico, mas também devemos ter em mente que somos condutores e facilitadores da criação de novos saberes. Essa tendência teve grande presença no Brasil na década de 30 com Anísio Teixeira, posteriormente com Darci Ribeiro e até hoje influencia muito as práticas pedagógicas.

A busca pelo conhecimento cientifico

O professor de ciências

Vivemos numa sociedade que convive com a supervalorização do conhecimento cientifico e a crescente intervenção da tecnologia em nosso dia a dia. São muitos os avanços e torna-se impossível pensar na formação de um cidadão crítico, a margem do saber cientifico. Para que seja despertado no aluno o interesse pela ciência, podemos utilizar da sua curiosidade natural incentivando o seu questionamento sobre tudo que sabem, ouvem e vêem, sendo possível trabalhar de diversas formas e diversos assuntos relacionados. Ao longo da vida escolar do aluno a ciência contribui para a compreensão do mundo a sua volta, sendo necessário o aprimoramento de conceitos científicos básicos para o entendimento de ciências como resultado de um longo processo histórico com erros e acertos, em uma combinação de natureza e cultura mostrando que todos os recursos tecnológicos são parte de nossa cultura cientifica.

Os alunos perdem o interesse em ciências quando o ensino proposto é apenas o exercício de memorização de conceitos, o que não bate com a realidade do aluno e a dificuldade em ensinar ciências torna-se evidente. A aula expositiva implica na concepção dos alunos apenas como arquivo de informações, onde os mesmos tornam-se apenas receptáculos de respostas sobre perguntas que nunca chegaram a formular. O conhecimento que o aluno traz por estar sempre interagindo com seu meio, deve ser relevante como ponto de partida para um trabalho produtivo, onde é através deste conhecimento prévio que o aluno assimila e constrói significados.

Torna-se fundamental a mediação do professor entre o conhecimento que o aluno trás e o conhecimento cientifico para que as atividades experimentais possam ir além da observação onde o aluno irá construir hipóteses, refletindo, relatando, discutindo, características fundamentais para iniciar uma investigação cientifica. Existem várias atividades que juntam teoria com ensino experimental permitindo que haja uma integração para soluções de problemas, ponto esse essencial em ciências. “Acredita-se que a construção do conhecimento se faz no aluno que realmente se sente como sujeito da historia e não apenas expectador” (PCN, 1997). Percebe-se que a aula prática nas escolas tem sido ausente, pois foi possível observar que os professores utilizam a maior parte do seu tempo em garantir a aprendizagem teórica de ciências a partir do livro didático e de textos complementares. Importante ressaltar que na aula prática, o aluno deve manipular materiais de laboratório, observar, misturar, medir, coletar dados, analisar, realizando atividades de forma que o estudo de ciências não se torne algo estático.

No caso específico do ensino de ciências no Brasil, o número elevado de alunos em cada classe e a heterogeneidade de suas capacidades e suas formações tem sido um ponto complicador para o professor em seu processo de escolha e organização das atividades didáticas. Os PCN mostram a importância do ensino de ciências e a responsabilidade dos professores na realização dessa tarefa. Assim então, é necessário que os professores preparem-se para envolver os alunos no processo de aprendizagem com conhecimentos que devem ser garantidos a todos os alunos, criando conexões entre conceitos e saberes e aprimorando idéias.

Os métodos de ensino

Para que haja a implementação de um ensino renovado de ciências, em que o trabalho prático adquira papel determinante é necessário questionar, refletir e discutir a prática dos professores, desenvolvendo competências disciplinares e interdisciplinares necessárias à implementação de aulas experimentais como método investigativo. Segundo o Programa de Formação no Ensino Experimental das Ciências (PRODEP):

“O trabalho experimental, componente fundamental para uma educação em ciência, é implementado, freqüentemente, nas aulas de ciências (Biologia, Física, Geologia, Química) fazendo uso apenas de demonstrações e verificações experimentais, seguindo “receitas” ditadas pelos professores ou pelos manuais, não sendo concebido como uma atividade de natureza investigativa, baseado num processo cooperativo de resolução de problemas. Daí surge à necessidade de desenvolver nos professores, as competências necessárias, a concepção, elaboração e avaliação de atividades de aprendizagem experimental, promotoras das capacidades de pensamento crítico e raciocínio dos alunos”.

