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Análise Comportamental do Caso - Ted Bundy

A personalidade pode ser estabelecida como características individuais e que correspondem a um padrão de emoções, pensamentos e comportamentos

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INTRODUÇÃO

“Um Transtorno de Personalidade é um padrão persistente de vivência íntima ou comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo, é invasivo e inflexível, tem seu início na adolescência ou começo da idade adulta, é estável ao longo do tempo e provoca sofrimento ou prejuízo” (Associação Americana de Psiquiatria – APA, 2014).

De modo sucinto, a personalidade pode ser estabelecida como características individuais e que correspondem a um padrão de emoções, pensamentos e comportamentos; podendo ser comuns e/ou crônicos, além de não serem consideradas doenças no sentido estrito, mas anomalias do desenvolvimento psicológico. Contudo, para os portadores de um transtorno de personalidade, situações adversas habitualmente trazem consequências, no cenário em que suas particularidades são associadas a uma variedade de indicadores nos níveis individual, interpessoal e social (DSM – V, 2014).

É compreensível que pessoas com algum transtorno de personalidade tenha um limitado repertório de emoções, atitudes e comportamentos frente algum problema e estresse diário, apresentando respostas que levam sofrimento e prejuízo a si e ao outro. Conforme o DSM-V, manual diagnóstico e estatístico da Associação Americana de Psiquiatria – APA, o diagnóstico de um transtorno de personalidade deve ser realizado a partir de uma observação do sujeito, em geral, esses indivíduos em sua maioria sofrem consideráveis problemas sociais, familiares e profissionais.

O DSM-V descreve 10 tipos específicos de transtornos de personalidade com base em características semelhantes, em três grupos distintos: Grupo A – transtorno de personalidade paranoide, esquizoide e esquizotípica, compartilham características identificadas em pessoas excêntricas e/ou estranhas; Grupo B – transtorno de personalidade antissocial, borderline, histriônica e narcisista, com estereótipos de indivíduos dramáticos, emotivos e/ou erráticos; Grupo C – transtorno de personalidade esquiva, dependente e obsessivo-compulsiva, sujeitos com perfil ansioso e/ou medroso. Demais tipos de personalidade não distribuídos nestes grupos se concentram em mudanças por questões médicas ou perturbações ainda não especificadas, não havendo grupos predefinidos.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA         

Theodore Robert Cowell nasceu em 24 de novembro de 1946, durante a estadia de três meses de sua mãe Louise Cowell, no Elizabeth Lund – Casa para Mães Solteiras, em Vermont. A identidade do seu pai nunca foi confirmada, em sua certidão de nascimento, atribui ele ser filho de um vendedor e veterano da força aérea, LIoyd Marshall, mas Louise alegou ter sido seduzida por um marinheiro, chamado Jack Washington (anos depois os investigadores não encontraram nenhum registro de um marinheiro com esse nome), alguns membros da família disseram que o pai pode ter sido o próprio pai abusivo de Louise, Samuel Cowell.  Ele viveu os primeiros três anos de sua vida na casa dos avós maternos na Filadélfia, Samuel e Eleanor Cowell, seu avós assumiram o papel de seus pais e sua mãe a de sua irmã, afim de evitar o estigma social.

Enquanto jovem Ted se mostrava terrivelmente tímido, cheio de dúvidas e desconfortável em diversas situações sociais. Ele foi muitas vezes alvo de brincadeiras por valentões de sua escola secundária, as consequências dessas rejeições na infância refletiram em sua adolescência através de sua natureza extremamente tendenciosa a solidão e seu comportamento cruel e estranho para o seu entorno, por exemplo, mutilando animais que capturava.

Posteriormente em sua fase adulta, ele se apresentava como um rapaz inteligente, bonito e sedutor, era possível perceber a necessidade de se mostrar bem. Licenciou-se em psicologia na Universidade de Washington, em 1972, aonde chegou a estar no quadro de honra. Mais tarde, Ted conheceu uma garota, bonita e altamente sofisticada de uma família rica da Califórnia, e por isso ele não acreditava que ela tinha algum interesse nele, contudo, ela acabou sendo seu primeiro amor, e ele cada vez mais se esforçou para impressioná-la, ainda que isso significasse mentir.

Em 1968, depois que sua namorada se formou na Universidade de Washington, ela rompeu relações com Ted, deixando-o muito abalado. Nesse contexto, Bundy decidiu fazer uma visita à sua terra natal, Burlington, em Vermont, onde visitou registros públicos locais e, finalmente, descobriu a verdade sobre sua família, não se sabe o real impacto que essas informações tiveram sobre ele.

Pode se considerar que a partir daí ele começou os seus ataques criminosos, o primeiro de seus crimes aconteceu em Washington em 1974, quando ele atacou uma mulher enquanto ela dormia golpeando com uma barra de ferro. Apenas um mês depois mata uma mulher no mesmo campus, levando o corpo para longe dali, mas deixando a sala cheia de sangue. Em resumo, foram em média 36 assassinatos consecutivos, e em locais próximos ou mediações.

