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Virtudes do homem: segundo Homero, Hesíodo e a Guerra de Tróia

Análise sobre virtudes do homem segundo Homero, Hesíodo e a Guerra de Tróia.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

RESUMO

A virtude do homem sempre esteve ligada a qual contexto ela é inserida. Na Grécia antiga, o entendimento da virtude como caráter tinha como contexto os mitos: se era por meio de sua astúcia, como nobre guerreiro temido por todos, ou pela paciência, sendo ele lapidado todos os dias pela dura vida no campo. Homero defende que o arquétipo do homem estaria fundamento em Aquiles, guerreiro e valente; Hesíodo, contrapondo as ideias de Homero, acreditava que o homem seria modelado por meio do seu trabalho rural. A partir das duas visões, podemos nos questionar onde estaria a virtude do homem: na guerra ou nos conceitos de justiça e trabalho?

INTRODUÇÃO

Por volta de 1250 (Idade do Bronze), gregos e troianos, travam uma batalha que durou cerca de dez anos, ocorrida no período pré-homerico (XX-XXII a.C), da Grécia antiga. Até hoje, se contam “estórias” de um conflito que ficou marcado sendo retratado nos mais diversos livros Ilíada ou a Odisséia, escritas pelo poeta Homero, que retratam os fatos importantes, seus personagens marcantes e os desfechos da Guerra de Tróia.

Homero reuniu todos os mitos acerca do que se falavam na antiga Grécia. Na guerra de Tróia, um personagem famoso por sua excelsa honra e bravura é Aquiles. Sendo um modelo nobre de guerreiro da época, Aquiles era invejado por todos, mas, também temido, sua fama era bastante conhecida em toda Grécia por ser um guerreiro invencível. Contudo, isso não é uma particularidade da guerra de Tróia. Homero coloca numa perspectiva que o homem para ter um caráter e virtudes, deveria tá voltado para o combate.

Os mitos tinham em si sua finalidade de explicar o porquê que certos fatos sobrenaturais aconteciam, todos questionavam e temiam os deuses, pois, a crença que se tinha eram eles os responsáveis. Homero, ao retratar isto, impõe sobre a sociedade grega um novo modulo de cultura, alimentando-os, em tais crenças. Nesse âmbito, Homero foi eminente na educação grega. Todavia, tais narrativas, tinham principal tarefa, de mostrar que devem respeitar os pais e os deuses, como um mandamento perpetuo.

Paidéia, formação do homem grego

Toda sociedade sempre é dirigida em leis, princípios políticos, religiosos ou morais. Os gregos não eram diferentes na organização começando a educação pela família ou na sociedade. No geral, educar é essencial dentro da civilização. Obedecer, seguir tais preceitos faz que o homem seja coeso no âmbito que vive. Platão vai definir a Paidéia nada mais que: “A essência de toda a verdadeira educação ou Paidéia é a que dá ao homem desejo e a ânsia de se tornar um cidadão perfeito e o ensina a mandar e a obedecer, tendo a justiça como fundamento” (SANTOS; ROSA, 1999/2000).

Segundo Jaeger, no livro Paidéia (1986, pág. 25), “não se pode utilizar a história da palavra paidéia como fio condutor para estudar a origem da formação grega, porque esta palavra só aparece no século v a.C”. Mas, então, como poderia a civilização grega educar os meninos com o formador no princípio das atividades simples? O autor afirma que “Mas, evidentemente, nada ganharíamos com isso, pois os exemplos mais antigos mostram claramente que no início do séc. V a palavra tinha o simples significado “criação dos meninos”. (JAEGER, W. 1986, p.25).

O conceito de Paidéia na civilização grega aponta para a formação do caráter humano. O termo Paidéia, palavra grega, tem por finalidade instruir, ensinar e educar, que deriva do verbo latino: “pais”, “paidós”, ou seja, “crianças”; os formadores tinham o papel de acompanhar e guiar a criança antes de ser inserida na sociedade para qual, cotidianamente, era instruída. Sendo educada sobre os preceitos educativos da época, formando assim o seu intelecto.

A educação, honra e nobreza em Homero

Os mitos tem papel crucial na educação do homem no período homérico, marco da educação do homem grego. No início não tinham uma organização institucional, disciplinar ou método estabelecido, mas a educação, por meio das atividades simples e cotidianas tinham ensinamentos humildes. Mas, desde sempre, a principal ideia da educação no período homérico era formar o caráter e a personalidade do homem por meio da nobreza, virtudes e a honra, que, entrelaçadas, formavam um homem na ação e sapiência.