O ensino experimental de ciência constitui numa das prioridades da Revisão Curricular, apresentado como meta pelo Ministério da Educação, favorecendo a integração das dimensões teórica e prática, porém, o ensino experimental ainda gera algumas polêmicas em relação a sua implementação, seja em nível de recursos humanos (insuficiente formação de professores nesta perspectiva, não existência de funcionários de laboratório, etc.), como de recursos materiais (existência e instalações de equipamentos necessários).

Professores de ciências consideram freqüentemente, o trabalho prático como uma estratégia educativa útil para conseguir qualquer objetivo educativo. Ainda que se reconheça a importância das aulas experimentais, surgem dúvidas e questões sobre o ensino e a aprendizagem de ciências. Hodson (1994) propõe seis categorias classificativas de respostas de professores relativas aos objetivos do trabalho prático:

1. Para motivar, pois estimulam o interesse e são divertidos;

2. Para desenvolver atitudes científicas;

3. Para melhorar a aprendizagem do conhecimento científico;

4. Para ensinar o método científico;

5. Para ensinar técnicas de laboratório;

6. Para desenvolver a capacidade de levar a cabo investigação científica e dela adquirir experiência.

Contudo, a maioria dos objetivos tem sido questionadas por resultados de inúmeras investigações não confirmarem a sua consecução. É importante que os conteúdos a serem trabalhados apresentem-se como um problema a ser resolvido, promovendo mudança conceitual em diferentes idéias e situações, através de fontes variadas permitindo aos alunos a obtenção de informações, contribuindo para o desenvolvimento de sua autonomia. O reconhecimento do problema é a fase de reflexão e compreensão onde o objetivo principal é a interpretação pessoal de cada aluno e observamos os conhecimentos prévios de cada um.

Na transformação do problema, para Gil Perez (1991), “é nesta fase que se procede à invenção de conceitos e emissão de hipóteses. É também uma ocasião para que os alunos usem as suas idéias prévias para fazer predições”. O autor sugere então, a elaboração de estratégias experimentais para testar as hipóteses. Esta fase constitui no momento da investigação onde ocorre à execução do plano experimental, o registro de dados e observações, a interpretação dos resultados e registros das conclusões. De acordo com o PCN de Ciências, são modalidades importantes desse procedimento a observação, experimentação, leitura, entrevista, excursão ou estudo do meio. “Ao observar, o aluno busca olhar o velho com um novo olhar a partir de conhecimentos prévios, e para isso é necessário propor desafios que os motivem a buscar detalhes a serem percebidos de forma completa, diferente do modo habitual” (PCN, 1997).

Ao realizar um experimento, o professor apresenta uma demonstração aos alunos onde os mesmos observam e acompanham os resultados. “Frequentemente, o experimento é trabalhado como uma atividade em que o professor, acompanhando um protocolo ou guia de experiência, procede à demonstração de um fenômeno”. (PCN, 1997). Na construção de um projeto, o professor pode organizar equipes de alunos trabalhando uma série de atividades com propósito de produção, onde o mesmo poderá avaliar o acompanhamento dos grupos, a execução do projeto, apresentações e também utilizar o método de auto-avaliação.

A avaliação ocorre em vários momentos do desenvolvimento no percurso investigativo, tais como: desenvolvimento do plano; soluções do problema; tomadas de decisões; análise crítica dos resultados obtidos e outros processos. A avaliação, segundo Gil Perez (1991), “é, sobretudo um momento de confronto dos resultados obtidos pelos vários grupos de alunos e também com o corpo de conhecimentos aceitos pela comunidade cientifica”. É essencialmente, um momento de formalização. As atividades experimentais assumem um papel fundamental no ensino de ciências, e é cada vez mais importante a forma como estão integradas nas atividades letivas. É intenção prioritária do Ministério da Educação que se valorizem as aprendizagens experimentais nas diferentes áreas e disciplinas, em particular e com caráter obrigatório, no ensino de ciências, promovendo a integração da dimensão teórico/prática (Decreto-Lei n° 6/2001 de 18 de janeiro), com intuito de preparar jovens para enfrentar o mundo em evolução.

Embora numa leitura mais superficial pareçam corresponder à mesma realidade, o entendimento que existe sobre os conceitos de trabalho prático, laboratorial, de campo e experimental não é consensual. Alguns autores consideram que trabalho prático corresponde a trabalho laboratorial, segundo Hodson (1994), “o trabalho prático, enquanto recurso didático à disposição do professor inclui todas as atividades em que o aluno esteja ativamente envolvido (no domínio psicomotor, cognitivo e afetivo)”. De acordo com esta definição, o trabalho prático inclui trabalho laboratorial e trabalho de campo.