Bundy pode ser considerado um exemplo claro do que seria um assassino em série, narcisista e psicopata. Não só por ter sofrido uma infância traumática, mas também por causa de sua aparência que sempre inspirava confiança às vítimas. Embora inicialmente cometesse seus crimes durante a noite, protegendo de uma possível testemunha que pudesse identificá-lo no tribunal, pouco a pouco passou a ter mais segurança e abordar as suas vítimas durante o dia.

As explicações tentadas no caso de Ted Bundy geralmente unem a questão do desconhecimento da identidade verdadeira da mãe ao sofrimento pelo fato de a primeira namorada ter lhe abandonado. Uma das hipóteses levantadas, portanto, do ponto de vista psicológico, é uma relação entre este fracasso amoroso e seus crimes. Afinal, suas vítimas foram mulheres que mantinham alguma semelhança física com esta sua primeira namorada, podendo ter sido um gatilho para se vingar.

Jeremy Holmes (2001) refere que, quando analisados, os sujeitos com perturbações narcísicas julgam ter sido indesejados na infância ou adotados; consideram-se os responsáveis pelas depressões pós-parto das suas mães, e abandono de seus pais. Assim, a estabilidade psicológica depende da capacidade de se formar uma relação de apego segura em idade precoce, para que se obtenha uma base externa da realidade e uma base segura interna de si.

DIAGNÓSTICO

Com base no Grupo B, a presente análise comportamental do serial killer Ted Bundy, foi diagnosticada como transtorno de personalidade narcisista. Ele usava sua aparência como forma de seduzir as vítimas, além de se sentir bem com a repercussão dos atos que cometia.

O narcisista costuma ser ambicioso – Ted almejava ser bem sucedido; imagina-se constantemente no topo – ele procurava vítimas que fossem percebidas à ausência, a fim de chamar atenção para si, “quem está cometendo esses atos?”. Não suportam a rejeição – Bundy não superou o término do relacionamento; dificuldade em lidar com críticas – não aceitou que não foi aceito na universidade de Direito da primeira vez. Fraqueza e dependência são ameaçadoras, veem-se habitualmente como superiores, acima das regras; sendo os outros fracos e inferiores.

Consoante o DSM-V, há um padrão invasivo de grandiosidade (fantasia ou comportamento) – muitas vítimas; necessidade de admiração e falta de empatia – ele não se importava com os sentimentos dos parentes das vítimas; presente numa variedade de contextos, como: 1 – sentimento grandioso da própria importância, 2 – exigência de admiração excessiva, 3 – ausência de empatia, 4 – comportamentos e atitudes arrogantes e insolentes; ambos demonstrados nas atitudes de Ted.

CONSIDERAÇÕES FINAIS         

Uma vez que o narcisista se acha superior, raramente ele reconhece que tem um problema, e é menos provável ainda que ele procure alguma forma de tratamento. Quanto ele procura, geralmente seu foco são os outros, e ele usa a terapia como um local de desabafo para dizer o quanto o mundo não está dando a ele tudo àquilo que ele merece. Por trás de todo um ar de superioridade, o narcisista tem incrivelmente uma autoestima baixa, e por ter uma concepção negativa de si, busca uma compensação exagerada em outrem.

Assim, a razão pela qual há retirada de libido do exterior para si, consiste na forma que o sujeito encontra para lidar com a realidade que lhe é traumática e dolorosa. As manifestações de perturbação narcísica resultam de uma tensão criada entre fatores externos e internos, que são, de acordo com Kristeva (2003), carências narcísicas ao nível de identificação, auto-reconhecimento e autoestima não supridas.

Kohut (2003) explica as perturbações narcísicas como mecanismos de defesa que podem surgir por duas vias: a primeira é a perda ou afastamento de uma figura de vínculo, de um objeto idealizado ou de uma posse valorizada – esta perda, em estados precoces, constitui um trauma que põe em causa a autoestima e desestrutura o funcionamento psíquico, especialmente quando não há figuras de substituição que lhe devolvam a segurança e confiança perdidas; a segunda via é a aproximação excessiva – a total satisfação das necessidades narcísicas não abre espaço ás frustrações que potenciam o desenvolvimento e que garantem um contato com a realidade.

Conclui-se que a tensão sentida nesse tipo de transtorno de personalidade é a angustia de se sentir insuficiente em relação ao meio interno e as exigências externas, e assim, o consciente adota mecanismos de defesa para construir uma representação de si que diminua esse sofrimento. O funcionamento psíquico dessa perturbação deixa de ser visto como exuberância narcísica manifesta e passa a ser compreendido, em sua real essência, como uma falha latente para fins compulsórios e de preservação da sua insegura identidade e sua saúde mental.


Publicado por: Liviah Anne Medeiros Silva

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