Homero juntou todas as histórias que se diziam na Grécia, as disparidades que eram contadas e recontadas de boca em boca e repassadas de geração em geração; o autor reúne todos os contos populares, afim de estabelecer respostas aos diversos questionamentos que surgiam nesse período, os quais conhecemos como mitos. Mitos estes que por muito tempo estiveram presentes na civilização grega, explicando sobre a virtude do homem. Continham ensinamentos sobre a vida, fenômenos naturais e outros tipos de respostas que não poderiam explicar em certos aspectos, alimentando assim, na sociedade as crenças nos mitos, fazendo-os parte essencial e na altura da sociedade grega.

Nesse contexto, os mitos tinham como seus personagens principais os deuses que eram responsáveis pelo que acontecia. As pessoas, que questionavam o porquê de tantas punições, procuravam nos mitos respostas. Segundo Dodds, no livro Os Gregos e o Irracional ao citar o poeta Teógnis, “Nenhum homem é responsável pela sua própria ruina ou pelo seu sucesso: os deuses são os doadores de ambas as coisas”. Por isso os gregos que viam, por exemplo, elementos da natureza, acreditavam veementemente que os deuses faziam o sol se pôr todos os dias, a chuva, as pessoas morrerem e nascerem, o porquê de suas alegrias, tristezas ou traições.

Sendo assim, Homero foi contribuinte primordial para a educação grega. Suas histórias, fundadas no caráter do homem ou no heroísmo, mudaram completamente a percepção das pessoas naquela época. Portanto, os mitos portavam um elemento chave que era educar o homem nos princípios éticos e morais da sua vida; por exemplo, obedecer aos deuses, reprovando o que eles não gostam ou honrar pai e mãe, pois a desobediência gera consequências. Enfim, moldar o homem nos princípios da sociedade em que ele tá inserido.

As virtudes do homem do campo, segundo Hesíodo

Outro poeta importante para a educação grega foi Hesíodo que com Homero, reformulou o modo em que o homem vivia na Grécia antiga, com um ideal pedagogo, modificando assim o conceito que Homero criou nos mitos. Como dito, Hesíodo, diferentemente de Homero, segue por outra via, explorando as realidades do homem no campo, interessado numa concepção de justiça e trabalho que o homem deve ter, principalmente nos valores que lhe diz respeito ao trabalho no campo, onde sua força braçal condiz ao seu heroísmo, como nos afirma Jaeger.

Em Hesíodo revela-se a segunda fonte de cultura: o valor do trabalho. [...] O heroísmo não se manifesta só nas lutas em campo aberto, entre os cavaleiros nobres e seus adversários. Também a luta silenciosa e tenaz dos trabalhadores com a terra dura e com os elementos tem o seu heroísmo e exigem disciplina, qualidades de valor eterno para a formação do homem. (JAEGER, W. 1986, p.85)

O poeta retrata que o trabalho educa o homem, no valor das virtudes. Reflete também sobre os preceitos de dike (justiça) e hybris (injustiça). Hesíodo, nesse ponto vai contrapor Homero, mostrando que o combate do homem está voltado para suas qualidades, valores que são chaves para a disciplina, e não na honra e nos conceitos de guerreiro como em Aquiles na guerra de Tróia.

Na obra Teogonia de Hesíodo, poema épico, narra como o mundo saiu do caos até sua organização, sustentado sobre narrativas míticas. Hesíodo explica como os deuses surgem na organização do mundo após o caos, onde os humanos diferenciam-se dos deuses descrevendo a parte fundamental de como a organização é a criação dos mortais e os pilares principais que abarcam o ser humano.

Sim bem primeiro nasceu o Caos, depois também Terra de amplo seio, de todos os sede irresvalável sempre, dos imortais que têm a cabeça do Olimpo nevado, e Tártaro nevoento no fundo do chão de amplas vias, e Eros: o mais belo entre Deuses imortais, solta-membros, dos Deuses todos e dos homens todos ele doma no peito o espirito e a prudente vontade. (HESÍODO, 1995, p.90)

A fantástica narração de como o Caos, com uma massa espessa e confusa que não passava de um nada, estava com as sementes principais do mundo, “[...] terra, mar e ar misturavam-se na mesma substancia; de modo que a terra não era solida, o mar não era liquido, e o ar não era transparente” (BULFINCH, 2006, p.35). Com isso, quando a terra se uniformiza estando então, na percepção que o homem é criado para a cultivar, e nos moldes do trabalho no campo criar um caráter nos valores do trabalho diário.

