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RUTH ROCHA E “O REIZINHO MANDÃO”: BIOGRAFIA E OBRA

Análise sobre a biografia e obra de Ruth Rocha: "O Reizinho mandão".

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BIOGRAFIA

Ruth Machado Lousada Rocha (ou Ruth Rocha) é uma célebre autora da Literatura Infanto-Juvenil brasileira.

Nasceu em 02 de março de 1931 em São Paulo, sendo a segunda filha de Dr. Álvaro e D. Esther, tendo ouvido da mãe as primeiras histórias. Seu avô baiano Ioiô lhe introduziu, de forma adaptada ao “universo popular brasileiro”, nos mundos de clássicos dos Irmãos Green, Charles Perrault e de Hans Christian Andersen. Foi nas obras com obras Reinações de Narizinho e Memórias em Família – ambas de autoria de Monteiro Lobato – que a pequena Ruth havia se encantado em proeminência (ROCHA, ano desconhecido).

Na faculdade, conheceu Eduardo Rocha – pai de sua filha Mariana, inspiração da autora para suas primeiras criações –, com quem se casou, adotando o sobrenome “Rocha”, e viveu até o fim da vida dele, em 2012. Ruth formou-se em Ciências Políticas e Sociais pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, tendo, ainda, sido aluna do historiador Sérgio Buarque de Holanda (FRAZÃO, ano desconhecido; ROCHA, ano desconhecido).

Trabalhou como orientadora educacional no tradicional Colégio Rio Branco entre 1957 e 1972, época em que começou a escrever para a revista Cláudia sobre educação. De 1973 em diante trabalhou, primeiramente, como como editora, e depois como coordenadora do departamento de material direcionado ao público infanto-juvenil da editora Abril (ROCHA, ano desconhecido).

De estilo único, o primeiro livro de Rocha, Palavras, muitas palavras, foi publicado em 1976, ajudando a mudar para sempre a Literatura Infanto-Juvenil brasileira. A partir daquele momento, as crianças leitoras seriam tratadas “[...] com respeito e inteligência, sem lições de moral nem chatices de qualquer espécie, numa relação de igual pra igual, e nunca de cima pra baixo” (ROCHA, ano desconhecido). Em plena Ditadura Militar – que durou de 1964 até 1985 –, a obra de Ruth provocava, criticava, chocando-se com o que a atmosfera política dominante defendia*.

Ainda de acordo com informações extraídas do site oficial da escritora, com milhões de exemplares vendidos dentro e fora do Brasil, Marcelo, Marmelo, Martelo, publicado em 2011, foi sua segunda obra publicada (depois de Palavras, Muitas Palavras, publicado anteriormente no mesmo ano) seria sua obra mais famosa.

Em mais de meio século escrevendo, a defensora dos direitos das crianças conta com mais de 200 livros publicados traduzidos para mais de 25 idiomas e bibliotecas com seu nome em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Brasília (FRAZÃO, ano desconhecido; FLANDOLI, 2015; ROCHA, ano desconhecido).

Recebeu diversos prêmios de instituições como a Academia Brasileira de Letras/ABL, a Associação Paulista de Críticos de Arte/APCA, a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil/FNL, a Fundação Bunge, a Fundação Conrad Wessel; ganhou o aclamado Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira de Letras, oito vezes. “Em 2008, Ruth Rocha foi eleita membro da Academia Paulista de Letras” (ROCHA, ano desconhecido).

Em uma entrevista para Maria Lydia Flandoli, do Jornal da Gazeta (2015), Ruth revela estar feliz pelo reconhecimento em vida, e, de modo geral, está satisfeita. Hoje, tem 89 anos.

PRINCIPAIS OBRAS

Com mais de meio século nas áreas da Literatura e da Educação, a autora coleciona publicações direcionadas ao público infantil. De acordo com Frazão (ano desconhecido), entre alguns de seus principais títulos, estão:

  • “O Reizinho Mandão” (1973);
  • “Marcelo, marmelo, martelo” (1976);
  • “O menino que aprendeu a ver” (1986);
  • “Declaração Universal dos Direitos Humanos para Crianças” (1988) – em parceria com Otávio Roth;
  • “Azul e Lindo Planeta Terra, Nossa Casa” (1990);
  • “Mil pássaros pelos céus” (1996);
  • “Bom dia, todas as cores!” (2013);
  • “Marcelo – De Hora em Hora” (2019).