O Trabalho de campo

Mais que um elemento motivador, o trabalho de campo deverá assumiu-se como aproximação do “Mundo Escolar” ao “Mundo Real”, facilitando a apropriação pelos alunos de conceitos em biologia, que em sala de aula não passariam de abstrações, como ecossistema, habitat, fatores bióticos e abióticos, população, biodiversidade, etc. O educador atua no desenvolvimento das capacidades que são alicerces relevantes na educação para a cidadania: capacidades de abstração (simplificar, ordenar, interpretar), capacidade de experimentação (competência que mobiliza a confrontação racionalizada entre o previsto e o observado), capacidade de trabalho em equipe, ponderação e sentido de responsabilidade.

É muito importante investir na leitura e escrita de textos informativos, além dos livros didáticos, outras fontes que também oferecem textos informativos como enciclopédias, artigos de jornais e revistas, folhetos de campanhas de saúde, etc. O professor precisa conhecer previamente os textos que sugere aos seus alunos observando os pré-requisitos exigidos para qualidade das informações. “É necessário que o professor organize fechamentos ou sistematizações de conhecimentos, parciais e gerais, para cada tema estudado por sua classe”. (PCN, 1997). “No final do Ensino Básico os alunos devem evidenciar as seguintes competências essenciais para a sua formação geral: de conteúdo, epistemológica, de raciocínio, de aprendizagem, metodológica, comunicacional e ética.” (Ministério da Educação, Departamento de Educação Básica, 2000).

Livros didáticos de ciências

A qualidade do ensino

Existem livros didáticos de ciências que propõe atividades práticas favorecendo o trabalho do professor, porém, o docente não precisa ficar “apoiado” apenas ao livro didático. Os livros didáticos devem apresentar textos complementares, serem ricos em ilustrações, apresentar sugestões de leitura, vídeos, exercícios de fixação e principalmente sugestões de atividades experimentais desenvolvendo competências e habilidades nos alunos. Em uma atividade experimental é importante estimular nos alunos a capacidade de interpretar resultados obtidos através do experimento, trabalhando também com gráficos comparativos, textos, analisando e interpretando fotografias, utilizando o microscópio fazendo o desenho de sua observação, construindo instrumentos, comparando diferentes explicações para o mesmo fenômeno.

O professor deve trabalhar o conteúdo do livro didático de forma desafiadora e interativa, a fim de fazer dos alunos protagonistas do processo ensinar-aprender, despertando a busca de meios para melhorar a sua qualidade de vida. O desempenho do aluno melhora quando ele sabe para que está fazendo uma atividade. Estudar a história da ciência é importante para que os alunos analisem o seu contexto e compreendam como os conhecimentos são construídos e acumulados ao longo do tempo, influenciados pelas tendências da época, mostrando que todas as idéias devem ser respeitadas e valorizadas. Nem todos os alunos possuem a mesma idéia, então os professores devem criar espaços para trocar experiências.

De acordo com o senso geral, “ensinamos ciências para formar um cidadão crítico e participante da sociedade, ciente de seus direitos a uma vida saudável e de seus deveres para tornar saudável também a vida dos outros e o ambiente” (Ciências Naturais, 2006). Para atingir esse objetivo, não basta que os alunos apenas se apropriem dos conhecimentos, eles precisam aprender a usá-los. Por meio de atividades o ensino de ciências deve acontecer para problematizar e desafiar o aluno, levando à construção do conhecimento cientifico. O objetivo é saber sobre o conhecimento prévio dos alunos sobre o tema estudado. Espera-se que o estabelecimento da relação entre o conhecimento novo e o que o aluno já sabe gere conflitos cognitivos, que resultem numa reorganização dessas questões e na aprendizagem do mesmo.

Os experimentos costumam surgir de propostas que incentivam o aluno a realizá-los, seguidos de questões que servem para organizar as suas observações para que possam chegar a uma conclusão relacionando os resultados encontrados. É importante também, através dos resultados obtidos com o experimento, instigar o aluno a pesquisar mais sobre o tema proposto, pesquisas orientadas para incentivar a curiosidade e trabalhar a leitura e interpretação. Apesar do lançamento dos PCNs que propunham alterações nos currículos e na organização e gestão escolar, vimos que a qualidade do ensino continua caindo, onde alunos saem da escola cada vez sabendo menos, e com toda essa crise, a escola publica é a mais prejudicada por não possuir meios de suprir suas deficiências.