Em suma, Hesíodo deixa o legado de que o homem, para ser um arquétipo na educação, não era necessário estar em combates mortais ou em guerras, mas sim, na dura vida do campo, na qual sua luta diária é com a terra, se autodisciplinando no silencio, criando suas ideias e valores baseados no trabalho braçal. Sua honra e força vêm das virtudes, do trabalho rural e não dos músculos ou agilidade na guerra, como Homero emprega.

A queda de Tróia

No último livro da Ilíada narra-se a morte honrada de Heitor em um duelo no qual ele já sabia que seria morto pelo valente e destemido Aquiles. Arquétipo de um guerreiro nobre. Na mesma, relatam também os últimos traços da Guerra de Tróia. Porém, Tróia não caiu definitivamente e nem mesmo em como se esperava após a morte do nobre filho do Rei Príamo, que com significante lamúria, resistindo as baixas da guerra, recebe novos aliados.

Um desses aliados era Mêmnon, o príncipe etíope [...], outra aliada oi Pentesileia, rainha das amazonas veio com um grupo de guerreiras [...]. Matou muito dos mais bravos guerreiros da Grécia, mas finalmente foi morta por Aquiles. (BULFINCH, 20006, p. 305)

Aquiles, sempre no centro dos confrontos marcantes da queda de tróia, um guerreiro memorável e de estima inerente, mostrando o quanto honrado entre os homens era ele; mas, mesmo com toda a sua bravura, Tróia resiste tenazmente aos ataques. Pentesileia, como dito anteriormente, teve valor eminente, apontando os valores e virtudes de nobreza quanto valores e virtudes de nobreza quanto nos valores que Homero põe no ser humano. Pentesileia e Aquiles mostram seus valores no campo de guerra, sendo ela morta pelo valente guerreiro e morrendo honradamente como Heitor nos preceitos de honra e bravura.

Mesmo com toda a fama de homem indestrutível, Aquiles é vencido pela fraqueza dos homens: o amor. Por tal, o nobre guerreiro viu a filha do Rei Príamo, a encantadora Polixena com sua feminidade, jovialidade e beleza, propondo um tratado de paz para casar-se com ela. Mas no fim das contas toda bravura de Aquiles é posta em xeque ao ser atingido por uma flecha envenenada, guiada por Apolo, cujo remetente teria sido Páris.

[...] O corpo de Aquiles, tão traiçoeiramente morto, foi recuperado por Ájax e Ulisses. Tétis orientou os gregos a entregarem a armadura do filho para aquele entre os sobreviventes que fosse considerado o mais merecedor de tal prêmio. (BULFINCH, 2006, p.306)

Nisto é possível detectar um fato inédito na educação Homérica. Neste mito, os únicos merecedores da armadura de Aquiles eram Ájax e Ulisses. Eles eram valentes e nobres guerreiros, mas o vencedor de máxima honra fora Ulisses. Eles eram valentes e nobres guerreiros, mas o vencedor de máxima honra fora Ulisses, nos levando a entender que “a sabedoria foi preferida á valentia, o que levou Ájax ao suicídio” (BULFINCH, 2006, p.306). Portanto, a valentia dos homens chega a ser contestada, dando vez a sapiência adquirida durante a vida.

Por tal motivo, a retomada de Tróia só seria possível com as setas de Hércules. Porém, tais setas estavam sobre a guarda de seu amigo Filoctetes, que esteve junto a ele em seus últimos momentos de vida, com as flechas de Hércules faz sua primeira vitima o sedutor e originador da Guerra de Tróia, Páris.

[...] Na hora de seu desespero, Páris lembrou-se de uma pessoa de quem havia esquecido nos seus tempos de prosperidade: a ninfa Enone, com a qual se casara quando jovem, e a quem abandonara pela beleza fatal de Helena. (BULFINCH, 2006, p.30)

Páris, ao voltar a Tróia, morre. Mas, antes tinha sido rejeitado por Enone, devido á sua traição com Helena. Ela logo se arrepende, mas quando retorna para cuidar dele já era tarde, ela se enforca. Mais uma vez, se expressa a volatilidade do amor; por isso, as paixões cegas nos mitos ocasionam a morte do ser humano fazendo-o entrar em um vazio monótono, tornando-o capaz de tirar sua própria vida.

Com isto, Tróia não sucumbe aos gregos após a morte de Páris. Pois, estes estavam cansados por não conseguirem dominar a cidade pela força. Ulisses, estrategicamente, traça um plano, onde supostamente os gregos estariam deixando o cerco. Todavia, certa distração consegue enganar os troianos. “Construíram um imenso cavalo de madeira e espalharam a notícia de que se tratava de uma oferenda para agradar á deusa Minerva, mas que na verdade, sendo oco, estava repleto de soldados armados” (BULFINCH, 2006, p.30).