Dentre todas estas obras, uma se destacou, causando repercussão por seu conteúdo e pelo contexto no qual foi publicado: “O Reizinho Mandão” (1973).

“O REIZINHO MANDÃO” (1973)

De acordo com Coelho (2006, p. 755 apud LOURENÇO, p. 234) “O Reizinho Mandão foi publicado no ano de 1978, pela Editora Pioneira. A obra reflete o momento político vivido pelo Brasil, pois foi lançada um pouco antes da extinção do AI-5 (Ato Institucional nº5), que dava força total à censura e às perseguições políticas totalmente arbitrárias”.

O conto relata a história de um reizinho mandão que herda a coroa logo após a morte de seu pai, que havia sido um rei bondoso. Ele era extremamente grosseiro, muito mal-educado, vivia gritando um “Cala a boca!” que foi aprendido e imitado por seu amigo papagaio. Em determinado momento, ele percebeu que não havia mais pessoas falando em seu reino, então decide procurar ajuda num reino vizinho, sendo orientado por um velho sábio, depois de ouvir xingamentos do homem por suas atitudes, a procurar alguma criança de seu reino que soubesse falar, e ouvir o que ela tivesse a dizer, e só assim as pessoas começariam a falar de novo. O reizinho retorna ao seu reino e procura pela criança. Quando a encontra, ela diz ao reizinho que cale a boca, e magicamente tudo volta ao normal. O reizinho mandão não consegue suportar o barulho que seu povo começou a fazer, “até que ele não aguentou mais e saiu correndo pela estrada” (ROCHA, 2013, p. 37).

O final do conto fica em aberto, mas o reizinho reaparece em outra obra, Sapo vira Rei Vira Sapo, quatro anos depois, em 1982:

[...] Afinal, ele havia, de fato, virado sapo, até que encontrou uma princesa que, desejando um favor, resolveu beijá-lo. Após voltar a forma humana, o reizinho se casou com a princesa e logo se tornou rei novamente: o mesmo mandão, que criava leis absurdas e não aceitava críticas.

Diante das denúncias, o reizinho tentou prender as verdades do povo; mas elas eram tantas que a missão se tornou impossível. As verdades eram muitas e incontroláveis. Embora o esforço do rei fosse grande, elas escapuliam, fugindo por janelas e fechaduras. Diante do fracasso, ele resolveu prender todos os seus oponentes no sótão imperial. (PINTO, 2018, p. 792) (Grifos nossos).

Tendo-se em mente que a literatura capacita, forma o ser humano (PINTO, 2018, p. 793), Ruth trata, implicitamente, de maneira divertida, leve e irreverente um tema “de adulto” através “de uma alegoria para representar o Brasil dos anos 70, dominado por um regime autoritário que calava a oposição e que buscava encontrar meios de expressão para furar o bloqueio da censura e da repressão” (ZILBERMAN, 2005, p. 61).

Ruth Rocha toca numa ferida recém feita, com O Reizinho Mandão, aguçando o senso de justiça e convidando a criticar, a refletir a respeito de liberdade de expressão em constante ameaça e violação, a criticar a respeito das injustiças produzidas por um governo antidemocrático.

“Mas tudo que a gente faz sozinho,
acaba cansando.”

- Trecho de O Reizinho Mandão (1973), de Ruth Rocha.

REFERÊNCIAS

EDITORA MODERNA. O reizinho mandão - Ruth Rocha. YouTube, 12 de setembro de 2018. (01:51). Acessado em 15 de dezembro de 2020.

FLANDOLI, Maria Lydia (Jornal da Gazeta). Maria Lydia entrevista a escritora Ruth Rocha. YouTube, 24 de abril de 2015. (07:07). Acessado em 28 de novembro de 2020.

LOURENÇO, Katiane Crescente. Análise da trajetória do herói em O reizinho mandão, de Ruth Rocha. Letrônica, Porto Alegre v.1, n.1, p. 234, dez. 2008. Acessado em 15 de dezembro de 2020.

PINTO, Mariane Sousa. O reizinho mandão, seu retorno e a ditadura militar brasileira. Linha Mestra, n.36, p. 791-795, Set.Dez.2018. Acessado em 15 de dezembro de 2020.

ROCHA, Ruth. O reizinho mandão. 27. ed. São Paulo: Salamandra, 2013.

ZILBERMAN, Regina. Como e por que ler a literatura infantil brasileira. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.


Publicado por: Luana Mirelly de Souza Silva

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