“A competência, o profissionalismo e o desenvolvimento que exigimos dos professores fazem recair sobre eles uma pesada responsabilidade. Exigi-se muito deles e as necessidades a satisfazer parecem quase ilimitadas. Em muitos países a expansão quantitativa do ensino resulta muitas vezes na falta de professores, em turmas superlotadas, as conseqüentes pressões sobre o sistema educativo”. (Relatório para a UNESCO da comissão internacional sobre educ. para o séc. XXI).

O professor em sala de aula encontra dificuldades para realizar seu trabalho, alguns desistem, outros buscam maneiras alternativas para melhorar suas aulas, onde possam encontrar oportunidades para oferecer aos seus alunos as competências necessárias para crescer em estudos posteriores e no mercado de trabalho. Ausubel (1976). “se tivesse que reduzir toda a psicologia educacional a um só princípio, diria que o fator isolado mais importante, influenciando a aprendizagem é aquilo que o aprendiz já sabe. Determine isso, e ensine-o de acordo”. Em outras palavras, se o professor não sabe onde está o pensamento de seu aluno, em termos cognitivos, acaba “falando para as paredes”, apenas um processo mecânico, sem atingir ou envolver seu aluno no processo de aquisição do conhecimento.

A organização da aula pode nos parecer lógica porque entendemos o conteúdo, mas isso não significa que a aula esteja organizada segundo uma ordem psicológica adequada para os alunos, pois enquanto a aula não for elaborada para que o aluno possa construir suas idéias, não iremos facilitar a sua aprendizagem. Encontrar profissionais com vocação e conhecimento necessário exige comprometimento de todo setor educacional, estimulando e dando condições ao profissional de se aperfeiçoar cada vez mais, considerando a valorização da profissão, condições de trabalho, qualidade de vida e uma remuneração que corresponda à importância da função. Melhorar a qualidade e a motivação dos professores deve ser prioridade.

Conclusão

A partir do que foi exposto, conclui-se que é muito importante para o processo ensino-aprendizagem que o professor conheça tanto as teorias da aprendizagem como os recursos disponíveis que podem ser aplicados em várias metodologias de ensino. É importante realizar com os alunos a investigação de fenômenos e explorar idéias, formulando perguntas úteis e produtivas, buscando e desenvolvendo explicações em relação ao mundo natural e tecnológico, ampliando suas experiências. Sabe-se da importância das atividades empíricas no processo ensino-aprendizagem, mas nos deparamos com algumas escolas que não possuem laboratório, e algumas que possuem, mas encontram-se desativados, ou sem recursos por serem caros. Em alguns casos existem professores que utilizam sucata, produtos de fácil acesso para desenvolver o trabalho experimental, utilizando de sua criatividade para desempenhar um bom trabalho, em outros casos, professores que apenas trabalham com aulas teóricas.

É necessário planejar partindo do que os alunos já sabem inserindo novos conceitos, fornecendo situações que possam ampliar suas concepções acerca de um determinado assunto. Quanto mais cedo o aluno confrontar a teoria com a prática, maior será o sucesso do processo de aprendizagem. Quando o aluno compartilha suas idéias com seus colegas e com o professor, eles sentem-se como partes constituinte e ativa do processo de construção do conhecimento. O trabalho coletivo é necessário, pois promove interações sociais entre os alunos, onde as aulas experimentais favorecem o desempenho de cada um, ajudando-os a desenvolver capacidades e mobilizar competências fundamentais para sua formação e para o desenvolvimento de uma cidadania responsável e participativa.

O objetivo prioritário do Ensino Fundamental é a competência leitora, não se deve, portanto descartar o trabalho com o texto que dá embasamento teórico ao processo científico, mas não se deve perder a idéia de que a disciplina é “Introdução ás ciências” e para introduzir verdadeiramente um educando no universo científico é necessário despertar sua curiosidade científica, seu prazer em experimentar e descobrir novos mundos e conhecimentos. Respeitar o aluno como arquiteto do seu saber e promotor do seu desenvolvimento é estar consciente da real parceria que envolve educador e educando na espiral ensino – aprendizagem – ensino.

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Publicado por: Thais Estrella Scherer

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