Dessa maneira, com o elemento surpreso pensado por Ulisses, o então famoso “Cavalo de Tróia”, os gregos finalmente adentram a cidade, ateando fogo e espalhando assombroso terror, no meio dos moradores. O Rei Príamo, modelo de honra assiste o fim do seu reinado, ele que pensara em se misturar para não ser reconhecido, porém confia em sua mulher a se refugiar no palácio.

[...], mas foi convencido por Hécuba, sua idosa rainha, a se refugiar junto dela e das filhas, como suplicantes do altar de Júpiter. Enquanto ali estavam, seu filho mais jovem, Polites, perseguido por Pirro, filho de Aquiles, correu ferido para lá e expirou aos pés do pai. Príamo, indignado, arremessou, com as mãos débeis, a lança contra Pirro, mas foi morto em seguida por ele” (BULFINCH, 2006, p.310).

Então já nos desfechos da guerra de Tróia, chama-se atenção dois pontos ao enredo da morte do Rei Príamo. Primeiro: ao se deixar ser levado pelo amor a sua esposa, novamente o elemento do amor, “eros”, fatalmente encontra mais uma vítima. Segundo, é que, o Rei ainda luta por sua honra e dignidade, Pirro vingando-se da morte de seu pai, restaurando assim sua virtude de nobre guerreiro e não apagando seu o legado que todos conheciam de Aquiles.

Por fim, Menelau recupera sua honra que fora manchada por Páris ao seduzir e raptar Helena, que tão bela e ao mesmo tempo capaz de provocar a queda de Tróia. Helena após a morte de Páris, em várias situações ajuda aos gregos “[...] em diversas ocasiões, especialmente quando Ulisses e Diomedes entraram na cidade disfarçados para tomar o Paládio” (BULFINCH, 2006, p.311). Helena, mesmo após muitos anos com Páris, outrora, não esqueceu seu marido Menelau sendo fiel em não denunciar os atos. Os dois foram os primeiros a deixar Tróia, porém “[...] como desagradaram aos deuses, foram levados por tempestades, de margem a margem do Mediterrâneo, visitando Chipre, Fenícia e Egito” (BULFINCH, 006, p. 311). Mais, Menelau e Helena chegam a Esparta, reassumindo a dignidade real, um fato interessante que mesmo com o passar dos anos Helena, sempre continua bela e encantadora, viveram e reinaram com gloriosa maestria.

Considerações finais

Por tal, é notório que os moldes da educação grega eram atribuídos aos mitos que tinham sua finalidade explicar os fatos acontecidos do dia-a-dia. Homero, ao perceber que os mitos tinham um impacto inaudito na sociedade, consegue dispor de forma simples que os homens gregos compreendiam, por meio de sua bravura, honra e principalmente nos combates conhecidos por toda Grécia, um exemplo desses guerreiros, que reunia todas essas qualidades e Aquiles

Mas, nessa forma que Homero tanto incita a dignidade do caráter do homem, Hesíodo caminha em uma outra via: contrapõe as ideias de Homero. Ele acreditava veementemente que o homem, para ter honra e um caráter excelso na sociedade, sua humildade estava diretamente ligada aos trabalhos braçais, pois aquele que vivia na veracidade da vida no campo seria assim educado nos moldes rurais.

Por tais aspectos, seja por meio da sua bravura que Homero defende ou de humilde vida no campo como Hesíodo retrata, não podemos chegar a um consenso qual arquétipo pode ser eficaz na educação do homem grego. Aquiles, mesmo tão forte e temido, perece com uma flecha no único ponto fraco. Hesíodo, dispondo que o homem do campo poderia ser inteligente só com seus pensamentos e trabalhar suas virtudes no conceito da justiça. Estando assim, pautado no trabalho do campo.

Referências Bibliográficas

JAEGER, W. Paidéia, Livraria Martins Fontes, 1986

O livro da mitologia, BULFINCH, MARTIN CLARET, São Paulo-SP, 2006

DODDS, E.R. Os gregos e o irracional, Escuta, São Paulo-SP, 2002

PAIDÉIA: TÓPICOS DE FILOSOFIA E EDUCAÇÃO, Batatais-SP, 2011

A origem dos Deuses, Hesíodo, Iluminuras, São Paulo-SP, 1995

Patrick, Jonh – “As Origens da Educação em Atenas. O Lyceum e a Educação

Ateniense antes de Aristóteles”, in. O. Pombo (org.), A Invenção da Escola na Grécia, Lisboa: DEFCUL, 1996

http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/escola/paideia/conceitodepaideia.htm. Acesso em: 01 de outubro de 2019


Publicado por: ALVARO DOS SANTOS ALVINO

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